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As viagens de Antonio Palocci - E01 - T01

Veja o primeiro episódio da onírica série com a delação premiada do ex-ministro da Fazendo Antonio Palocci.

Da Redação

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Atualizado em 20 de novembro de 2019 14:36

A escola literária do realismo mágico, que tem na figura de Gabriel Garcia Márquez o grande expoente, ganha agora um concorrente. Não à altura, diga-se.

De fato, longe de ter a capacidade do escritor colombiano, Antonio Palocci criou um mundo fictício. Sua delação premiada é uma peça de ficção digna de concorrer ao prêmio de pior trabalho do mundo.

Antes de entrar no assunto, que vai render vários episódios da série "As viagens de Antonio Palocci", é bom fazer um "previously" e lembrar que o informativo Migalhas já alertava a seu seleto público que estávamos diante de cidadão problemático.

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Vejamos, por exemplo, o comentário que fizemos na migalha do informativo 1.190, no distante 17 de junho de 2005, que noticiava a ida de Palocci para a Casa Civil: "os corretores ribeirão-pretanos vão ficar ainda mais ouriçados". Para bom entendedor, isso resumia bem quem era o personagem.

Naquele mesmo 2005, no dia 19 de agosto, fomos bem mais explícitos: "A máscara de impoluto do ministro vai aos poucos ganhando suas maculosas cores reais." (Migalhas 1.235

Ou seja, há 14 anos já alertávamos os leitores que o sr. Antonio Palocci não era flor que se cheirasse.

O jornalista Elio Gaspari, na Folha de S.Paulo, também já há mais de uma década contou as peripécias do então prefeito de Ribeirão Preto, quando promoveu uma licitação para comprar molho de tomate com ervilhas, que curiosamente só uma empresa vendia.

Dito isso, voltemos à peça de ficção que se tornou a delação do ex-alcaide da Califórnia Brasileira.

Com argumentos do tipo "ouvi dizer", Palocci quis engambelar o MPF com uma delação cujo prêmio não eram benefícios judiciais, e sim a possibilidade de abocanhar os milhões que sua empresa de consultoria faturou. A propósito, a despeito do modo como ganhou dinheiro, Palocci é médico.

Com informações vagas e imprestáveis, o MPF deu de ombros para o que Palocci tinha a dizer.

Mudando de balcão, Palocci foi para a PF. Esta, por seu turno, inexplicavelmente aceitou o acordo. Os motivos dessa aceitação ainda estão esconsos.

Fato é que o TRF da 4ª região, que deveria ter sido judicioso ao homologar o acordo, carimbou o que viu. Assim também o fez o ministro Fachin. Diz-se "judicioso" porque não se pode simplesmente endossar um acordo que não preenche o mínimo de razoabilidade na apresentação de provas. O "ouvi dizer" é das coisas mais condenáveis no conjunto probatório de qualquer processo.

Enfim, mesmo com tais elementos, deu-se como válido o acordo firmado com a PF.

Daí, surgem várias questões intrigantes:

- O delegado que firmou o acordo é o mesmo que investiga?

- Não estará ele com ânimo inapropriado de querer provar que estava certo, maculando a isenção que deve ter uma investigação?

- O MPF, que tinha se negado a receber a delação, concorda com diligências apenas com base na delação que ele rechaçou?

Aliás, em resposta a esta última pergunta, foi o que fez o MPF na operação da última sexta-feira, na 64º fase da Lava Jato, incoerentemente concordando com diligência que tinha como base a delação a qual ele não deu a mínima credibilidade. Ai, ai, ai....

Hoje, no jornal Valor Econômico, outro capítulo da fantasia palocciana. Ele diz que houve propina no STJ para anular as provas da operação Castelo de Areia. Palocci conta que a empreiteira Camargo Correa pagou para obter a decisão. Mas vejamos o que foi homologado: "Antonio Palocci foi informado de que em troca da liminar concedida no Habeas Corpus, referido ministro recebeu a quantia de R$ 5 milhões em uma conta no exterior, na Suíça."

"Foi informado"? Informado por quem, cara pálida? Possivelmente o delator vai colocar a informação na boca do falecido ministro Marcio Thomaz Bastos, que não está entre nós para desmentir o Pinóquio tupiniquim.

E o enredo de Palocci é tão sem caráter, que ele diz que foi pessoalmente falar com um ministro, o então desembargador convocado Celso Limongi, e que este teria concordado em enterrar a operação Castelo de Areia.

Mas a memória do saudoso desembargador, falecido há um ano, não merece ser conspurcada por esse cidadão. Celso Limongi, ex-presidente do TJ/SP, é daqueles exemplos a serem a seguidos. Pudera fôssemos todos Celso Limongi na vida.

Enfim, só estes motivos já seriam suficientes para se duvidar da fajuta delação, o que torna inexplicável que se tenha homologado tamanho instrumento de infâmia.

E não é só isso. Há muita ignomínia ainda a ser perpetrada (p.ex. contra todas as grandes instituições financeiras do país) e que serão devidamente corrigidas nos próximos episódios dessa série, pois são 87 páginas de aleivosias.

Por fim, deve-se trazer ainda um último ponto. A delação está sob sigilo, pelo menos até onde se sabe. Como, então, o Valor Econômico teve acesso à íntegra? E como a Folha de S.Paulo, há dois anos, sabia também desse assunto?

Ou se escancara imediatamente seu inteiro teor, ou há cumplicidade com vazamentos que só prejudicam a própria Justiça.

Vindo à luz do sol, ver-se-á que o liliputiano delator não merece agora, como já não mereceu antes, atenção alguma.

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