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Concebeu o ou Concebeu ao?

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Atualizado em 27 de outubro de 2022 12:21

O leitor Leno Lobato de Carvalho envia a seguinte mensagem para a seção Gramatigalhas:

"Olá pessoal, quero saber qual a construção correta: 'concebeu o Príncipe da Paz' ou 'concebeu ao Príncipe da Paz' (Jesus Cristo)'. Grato!"

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1) Um leitor indaga, em síntese, qual das duas construções é correta: a) "Concebeu o Príncipe da Paz"; b) "Concebeu ao Príncipe da Paz".

2) Antes de responder diretamente ao leitor, formulam-se dois exemplos para uma melhor explanação didática:

a) "O juiz sentenciou o processo";

b) "O documento pertence aos autos".

3) Quanto ao primeiro exemplo - "O juiz sentenciou o processo" - podem-se fazer as seguintes considerações:

a) o complemento (o processo) não está precedido de preposição obrigatória;

b) a ação passa (ou transita) para o verbo diretamente (isto é, sem auxílio obrigatório de preposição);

c) por isso o verbo se chama transitivo direto;

d) também por isso, o complemento verbal (o processo) é um objeto direto.

4) No segundo exemplo - "O documento pertence aos autos" - podem-se extrair as seguintes conclusões:

a) o complemento (aos autos) está precedido de preposição obrigatória;

b) a ação passa (ou transita) para o verbo indiretamente (ou seja, com o auxílio obrigatório de preposição);

c) por isso o verbo se chama transitivo indireto;

d) também por isso, o complemento verbal (aos autos) é um objeto indireto.

5) Ocorre que determinadas expressões - como adorar ao Criador, amar a Deus e louvar ao Senhor - apresentam um verbo transitivo direto, mas estes têm, com frequência, seus objetos diretos precedidos de preposições não obrigatórias, e isso pelas seguintes razões:

a) por ênfase, reverência e respeito ("Ele ama a Deus sobre todas as coisas");

b) porque o complemento vem representado por um pronome oblíquo tônico ("Nem ele entende a nós, nem nós, a ele");

c) para evitar confusão de sentido, principalmente em casos de inversão dos termos da oração ("A Abel matou Caim").

6) Nesses casos, é importante não esquecer:

a) mesmo com objetos diretos preposicionados, os verbos continuam transitivos diretos, de modo que não passam a transitivos indiretos;

b) de igual forma, o complemento é objeto direto preposicionado, e não objeto indireto.

7) Para quem, nesses casos, tem dificuldade exatamente em reconhecer qual é a transitividade do verbo, é bom lembrar, em termos bem práticos, que o verbo transitivo direto normalmente admite passagem para a voz passiva, enquanto o transitivo indireto, por via de regra, não a admite.

8) Assim, o exemplo "O juiz sentenciou o processo" admite ser transformado em "O processo foi sentenciado pelo juiz". Já o exemplo "O documento pertence aos autos" não admite passagem para a voz passiva, o que é sinal inconfundível de que pertencer não é transitivo direto.

9) Do exemplo do leitor, já ligeiramente reformulado para maior facilidade didática - "Ela concebeu o Príncipe da Paz" - podem-se extrair as seguintes conclusões, a partir das ponderações já feitas nos itens anteriores:

a) ela é o sujeito e Príncipe da Paz é o objeto direto;

b) o verbo é transitivo direto;

c) afirma-se, sem dúvida, que o verbo é transitivo direto, quando se percebe que o exemplo pode ser passado para a voz passiva ("O Príncipe da Paz foi concebido por ela");

d) o exemplo assim formulado é correto e tem seu objeto direto normal;

e) por uma questão de ênfase, reverência e respeito, entretanto, também se pode dizer "Ela concebeu ao Príncipe da Paz";

f) nesse caso, tem-se um objeto direto preposicionado;

g) como já se viu, o verbo, no exemplo, continua sendo transitivo direto.