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Porandubas nº 312

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Atualizado em 3 de abril de 2012 14:37

Mais ignorante não é

O famoso Padre Levy, que gostava mais de voto do que de Deus, era candidato a deputado estadual na região de Patos, na Paraíba. Disputava a eleição com o deputado José Gaioso, velho sertanejo atrasado e desabusado. Na campanha, o Padre Levy fez, com sucesso, uma passeata de jumentos em Santa Terezinha, então distrito de Patos. Os aliados de Zé Gaioso cobraram dele uma reação. Zé Gaioso mandou arranjar um burro novo, forte, para atravessar a vila e chegar à feira montado. Quando montou, o burro saiu pulando e derrubou Zé Gaioso na frente de todo mundo. O deputado mal conseguiu levantar-se, todo quebrado e dolorido. Avançou no burro, pegou uma orelha, deu uma dentada que lhe deixou sangue escorrendo na boca e gritou bem no pé da orelha :

- "Você pode ser mais burro do que eu. Mas mais ignorante não é não."

(Do grande narrador Sebastião Nery)

Demóstenes e as oposições

As oposições saem feridas do tiroteio que abate o senador Demóstenes Torres. A razão é simples : ele encarnava um canhão das oposições. Atirava quase todos os dias no governo e nas malfeitorias que enxergava. Logo, seu nome se incrusta no arsenal oposicionista. Derrubado, o senador goiano atinge, na queda, o baluarte que fustigava os paredões situacionistas. O DEM, que pediria a expulsão do senador da sigla caso ele não houvesse se antecipado, mesmo assim sai chamuscado do episódio. Como já o fora por ocasião da renúncia do governador do DF, José Roberto Arruda.

O novo artilheiro

O presidente do DEM, que acumula a liderança do partido no Senado, José Agripino, vai de ter de esperar um pouco até poder recuperar o poder de fogo. Porque sair atirando agora, quando um de seus companheiros é flagrado em gravações comprometedoras pela PF, seria um bumerangue. O projétil acabaria caindo sobre sua cabeça. Por isso, as oposições vão ter de procurar um novo artilheiro. Quem se habilita ? Aécio Neves, que já começou a disparar tiros mais fortes ? Aécio é mineiro. E mineiro acaba embalando o tiro em pacotes de algodão. Para amortecer o impacto.

Usando as próprias pernas

Se quereis atingir as alturas, usai as vossas próprias pernas. (Nietzsche em Zarustra)

Situação confortável

Vejamos, agora, o affaire Demóstenes sob a perspectiva do situacionismo. Parcela expressiva de governistas gostaria de apertar os cinturões do governo Dilma. Os deputados queixam-se de que as verbas aprovadas no Orçamento são liberadas a conta-gotas. Deram alguns recados. E aí os recursos começaram a ser despejados nas regiões. Mas continua a existir certa má vontade do Executivo para com as demandas parlamentares. Daí o motivo de continuada insatisfação. Mas o episódio que assola o senador goiano acaba contribuindo para arrefecer ânimos situacionistas mais exaltados. Ou seja, na esteira do enfraquecimento das oposições, os governistas mais aguerridos também perdem fôlego.

Pacote cheio

Desta vez, ao que parece, o pacote para amparar a indústria veio cheio. O governo deixará de arrecadar cerca de R$ 10 bilhões. Entre as medidas, uma é bem expressiva : desonerar empresas de 15 setores mais afetados pela crise da economia mundial (11 setores e mais quatro contemplados no programa Brasil Maior - confecções, couro e calçados, tecnologia da informação e "call centers"). O governo libera-as do pagamento dos 20% de contribuição patronal do INSS, barateando, assim, o custo do trabalhador.

Atraso nas obras

As obras para a Copa do Mundo de 2014 estão muito atrasadas. Faltando 800 dias para o início da competição, 8 das 12 arenas exibem apenas 50% de realização. Só duas obras estão mais adiantadas : o estádio Castelão, em Fortaleza (60,4%) e os estádios de Belo Horizonte e Salvador, ambos com 55%. O de Brasília está com 54%. Os mais atrasados são os estádios do Beira-Rio, em Porto Alegre, com 20%; a Arena das Dunas, em Natal, com 20,5%; o Itaquerão, em São Paulo, com 30% e o Maracanã, no Rio de Janeiro, com 39%.

Razão e loucura

Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre, também, alguma razão na loucura. (Nietzsche em Zaratustra)

Pré-candidatos

Há 131 pré-candidatos no Congresso : 13 do PT; 19 do PMDB; 20 do PSDB; 10 do PSB: 14 do DEM; 10 do PSD; 9 do PR; 3 do PV; 6 do PC do B; 2 do PDT; 2 do PPS; 2 do PSC; 2 do PTC; 4 do PP; 1 do PRP; 1 do PT do B; 1 do PMN; 3 do PV e 3 do PRB. Pode haver algumas desistências.

Campanha paulistana

As atenções se voltam para a campanha paulistana. A interrogação que todos fazem é : Lula conseguirá carregar seu pupilo, Fernando Haddad ? Este consultor aventura-se a responder : sim. Apesar de Lula não ter dado a vitória a Marta Suplicy, na campanha para a prefeitura, ou a Aloizio Mercadante, para o governo do Estado, o PT tem obtido, em todos os pleitos, um índice em torno de 30% dos votos na capital. Cada campanha é diferente de outra. Lula poderá obter um resultado melhor neste pleito. Tudo vai depender do clima ambiental.

A geografia do voto

O clima ambiental, por sua vez, é movido por fatores que começam na economia. Ou, em outros termos, o voto obedece a uma geografia peculiar. A geografia do voto começa no bolso. Quanto mais espaçoso o bolso e mais dinheiro guardar, maior o índice de satisfação do eleitor. A seguir, a geografia do voto abriga o espaço do estômago. O estômago, por sua vez, vale-se das geladeira; quanto mais cheia, mais satisfeita a barriga do eleitor. Geladeira cheia depende, claro, do bolso. Pois bem, continuemos com a geografia do voto. O espaço adiante é o do coração. Estômago satisfeito manda um recado para o coração e este envia a mensagem para a cabeça, que é o destino final. Ou seja, o coração comovido diz à cabeça : vamos agradecer a situação e votar no perfil que está no nosso coração.

Transformar-se no inimigo

"Transformar-se no inimigo é colocar-se no lugar do adversário. Notamos que, em geral, existe uma tendência de julgar forte o inimigo, mesmo sendo ele um ladrão que, após cometer um roubo, se fecha numa casa. Mas, se soubermos nos colocar no lugar desse inimigo, veremos o quanto ele deve se sentir perdido ao ter que enfrentar todo o mundo ou fugir. Aquele que se isola é, pois, um faisão, e o que acossa para matá-lo, um falcão. Essa situação exige uma boa reflexão." (Miyamoto Musashi)

Quem será o beneficiário ?

Dito isto, indaga-se : quem será o beneficiário final do processo ? Quem receberá o voto em agradecimento do coração e do estômago ?

Eixos de apoio

É evidente que a geografia do voto também é desenhada por outros eixos que figuram na planilha da política : a proximidade entre o candidato e o eleitor; simpatia gerada pelo perfil; empatia, que liga ainda mais o candidato do eleitor; boa apresentação pessoal - semântica (expressão) e estética (maneira de se vestir, falar, gesticular, etc.); histórico do candidato e experiências anteriores junto ao eleitor; visibilidade; programas de ação, projetos, compromissos, principalmente os que envolvem a micropolítica (coisas voltadas para o cotidiano dos moradores das regiões e bairros, etc.).

Capital e trabalho

"Quando o capital se acovarda, o trabalho morre." (Olavo Bilac)

Empate em Porto Alegre

Manuela D'Ávila (PC do B) está tecnicamente empatada com o prefeito José Fortunati (PDT), segundo pesquisa feia pelo Correio do Povo/Instituto Methodus. A vantagem de Fortunati sobre Manuela é ínfima, variando de 0,9 ponto percentual a 3,1 pontos. As chances de Manu são muito boas, até porque ela encarna renovação, mudança, avanço, valores ansiados pela comunidade política.

Justiça do Trabalho

Ante recurso feito por espólio de técnico de informática falecido em acidente de trânsito, o TST, em recente decisão, responsabilizou a empresa contratante pela morte e consequente indenização por danos morais à família do mesmo. A Corte entendeu que a função de "técnico de informática" é de risco, uma vez que exige o constante deslocamento por estradas. Fica no ar a indagação : a responsabilidade pela segurança nas estradas não é do governo ?

Dano social

A mesma Justiça do Trabalho começou a condenar empresas por dano social. Quando alguém é demitido e fica desempregado, mesmo por uma semana, entende a Justiça do Trabalho que a empresa que o demitiu causou um "dano social". Portanto, deve indenizar a sociedade por meio de multas e recolhimentos extraordinários ao Fundo de Amparo ao Trabalhador. Mais uma indagação fica no ar : qual o destino dos impostos recolhidos e de contribuições compulsórias ?

Alavancas do discurso I

Nesse momento, os pré-candidatos começam a se preparar para o pleito. Este consultor oferece pequena ajuda, mostrando como conseguir a adesão dos ouvintes e participantes de um evento de massa ao discurso. Como conseguir atrair a atenção da multidão ? Pincemos pequenas lições dos clássicos da política. Existem alguns símbolos detonadores e indutores do entusiasmo das massas em, pelo menos, quatro categorias. Eis as quatro alavancas psíquicas :

1. Alavancas de adesão - Discurso voltado para fazer com que a população aceite os programas, associando-se a valores considerados bons. Nesse caso, o candidato precisa demonstrar a relação custo-benefício da proposta ou da promessa.

2. Alavancas de rejeição - Discurso voltado para o combate à coisas ruins (administrações passadas, por exemplo). Aqui, o candidato passa a combater as mazelas de seus adversários, os pontos fracos das administrações, utilizando, para tanto, as denúncias dos meios de comunicação que funcionam como elemento de comprovação do discurso.

Alavancas do discurso II

3. Alavancas de autoridade - Abordagem em que o candidato usa a voz da experiência, do conhecimento, da autoridade, para procurar convencer. Sob essa abordagem, entram em questão os valores inerentes à personalidade do ator, suas qualidades pessoais. Quando se trata de figura de alta respeitabilidade, o discurso consegue muita eficácia.

4. Alavancas de conformização - Abordagem orientada para ganhar as massas e que usa, basicamente, os símbolos da unidade, do ideal coletivo, do apelo à solidariedade. É quando o político apela para o sentimento de integração das massas, a solidariedade grupal, o companheirismo, as demandas sociais homogêneas.

Sede de poder

Nordeste, capital da sede
E é com sede que a sede cresce
E o Poder a poder da sede
Não deseja que a sede cesse.

Quem sepulta um cristão na rede
Vai vivendo a poder de prece
É sertão num pé-de-parede
Vendo tudo morrer de "EDE"
Pois ali já beberam o "S".

(Jessier Quirino - Prosa Morena)

Conselho aos ministros do STF

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos organizadores da Rio+20. Hoje, sua atenção se volta aos ministros do Supremo Tribunal Federal :

1. A sociedade brasileira espera que o STF coloque em sua pauta o caso do mensalão. Todo esforço se faz necessário para que não haja protelação.

2. Nesse momento em que tanto se questiona a transparência das Cortes Judiciárias do país, o julgamento do caso mais rumoroso/escandaloso de nossa história política recente redundará em significativo avanço para a credibilidade da Justiça.

3. Quanto mais se postergar a decisão sobre o mensalão, mais versões fantasiosas, suspeitas e interrogações se multiplicarão, com danosos efeitos sobre a imagem da Instituição Jurídica.

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