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Política & Economia NA REAL n° 92

terça-feira, 16 de março de 2010

Atualizado às 07:52

Terça-feira, 16 de março de 2010 - nº 92

A chave do futuro se chama PT

No mundo real dos homens de decisão e de negócios já se dá como certo que a reta final da corrida sucessória se dará entre Serra e Dilma. A não ser que sobrevenha algum acidente climático, desses quem nem o Cacique Cobra Coral consegue prever com um mínimo de antecedência.

Ciro quase fora do páreo

Ciro Gomes está a caminho da aposentadoria política em matéria de eleições. Tantas ele fez que está sem opções viáveis. Seu partido, o PSB, não vai se aventurar numa candidatura própria à Presidência. Além disto, esnobou que o PT de SP encheu-se de brios e, assim, o partido vai ao Palácio dos Bandeirantes de Aloizio Mercadante. Resta ao deputado cearense, com título eleitoral paulista, aguardar uma improvável vaga de vice de Dilma ou esperar por um Ministério se ela ganhar - se ele tiver cumprido um papel decisivo nesta eleição. Como, por exemplo, espezinhar o candidato da oposição, papel para o qual Lula deseja designá-lo.

Marina, entre Serra e Dilma

Quanto à senadora Marina Silva, suas chances são quase nulas. Não é impossível que, com o desenrolar da campanha, com mais espaço e com o horário eleitoral, a ex-ministra atinja números melhores nas pesquisas. Ela ainda não atingiu o nível que os analistas acreditam que ela pode alcançar. Um nível de votos que, com a aproximação de Dilma e Serra nas pesquisas, pode ser decisivo para um ou outro. É por isso que a situação gerada pelo pré-sal no Rio incomoda Brasília. Lá, em situação normal, Dilma colheria um bom cabedal de votos. E o Rio irado tem a cara de votar em Marina.

Politicamente, o que será ?

Definido, então, o que é Dilma ou Serra, os exercícios que começam a ser feitos agora é saber como será um governo Serra ou como será um governo Dilma. As especulações do lado econômico, já frequentam as análises que chegam à direção das grandes empresas. Mas há uma questão anterior : as condições políticas para realizar os programas de governo. E neste ponto, a chave se chama Partido dos Trabalhadores. Tanto para Dilma quanto para Serra, o papel dos petistas no jogo político é uma incógnita. De uma equação complicada.

Com uma vitória da oposição

Se por hipótese Serra vencer, o que se precisa definir é como será a atuação do PT na oposição. Se será um partido mais moderado, escaldado nas dificuldades que enfrentou em sua fase governista, ou voltará ao passado, "contra tudo que estará aí". E na escada rolante do PT estarão acoplados as centrais sindicais, os movimentos sociais, incluindo o MST, as ONGs financiadas com o dinheiro público e o funcionalismo - todos os segmentos em "estado de graça" durante os oito anos de Lula. A oposição será selvagem ou civilizada ? As previsões são sombrias : parece difícil para o PT, nas circunstâncias, aceitar serenamente uma derrota para os "neoliberais" se assim podemos chamá-los...

Com uma vitória da situação

A ascensão de Dilma Rousseff, uma neófita em política eleitoral e partidária e que, apesar de todos os esforços, não está conseguindo se despir de seu figurino tecnocrático, meio contundente, de pouca cintura, suscita outra dúvida : até que ponto ela terá ascendência para controlar seus aliados, principalmente o PT. É improvável controlar como Lula controlou, levando o PT a aceitar políticas que ele nunca sequer sonhou apoiar, a contrariar sua própria natureza. Com uma presidente com menos liderança, menos influência e menos respeitada politicamente, os planos do PT, postos no documento de seu último Congresso, que o presidente Lula diz não serem necessariamente as diretrizes do governo, podem virar programas governamentais, parcial ou integralmente. Quem dobrará quem, é a dúvida.

A economia sob Dilma

É muito provável que sob Dilma, o grau de intervenção governamental sobre a economia aumente. Não apenas em função do perfil ideológico da atual ministra, mas também por sua visão, digamos, "pragmática". Basta visitarmos a história para verificarmos que mesmo sob o mesmo espectro ideológico é possível que a presença do Estado na economia aumente. Foi o caso da passagem do governo Médici para Geisel, nos anos 70, e do governo Reagan para Bush, no final dos 80 e início dos 90. O risco, portanto, não é apenas o grau de intervenção, mas a administração dos aspectos colaterais desta intervenção no que tange aos aspectos fiscais (como financiar) e monetários e cambiais (como manter a estabilidade de preços e administrar o câmbio). Um exame cuidadoso destas perspectivas indica que a repetição de um "governo Lula" por parte de Dilma é bem improvável, mesmo que a maioria julgue desejável.

A economia sob Serra

Serra não é o neo-liberal que o proselitismo oposicionista prega e também não é o intervencionista batizado por certos segmentos da elite. Trata-se de um fiscalista rigoroso com as contas do governo, mas abundante de desconfianças em relação ao capital privado. Neste sentido, é que a aparência com Dilma é alegada. Todavia, o governador paulista é mais testado politicamente e sabe delimitar com mais clareza os limites das possibilidades de suas ações. Como costuma dizer Serra "política não é arte do possível, mas a arte de ampliar aquilo que é previamente possível". Se no aspecto fiscal, Serra é conservador provado, na administração do câmbio reside o seu maior risco. Afinal, neste tema é um "cepalino" clássico : ele acredita que no caso de países em desenvolvimento tem de ter câmbio desvalorizado. Mas, Serra nunca praticou este pensamento em um governo. Ao contrário : foi alijado da política econômica durante os anos FHC, apesar do enorme barulho que fazia nos bastidores.

Duas datas para serem lembradas

A "bolha" das ações de tecnologia começou a explodir há dez anos. E há exato um ano, os mercados acionários mundiais iniciaram a maior alta da história no menor período de tempo. A pergunta que se faz agora é : estamos num mercado de alta ou diante de outra "bolha" ?

Transição: apatia dos investidores

Exceto em alguns poucos segmentos de mercado (e.g., a especulação no mercado de ouro), tem prevalecido um grande marasmo dentre os investidores neste momento. Todos estão à espera de fatos novos ao tempo em que sabem que os "fundamentos" das principais economias já estão refletidos nos preços dos ativos. Normalmente, "períodos de transição", entendidos como confirmações ou mudanças de tendências, são caracterizados por uma aparente apatia dos investidores. A liquidez se restringe e há uma sensação de que "não se sai do lugar". Vejamos então o que pode mudar.

Agenda do mercado internacional

Se na aparência os investidores estão apáticos, de fato estão a esperar o andar de alguns macro-fundamentos importantes no cenário internacional. São eles : (1) a recuperação e sustentação do crescimento econômico das principais economias, sobretudo os EUA; (2) a política monetária e cambial da China, sobre a qual existem vastos comentários, mas o governo comunista de Pequim dá pouca visibilidade; (3) as reformas do sistema financeiro norte-americano, as quais devem influir em todo o mundo e que estão em processo de discussão e votação no Congresso; (4) a possibilidade de novas crises de crédito na Espanha, Portugal e Itália; (5) as políticas monetárias e fiscais dos EUA e da Europa : sua sustentação neste período de recuperação.

Agenda do mercado nacional

A agenda brasileira é mais óbvia, mas é bom lembrarmos de que por estes lados o valor dos ativos subiu muito mais em comparação ao resto do mundo. Portanto, o retorno esperado dependerá muito da (1) sustentação da taxa de crescimento acima de 5% ao ano; (2) da política fiscal no médio prazo, preocupação esta agravada pelos números ruins de desempenho fiscal nos últimos meses; (3) da estabilidade monetária vigiada pelo BC; (4) do resultado e dos primeiros passos pós-eleitorais. Há que se notar que não se enxerga nenhum risco iminente no caso do Brasil que seja capaz de alterar o excelente curso econômico até agora. Todavia, os fundamentos mais importantes são estruturais e definidores do crescimento no longo prazo.

Radar NA REAL

16/3/10

TENDÊNCIA

SEGMENTO Cotação

Curto prazo

Médio Prazo

Juros ¹

- Pré-fixados NA

alta

alta

- Pós-Fixados NA

alta

alta

Câmbio ²

- EURO 1,3676

estável/queda

estável/baixa

- REAL 1,7640

estável/baixa

estável/baixa

Mercado Acionário

- Ibovespa 69.341,38

estável/queda

estável/alta

- S&P 500 1.149,990

estável

alta

- NASDAQ
2.367,66

estável

alta


Uma questão de desconfiômetro

Para ser coerente com a desculpa que arranjou para se licenciar do PV e não apoiar a candidata do partido à Presidência da República, senadora Marina Silva, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, deveria ao menos renunciar ao ministério. Diz Ferreira que sai por causa da opção conservadora do PV nas alianças regionais. Ora, existe de fato algum "progressismo" nas alianças que o presidente Lula comanda, com o PMDB e outros aliados, um magote amorfo de partidos, invertebrados e despolitizados ? O ministro ganharia pontos se dissesse que fica porque gosta do poder e porque espera uma retribuição em 2012, com o apoio das forças aliadas à sua candidatura à prefeitura de Salvador, sonho, confesso, dele.

Jogando a toalha ?

As informações que pessoas chegadas ao presidente da Câmara, Michel Temer, têm feito circular nos últimos dias, de que diante do noviciado político da ministra Dilma Roussef ela precisaria, caso eleita, de um conselheiro, consultor, operador político com a experiência do deputado paulista presidente do PMDB, parecem indicar que ele já percebeu que sua indicação para vice da ministra chefe da Casa Civil não passa no buraco da agulha nem do PT nem de Lula. E por isso mesmo estaria se posicionando para um posto de prestígio na gestão da preferida de Lula. Talvez o Ministério das Relações Institucionais.

O lugar tem dono

Em política, sabe-se, nada é "imexível" (apud o inefável ex-ministro Magri) nem "irrevogável" (ao estilo "senador Mercadante"), porém o panorama visto da ponte, hoje, aponta para a renúncia de Henrique Meirelles à Presidência do BC até o fim do mês. Como o mais provável vice de Dilma.

Tucanos mineiros com Serra ?

O não-evento organizado pelo PSDB mineiro para mostrar que MG está com Serra, ontem à noite, tem mais significado do que se imagina. Afinal, a seção estadual do partido não precisaria fazer isto - é obrigação apoiar o candidato oficial da legenda. O recado é para o Planalto. Primeiro, para mostrar que Aécio não vai aceitar sorrindo o esquema que está sendo montado pelo PT e PMDB em Minas para tirar dele a liderança regional. Há um plano até para complicar a - até agora fácil - eleição do governador ao Senado. E, depois, para desautorizar os boatos, soprados pelos ventos de Brasília, de que pode se repetir com Dilma, o voto híbrido dos mineiros em 2002 e 2006 - Aécio para governador, Lula para presidente - o voto "Lulécio" como ficou conhecido.

RJ : pré-sal e contaminação eleitoral

Sérgio Cabral jura que sua reação à emenda Ibsen/Souto na projeto de divisão dos recursos do pré-sal, considerada totalmente prejudicial ao Rio de Janeiro (e ao Espírito Santo e em parte também a São Paulo) não atinge o presidente Lula nem a ministra Dilma. É contra os dois deputados, a Câmara e, por antecipação, o Senado. É verdade só em parte. Se a emenda for aprovada também no Senado - o que não é nada improvável, pois são 2, 3 Estados contra 25 - e não for vetada por Lula, a ira carioca vai-se se voltar sim contra o presidente e sua predileta. O clima no Rio está exacerbado e é suprapartidário. Quem circulou por lá viu que o pré-sal é o grande assunto - o "roubo" que o Estado está sofrendo. A continuar desse jeito, aconselha-se que os de Brasília guardem prudente distância da Cidade Maravilhosa. Podem ter surpresas desagradáveis - vaias... O alegre Rio é surpreendente quando tomado de ira. E tudo pode ter reflexos nos votos dos cariocas e fluminenses.