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Crime

Advogados têm nome e registro na Ordem usados em golpe

Vítimas recebem carta com dados dos causídicos, informando que o cidadão tem algum valor a receber mas, antes, precisa fazer um depósito para cobrir os custos do processo.

Da Redação

quinta-feira, 2 de março de 2017

Atualizado às 08:38

O esquema é antigo, mas continua a fazer vítimas país afora: uma quadrilha tem usado o nome e registro na Ordem de advogados do DF para aplicar golpes. Enviando carta com os dados dos causídicos (ver abaixo), a quadrilha "informa" que o cidadão tem algum valor de benefício previdenciário a receber mas, antes, precisa fazer um depósito para cobrir os custos do processo.

O advogado Guilherme da Hora Pereira, do escritório Hora & Crispim Advogados Associados, em Brasília, tomou conhecimento do caso em novembro último, ao receber o telefonema de uma pessoa do interior de São Paulo, questionando-o sobre alguns valores que teria a receber de um processo judicial sobre questões de diferenças previdenciárias. Ao Migalhas, o causídico contou:

"Eu inicialmente achei que fosse engano, pois não atuo na área, todavia essa pessoa afirmou ter recebido uma ligação de um suposto dr. Aurelio, que dizia ser meu funcionário na tal PREV-SEGURADORA, indicando que havia um crédito de cerca de R$ 80 mil no processo, e que os valores somente seriam liberados após o pagamento das custas judiciais. Na hora, claro, identifiquei o "golpe", pedi algumas informações a mais (telefones dos golpistas, etc.), e registrei a primeira ocorrência junto à Polícia Civil do DF."

Na mesma semana, mais uma vítima entrou em contato com Guilherme, contando a mesma história, porém com um agravante: dessa vez ela me avisou ter recebido uma correspondência supostamente assinada pelo advogado, dando conta da situação acima.

"Desde então cerca de 100 pessoas me ligaram, dos mais diversos Estados e cidades, questionado a respeito dos tais valores e da veracidade dessa carta. Uma pessoa, inclusive, me ligou daqui do aeroporto de Brasília, pretendendo marcar o encontro para 'me entregar' o dinheiro. Fiquei até assustado na hora."

Na manhã desta quinta-feira, 2, mais um caso: a advogada Joyce Holanda Marinheiro, de Manaus/AM, informou que a sua mãe recebeu cópia da carta da Prev Seguradora - Assessoria Previdenciária (ver abaixo). Desconfiadas de se tratar de um golpe, ligaram no número indicado na carta. Neste número atendeu um rapaz que as redirecionou para outro número, para falar com um advogado.

"Ato contínuo, ligamos e falamos com o sr. (supostamente membro da quadrilha que vem aplicando o golpe), segundo o mesmo, deveríamos depositar R$ 4.298,00 na Conta da Caixa Econômica Federal, ag. 0898, poupança 013, conta 00022694-2 no nome de Benedita Matos de Campos, CPF 096.538.212-53 e o valor a ser liberado para minha mãe seria de R$ 66.600,00. Desconfiei do golpe, e através do CNA consegui o telefone do Dr. Guilherme da Hora e entrei em contato com o mesmo que me confirmou o golpe."

Andrea Paes Leme, de Brasília, que teve seus dados usados no esquema também, narrou o contato que recebeu de uma das vítimas via Facebook:

"Meu espanto: ali constava a informação da tal associação e o meu nome constava como gerente jurídica e indicava o exato número da minha OAB. Havia detalhes chocantes no documento... minha OAB é de São Paulo, o documento tinha a marca d'água do Estado de SP."

A mãe da mulher que entrou em contato com Andrea chegou a depositar R$ 20 mil para os autores do golpe. Andrea também contou que recebeu ligação de um advogado do RJ questionando sobre uma carta que a sogra dele havia recebido em contexto semelhante. "Estou em choque pois nessa última está o meu nome completo, um carimbo, assinatura, e novamente a minha OAB."

Os advogados indicaram à Polícia Civil os dados para que seja deflagrada alguma espécie de operação contra a tal quadrilha (inclusive os dados de contas bancárias foram apresentados).

De acordo com Paes Leme, o Conselho Federal da OAB afirmou que se proporia a somente informar as seccionais, e aparentemente a Polícia Civil ainda não iniciou as investigações. Por fim, Guilherme Pereira considera gravíssimo o caso, pois além de prejudicar as pessoas que estão pagando a quadrilha na esperança de receber os tais valores, também repercute na minha reputação dos causídicos que tiveram os dados indevidamente utilizados, "além da própria credibilidade da advocacia como um todo".

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