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Porandubas nº 520

quarta-feira, 8 de março de 2017

Atualizado às 08:21

Abro a coluna com mais um "causo" das Minas Gerais.

Lei da Gravidade

A Lei da Gravidade, de vez em quando, dá dor de cabeça aos mineiros. E a lei da gravidez, essa, nem se fala. Na Câmara Municipal de Caeté, terra da família Pinheiro, de onde saíram dois governadores, discutia-se o abastecimento de água para a cidade. O engenheiro enviado pelo governador Israel Pinheiro deu as explicações técnicas aos vereadores, buscando justificar a dificuldade da captação: a água lá em baixo e a cidade, lá em cima. Seria necessário um bombeamento que custaria milhões e, sinceramente, achava o problema de difícil solução a curto prazo, conforme desejavam:

- Mas, doutor - pergunta o líder do prefeito - qual é o problema mesmo?

- O problema mesmo - responde o engenheiro - está ligado à Lei da Gravidade.

- Isso não é problema - diz o líder - nós vamos ao doutor Israel e ele, com uma penada só, revoga essa danada de lei que, no mínimo, deve ter sido votada pela oposição, visando perseguir o PSD.

Quiproquó e status quo

Há uma densa corrente de vieses, erros, versões erráticas circulando nas mídias, seja a tradicional (jornais, revistas, rádio e TV), sejam as mídias sociais na internet. Alguns colunistas, mais que análises e leituras racionais, estão praticando exercícios de tiro ao alvo. A começar pela evidente disposição de misturar alhos com bugalhos, uma coisa com outra, doações oficiais de recursos às campanhas com caixa 2, caixa 3, caixa 4, propinas, etc. O status quo do país abriga um gigantesco quiproquó.

As delações

Os analistas tiram conclusões a partir das delações feitas. O novelo foi puxado e os nomes aparecem em sequência, de A a Z, envolvendo partidos de todos os naipes. Uma doação oficial feita a um partido deixa de ser coisa legal para se transformar em suspeita. Os protagonistas - candidatos nas campanhas, eleitos, derrotados, partidos grandes, médios e pequenos - são amalgamados. Todos se transformam em farinha do mesmo saco.

Provas e contraprovas

O que se vê é uma paisagem de terra arrasada. A operação Lava Jato, que sucede na apuração de escândalos o mensalão, passou a adensar a indignação social. As denúncias se sucedem. Um nome puxa outro. Um processo de banalização dos fatos tem o condão de nivelar todas as abordagens. Não há ninguém que se salve. Ora, estamos na fase das delações. Cada caso, porém, terá de exibir provas, contraprovas, oitivas de um lado e de outro. Ocorre que o viés midiático é de pedido de condenação quando não de prejulgamento. Um exemplo: se o TSE não condenar fulano, estará se matando. Ora, esse tipo de análise é torcida. É um prejulgamento. É um tiro na cabeça dos ministros que julgarão os casos.

Calma, pessoal

Deixem, senhores analistas, que os juízes cumpram o rito da Justiça. Podem cobrar pressa, claro. Mas não atirem na cabeça dos magistrados. Esperemos que as Cortes cumpram a sua missão, sob os valores republicanos da ordem, da disciplina, da independência, do zelo, da dignidade. Não queiram, senhores comentaristas, substituir os juízes.

Doações

Os partidos políticos, por sua vez, precisam comprovar as doações recebidas. Quanto à origem dos recursos, uma grande interrogação invade os ambientes dos interrogatórios: os receptores precisam saber de onde o dinheiro saiu? De alguma obra ou projeto? Mesmo se comprovarem a entrada oficial de recursos - com a declaração ao TSE - ainda assim podem ser jogados nos caldeirões do caixa 2 ou das propinas?

O ritmo da economia

Há uma visível corrida entre a economia e a política. O resgate da economia acontece de forma lenta. O acirramento da crise política ocorre de forma mais acelerada. As tensões se desenvolvem ao ritmo das investigações. No caso do TSE, ao que parece o ministro Herman Benjamin quer correr de maneira acelerada a quilometragem à sua disposição: uns 100 km até outubro, data em que sairá. Se a economia der sinais de grande vigor no segundo semestre, a decisão de Herman deverá ter impacto menor. A recíproca é verdadeira.

1ª instância

Mais uma interrogação se instala na República de Curitiba. A decisão do juiz Sérgio Moro de ouvir Lula em princípios de maio acelerará seu julgamento na 1ª instância? Condenado, Lula receberá o mesmo veredito na 2ª instância? A paisagem começa a exibir a cor vermelha do PT em vídeos que tentam iniciar a pré-campanha de Lula como candidato a presidente em 2018. No Nordeste, circula um vídeo muito emotivo embalando a volta de Lula, presidente. Que funciona como escudo. As massas estão sendo cooptadas para formar uma muralha de defesa de Luiz Inácio.

Debate sobre ética

Simulemos um debate sobre ética na política entre parlamentares e o senador Rui Barbosa. O mestre lhes diria: "Não há nem pode haver aliança entre a política e os meus interesses privados. A política é e será sempre a inimiga da minha prosperidade profissional". O parlamentar poderia retrucar: "Ética é fidelidade aos amigos". Outro arremataria: "Aos amigos, pão, aos inimigos, pau". O velho Rui, no troco, lembraria trecho do discurso de 26/12/1901, que bem poderia servir de conselho a muitos dos nossos representantes: "Vespasiano dizia que, para um imperador, decência é morrer de pé, decência é cumprir bem o seu papel".

Reforma eleitoral

A esfera política deverá sair da sombra e agir à luz do dia. Espera-se que as regras para o jogo eleitoral de 2018 sejam definidas logo, logo. Essas regras abrigariam, entre outros instrumentos, a cláusula de barreira, o fim das coligações proporcionais, a anistia ao caixa 2 e a formação de um fundo para financiamento dos candidatos. Esse pacote tem de ser aprovado até outubro, um ano antes da eleição. Seria mais uma montanha de dinheiro a sair dos cofres públicos. O fundo partidário continuaria imexível.

Rodrigo Maia

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, é considerado um grande articulador. O sucesso da agenda do Executivo dependerá muito dele. Que tem tido coragem de enfrentar o embate na Casa que preside. Rodrigo é um nome do amanhã. E tem todas as condições para pleitear a candidatura ao governo do Rio de Janeiro em 2018.

João Doria

O prefeito de São Paulo continua na rota da boa avaliação. Doria tem feito o que prometeu. Trata-se de um administrador zeloso, cobrador, controlador. Está atento ao que se passa ao redor. Começa a frequentar as listas de candidatáveis no páreo de 2018. Mas é uma pessoa leal. Jamais trairá seu patrocinador e amigo Geraldo Alckmin, que será seu candidato a presidente da República.

Governo do Estado

Em compensação, Alckmin poderá puxar João Doria como candidato ao governo do Estado. João diz que seu único objetivo é prefeitar os quatro anos para os quais foi eleito. Mas uma das regras da política é: não existe regra imutável na política. Se o povo pedir, JD sairá a galope pelos prados governamentais de São Paulo.

Aécio Neves

Aécio Neves domina a máquina do PSDB. Mas é alvo da operação Lava Jato. Resistirá? Caso resista, será difícil tirá-lo da liça. Nesse caso, Alckmin teria de se habilitar em outra legenda. Serra continuará como carta importante do baralho. Saiu do Ministério, mas estará no Senado. E ajudou Aloysio Nunes Ferreira a ser ministro. Este, por sua vez, estará mais alinhado a Aécio do que a Alckmin. E Serra, caso se recupere, pode ser candidato ao governo, com Kassab na chapa como vice ou como candidato ao Senado.

O PIB da corrupção

O Brasil abriga, segundo pesquisa da Transparência Internacional, 26% do dinheiro movimentado pela corrupção no mundo. Há quem calcule que o Produto Nacional Bruto da Corrupção alcance metade do nosso PIB.

Cidadania ativa

No clássico "Considerações sobre o Governo Representativo", o filósofo inglês John Stuart Mill classifica os cidadãos em ativos e passivos, esclarecendo que os governantes preferem os segundos, por ser mais fácil dominar súditos ou pessoas indiferentes, mas a democracia necessita dos primeiros. E aduz: "os súditos podem ser transformados em um bando de ovelhas que se dedicam tão somente a pastar uma ao lado da outra". Norberto Bobbio arremata a ideia com este sarcasmo: "e as ovelhas não reclamam nem mesmo quando o capim é escasso". A imagem calha bem nesses tempos turbulentos que o Brasil atravessa. Primeiro, pela constatação de que se expandem no território os grupamentos de cidadãos ativos. Um intenso processo de conscientização social se espraia por todas as camadas, inclusive as que habitam os porões da miséria.

A era digital

A era digital nos traz um mundo interligado. Se jornais e revistas tinham como caixa de ressonância as colunas de leitores, hoje as redes sociais se prestam a ser gigantescas tribunas para comentários, análises, posicionamentos e opiniões. Os efeitos se fazem ver na extensão da conscientização crítica, no controle das tarefas de governantes, nas demandas de grupamentos, em suma, em amplo controle da representação política e dos próprios Poderes constituídos. O fato de um alto ministro da mais alta Corte do país, o Supremo Tribunal Federal, poder ser criticado logo após proferir um voto, era algo inimaginável anos atrás. Agora, a mais alta autoridade pode acompanhar tudo que se diz sobre ela nas redes sociais.

Equação F+C+M+R em mudança

Trata-se de uma mudança no fluxo informacional: as fontes, antigamente muito limitadas, se multiplicam por todos os espaços. Cada internauta pode ser fonte de informação e análise. Ou seja, a antiga equação da comunicação - F+C+M+R (Fontes, Canais, Mensagens, Receptores) - ganha nova leitura: as fontes encontram na rede tecnológica um leito natural para manifestar expressão, condição que só poucos continuam a ter na mídia tradicional (jornais, revistas, rádio e TV).