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Porandubas nº 401

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Atualizado às 07:56

Ir à lua ? Apoio, diga data

Abro a coluna com a engraçada historinha do inesquecível José Maria Alkmin, político mineiro, ministro da Fazenda de JK, raposa e matreiro :

Um correligionário de Bocaiúva, meio lelé da cuca, sem eira nem beira, vai ao gabinete do ministro, ainda no RJ, onde lhe pede uma inusitada colaboração.

- Dr. Zé Maria, eu quero ir à lua e preciso da ajuda do senhor, diz o visitante.

- Isto não é problema, diz Alkmin, dando asas à imaginação do conterrâneo. Dou-lhe o apoio, de ministro e correligionário. Existe um pequeno e contornável problema, que é de definição, e só depende do amigo.

E Alkmin continua :

- Você sabe que há quatro luas : nova, crescente, minguante e cheia. Agora, compete a você escolher qual das luas o nobre amigo deseja visitar, pois o apoio está dado.

Diante de um atônito conterrâneo, o ministro levanta-se da poltrona, estende a mão para a despedida e afirma, olhando no fundo dos olhos do eleitor :

- Me procure, novamente, quando definir !

8 dias para a Copa

Faltam oito dias para começar o maior evento esportivo do mundo. 10 das 12 arenas esportivas que abrigarão os jogos se encontram ainda em conclusão, principalmente obras no entorno, vias de acesso, etc. Vai haver manifestação aqui e ali, a cargo dos black blocs, mas os movimentos não contarão com a simpatia da população. O clima de tensão pode se acirrar, isso sim, caso haja algum incidente mais grave no meio da Copa, uma ruptura de construção, queda de arquibancada, etc, coisa improvável. Mas o mundo do imponderável não tem controle.

Candidatos, cuidado

Aos candidatos, singelo lembrete : os torcedores vão às arenas ver a performance dos times, não a exibição de candidatos dando tapinhas nas costas e beijando crianças. Evitem, portanto, os trejeitos caso queiram ver os jogos nos estádios. O povão pode aproveitar para usar a presença de um candidato como recado aos políticos, de forma geral, em vaias continuadas. Quanto mais alta a autoridade, mais forte é a possibilidade de um apupo das gerais. Político está em baixa na escala de prestígio.

O que dizem as pesquisas

Tenho feito uma leitura mais vertical das pesquisas. Minha visão : 1. Os índices quantitativos do momento podem, até, indicar as mesmas posições mais adiante no ranking, mas é mais provável que mudem e muito ; há uma tendência para virar de posição de acordo com o maior conhecimento que o eleitor tenha do candidato ; 2. A polarização entre PT e PSDB será quebrada em alguns Estados, com a possibilidade de alavancagem de nomes que simbolizem uma nova via ; 3. Observa-se uma tendência para quebrar hegemonia dos grandes partidos ; 4. As parcerias "malucas" que estão se fazendo nos Estados estão a indicar a necessidade de uma reforma política - essa pode ser a última eleição do "samba do crioulo doido"; 5. Os perfis mais assépticos, menos contaminados com o vírus da velha política, caem bem na paisagem eleitoral ; 6. Bolsa Família deixou de ser moeda eleitoral. O grupo Quero Mais e Melhor (saúde, educação, transportes, segurança, etc.) é quem faz barulho nas ruas.

O papel de Lula

Será a campanha em que Lula desempenhará um papel sem a força de antes. Continua a ser o maior cabo eleitoral do país. Sem dúvida. Mas Lula entrou no figurino da mesmice, da banalização. Seu discurso é o mesmo. Sua voz continua a mesma. Seus cabelos estão mais brancos. E o PT, que era o novo, tornou-se velho, decrépito. Não cola mais sua pregação de mudança. Dilma continua a ser a favorita, mas sem a aura da campanha de 2010. A mudança foi pouca em seu governo. Daí os buracos que se observam na paisagem eleitoral.

A paisagem de SP

Deverá sair pesquisa nos próximos dias em SP. Este consultor arrisca dizer que : a. Geraldo Alckmin reverteu tendência de queda, com administração (por enquanto eficiente) do tema falta d'água em SP (capital) ; b. Paulo Skaf, candidato do PMDB, que acaba de se licenciar da presidência da Fiesp, deve permanecer em torno de 20%. Com tendência a crescer ; c Alexandre Padilha, após maior exposição midiática, deve chegar aos 15%. O PT arregimenta suas bases e passa a vestir a camisa do candidato. As camadas continuam sem uma percepção clara do jogo político. Quem mais aparece, por conta da liturgia do cargo, é o governador Alckmin, cuja base eleitoral no interior de SP é seu ponto forte.

Palestra hoje na Assembleia

Farei, hoje, às 15h, uma palestra para candidatos, assessores, profissionais da comunicação e do marketing sobre o tema : "10 respostas para a pergunta : como ganhar uma eleição em tempo de grandes mudanças?". A palestra será no auditório Paulo Kobayashi, aberta ao público. É patrocinada pelo Sindeepres, comandado por Genival Beserra, e com o apoio do PMDB, dirigido em SP pelo deputado Baleia Rossi.

E os vices, hein ?

Partidos e candidatos procuram esconder o jogo. Não fecharam as chapas por conta da indefinição das parcerias. Quem será o vice de Alckmin, Skaf e Padilha ? O ex-prefeito Gilberto Kassab está sendo muito assediado. Abriu conversas com o PMDB, mas, nos últimos tempos, sua articulação com os tucanos ficou mais intensa. O que teria motivado Kassab a sinalizar parceria com o tucanato ? A possibilidade de ser candidato em 2018, com a saída de Alckmin do governo para se candidatar ao Senado ou a outro cargo ; como vice de Geraldo, Kassab teria nove meses para viabilizar seu nome e assumir a candidatura ao governo do Estado. No caso de Skaf, não teria essa chance, muito menos com o Padilha.

Aécio e Eduardo

Aécio Neves continua a tentar colocar o ex-presidente do BC, Henrique Meirelles, em sua chapa como candidato a vice. Guilherme Afif nega : não há hipótese de Meirelles ser vice de Aécio. Eduardo Campos, com Marina firme na vice, tenta tirar o atraso. Será pouco provável que faça parceria com partidos fortes. Vai se contentar mesmo com dois minutos de TV e rádio.

Curiosidades

O candidato de Aécio Neves ao governo de MG, Pimenta da Veiga, leva um banho de Fernando Pimentel, candidato do PT. O candidato de Eduardo Campos e do PSB ao governo de PE, ex-secretário estadual da Fazenda, Paulo Câmara, leva um banho do candidato do PTB, senador Armando Monteiro, que é apoiado pelo PT. Mas ambos - Aécio e Eduardo - garantem : vão eleger seus candidatos. A conferir.

Fechando o ciclo de 64

A campanha deste ano fecha o ciclo de 1964. Expliquemos : os pesados anos de chumbo redefiniram os rumos da política, fazendo nascer partidos, formando grupos, multiplicando alas e dando margem à diástole que propiciou a abertura dos horizontes democráticos. Os atores alçaram ao patamar contemporâneo sob o empuxo de um discurso que teve como eixo o combate ao passado sombrio. Fernando Henrique, José Serra, Luiz Inácio e Dilma, entre outros, fazem a ponte entre o ontem e o hoje, eles que padeceram sob o tacão da ditadura militar. Vozes do passado ainda se ouvem. Mas é forte o clamor para que o país descortine uma nova era, dando vez ao grupo pós-64.

Antecipação

Por isso mesmo, a batalha se cerca de um inusitado preparo com o uso antecipado de ferramentas, incluindo intensa propaganda política, manipulação das massas, alianças políticas sem eira nem beira, lógica/ilógica dos discursos. O medo torna-se arma de guerra. É um recurso extremo, mas de efeito devastador. Como pregava Hitler : "É apenas na aplicação permanentemente uniforme da violência que consiste a primeira das condições de sucesso". Implicava a "violação psíquica das massas pela propaganda emotiva baseada no medo". Serge Tchakhotine, em Mistificação das Massas pela Propaganda Política, explica que Hitler usou a estratégia do medo para ativar os dois primeiros instintos humanos : o impulso combativo (o medo e a luta pela sobrevivência - contra incertezas, obstáculos, inimigos, etc) e o impulso nutritivo (alimento, bolso com dinheiro para suprir o estômago). Para ganhar as massas, ensinava Goebbels, "é preciso contar com sua fraqueza e bestialidade, baixar o nível intelectual da propaganda, simplificar as ideias complicadas".

Os tempos são outros

Ora, os tempos são outros. O dito hitlerista "quanto maior a mentira, maior a chance de todos nela acreditarem" não engabela como no passado, apesar da possibilidade de ainda enrolar incautos e incultos. Entre nós, a estratégia do medo bate nos fundões sob os braços do assistencialismo. Ocorre que a estratégia do terror foi banalizada. Já não finca raízes profundas. A população, mesmo a das margens, parece vacinada contra a artilharia psicológica adotada em guerras eleitorais. Será difícil convencer comunidades que um programa como Bolsa Família, por exemplo, será extinto. Tornou-se política de Estado. E é pouco provável que temas abstratos - privatização da Petrobras, BB e CEF - sejam palatáveis aos sentidos das massas. Os governantes têm a vantagem do "poder da caneta" - liberar verbas, aprovar projetos, nomear pessoas - para dar crédito às promessas. Mesmo assim, a credibilidade do discurso palanqueiro perde força.

Transparência tributária

Entra em vigor a partir do dia 9/6 a lei 12.741/12, conhecida como "Lei de Olho no Imposto", que prevê o detalhamento da carga tributária nas notas e cupons fiscais sob pena de multa em caso de descumprimento. A obrigatoriedade vale para todo o Brasil e deve atingir cerca de dois milhões de estabelecimentos. Na avaliação de Sérgio Approbato Machado Júnior, presidente do Sindicato das Empresas de Contabilidade no Estado de São Paulo (Sescon/SP), significa uma revolução e um avanço para a cidadania fiscal. "Sabendo o quanto pagamos de impostos, fica mais tangível exigir do governo retorno em serviços públicos como educação, segurança, saúde e lazer", exemplifica. Pouco mais de 30% das empresas em SP discriminam os tribunos nas notas fiscais. Em seguida, estão RJ (10%) e MG (8%), segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT).

Ninguém tem provas

Fecho a coluna com uma historinha que mostra a imagem do político nesses tempos de denúncias e escândalos :

Numa festa, a dona de casa recebe um político famoso.

- Muito prazer ! - diz ele.

- O prazer é meu ! Saiba que já ouvi muito falar do senhor !

- É possível, minha senhora, mas ninguém tem provas !

Conselho aos assessores dos candidatos

Na última nota, a coluna oferece pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos atletas da seleção brasileira. Hoje, volta sua atenção aos assessores dos candidatos :

1. Mais que na campanha anterior, o pleito deste ano deverá dar ênfase ao discurso e à articulação com a sociedade organizada. Implica escolher abordagens adequadas, temas de alto interesse da coletividade, e desenvolver contatos estreitos com as entidades de intermediação social.

2. O marketing segmentado (categorias profissionais e classes sociais) deverá prevalecer sobre o marketing massivo (a coletividade como um todo), principalmente nas campanhas estaduais (majoritárias e proporcionais).

3. Essas orientações implicam mapear as forças sociais, verificar quais os novos polos de poder e estabelecer junto a eles um estreito contato, a par de propostas que venham atender suas demandas.