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Homenagem

Despedida do ministro Sidnei Beneti do STJ é marcada por grande emoção

Ministro deixa a toga com a aposentadoria compulsória.

Da Redação

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Atualizado às 16:40

Auditório absolutamente lotado: prestigiado por dezenas de pessoas, o ministro Sidnei Beneti, que atinge a compulsória nesta quinta-feira, 21, despediu-se da toga de ministro do Superior Tribunal de Justiça.

Por mais de uma hora a sessão plenária da Corte Especial foi marcada por grandes emoções na despedida de Beneti. A ministra Nancy Andrighi, colega do homenageado na 3ª turma e na 2ª seção, foi a responsável pelas palavras em nomes dos colegas ao "querido amigo e irmão".

Visivelmente emocionada, Nancy lembrou a trajetória de Sidnei Beneti, "desde os primórdios um agente da inovação dos e nos processos", a forte veia literária do ministro e sua participação como legislador nas comissões de reformas, entre outros, da lei de execução penal e da mediação.

"Externo meu desejo de que continue a ser nosso companheiro em outros caminhos e já pedi ao senhor para ir ao Conselho Nacional de Justiça prestar inestimáveis serviços à corregedoria. A sua marca é alegria de viver."

Pela OAB, discursou o advogado Celso Moria, orador da Turma de 1968 da Faculdade de Direito da USP, onde o ministro Beneti bacharelou-se.

Ao tomar a palavra, o ministro Beneti evocou a dor em despedir-se. "Tive alegrias imensas ao julgar, mas também sofri ao ver o padecimento de partes e advogados diante de decisão desfavorável."

A hercúlea produtividade do ministro, lembrada por Nancy Andrighi, foi comentada pelo mesmo. Sidnei Beneti deixa o STJ com 1.890 processos conclusos, um dos menores acervos dos gabinetes.

"Julguei os processos que foram possíveis. Não deixa processo por assinar, mas sinto profundamente por não ter conseguido julgar todos os processos distribuídos a mim no gabinete. Espero não mais ter que despertar de madrugada, todos os dias, inclusive aos domingos e feriados, para trabalhar até o por do sol."

Em menos de sete anos no STJ, Beneti proferiu mais de 109 mil decisões - uma média de mais de 15 mil processos por ano.

Natural de Ribeirão Preto/SP, Beneti deu início à carreira na magistratura em 1972, quando tomou posse como juiz na comarca de Rio Claro. A família o acompanhou sempre ao longo de diferentes comarcas, depois na capital, SP, e por fim no STJ, quando chegou em 12/12/07 na vaga do ministro Carlos Alberto Menezes de Direito.

Nesta quarta-feira, 20, a esposa Silvia, os filhos, nora, neto, cunhados, atuais e antigos funcionários, além de vários amigos, como o colunista migalheiro dr. José Maria da Costa, acompanharam também a despedida.

"Me aposento devido ao limite de idade imposto pela CF, caso contrário sem dúvida permaneceria. Mas não há aposentadoria do afeto e da amizade. Saio desta sala acompanhado de meus funcionários, que peço me conduzam em devolução aos meus familiares, que aqui me aguardam. Amanhã não serei mais juiz. Essas togas, a de ministro e a de desembargador do TJ/SP, serão guardadas e conservadas. Meus familiares um dia me vestirão com elas na despedida derradeira."

Emocionado, Sidnei Beneti deixou a Corte Especial sob intensos aplausos, para encontrar a família e dezenas de amigos que o aguardavam ansiosos.

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  • Homenagem do advogado Marcio Kayatt

SAUDAÇÃO DESPEDIDA MINISTRO SIDNEI BENETI DA 3ª TURMA DO STJ - 19.08.2014

No dia 14 de janeiro de 1.972, ou seja, há mais de 42 anos, tinha início uma trajetória de dedicação à magistratura que, para tristeza de todos, finda-se esta semana.

Obstinado, desde que ingressou na Faculdade de Direito do Largo S. Francisco, o filho de D. Inah e do Sr. Fioravante, então jovem bacharel em direito, obteve aprovação na magistratura paulista pela difícil via do concurso público, passando a exercer na plenitude uma das mais longevas e profícuas carreiras de que se tem notícia.

Porém, não pretendo aqui relacionar todos os diversos cargos, atividades, obras e demais afazeres de que se ocupou o Ministro Beneti ao longo dessas mais de quatro décadas. Não gostaria de falar de sua grandiosa cultura jurídica e formação humanista. Não quero falar das quase 110.000 decisões proferidas em menos de 07 anos de trabalho no STJ.

Gostaria de destacar uma faceta de sua personalidade: o amor.

Em tudo que sempre fez e continua a fazer, o amor sempre foi a grande marca do Ministro Beneti.

Desde tenra idade, na sua querida Ribeirão Preto, teve em seus pais a primeira lição de amor, tão bem retratada na obra "Amor sem Fim", publicada por sua mãe Inah por ocasião de seu aniversário de 90 anos. Ali se encontra um verdadeiro exemplo de família e de amor.

Aos 18 anos inicia nova história de amor, agora com sua parceira de toda uma vida, D. Silvia, companheira nas dificuldades e vicissitudes que a magistratura proporciona àqueles que a ela se dedicam. Para alegria de D. Silvia, finalmente o Ministro Beneti vai se livrar dessa sua rival, a judicatura.

Desse amor, nasceram seus três filhos, Silvia, Sidnei e Mariana, todos advogados bem sucedidos e cujas famílias, com os netos que o Ministro Beneti tanto ama, espelham o exemplo de amor herdado de seus pais.

E, na magistratura, não poderia ser diferente.

Nesses mais de 42 anos de trabalho, foi com inigualável amor que o Ministro Beneti exerceu sua profissão de fé, decidindo de forma serena as mais diversas questões que lhe foram submetidas, atendendo as partes e seus advogados de forma lhana, prestigiando os servidores que sempre lhe apoiaram e, o que é mais importante, sempre pensando o direito.

O maior poeta libanês, Khalil Gibran, perguntando a si mesmo o que é trabalhar com amor, assim respondeu:

"É tecer o pano com fios tirados do vosso coração, como se vosso bem-amado fosse usar aquele pano.


É construir uma casa com afeição, como se vosso bem-amado fosse viver naquela casa.


É semear as sementes com carinho e fazer a colheita com alegria, como se vosso bem-amado fosse comer as frutas.

É impregnar todas as coisas que gostais com o hálito dos vossos próprios espíritos, e saber que todos os abençoados mortos estão à vossa volta, vos olhando".

Assim sempre agiu o Ministro Beneti: com muito amor !

Encerro lembrando as palavras do eterno mestre Gofredo:

"Amor é bondade. Ou melhor, é manifestação da bondade. E a bondade é a mais alta qualidade do ser humano. É sua virtude suprema. Mais importante do que o raciocínio, mais necessária do que a ciência. Nada existe no homem de mais preciso, de mais fecundo e construtivo, do que sua bondade e seu amor".

Ministro Beneti, em nome da advocacia brasileira, fica o registro de agradecimento pelo amor com que se dedicou à magistratura.

Que Deus continue a iluminar seu caminho. Muito obrigado.

MARCIO KAYATT