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Política & Economia NA REAL n° 112

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Atualizado em 2 de agosto de 2010 16:36

Um eleitor que é uma incógnita

A "nova" classe média brasileira ou ainda a "classe média do Lula" contingente engrossado nos últimos anos com a classe D, já significa mais de 50% de todo o eleitorado brasileiro. Isto é : sozinha, se votasse em uníssono, elegeria o novo presidente da República. Naturalmente isso não ocorrerá, mas como nunca antes neste país ela será tão decisiva eleitoralmente. Mais até do que as elites, ditas formadoras de opinião, que o presidente Lula ataca de quando em vez em seus discursos para agradar à "nova" classe média. E mais que os descamisados definidos por Collor nos idos de 1989, dos extratos sociais D e E, do bolsa-família e dos programas sociais.

Achado decisivo

Desvendar esta "nova" classe pode ser o grande achado decisivo dos candidatos. Não se pode esquecer que ela foi engrossada com a aquisição, nos últimos anos, de 20 a 30 milhões de novos componentes egressos do mundo D e E. Dois dados devem ser considerados : 1 - os egressos tendem a incorporar os valores de seus novos parceiros, entre eles certo conservadorismo, tornando-se mais sensíveis a temas como ordem, segurança ; 2 - conquistada a ascensão, suas aspirações são outras, tornam-se mais exigentes em relação aos serviços públicos como saúde, educação, qualidade de vida de um modo geral. Este é o público a ser conquistado pelos marqueteiros. E onde se encontra, ainda, a maior parte dos indecisos.

Para alerta dos marqueteiros

Uma das conquistas que o novo contingente da classe C incorpora é uma assinatura de tevê a cabo, sonho de consumo que vem acoplado ao de uma tevê de muitas polegadas e avançada tecnologia. Entre 2009 e 2010, depois de um período de estagnação, o setor de tevê por assinatura cresceu fabulosos 40%. Prevê-se que chegará ao fim do ano com 9 milhões de domicílios plugados nos canais pagos, o que pode representar 40 milhões de brasileiros. E a tevê por assinatura não passa o programa eleitoral obrigatório. É nela que costumam se refugiar os eleitores que não suportam o artificialismo da publicidade eleitoral imposta. Quem está apostando na propaganda televisiva...

BC : ao modo Chacrinha

A súbita mudança de opinião do BC sobre os movimentos da economia brasileira em relação à atividade dos negócios e à inflação, com dois informes contraditórios em um curto espaço de tempo, deixou uma parte dos analistas de mercado confusa e outra desconfiada. E deu aos adversários da autonomia operacional do BC o argumento de que ele também pode errar - e feio. No caso, ter puxado demais para cima a taxa de juros. O mundo político-eleitoral oficial está esfregando as mãos de alegria. Chacrinha não teria feito melhor se a idéia era mesmo confundir não explicar.

Radar NA REAL

É provável que na próxima reunião do COPOM seja registrada a última alta dos juros básico deste ano e do mandato de Meirelles à frente do BC. A taxa de juros já está alta, mas o acúmulo de riscos externos (recessão continuada e instabilidade dos mercados), bem como de riscos fiscais no Brasil, deixarão a política monetária sob constante vigilância dos agentes econômicos. Nos mercados internacionais, o mês é de férias no hemisfério norte. Os diversos segmentos do mercado estão com liquidez mais restritas e todos estão a esperar os próximos números econômicos dos principais países do velho continente e dos EUA para decifrar para onde está indo a economia. Tudo muito quieto e, ao mesmo tempo, tudo muito instável. É possível que os mercados permaneçam estáveis e levemente positivos. O tempo de decisão da tendência do mercado será provavelmente em setembro/outubro quando as apostas para 2011 começarem a ser feitas.

30/7/10

TENDÊNCIA

SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA estável alta
- Pós-Fixados NA estável alta
Câmbio ²
- EURO 1,3060 estável estável
- REAL 1,7549 baixa baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 67.515,40 estável/baixa estável/baixa
- S&P 500 1.101,90 baixa baixa
- NASDAQ 2.254,70 baixa baixa

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

A deplorável invasão

O dossiê divulgado pela Folha de S.Paulo relativamente à presumida influência da filha do ministro Guido Mantega no BB é lamentável do ponto de vista ético no que se refere à evidente invasão de privacidade dela. De outro lado, também fica evidente o renovado interesse político de grupos nos vultosos recursos da Previ destinados aos investimentos. Este sim é um ponto que mereceria mais publicidade e atenção das autoridades, Congresso e da sociedade. Há "algo de estranho no reino dos fundos de pensão".

Fim de semana azedo

Foi de difícil digestão para tucanos e aliados o consumo da pesquisa do Ibope que deu Dilma com cinco pontos percentuais à frente de José Serra, portanto fora de curva da margem de erro, de dois pontos para cima ou para baixo. No tucanato esperava-se que a pesquisa confirmasse o resultado do DataFolha, com empate entre os dois, e não que avalizasse o Vox Populi, com os cinco pontos para Dilma e sinais de ascensão continuada da candidata de Lula. Foi uma decepção que se procura atenuar com a tese de que Dilma, pelo interposto presidente Lula, continua tendo mais exposição que Serra. É tese a conferir depois do debate de quinta-feira, na Band. Nestes debates reside a grande aposta tucana. Pode ser um erro.

Ó Minas Gerais - 1

A maior decepção dos tucanos serristas veio das montanhas mineiras : o Ibope aponta por lá Dilma com 12 pontos de vantagem sobre Serra. Mais do que a vantagem que Lula alcançou sobre Alckmim em 2006, de pouco mais de 10%. A avaliação é a de que Aécio Neves ainda não arregaçou de fato as mangas, o que explicaria também a enorme vantagem que Hélio Costa tem sobre o candidato do ex-governador, Antonio Anastásia. Em Minas também há esta impressão : Aécio ainda não foi com toda a vontade para as ruas, nem por Serra nem por Anastásia, o que passaria a acontecer esta semana. Ele não pode perder o Palácio da Liberdade para não ficar sem espaço em Minas e com o futuro comprometido. A dúvida é sobre o que Aécio quer no Palácio do Planalto. Em Brasília a fofoca política diz que o jogo do mineiro seria outro e envolveria a presidência do Senado para ele já em 2011, em mais um surpreendente lance de nosso "presidencialismo de coalizão".

Ó Minas Gerais - 2

Na interpretação dos tucanos, a estratégia do marqueteiro Duda Mendonça de colar a imagem do candidato Hélio Costa a de seu vice Patrus Ananias, de boa imagem no Estado, reforçada pelos anos de gerência do programa bolsa-família, expõe toda a fragilidade da candidatura do peemedebista. Ninguém vota em vice, insinuam os tucanos. Vê-se também, no caso, o tamanho do sacrifício que Lula exigiu dos petistas mineiros - a chance de tentar chegar, com um candidato competitivo, pela primeira vez ao Palácio da Liberdade. E ainda por cima com o risco de queimar eleitoralmente um bom nome como o do ex-prefeito Fernando Pimentel. Não vai ser fácil para Pimentel bater o ex-presidente Itamar Franco na disputa pela segunda vaga mineira no Senado, uma vez que a primeira vai ficar com Aécio mesmo. Para completar, se a chapa de Hélio Costa perde, Patrus Ananias também sai prejudicado. E Dilma, se eleita, não poderá compensar dois derrotados de Minas com bons lugares em Brasília. Se tudo isso ocorrer, o que não é improvável, o PT de Minas Gerais terá de começar de novo a partir do caos.

Persona versus persona

Será muito provavelmente no confronto entre as pessoas de Dilma e Serra que a campanha de TV e rádio tucana se desenvolverá. Na ausência de um discurso sedutor do ponto de vista programático, as lideranças tucanas acreditam que a personalidade "explosiva e antipática" de Dilma há de ser revelada ao público que tenderá a rejeitá-la. Uma aposta e tanto. Contudo, diante dos últimos números das pesquisas, já existem pressões da aliança oposicionista gritando por um plano B caso o confronto pessoal não surta efeitos. O tal plano B ainda não está totalmente idealizado, mas consistiria em atacar o governo Lula de frente, sobretudo no que tange aos escândalos conhecidos. Também seria uma aposta e tanto.

Choro multipartidário

Mesmo esvaziada politicamente pelo recesso do Congresso e pela campanha eleitoral, a Brasília partidária estava na semana passada mais para carpideiras do que para alegres candidatos em busca das urnas. A queixa é geral : os cofres dos investidores ainda estão muito modestos. Parece que há muito receio com a vigilância da imprensa e o ativismo do TSE. Até as "contribuições ocultas", aquelas feitas aos partidos para serem posteriormente distribuídas aos candidatos, sem necessidade de identificação do doador, estão arredias. Para a sociedade, esta conjuntura é positiva.

Ataques eletivos

Abriu-se a temporada de divulgação dos resultados dos bancos no Brasil no segundo trimestre do ano. Pelos primeiros já conhecidos, do Bradesco e do Santander, com excelentes desempenhos. Agora, porém, não ouviremos, pelo menos dos ares que sopram de Brasília de alguns políticos e de alguns partidos, nenhuma grita ensurdecedora contra os banqueiros e seus lucros inescrupulosos. Afinal, estão em plena temporada de caça aos investidores em campanhas eleitorais.

Barganhas estatais

Há mais de dois meses anunciamos nesta coluna que coisas muito estranhas estavam ocorrendo nos Correios. Semana passada, discretamente para não fazer marolinhas eleitorais, o presidente e um dos diretores da empresa foram afastados, homens de fé do PMDB e do ministro Hélio Costa. Para o lugar da presidência nomeou outro homem de fé do PMDB, agora da extração brasiliense. E para compensar Costa e o PMDB foi nomeado um diretor de time de basquete, ligado ao cabeludo suplente do candidato peemedebista ao governo de Minas, Wellington Salgado, para uma vaga na ANTT. Os nomeados nem precisam ser nominados. Sua credencial é a filiação partidária e o QI (nada relacionado com inteligência).

A supertele nacional

Muita água do Rio São Francisco ainda vai ser desviada até que sejam contados todos os detalhes políticos da entrada da PT - Portugal Telecom na Oi, ou BrOi. Outra quantidade idêntica de águas franciscanas ainda rolará até que sejam descobertas as vantagens para o consumidor de serviços de telecomunicações os negócios realizados na semana passada, apadrinhados por Lula e etc. Uma coisa é certa, porém : evitou-se que o governo, com seus braços empresariais do BNDES, dos fundos de pensão das estatais e outros tais, tivesse de dar uma mãozinha a mais do Tesouro à supertele nacional, agora binacional - luso-brasileira da silva. Há algum tempo escrevemos neste espaço que o governo faria tudo para desatar o mais rapidamente possível o nó da Vivo. Foi isto que foi feito.