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Política & Economia NA REAL n° 104

terça-feira, 8 de junho de 2010

Atualizado às 07:42

Os aloprados de 2002 e os aloprados de 2010

Nas eleições presidenciais anteriores, Lula, então disputando o segundo mandato, tinha todas as condições - e muita mais - de levar a vitória logo no primeiro turno. Por duas razões :

1. Depois do perigoso tropeção dos mensaleiros, quando por pouco não sofreu um processo de impeachment, ele entrou na disputa com a popularidade em alta, não tão alta como agora, mas já uma das maiores dos presidentes do Brasil República.

2. Seu adversário, Geraldo Alckmin, não era - como não é - de empolgar eleitor, uma desvantagem quando se disputa com alguém com o faro popular de Lula. E, ainda por cima, foi vítima do desânimo e da má vontade dos próprios companheiros.

O dossiê paulista

Mesmo com todas essas vantagens comparativas, no entanto, Lula acabou sendo forçado a disputar o segundo turno com Alckmin. Uma das razões pode ter sido a resistência de uma parte do eleitorado brasileiro - as tais elites ? - ao modo de ser petista. Não esquecer que em 2002, apesar de toda a empolgação popular e até de parte das "elites" com o novo PT, da impopularidade do presidente Lula e do pouco apelo para a oposição da então candidatura José Serra, Lula não ganhou no primeiro turno. Este fato pode ter influenciado em 2006, mas o grande fator mesmo foi a descoberta de um esquema para compra de um suposto dossiê contra o mesmo José Serra, com o fito de dar fôlego à candidatura de Aloizio Mercadante ao Palácio dos Bandeirantes. Lula classificou os companheiros envolvidos no episódio como aloprados e ficou por isto mesmo, tanto no âmbito partidário como na seara policial e jurídica. Politicamente, porém, fulminou de vez a já cambaleante pretensão governamental de Mercadante e respingou nos votos de Lula ao revelar métodos nada republicanos do petismo.

Arapongagem de terceira geração

Agora, ressurgem os aloprados no comitê de Dilma. O método da arapongagem e dos dossiês é o mesmo, mas as motivações são diferentes. No caso Mercadante, o sentido era simplesmente atingir o adversário e alavancar a candidatura petista. O alopramento 3G de 2010 tem mais de um objetivo do que o de meramente abater o concorrente. Um de seus alvos, talvez o principal, é formar, digamos, massa crítica contra os próprios companheiros, na disputa por cargos e influência numa futura administração. Como, com base nas análises principalmente do Vox Populi, os petistas estão já se vendo com o direito a mais quatro anos - ou oito ou até doze - no Palácio do Planalto, trata-se de uma nada surda e já pouco velada disputa interna de poder. Nesta caiu um assessor de escalão inferior, o ex-jornalista Luiz Lanzetta, e feriu-se com escoriações mais do que generalizadas uma figura de primeira linha - o ex-prefeito Fernando Pimentel, a quem seu grupo já atribuía, pela renúncia em MG, a chefia da Casa Civil. O mesmo lugar cobiçado pelo PT paulista para Antonio Palocci ou Ruy Falcão. Os aloprados 3G e as disputas antecipadas pelas graças de Dilma presidente podem fazer mais estragos à campanha governista do que tudo o que Serra e seus apoiadores podem imaginar e aprontar. O pior momento de Lula em seus oito anos não veio de tucanos e companhia, veio dos mensaleiros amigos.

Manda quem pode...

...obedece quem tem juízo. Como estava escrito nas estrelas desde o início dos tempos, não chamasse o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, o PT de MG cedeu ao PMDB de Hélio Costa a primazia de disputar o Palácio da Liberdade. Do mesmo modo, onde Lula achou essencial, o PT seguiu a mesma sina, com nuances : no RJ, por exemplo, foi festivamente para os braços de Sérgio Cabral, sem dramalhões, ao estilo dos blocos carnavalescos. No MA, com estrilos, pôs-se neutro na disputa entre os aliados Roseana Sarney do PMDB e Flávio Dino do PC do B. Palanque duplo apenas onde Lula julgou viável. Ninguém arrosta uma popularidade acima dos 90%, ainda mais quando na sua jornada em torno do poder jogou ao mar, num estranho suicídio coletivo, suas lideranças mais promissoras trazidas com Lula à primeira cena com a eleição de 2002. Resta pensar as razões de tão forte "rebeldia" em MG, por exemplo, diante do que já se sabia inevitável e do extraordinário apego do PT e de Lula aos princípios do centralismo democrático.

Para efeitos internos

Desde sempre estranhou-se as resistências internas do PT mineiro, de tradição - não fosse mineiro ! - conciliadora, e de Fernando Pimentel a um aliança com o PMDB que não tivesse o próprio PT comandando a chapa. Pimentel, amigo de Dilma influente quadro nacional partidário, além de um político cordato e conciliador, sabia perfeitamente da importância do acerto em Minas para a campanha nacional de Dilma : consolidação da aliança nacional em torno dos seis minutos peemedebistas no rádio e na televisão e formação de palanque forte para a preferida de Lula no segundo maior colégio eleitoral do país, com quase 11% do eleitorado total. E, no entanto, Pimentel esticou os cordões da marionete até o fim. Esticou porque precisa dar satisfações ao PT mineiro, insatisfeito com a perda do que os petistas locais consideram como sua maior oportunidade de conquistar, pela primeira vez, o governo estadual. Eles tinham dois candidatos competitivos - o próprio Pimentel e o ex-ministro Patrus Ananias - e o adversário é tão ou mais neófito na política eleitoral quanto a petista federal Dilma. Pimentel precisava também conter a contaminação dos eleitores petistas pelo desânimo dos companheiros partidários. Quem farejou MG nesses dias percebeu que o trabalho no divã político do PT junto a seus eleitores será delicado. A alma petista mineira está sofrida.

Foi bom para Lula também

A dita "rebeldia" mineira no PT não foi de todo mal para Lula. Ao contrário. Tanto que em nenhum momento os "inconfidentes" mineiros foram atacados de público. E Lula sabe fazer tal com dureza e precisão cirúrgicas. Foram simplesmente admoestados, pelas vozes portadas em silêncio, oficiosamente. "Lula está agastado", "Lula não gostou" e tais, ditos sem certificado de origem. Para Lula, MG rebelada serviu de advertência ao PMDB para que ele moderasse seu apetite. Para mostrar ao time de Michel Temer que o PT tem limites que nem a razão eleitoral de Lula pode obscurecer. E que a aliança poderia ruir no momento em que Dilma cresce nas pesquisas e, segundo as contas oficiais, tem ritmo de fôlego para levar a eleição no primeiro turno. Até as convenções nacionais marcadas para o fim de semana - PMDB no sábado, PT no domingo - quando os palanques regionais estarão no mínimo apalavrados, será possível saber se o PMDB levou a sério o recado mineiro ou considerou que seu cacife de seis minutos na propaganda eleitoral era mais alto.

Os gaúchos, a chave

O comportamento do PMDB no RS dará a indicação para o enigma elaborado acima : se definir-se por conceder também palanque a Serra na campanha de Fogaça, o PMDB dará o sinal de que a ameaça de Lula não assustou e abre brecha para um rosário da traições partidárias pelo Brasil afora. Se fechar as portas para o tucano, reforça a aliança em todo o país.

Os tucanos e sua vocação para Hamlet

O PSDB e seus aliados chegam ao fim da pré-campanha - a partir de agora e até meados de julho tudo será Copa do Mundo e nada mais - e às vésperas da convenção do fim de semana com as mesmas dúvidas que o assolaram desde o lançamento oficioso de José Serra : sem um vice de convicção, sem uma estratégia clara de campanha e em busca um discurso claro e eficiente para se contrapor à palavra fácil de Lula. Por trás de seu estilo fidalgo e low profile, os oposicionistas parecem gostar de viver grandes emoções políticas. Será a falta de estratégia uma estratégia ? Nas contas tucanas, o empate absoluto entre seu candidato e a candidata de Lula no último Ibope é indício de que o devagar e sempre deles está certo dada as desproporções das campanhas até agora.

Mais ajustes à vista I

Há comentaristas e analistas econômicos colocando em dúvida se há correspondência fundamental entre a possibilidade de insolvência da Hungria - com PIB ao redor de US$ 160 bilhões e 10 milhões de habitantes - e os efeitos nefastos que esta possibilidade gerou na semana passada nos mercados mundiais. Pois bem : é preciso entender que o problema não é a Hungria, mas todo o sistema europeu, dentro e fora da eurolândia. Os países estão excessivamente endividados e sem perspectiva de sair do atoleiro no médio prazo (talvez coisa de dois anos à frente). Neste contexto, estão países como Portugal, Espanha, Itália, Bélgica, Irlanda e, claro, a Grécia. Portanto, o risco não é a Hungria, mas o que ela representa.

Mais ajustes à vista II

Há ainda o caso dos EUA que, a despeito dos sinais encorajadores de poucos meses atrás, ainda está num estágio muito frágil de recuperação. A crise europeia é um balde de água fria no sistema de crédito, este um elemento vital para a recuperação do consumo norte-americano. O fraco desempenho do setor laboral dos EUA, divulgado na última sexta-feira, é e será um dos sinais deste - novo ? - contexto de estagnação.

Mais ajustes à vista III

Se olharmos apenas o desempenho do mercado financeiro e de capital ao redor do mundo, veremos que estes estão ainda numa fase de ajustes, desta feita para baixo, nos preços dos ativos. Além disto, a volatilidade é alta e talvez crescente o que desestimulará investimentos com horizonte de médio e longo prazo. Sendo turvo o cenário, a tendência é de perda de valor. Já alertamos os nossos leitores para não abandonarem posições defensivas de investimento, em ativos reais e/ou financeiras. As variações diárias dos mercados muitas vezes deixam dúvidas aos investidores. Todavia, é melhor aproveitar processos de recuperação de preços para sair de posições e não aumentá-las.

Brasil : ajustes e eleições I

É certo que as condições macroeconômicas do Brasil são destacadas quando as avaliamos frente ao cenário confuso e negativo que impera dentre as principais economias mundiais. Todavia, se esta é uma constatação positiva, é preciso entender que não é suficiente para evitar os impactos diretos da crise externa sobre o nosso setor externo, bem como no que tange aos efeitos que as expectativas tem sobre o ânimo dos investidores. Adicionalmente, insistimos em alertar os nossos leitores sobre certa negligência relativamente aos riscos embutidos no processo eleitoral. Toda mudança de governo atrai naturais riscos ao mercado. No caso da eleição a ocorrer no último trimestre do ano, o próximo presidente será mais vulnerável politicamente que o atual. Isto há de repercutir na política econômica.

Brasil : ajustes e eleições II

Também não é novidade nenhuma que a situação fiscal do Brasil, embora sustentável no curto prazo, não é saudável. O recente ajuste promovido pelo governo no orçamento público é uma boa notícia, mas incapaz de retirar os obstáculos que enfrentaremos à frente, caso não existam modificações estruturais no andar das contas públicas brasileiras. Por fim, temos a inflação, a qual não está tão controlada quanto no passado uma vez que os preços estão sendo impulsionados para cima pelo aquecimento da demanda, sobretudo dos indivíduos. Os preços estão subindo num ritmo lento, mas constante e de forma generalizada. Preste atenção nas altas do setor de serviços...

Assim sendo...

Não cabe ilusão aos agentes econômicos. O cenário mudou e, infelizmente, para pior. É preciso paciência e cuidado na implementação de estratégias empresariais e junto ao mercado financeiro. Em tempos de tendência negativa, toda a atenção é necessária.

Radar NA REAL

O destaque da semana é o patamar do euro, abaixo do nível de 1,20 por dólar. Este fato simboliza a concretude e severidade da crise europeia. Também vale a pena ressaltar o desempenho do mercado acionário dos EUA que demonstra evidentes sinais de saturação e falta de demanda. Pelos nossos lados, salientamos a possibilidade do mercado financeiro estar subestimando a alta dos juros básicos acima do nível esperado pelo mercado : de até 11% doze meses à frente. No caso do mercado acionário, o Ibovespa tem se estabilizado em função do desempenho de poucas ações blue chips, mas este é fator passageiro e talvez injustificado para a manutenção do Ibovespa acima dos 60 mil pontos.

4/6/10

TENDÊNCIA

SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA alta alta
- Pós-Fixados NA alta alta
Câmbio ²
- EURO 1,1949 baixa baixa
- REAL 1,8648 baixa baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 61.675,75 baixa estável/baixa
- S&P 500 1.064,88 baixa/estável alta
- NASDAQ 2.219,27 baixa/estável alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

Impostos : muita conversa

Um pequeno balanço do que têm dito os principais candidatos à Presidência da República dá aos mais crédulos, a turma que acredita em mula sem cabeça, por exemplo, a sensação de que, em 2011, finalmente, a tão sonhada reforma tributária no Brasil vai sair. A leitura das promessas de tucano e petista, tanto no que se refere à cobertura de nossas fragilidades de infra-estrutura como de novas aplicações nas áreas sociais, leva também os mais céticos a desconfiarem que vem mesmo uma reforma tributária por aí. A primeira, um sonho, seria a simplificação do sistema, com redução gradual da carga de impostos. A segunda, com duro gosto de realidade, indica que virão ajustes para aumentar a capacidade de gastos do Estado, com aumento da arrecadação, não importa como. Por conta de nossa atávica tradição, ganha quem apostar na segunda. O resto é sonho de verão eleitoral. Como ensina o arrecadador-mor Everardo Maciel, secretário da Receita Federal no governo FHC, não se faz reforma tributária no Brasil, em prol da sociedade, sem se pensar, primeiramente, na revisão do lado das despesas. E desta eleição, dados os compromissos partidários que os candidatos e seus apoiadores estão adotando, não sairá uma força política em condições de enfrentar as forças poderosas, políticas e empresariais, que bocejam em torno do Estado brasileiro.

Venceu o de resultados

Durante os anos 1980 e parte dos anos 1990 se engalfinharam no Brasil dois tipos de sindicalismo : o novo sindicalismo ou sindicalismo autêntico, de Lula, e o sindicalismo novo-velho ou de resultados, de Luis Antônio Medeiros. Não se engalfinham mais : o de resultados é o hegemônico, com a instauração do sindicalismo governamental no Brasil, projeto que nem o Getúlio Vargas, em seus anos ditatoriais, conseguiu realizar com a extensão de hoje. Há um único risco de dissidência : os sindicalistas estatais, de repente insatisfeitos com a súbita avareza governamental. Mas o governo prepara para eles uma boa pancada na moleira se não se aquietarem. Os antigos sindicalistas autênticos agora acham insuportável reivindicações e greves no funcionalismo público. Nada como o mundo girar e a lusitana rodar. Greve de serviço público é greve contra a sociedade, porém a conversão dos "cristãos novos" do novo-novo sindicalismo não deixa de ser um sinal assustador desses novos tempos brasileiros, nos quais, na política, vale quase tudo, menos coisas como princípios e convicções.

O dinheiro deve estar sobrando

O Ministério dos Transportes, nos dois cortes promovidos pela turma da economia no orçamento deste ano, perdeu R$ 906 milhões. O Ministério da Educação nas mesmas tesouradas ficou sem mais de R$ 2 bilhões. Porém, tanto o ministro Paulo Passos quanto o ministro Fernando Haddad garantem que seus programas não serão afetados. Das duas uma, pois não se está apenas falando de algumas poucas centenas de reais : ou eles estavam com seus orçamentos inchados, com previsões de gastar no que não é necessário ou, com base nos ventos eleitorais na herança - maldita ? - que poderão deixar para seus sucessores, não têm intenção de cumprir a ordem de cortes.

Governo pode ser a salvação

Sob ataque quase hostil da Telefônica para vender a sua parte na Vivo, a Portugal Telecom, sócia meio a meio da espanhola na tele celular, deve ter no governo Lula um aliado de peso para não sucumbir. Dentro do plano traçado lá no passado para as telecomunicações brasileiras, a partir do patrocínio da compra da BrT pela Oi, de fortalecimento de uma empresa genuinamente nacional, para competir com as gigantes Embratel (Carlos Slim) e a Telefônica (da Espanha, com sociedade na italiana TIM), pode sofrer um baque. Em tempo : a Portugal Telecom tem ligações com o grupo Oingoing, que edita no Brasil o diário Brasil Econômico.