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Porandubas nº 486

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Atualizado às 15:54

Abro a coluna com duas historinhas contadas pelo acadêmico maranhense Benedito Buzar.

Meia direita

Aproximava-se o fim do mandato do governador Nunes Freire e ele desejava saber com quantos deputados estaduais poderia contar na Assembleia Legislativa para eleger o seu sucessor, tendo em vista que o nome do deputado Federal João Castelo ganhava força, fazendo a bancada da Arena aderir à sua candidatura ao governo do Estado. Convocados os deputados estaduais para uma reunião de avaliação no Palácio dos Leões, a todos Nunes Freire fazia a mesma pergunta :

- Qual a sua posição na sucessão ?

Ao dirigir a pergunta ao deputado Djalma Campos, ex-craque de futebol e ídolo do Sampaio Corrêa, este respondeu enfaticamente :

- Governador, na época em que eu jogava pelo meu clube, minha posição era meia-direita.

O murro de Alemão

Em comemoração à nomeação do engenheiro Haroldo Tavares a prefeito de São Luís, o governador Pedro Neiva convocou a imprensa para tomar conhecimento do secretariado do novo gestor da capital do Maranhão. Um jornalista resolveu perguntar ao chefe do Executivo do Estado se não considerava fraco o secretariado de Haroldo Tavares. Sem hesitar, Pedro Neiva respondeu :

- Você acha o secretariado de Haroldo fraco porque ainda não pegou um murro de Cláudio Alemão.

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Traição na reforma ?

A presidente Dilma, com a ajuda do balconista-mor, Luiz Inácio, e dos auxiliares Jaques Wagner e Ricardo Berzoini, abriu gigantesco balcão de trocas na Esplanada dos Ministérios. PR, PP e PSD são algumas siglas que estão no meio da feira. Devem ganhar mais espaço na estrutura governativa para formar o rolo compressor na Câmara, capaz de evitar o impeachment. Mas o sinal amarelo foi ligado.

Trair e coçar é só começar

O sinal amarelo foi ligado em função da nova/velha descoberta : se o governo pagar antes, pode não receber a mercadoria. Quer dizer, não terá certeza se receberá os votos de eventuais "vendedores". Nossa cultura política não é anglo-saxã, à base do sim, sim, não, não. Ancora-se no talvez, quem sabe, vamos ver, pode ser. Ou seja, só se tem certeza do voto quando ele for apurado. Por isso mesmo, o governo teme expandir os espaços sinalizados para partidos médios e pequenos. Quer fazer cumprir a promessa só depois da votação do impeachment. Por enquanto, o Ministério não muda.

A antena das ruas

O corpo parlamentar, principalmente a banda sem muita convicção política, tende a mudar de posição na onda das marés. Sob maré vazante, puxa o carro da situação ; sob maré enchente, entra no vagão das oposições. Como estarão as marés das ruas lá pelos meados deste mês de abril ? Haverá grandes mobilizações ? As massas gritarão a favor ou contra Dilma ? As duas coisas ? As maiores densidades populares estarão de que lado ? Como se sabe, há uma imensa fogueira na paisagem. E alas brigando. Ficar ao lado de uma banda - a governista, por exemplo - pode ser uma opção para ingressar no inferno político.

A defesa do governo

O advogado-Geral da União, José Eduardo Cardozo, fez candente e competente defesa da presidente Dilma na Comissão de Impeachment da Câmara nesta segunda-feira. Depois de uma contextualização, arrematou com a hipótese de que impeachment só pode ocorrer ante um atentado à Constituição cometido pela presidente, ou seja, se fosse autora de uma violência de proporções gigantescas à letra da lei. O ambiente na Comissão está repartido, polarizado. O ministro não conseguirá puxar um voto para o lado da presidente.

O ódio generalizado

Em mais de três décadas de análise política, este consultor jamais viu tanta destilação de ódio na sociedade. O Brasil mais parece um arquipélago repleto de grandes, médias e pequenas ilhas, cada qual com seus grupos de habitantes. De um lado, as grandes correntes - as classes sociais -, de outro, os núcleos e categorias profissionais. As classes médias, em sua imensa maioria, mostram-se contrárias ao governo da presidente Dilma. As classes C, D e E tendem a se dividir, mas sua maioria não está mais na banda governista. A classe C, a chamada classe emergente, depois de ascender ao primeiro andar do meio da pirâmide, volta à base com as perdas que sofre. E muda de posição, agora indignada com o governo.

A ressonância do refrão

Uma parte da intelectualidade e uma larga base do meio artístico se mostram favoráveis ao governo e se juntam à militância lulopetista na exclamação do refrão : "não vai ter golpe". O dito ecoa como grito de guerra nas redes sociais e nas avaliações interpessoais e grupais. O historiador argentino, Carlos Malamud, carimba o refrão como "retórica bolivariana". Tornou-se o escudo que o comandante Lula, sua pupila Dilma, os capitães petistas e a militância usam na convocação de guerra. Já os profissionais liberais, em sua imensa maioria, querem a saída da presidente.

Catarse

A essa altura, o impeachment da presidente assume a identidade de uma catarse social. Ou seja, pelo sentimento da maioria - 73% dos brasileiros querem o impeachment - o afastamento de Dilma equivaleria ao vapor da panela de pressão. Necessário para a panela não estourar. Criou-se uma onda que, em círculos concêntricos, vai saindo do meio do oceano social, ganhando força e chegando às margens. Qualquer ventania em sentido contrário poderá gerar borrascas gigantescas. A permanência da presidente criará o efeito "reversão de expectativas" - frustração, desânimo, desorientação social, perda de autoestima, indolência, automatismo. Se assim ocorrer, a questão emerge : terá condições de governar ?

Marco Aurélio

O ministro Marco Aurélio ficou na corda bamba ao responder à bancada de jornalistas do programa Roda Viva de segunda-feira. Mas, em determinado momento, defendeu a posição de que, mesmo se for afastada pelo Senado, o STF pode derrubar o impeachment da presidente. Alegou ser a Corte a última instância para resolver o imbróglio. Trata-se de visão polêmica. Ora, é sabido que o impeachment da presidente da República é prerrogativa do Congresso Nacional. A vingar a opinião de Marco Aurélio, o sistema de pesos e contrapesos é jogado no lixo. Legislativo e Executivo se subordinariam à Corte. Ontem, o ministro determinou ao presidente da Câmara que acolhesse pedido de impeachment impetrado contra o vice-presidente Michel Temer por um advogado. Eduardo Cunha havia arquivado o pedido sob o argumento de que a solicitação carecia de fundamento.

Panamá Papers

Os milhões de páginas do chamado Panamá Papers mostram como os grandes comandantes da política e dos negócios no mundo capitalista procuram se proteger das intempéries. Buscam empresas em paraísos fiscais para guardar seus tesouros. Explícito sinal de desconfiança nos governos, nos sistemas políticos, nos organismos internacionais, nas Nações.

Eleições gerais

As crises permitem as mais razoáveis e também as mais estapafúrdias alternativas para os impasses na política e na economia. Surge, agora, a "luminosa" sugestão de realização de eleições gerais este ano. Ideia sem respaldo legal. Isso só poderia ocorrer, este ano, com a renúncia da presidente e do vice-presidente. Fazer isso por meio de uma PEC ? Coisa absurda. Inconstitucional. Seria uma ruptura no sistema normativo. Um casuísmo. Mas tem gente que quer pôr mais lenha na fogueira.

PMDB, a decisão

O PMDB decidiu sair do governo. Decisão da Convenção Nacional ocorrida dia 12 de março. Que deu 30 dias para a realização de uma reunião, quando seria definido o rito. Em função das circunstâncias políticas - delações, gravações vindas a público - o partido antecipou a reunião de 12 de abril para 29 de março. Para evitar humilhação dos eventuais perdedores - partidários do governo - aprovou-se uma sugestão do senador Eunício : a decisão pelo afastamento seria por aclamação. Isso foi feito.

PMDB, a divisão

A surpresa veio rápido. Apenas o ministro do Turismo, Henrique Alves, deixou o governo. Deu-se o prazo até 12 de abril para os ministros organizarem sua saída. E o que ocorreu ? Negociações de uns e outros para permanecer no governo. Ora, a decisão pela saída, o modus operandi (por aclamação), tudo isso ocorreu numa reunião na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros. Que aplaudiu a unidade conseguida. Dias depois, Renan dá mostras que está contrariado com a decisão partidária. Kátia Abreu, em claro desafio ao partido, proclama : não vou sair do Ministério e nem do PMDB. Helder Barbalho luta para ficar no comando dos portos ; Mauro Lopes, na Aviação Civil ; Celso Pansera, na Ciência e Tecnologia e Marcelo Castro, na Saúde. Um picolé de pimenta para quem descobrir se o PMDB vai aguentar o tranco das ruas.

Jucá no comando

O senador Romero Jucá assume a presidência do PMDB. O vice-presidente se reserva para acompanhar a cena política, deixando a arena dos debates a cargo do senador, experiente na arte de batalhar.

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Fecho a coluna com mais um "causo" narrado por Benedito Buzar.

Retirem meu nome

Na eleição ao governo do Maranhão, em 1965, o candidato oposicionista, José Sarney, impôs ao deputado Renato Archer, candidato do PTB, impiedosa derrota no município de Governador Archer. Em Brasília, ao ter ciência de que o filho Renato havia obtido uma votação ridícula no município que tem o seu nome, o senador Sebastião Archer da Silva enviou um telegrama ao deputado Baima Serra com este teor :

- "Solicito urgentemente apresentar projeto à Assembleia Legislativa retirando meu nome do município onde Renato não poderia jamais perder para Sarney".