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Tragédia brasileira

Barroso sobre corrupção generalizada: "Temos o dever de enfrentar isso e de fazer um novo país"

Ministro lamentou em sessão plenária a "tragédia brasileira".

Da Redação

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Atualizado às 12:10

"Nós vivemos uma tragédia brasileira. A tragédia da corrupção que se espraiou de alto a baixo, sem cerimônia."

A firme constatação foi feita pelo ministro Luís Roberto Barroso na última sessão plenária deste ano do STF. Em pauta, os inquéritos que tratam dos envolvidos do PMDB na Câmara, julgamento que foi iniciado na semana passada com o voto do relator, ministro Fachin.

Nesta terça-feira, 19, o ministro Dias Toffoli votava quando Gilmar Mendes fez um aparte, momento em que criticou as investigações e, mais uma vez, o ex-PGR, Rodrigo Janot. "O que estamos vendo aqui é a descrição de um grande caos. Uma grande bagunça. Um serviço mal feito, apressado, corta e cola, com as contradições que foram aí apontadas. Isso é vexaminoso para o tribunal."

"Portanto, o populismo criminal judicial é responsável por esse tipo de assanhamento, e de erros graves que nós temos cometido. E não vamos nos isentar, a história não vai nos poupar. A covardia com que muitas vezes tratamos os temas nos será cobrada."

Foi quando o ministro Barroso argumentou que não acredita ter havido uma investigação irresponsável. E teceu considerações acerca do estágio de corrupção generalizada na política brasileira:

"Apenas para consignar, há diferentes formas de ver a vida e todas merecem consideração e respeito. Eu gostaria de dizer que eu ouvi o áudio "tem que manter isso aí, viu?". Eu quero dizer que eu vi a fita, eu vi a mala de dinheiro, eu vi a corridinha na televisão. Eu li o depoimento de Alberto Yousseff. Eu li o depoimento de Funaro. Portanto, nós vivemos uma tragédia brasileira.

A tragédia da corrupção que se espraiou de alto a baixo, sem cerimônia. Um país em que o modo de fazer política e negócios funciona assim: o agente político relevante escolhe o diretor da Estatal ou o ministro com cotas de arrecadação. E o diretor da estatal contrata, em licitação fraudada, a empresa que vai superfaturar a obra ou o contrato público para depois distribuir dinheiros. E aí não faz diferença se foi para o bolso ou se foi para a campanha, porque o problema não é para onde vai, o problema é de onde vem. É a cultura de desonestidade que se cria de alto a baixo com maus exemplos, em que todo mundo quer levar vantagem, em que todo mundo quer passar os outros para trás, todo mundo quer conseguir o seu. Sem mencionar as propinas para financiamentos públicos, tudo documentado.

Portanto, são diferentes visões da vida e do país. Mas eu não acho que há uma investigação irresponsável. Eu acho que há um país que se perdeu pelo caminho, naturalizou as coisas erradas, e nós temos o dever de enfrentar isso e de fazer um novo país, de ensinar as novas gerações de que vale a pena ser honesto, sem punitivismo, sem vingadores mascarados, mas também sem achar que ricos criminosos têm imunidade, porque não têm."

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