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Política & Economia NA REAL n° 114

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Atualizado em 16 de agosto de 2010 11:40

De volta ao primeiro turno

Com a confirmação, via DataFolha, de boa vantagem de Dilma frente a Serra, com o buraco de três pontos a menos para fechar logo a disputa no primeiro turno, a estratégia, o desafio de oposição não é mais tentar passar a frente da preferida de Lula. É ultrapassar o primeiro turno. E o tempo é curto - e as armas até agora apresentadas, ligeiras. A estratégia de ser oposicionista sem criticar Lula não está funcionando, pois é Lula o eleitor de Dilma - é ele e nada mais. E será que atacar um presidente com 80% de aprovação é producente ? O horário eleitoral, uma das apostas dos serristas, pode ter efeito limitado : todos aprenderam a vender bem sabonetes e outras quinquilharias. E Dilma está aprendendo a se comportar nos debates e entrevistas, o que parecia seu ponto fraco.

À espera de um tropeço

Resta à oposição, tropeços improváveis da concorrente. À parte, apostar num fato novo, inusitado. Um "Nelsonrodriguiano Sobrenatural de Almeida", personagem que não tem aparecido com frequência nas eleições presidenciais brasileiras desde a redemocratização. Quem abriu frente, por volta de julho, levou o troféu. Exceção de 1994 : Lula tinha extraordinária vantagem sobre FHC naquela ocasião. Foi então que sobreveio o "Sobrenatural", com o codinome de Plano Real. Não há sinais de novas feitiçarias no ar. Em tempo : nas contas oficiais, não muito disfarçadas, este jogo não terá prorrogação. Mais : hoje temos mais uma pesquisa Ibope. Veio na linha das outras : Dilma 43%, Serra 32%.

Em que ponto ele errou ?

Quando Serra lançou oficialmente sua candidatura, num evento em Brasília, para um público mais entusiasmado do que o que acompanhou a festa parecida do PT para Dilma, teve-se a impressão de que a estratégia do tucano de segurar a candidatura ao máximo, criticada pelos parceiros, tinha sido correta. Parecia também que tudo estava em paz na seara oposicionista. Os próprios adversários petistas chegaram a se preocupar, o que os levou a fazer concessões além do que pretendiam, aos aliados, especialmente ao PMDB. De lá para cá, fórmula Serra desandou. E hoje, parceiros e imprensa especulam sobre como e em que momento Serra errou. A resposta é simples : Serra não errou, Lula acertou. Parodiando mote de campanhas de Maluf, "foi Lula quem fez".

O risco do efeito manada

Se os tucanos e aliados não conseguirem nos próximos dias estancar o crescimento de Dilma, a campanha de Serra pode sofrer uma debandada nos Estados. Em alguns, aliás, os candidatos regionais da aliança oposicionista já não estão muito convictos da parceria.

Ventos frios do norte

O Japão apresentou números de crescimento mais fracos no segundo trimestre em comparação ao primeiro : não cresceu. A China está diminuindo a atividade econômica. Os EUA estão capengando no setor laboral e o consumo se estabilizou num patamar baixo. A Europa cresceu mais que o esperado, mas concentradamente (Alemanha e França praticamente cresceram sozinhas). Todo este quadro sugere que o risco de que a atividade econômica mundial venha a passar por momentos difíceis nos próximos 12 meses é significativo. Este quadro irá se refletir no Brasil no final deste ano e na inauguração do novo governo. O quadro é instável. Pode melhorar lá fora. Todavia, não é o que os números estão a mostrar.

Radar NA REAL

A queda significativa dos principais mercados mundiais na semana passada é claramente um aviso de que o cenário está pior. Foi uma reação aos números macroeconômicos de diversos países desenvolvidos, à decisão do Fed (dúbio no seu comunicado ao mercado) e ao enfraquecimento da atividade chinesa. É um aviso aos investidores mais otimistas : a tendência dos mercados é de piora, sendo a estabilidade o melhor cenário. Desde março deste ano, as cotações dos ativos gravitam em torno dos mesmos níveis. Sinal de que não há o desespero do final de 2008, mas não há a euforia dos mercados de 12 meses, entre março do ano passado e este ano. Tudo se revela confuso, mas a hora é de "caldo de galinha". Temos alertado para estes fatos. Não acreditamos no pior, mas não podemos descartá-lo. Infelizmente.

13/8/10  

TENDÊNCIA

SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA estável alta
- Pós-Fixados NA estável alta
Câmbio ²
- EURO 1,2810 estável estável
- REAL 1,7568 baixa baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 66.264,43 estável/baixa estável/baixa
- S&P 500 1.079,25 baixa baixa
- NASDAQ 2.173,48 baixa baixa

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

Em Minas, um enigma

Mineiro tem fama de desconfiado e dissimulado, por isso mesmo Minas é sempre um desafio para os institutos de pesquisa. Coisas como "não sei", "ainda não decidi" - ou mesmo a confissão de uma escolha - podem ser apenas um disfarce, para não comprometer e até enganar o adversário. Porém, a discrepância de números entre as pesquisas do Vox Populi e do DataFolha para a eleição de governador nas terras das alterosas é de tal magnitude que não pode ser imputada apenas aos conterrâneos de Tancredo. Há um equívoco muito grande em um dos dois levantamentos. Veja-se :

1. Vox Populi - Hélio Costa 36%; Antonio Anastásia 26% - diferença de 10 pontos.

2. DataFolha - Hélio Costa 43%; Antonio Anastásia 17% - diferença 26 pontos.

Nem os mais argutos experts em mineirismo político estão entendo esta.

(...) e o dilema pessoal de Aécio

Como Dilma passou Serra na preferência presidencial dos mineiros, põe-se um dilema para o ex-governador : vai de alma com o candidato tucano ? Ou deixa este barco ao léu para tentar captar votos petistas e dilmistas que engoliram a contragosto a aliança com o PMDB de Hélio Costa ? Outra : desagradando os tucanos paulistas, que tudo indica farão com facilidade o governador do Estado, em que barco Aécio ancorará seus planos de futuro ?

Prudentemente calado

Com o mundo eleitoral bem governado para sua candidata, o PMDB recolheu-se a um obsequioso silêncio, parou até de dar recados a respeito de suas pretensões. A hora da cobrança será depois de outubro.

Contas erradas

Aumenta entre os petistas que eles pagaram, nas alianças regionais, além da conta para ter os parceiros que hoje têm gravitando em torno de Dilma. Quem tem Lula, diz-se, não precisava ter ido a tanto. A compensação será em Brasília, quando Dilma, se eleita, começar a juntar sua turma.

"Falta de educação"

Em alguns lugares, costuma-se usar a expressão acima, como sinal de aprovação ou condenação de alguma coisa. "Um drible desses é até falta de educação [do autor para com o adversário]." "Perder desse modo é falta de educação [para uma derrota eleitoral acachapante]." Pois bem, os seguidos erros que o Ministério da Educação vem cometendo em relação ao Enem é, literalmente, "falta de educação". Ou melhor, de ineficiência gerencial e de respeito aos estudantes.

Banda estreita

Entra semana sai semana, e Rogério Santana, escalado para comandar a rediviva Telebrás, aparece para anunciar como será um aspecto do PNBL - Plano Nacional de Banda Larga. Porém, até o momento ele não saiu do papel, está exatamente apenas a carta de intenções oferecida ao país por Lula e Dilma há pouco mais de dois meses. Nem as 100 cidades que comporão a leva das primeiras beneficiadas do plano ainda foram definidas. Por razões de geografia eleitoral - têm de entrar no roteiro cruzado de viagem presidente e pupila. Mesmo com tantas indefinições em Brasília se sabe que uma paraestatal de telefonia, que recentemente adquiriu um sócio estrangeiro com as graças oficiais, é a favorita disparada para tocar o negócio, milionário, diga-se, em parceria com a Telebrás. Como diria Ibrahim Sued, "colunista mundano" em tempos mais amenos, em "sociedade tudo se sabe".

Oi, com dinheiro da casa própria

Segundo o jornal O Globo, a ex-supertele nacional Oi, utilizou uma manobra para reduzir os custos de seus empréstimos. Diz a reportagem : "Ela usou 263 imóveis de sua propriedade para captar R$ 1,6 bilhão a custos mais baixos. Os prédios foram transferidos a empresas controladas, a quem a Oi pagará aluguel. Os bancos Itaú e Safra compraram os contratos de aluguel de 12 anos - transformados em valores mobiliários - com dinheiro da poupança. O lastro imobiliário permite reduzir o custo de captação da Oi. Ao mesmo tempo, os bancos cumprem a meta de aplicação da poupança em crédito imobiliário." Ilegal a operação não deve ser, pois do contrário os bancos não aceitariam e o BC certamente suspenderia o negócio. Porém, para dizer o mínimo, é coisa estranha num país com as carências habitacionais do Brasil, com um ambicioso programa de construção de moradias, o badalado "Minha Casa, Minha Vida". E mais inusitado ainda que alcance uma empresa que levou alguns bilhões do BNDES e do BB para fazer um ajuste acionário e tem entre seus patrocinadores fundos de pensão de estatais.