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Me engana que eu gosto

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Atualizado em 26 de maio de 2011 15:09

 

"Quem não conhece? / Quem nunca ouviu falar? / Na famosa caixinha do Adhemar. / Que deu livros, deu remédios, deu estradas. / Caixinha abençoada! / Já se comenta de Norte a Sul: / com Adhemar 'tá tudo azul!'"

Música de Herivelto Martins e Benedito Lacerda,
cantada por Nélson Gonçalves

Eis a biografia de três personagens atuais.

O primeiro nasceu em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brasil, país do qual já se disse que "não existe nenhum país no mundo que ofereça tamanha proteção (aos acusados). Portanto, se resolvermos politicamente - porque esta é uma decisão política que cabe à Corte Suprema decidir - que o réu só deve cumprir a pena depois de esgotados todos os recursos, ou seja, até o Recurso Extraordinário ser julgado por esta Corte, nós temos que assumir politicamente o ônus por essa decisão." (clique aqui).

Sua carreira de jogador de futebol não foi tão marcante como a de técnico, diz sua biografia oficial. Despontou no futebol profissional como lateral-esquerdo do Flamengo, em 1971, e permaneceu na equipe carioca até 1978. Nesse período, teve como grande concorrente na posição o jogador Júnior, considerado um dos maiores laterais da história do Flamengo e da Seleção Brasileira, depois guindado, falo do Júnior, a técnico de futebol, onde sua carreira não foi tão marcante, como se dirá em sua biografia. Depois de deixar a equipe rubro-negra e atuar pelo Internacional em 1978, nosso biografado jogou no Botafogo até 1980, quando uma contusão no joelho o afastou dos campos, levando-o a ser técnico de futebol.

Sua primeira conquista em um grande clube como técnico aconteceu em 1993, quando foi campeão pelo Palmeiras, em São Paulo. O título, alcançado com uma vitória por 4 a 0 sobre o maior rival da equipe alviverde, o Corinthians Paulista, foi um dos mais importantes da história do clube, pois interrompeu um jejum de 16 anos sem títulos. No mesmo ano, ele levaria o Palmeiras aos títulos do Torneio Rio-São Paulo e do Campeonato Brasileiro. Em 1994, foi bicampeão paulista e brasileiro.

Apesar de passagens vitoriosas nos times com grandes jogadores montados, teve problemas no período que treinou a seleção, sofrendo ao ser flagrado utilizando documentação falsa e com um processo de sonegação fiscal. Por esta razão, mudou seu nome, diz seu biógrafo. Sua saída do selecionado brasileiro ficou marcada pela eliminação da equipe nas Olimpíadas de 2000, quando o Brasil foi derrotado pela seleção de Camarões.

Em 2005, deixou a equipe do Santos para atuar como treinador do Real Madrid, da Espanha, com os melhores jogadores do mundo, resultando isso em uma passagem sem brilho pelo futebol europeu, pois foi demitido em 4 de dezembro. Dez dias depois é anunciado seu retorno à equipe santista, onde conquistou nos dois anos seguintes o título do Campeonato Paulista. Em 2007, levou a equipe às semifinais da Copa Libertadores da América, mas foi eliminado pelo Grêmio. A falta de uma conquista de torneio internacional interclubes é justamente uma das maiores frustrações do técnico.

Em 2008, voltou ao Palmeiras, onde conquistou mais um título do Campeonato Paulista. A equipe alviverde não vencia um campeonato desde 2000 e não conquistava o torneio estadual desde 1996. Em 2009, depois de ser eliminado mais uma vez da Copa Libertadores da América, desta vez nas quartas de final, as críticas da torcida palmeirense aumentaram, pois ele era questionado por suas interferências na equipe fora do campo, com a indicação de jogadores que não agradaram os torcedores.

No dia 17 de julho de 2009 acertou seu retorno ao Santos F. C. Com um resultado fraco no Campeonato Brasileiro (o pior que teve no comando da equipe da Vila Belmiro), conseguindo apenas a décima segunda colocação, deixou o time em dezembro de 2009. No dia 8 de dezembro de 2009, acertou sua ida para o Atlético Mineiro, fechando um contrato de dois anos com o clube e rejeitando propostas do CSKA Moscou e do Internacional. No dia 2 de maio, com apenas cinco meses no comando da equipe, venceu o Campeonato Mineiro. No dia 5 de outubro de 2010, aceitou a proposta do Flamengo para assumir o comando técnico, fechando um contrato de 2 anos com o clube da Gávea. Esteve invicto no comando do Flamengo em 26 jogos superando a marca do memorável técnico rubro-negro Carlinhos, de 20 jogos. No dia primeiro de maio de 2011 o time conquistou a Taça Rio e o Campeonato Carioca, pois já havia sido campeão da Taça Guanabara.

Não consta dessa biografia, extraída da Wikipédia, que, entre idas e vindas, esse técnico foi assediado sexualmente por uma manicure, que invadiu seu quarto de hotel e obrigou-o a fazer um bom número de abdominais, ao fim das quais ela teria gritado "gooooool!". Também não consta que ela tenha sido presa. Nem pago fiança. Nem ao menos processada (Clique aqui).

Nosso segundo personagem nasceu em Neuilly-sur-Seine, França, terra do general De Gaulle, o tal que não teria dito "ce-là n'est pas un pays sérieux", referindo-se a umas terras distantes. É membro do Partido Socialista francês. Passou os primeiros anos de vida em Marrocos, bem depois de lá terem estado o Humphrey Bogart e a Ingrid Bergman, no norte da África. Ele iniciou sua carreira como professor assistente de Economia na Universidade de Paris, de que depois se tornou titular. Foi então nomeado comissário-adjunto da Agência de Planejamento Econômico para o período 1981-1986. Foi eleito membro do Parlamento para a Assembleia Nacional (1986), onde presidiu a Comissão de Finanças (1988-1991).

É doutor em Economia pela Universidade de Paris. Também formou-se em Direito, Administração de Empresas, Ciência Política e em Estatística. Como acadêmico, seus campos de investigação incluem comportamento doméstico de poupança, as finanças públicas e da política social.

Em 28 de setembro de 2007 foi nomeado presidente do Fundo Monetário Internacional, tornando-se um possível candidato à presidência da França em 2012. Naquela ocasião, prometeu avançar com a reforma dos 185 países membros da instituição que ajuda a supervisionar a economia global.

Antes disso, foi membro da Assembleia Nacional Francesa e professor de economia do Institut d'Études Politiques de Paris. De 2001 a 2007, foi reeleito para a Assembleia Nacional e, em 2006, concorreu para a indicação do Partido Socialista francês para a eleição presidencial. Em 2000 e 2001, lecionou economia no Institut d'Études Politiques de Paris e foi nomeado professor visitante na Universidade de Stanford.

Lecionou na Universidade de Nancy II (1977-1981), foi nomeado para a Comissão do Plano de Chefe do Departamento de Finanças.

Em 10 de julho de 2007, ele se tornou o candidato do consenso europeu para ser o chefe do FMI, com o apoio pessoal do presidente Nicolas Sarkozy, membro, aliás, do partido UMP, de convicções direitistas.

"Segundo uma fonte policial", diz polidamente sua biografia no Wikipédia, em 14 de maio de 2011, pouco depois do meio-dia, uma empregada do hotel de Nova Iorque, EUA, uma africana de 32 anos, entrou em sua suíte, para limpá-lo. O morador ou o apartamento? Como quer que seja, com limpeza ou sem limpeza, diz a mesma fonte que "policiais o removeram do avião da Air France, voo 23, no aeroporto John F. Kennedy", olha a ironia!, na cidade de Nova York, momentos antes da decolagem para Paris. Pagou US$ 1,000,000.00, para sair da prisão, e mais US$ 5,000,000.00, para não cair na tentação de voltar ao aeroporto que leva o nome de um ex-presidente, coisa que, certamente, ele nunca será. Pelo menos ele descobriu que os tempos em que os europeus "se impunham", para sermos delicados no frasear, sobre as africanas chegaram ao fim.

Do terceiro personagem pouco há a dizer. É um autêntico self-made man. Nasceu na cidadezinha de Ribeirão Preto, onde, aliás, fica o suntuoso prédio do Migalhas, com sua escadaria de mármore e gaiola dourada habitada por um prosaico pintassilgo. Discípulo de Adhemar de Barros (clique aqui), formou-se primeiro em Medicina; depois, ingressou na política, desejoso de mudar a sociedade corrompida em que vivia. Militou em diversas correntes radicais de esquerda, destacando-se seu envolvimento na Libelu (Liberdade e Luta) e na Convergência Socialista, correntes trotskistas de extrema esquerda na década de 1980. Graças à experiência adquirida, ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores, de que foi presidente (1997-1998). Quando prefeito de Ribeirão Preto, foi acusado de fraudar licitação para a compra de cestas básicas, que deveria incluir a compra de uma lata de molho de tomate peneirado com ervilha, especificidade que gerou suspeita de fraude e favorecimento, pois apenas uma empresa fabricava esse tipo de tempero. Diz-se que o juiz que presidiu o processo é candidato a prefeito na cidade, pelo PT (clique aqui), o que apenas mostra as voltas que a vida dá.

Sua biografia oficial no Wikipédia diz que várias foram as acusações formuladas contra ele, sem que, porém, nenhuma delas tenha ainda resultado em condenação. Em setembro de 2007, o Tribunal de Contas julgou corretas todas as contas apresentadas pela prefeitura de Ribeirão Preto em sua segunda gestão como prefeito municipal. Em 2005, viu-se envolvido no escândalo do mensalão, após ser acusado por seu ex-secretário na primeira gestão de, como prefeito em Ribeirão Preto, haver recebido, no período de 2001 a 2004, cerca de R$ 50.000,00 mensais de propina de empresa que seria favorecida em licitações da prefeitura. O dinheiro seria usado para abastecer um "caixa dois" de candidatos do PT. As acusações não chegaram a ser provadas judicialmente, mas a quebra de sigilo telefônico de seu ex-secretário, feita pela CPI dos Bingos, mostra que este fez diversas ligações para nosso personagem em 2004, quando ele já era ministro. Em junho de 2007, diz aquela biografia, o ex-secretário retirou as acusações, o que causou indignação ao delegado responsável pelo inquérito, que alegou haver outras provas, especialmente documentais e testemunhais.

Devido a sua considerada boa atuação como ministro das Finanças, tendo a simpatia até de setores da oposição, as investigações sobre ele foram relegadas a segundo plano apesar da gravidade das denúncias. Alguns políticos chegaram a levantar a hipótese de convocar o ministro para uma das CPIs que investigavam os escândalos. Todavia, nenhum requerimento nesse sentido foi aprovado. É o que se lê na tal biografia.

O que ainda não consta daquela edificante biografia é que nosso solerte personagem, mesmo sendo formado em Medicina, montou uma empresa de assessoria economico-estratégica a empresas interessadas em investir no Brasil. Como seus assessores jurídicos lhe asseguraram que societas distat a singulis (clique aqui), jamais poderiam acusar a pessoa física dele de estar a cometer algum crime, como algum dos previstos no Título XI do Código Penal (clique aqui), ainda que ele seja detentor de módicos 99% (eu disse "noventa e nove por cento") do capital social com direito a voto.

Chega ou quer mais?