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Política & Economia NA REAL n° 95

terça-feira, 6 de abril de 2010

Atualizado em 5 de abril de 2010 11:23


Sinais vitais

Finalmente a maior economia do globo mostrou sinais de vitalidade. O setor laboral dos EUA deixou de perder empregos e, pela primeira vez em três anos, houve geração de empregos num mês, no caso o mês passado. Este é o dado importante dentre um conjunto destes divulgados na última semana : os indicadores de consumo de matérias-primas, gastos do consumidor e expectativas dos consumidores também melhoraram. É cedo para falar em aumento dos investimentos, mas no mercado financeiro, tão recheado de previsões, já há esta expectativa.

Se os EUA melhorarem...

Se estes sinais vitais e iniciais da economia norte-americana se fortalecerem e se tornarem uma tendência há duas consequências imediatas sobre os países emergentes que hão de repercutir no mercado financeiro e de capital : (i) a elevação das cotações das commodities, fato este importantíssimo para a atração de capitais estrangeiros e (ii) a elevação da taxa de juros dos títulos do tesouro americano que reajustará todos os preços dos títulos de renda fixa globais. Ontem, tais títulos superaram os maiores patamares desde junho do ano passado.

De outro lado...

O fortalecimento da economia dos EUA implica em maiores cuidados na condução da política monetária dos emergentes. Alta das commodities significa mais divisas, mas também o repasse destas altas no mercado interno, pois que para este segmento preços domésticos e externos são alinhados. Também subirá o custo de captação das empresas e do governo brasileiro.

Mas o balanço é positivo

Apesar das previsões dando conta da perda da hegemonia norte-americana, a verdade é que, no curto e no médio prazo, não há a menor possibilidade da economia mundial caminhar bem e os EUA não. Um país que representa quase 1/4 do PIB do mundo tem relevância estratégica na saída da atual crise mundial. Portanto, quaisquer riscos que possam ser adicionados pela recuperação dos EUA não são maiores que a recessão daquele país. A alta de juros e dos preços das commodities é, portanto, um excelente sinal.

Radar NA REAL

Os últimos dados da economia dos EUA alteram as nossas recomendações de investimento, sobretudo no caso das bolsas de valores que devem ser positivamente afetadas, caso se confirme a maior solidez da economia americana. De outro lado, qualquer alta significativa do dólar em relação ao Real parece afastada no curto prazo. A elevação das cotações das commodities, somada com o provável ingresso de capital estrangeiro, deve deixar a moeda norte-americana pressionada perante as moedas dos países emergentes, especialmente no caso do Brasil, país que tem o modelo cambial mais livre dentre os BRICs. O cenário é otimista, mas dificilmente se poderia projetar um ano com resultados tão positivos quanto o ano passado no caso do Brasil. Além disto, temos eleições e este é fator de risco significativo.

31/3/10

TENDÊNCIA

SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA alta alta
- Pós-Fixados NA alta alta
Câmbio ²
- EURO 1,3493 estável/queda estável/baixa
- REAL 1,7645 estável/alta estável/baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 71.136,35 alta estável/alta
- S&P 500 1.169,43 alta alta
- NASDAQ 2.397,96 alta alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

O jog

o de profissionais e a "PMDB-dependência"

Bem que Lula tentou, mas não deu. Mesmo com sua decantada - e reconhecida - habilidade política, não deu para enquadrar o PMDB como ele e o PT pretendiam. O episódio envolvendo a decisão do presidente do BC em ficar no posto atual encerra, com um passeio peemedebista, a intenções de Lula e dos companheiros de não deixar o partido de Michel Temer, José Sarney e outras companhias tão excessivamente poderosos na aliança de apoio a Dilma. Das ambições políticas de Henrique Meirelles até a torcida da seleção brasileira tinha notícias. Mas ele não entrou de graça no PMDB. Foi superiormente aconselhado. Insuflado e discretamente ajudado pelo conselheiro, passou os últimos seis meses tentando fazer-se vice da ex-ministra, na vaga reservada ao PMDB por Lula e Dilma. As vozes do PMDB governista e seus trunfos foram mais elevados que o desejo de Meirelles, e as idiossincrasias de Lula e Dilma em relação aos principais nomes cogitados pelo maior partido governista, a começar pelo presidente da Câmara, Michel Temer.

Dilma, o reverso da medalha

Na outra ponta, o maior desafio de Dilma e Lula é mesmo empolgar - ou pelo menos invadir um pouco mais os corações - das regiões mais ricas - Sul e Sudeste - e dos setores mais escolarizados e de melhor nível de renda. A classe média, negligenciada há algum tempo nas análises sobre influências eleitorais, vai fazer a diferença em outubro. Por ironia, incluindo a chamada "nova classe média do Lula", os emergentes que nos últimos anos deixaram a classe D.

Uma vitória completa

Não foi somente em relação a Meirelles, como vice de Dilma, que o PMDB "passou a perna" nos parceiros. Nas mudanças ministeriais também conseguiu impor seus desejos pelo menos em três mudanças, contra os propósitos de Lula, do PT e até de outros peemedebistas :

1. No ministério da Agricultura o deputado Michel Temer emplacou o apadrinhado Wagner Rossi, político de portuárias utilidades. Lula pretendia, com exceções, substituir os ministros renunciantes por seus secretários gerais. Reinald Stephanes também apoiava o seu substituto.

2. Hélio Costa emplacou seu chefe de gabinete como ministro, para a esposa do qual passou a propriedade de uma rádio em Barbacena, em detrimento do secretário-geral e em detrimento de um candidato, Antonio Beldran, da Anatel, lançado dos escaninhos palacianos.

3. No ministério do Interior, prevaleceu a máxima do secretário-geral : João Santana vai substituir Geddel Vieira Lima para desgosto dos petistas baianos.

O PMDB pôs e dispôs. Lula achou que tinha as chaves. Não tinha. O PMDB não somente tinha as chaves como também - e principalmente - as armas. Por essas e outras, dúvidas sobre o futuro de um futuro governo Dilma no Congresso aumentaram depois destes episódios. Se, com toda a sua malícia política, Lula levou uma pernada do PMDB, o que será de Dilma e sua quase nula vivência partidária ?

Agora, Minas Gerais

O PT ainda vai ter de render mais uma homenagem ao PMDB. Mais uma pelo menos. Em MG, com seus 14 milhões de votos e Aécio Neves, com índices positivos de avaliação no Estado superiores aos de Lula, o PT terá de ceder a primazia da disputa ao Palácio da Liberdade ao ex-ministro Hélio Costa. Vai haver choradeira e vestes rasgadas.

Em tempo

A entrevista de Aécio à revista Veja desta semana é um primor de pessedismo (do velho PSD) ou tancredismo : afirmativa em alguns pontos, ambíguas em outros. Ele deixa claro, porém, que sabe que a oposição (lá no Estado) quer quebrar suas pernas. E político em MG sem o Palácio da Liberdade é político manco.

De cócoras ?

O governo provavelmente terá de ajoelhar e rezar outras vezes diante do PMDB, além das orações que já destinou ao partido no altar sagrado das urnas. Uma via sacra também está instalada no Congresso. O relator da polêmica proposta de divisão dos royalties do petróleo na Comissão de Assuntos Econômicos no Senado é ninguém menos que o peemedebista alagoano Renan Calheiros. Calheiros, além de seu abissal desconhecimento dos assuntos de energia, é tido e reconhecido como um político de lealdades escolhidas. Para complicar, a relatoria de todos os quatro projetos referentes às novas regras de exploração de petróleo na Comissão de Constituição e Justiça do Senado ficaram nas mãos de oposicionistas.

Ele não é do ramo mesmo

As vacilações de Henrique Meirelles em relação à sua carreira no mundo partidário e eleitoral, querendo garantias de que seria vice de Dilma ou então a segurança de um apoio forte para um cargo em GO, demonstram apenas que ele não é da política, nem da pequena, nem da grande. É um homem financeiro, ou seja, quer pequenos riscos e muita segurança, para não perder nunca. E em política, quem espera nunca alcança. A desculpa de que resolveu ficar como garantia da "estabilidade econômica" é quase um insulto ao presidente Lula, aos outros membros da equipe econômica do governo e à própria ex-ministra Dilma.

Pode custar caro

A desastrada aventura política de Meirelles pode ter custos elevados. Para reafirmar uma credibilidade abalada, ele poderá ser tentado a ser mais ortodoxo do que vinha sendo até a fatídica - e nada explicada - reunião do COPOM de duas semanas atrás. O mercado financeiro, que não é nada amador, vai dizer qual será o preço real das vacilações de Meirelles.

Salto alto

Bastou o DataFolha constatar um crescimento da diferença de intenção de votos entre o tucano José Serra e a preferida de Lula Dilma Rousseff para a oposição começar a subir novamente nos tamancos. O discurso de despedida de Serra do governo paulista teve passagens que a prudência aconselharia terem sido deixados de lado. A fogueira das vaidades, que estava consumindo petistas e aliados no período em que Dilma subia a cada pesquisa, passou agora a fazer ferver o caldeirão oposicionista. O que há de "donos de candidaturas", de brigas entre aliados (como no RJ) é de fazer inveja ao que se viu até pouco tempo atrás nos meios aliados a Dilma.

Além das obras

Uma curiosidade em relação aos programas e discursos eleitorais dos candidatos aos cargos majoritários é saber como serão abordados dois temas que são sensíveis à população, mas que tem sido relegados a segundo plano pelos candidatos : (i) a enorme corrupção no setor público que parece penetrar no setor privado e (ii) a violência, cujos indicadores tornam o Brasil um dos mais violentos do mundo. Ou será que este assunto não interessa a ninguém ?

Infraestrutura, copa do mundo e olimpíadas

Não precisa ser grande pesquisador para constatar a precária situação de muitas cidades que serão sede da próxima copa do mundo, sobretudo no caso do RJ, que será também sede dos jogos olímpicos de 2016. Pouco se sabe como as obras essenciais serão tocadas pelos organizadores destes eventos, além da completa ignorância sobre seus custos. O impressionante de tudo isto, é que há muita probabilidade deste assunto ser esquecido ao longo deste ano eleitoral.

Bestialógico castrense

Vejam esta da coluna de Ancelmo Góis n'O Globo de ontem : "O Brasil não teve exilados, mas fugitivos". Autor : General Leônidas Pires Gonçalves, ex-ministro do Exército de José Sarney.

Maribondos atacam a internet

"Se não foi a internet que inventou a mentira, tornou-se difícil viver tendo que procurar onde está a verdade." Esta pérola foi escrita por José Sarney na sua coluna na Folha do dia 26/3/10. Será que Sarney gostaria de censurar a internet ?