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Política & Economia NA REAL n° 117

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Atualizado em 13 de setembro de 2010 15:08

A política como maior risco I

Não é preciso ser um "cientista político" com vasto cabedal de cultura e informação para perceber a substancial ausência de funcionalidade do sistema político brasileiro. Os avanços econômicos do país nos últimos vinte anos e, acentuadamente nos últimos dez, não foram acompanhados por mudanças equivalentes - para melhor - no sistema político. Os partidos, sejam os de oposição, sejam os governistas, não representam sequer razoavelmente os maiores e melhores anseios da sociedade. Todavia, cumprem o papel de "mediação" dos mais diferentes interesses e, neste campo, exercem barganhas que retardam a modernização do país. Um jogo de interesses corporativos, pessoais e que favorecem a corrupção, o tráfico de influência e a defesa dos piores interesses.

A política como maior risco II

Lula foi um hábil administrador da aliança política que sustenta seu governo e sua popularidade; foi uma espécie de garantia de que não houvesse maiores desequilíbrios entre o Legislativo e Executivo, face o perfil da política descrito na nota acima. Ora, a provável eleição de Dilma em outubro não resistirá ao teste de sua capacidade de administrar tal aliança sustentada por múltiplos e, em muitos casos, duvidosos interesses. É difícil imaginarmos substantivos riscos do lado econômico no curto e médio prazo (um ano à frente). Porém, os riscos políticos são enormes e a contradição entre as ideologias, as ambições em relação ao poder instalado pelos votos, a distribuição vertical e horizontal do poder nos estados e a influência do atual presidente sobre o novo governo, indicam que a tarefa da nova presidente será muito delicada. O risco, em suma, é a - pequena - política contaminar a economia. E isto não é algo que esteja tão visível neste momento em que os agentes econômicos comemoram o excelente desempenho da economia e dos negócios.

A política como risco maior III

Pelas indicações possíveis, a provável futura presidente terá uma maioria da Câmara e no Senado como nunca antes neste país teve outro presidente em nossa história política recente, a não ser o dos ciclos militares, por razões óbvias. E é nisto que estaciona o perigo : nenhum Congresso, em tempos recentes, pelo abandono da política na campanha, será tão fisiológico e tão glutão quanto o que espreita o Palácio do Planalto na curva de 2011. Até com um primeiro-ministro "ad hoc".

"Instituições em frangalhos"

Este foi o título de um nunca esquecido editorial do jornal "O Estado de S. Paulo" no dia 13 de dezembro de 1968, um dia após a edição do famigerado AI-5 pelo governo militar de turno. Caso sigilo da Receita, negócios na Casa Civil, a reação do governo e dos governistas... instituições em desmoralização.

A taxa de câmbio. De novo.

A relativa fraqueza das economias centrais em relação à brasileira e a elevada taxa de juros local podem motivar uma nova rodada de valorização do real frente às principais moedas internacionais. Isto não apenas gerará o custo, digamos, "conjuntural" às nossas exportações. Há riscos sérios em relação ao processo de industrialização do país no médio e longo prazo. Não à toa a China continua cuidando com esmero em não provocar nem maiores turbulências na sua taxa de câmbio e nem maior valorização da sua moeda. O país olha o futuro mais distante. Por aqui, este tema está restrito a poucas conversas de bastidores e à percepção de que os artigos importados e as viagens internacionais valem a pena. Neste fim de governo Lula e início do próximo governo será a taxa de câmbio o tema mais importante para os programadores da política econômica. Por enquanto, há pouco a ser feito.

Paranapanema e Vale

Pessoas próximas à operação de aquisição da Paranapanema, cujo leilão fracassou, estão especulando muito sobre o que teria acontecido para que o casamento não se realizasse. Ora, sabia-se da pressão do governo para que esta fusão fosse realizada e também era conhecido o preço (R$ 7,50 por ação) que os fundos de pensão venderiam as suas posições para a Vale. A oferta da Vale foi baixa e os fundos ficaram inertes. Perguntam alguns dos envolvidos : (i) teria a Vale apenas feito um "jogo de cena" fazendo na aparência o que o governo queria e na prática deixando que a operação fracassasse ?; (ii) estariam os fundos de pensão demonstrando "independência" perante um governo que tem interferido muito nas suas estratégias de investimentos ? Ora, não se sabe a resposta para tais questões, mas que o tema é intrigante, isto é mesmo !

Fed em ação

A fraqueza da recuperação da economia norte-americana deve motivar uma nova rodada de queda da taxa de juros dos títulos de renda fixa com prazos mais longos (5 e 10 anos). Há evidências de que o Fed vai fazer novos estímulos monetários para que a economia cresça. Nas próximas semanas é possível e provável que os mercados de ativos reais, incluindo o de ações, reajam a esta expectativa e subam. Será provavelmente algo passageiro, mas poderemos ver mais otimismo entre os investidores que voltaram das férias de verão no hemisfério norte sem muito apetite por ativos de risco.

Portugal e Irlanda

O euro tem caído no mercado internacional por conta de muita especulação sobre a solvência de alguns países europeus, no caso, Portugal e Irlanda. Resta saber se a Alemanha e a França, sócios mais poderosos da UE vão deixar estes países ao sabor das especulações dos hedge funds e tesourarias de grandes bancos. A economia grega pagou caro pela postura desunida da União.

Mais capital para os bancos

A decisão deste final de semana dos 27 principais reguladores de sistemas financeiros reunidos na Basiléia num encontro do Comitê de Supervisão Bancária imporá mais rigores ao sistema financeiro mundial. Em oito anos, o volume de capital próprio dos bancos necessário para a execução das operações bancárias dobrará. Trata-se de um aperto forte para evitar novos colapsos financeiros como o ocorrido em 2008. Os reguladores continuam tentando impor medidas que retirem os temores dos investidores em relação ao sistema financeiro mundial. No Brasil, tais medidas também influenciarão aos políticas do BC em relação aos bancos, apesar de não haver nenhuma desconfiança em relação a higidez de nosso sistema.

Radar NA REAL

Alteramos algumas das nossas posições no radar. Como informamos em nota acima, a queda dos juros de longo prazo no exterior podem motivar maior fluxo de recursos para os ativos de risco. É difícil prognosticar os efeitos e a duração deste processo, mas este nos parece mais provável que incerto. Se será sustentável, é muito mais difícil afirmar. Todavia, os sintomas de que este movimento pode acontecer são múltiplos : volta dos investidores ao mercado de commodities (sobretudo no mercado de metais e energia), maior ingresso de recursos nos fundos de ações nas principais economias, declarações de diversos "formadores de opinião" mundo afora, bem como de autoridades governamentais. Assim sendo, estamos alterando a tendência de curto prazo das moedas (euro se desvalorizando e real e dólar dos EUA se valorizando), mercados de ações para cima e taxas de juros externas declinando. Veremos as próximas semanas.

10/9/10

TENDÊNCIA

SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA estável alta
- Pós-Fixados NA estável alta
Câmbio ²
- EURO 1,2718 queda estável
- REAL 1,7222 alta estável/baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 66.806,69 estável/alta estável/baixa
- S&P 500 1.109,55 estável/alta estável
- NASDAQ 2.242,48 estável/alta estável

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

Frente anti-PMDB ?

Os peemedebistas estão na muda, quietos como nunca. Não querem ser responsabilizados por qualquer tropeção desestabilizador na campanha de Dilma. De aloprados bastam outros parceiros mais coroados. Mas se não estão preocupados, deveriam estar. É cada vez mais visível que se arma na aliança governista uma espécie de "subaliança" para se contrapor ao poder que se acredita o PMDB tirará das urnas. Motivo pelo qual algumas derrotas peemedebistas, como em Minas Gerais, por exemplo, não seriam muito choradas. Uma frente com PT, PDT, PSB e PC do B poderia contar com o dobro de deputados que deve ter o PMDB, sem contar os evangélicos do partido do vice José Alencar e Marcelo Crivella. E sem contar ainda com a ajuda pontual de uma oposição que estará sem rumo caso a derrota presidencial venha a ser avassaladora.

Razões eleitoreiras ?

Voltaram a circular as informações de que Dilma, se eleita, fará mesmo um ajuste fiscal de boas proporções. Na lista entra até a regulamentação das mudanças na previdência do setor público, que Lula não conseguiu fazer, e alterações também na previdência dos empregados do setor privado, para aumentar o tempo de contribuição para a aposentadoria. Pode ser que sim, pode ser que não. Estranha-se apenas que a candidata não assuma esses compromissos publicamente, antes das eleições. A razão, porém, é simples : isto pode tirar votos em territórios nos quais a ministra navega livremente - empregados do setor público, sindicalistas.

Contas a pagar

Quem já mergulhou mais fundo no orçamento de 2011, enviado há dias ao Congresso, não gostou do que viu. Do lado das despesas, faltam provisões : para as emendas dos parlamentares do tamanho que eles esperam e vão exigir, para ressarcimento dos Estados pela isenção do ICMS nas exportações pela Lei Kandir, para o aumento pretendido pelo Judiciário, para o novo teto salarial das policiais e corpo de bombeiros... Do lado da receita, a estimativa de arrecadação está no limite do otimismo.

Mais impostos ?

Por essas e outras, há desconfianças de que vem por aí um aumento de carga tributária - e não apenas por conta de ganhos de eficiência da Receita Federal. A chave poderia ser a votação de regulamentação da EC 29, aqui já referida, com regras para a transferência de recursos para a saúde. O que se prevê é que com ela o setor ganhará mais cerca de R$ 10 bilhões ao ano. No projeto está contemplada a volta da CPMF, com o novo apelido da CSS - Contribuição Social para a Saúde. A proposta está pronta para ser votada na Câmara.

Contas a pagar - II

Multiplicam-se os truques contábeis para garantir um superávit primário - de papel - no governo Federal este ano do tamanho do que está prometido. Até a capitalização da Petrobras vai entrar na roda. Na prática, o governo garante o gasto real e contabiliza papéis, com chumbo trocado entre o Tesouro e estatais. Desfazer este novelo será um dos desafios da próxima administração Federal.

Sono inquieto

Preocupa muito mais que transpareceu a revelação de tráfico de influência no governo do filho da ministra Erenice Guerra. Não é a toa que Dilma, de quem a atual ministra chefe da Casa Civil foi auxiliar de inteira confiança, está tão cautelosa, fez apenas uma declaração protocolar de confiança na parceira, sem veemência. O caso do sigilo bancário da filha e do genro de Serra, conforme se pode ler na última pesquisa DataFolha, teve efeitos negativos limitados sobre as intenções de votos na ex-ministra - atingiu apenas as camadas mais bem informadas, o que foi compensado por avanços dela na parcela do eleitorado que idolatra Lula. O tema, digamos assim, não é popular. O da Casa Civil, por envolver suspeitas de corrupção, facilitação de negócios, tem ingredientes explosivos para atingir a classe média em todos os seus extratos. Se prosperar, é claro.

Últimas esperanças

Há 20 dias da eleição, a única esperança da oposição é que histórias como esta desestabilizem Dilma e seu comando de campanha. O efeito Lula está irresistível.

O bloco do eu sozinho

Não passa despercebido, nem da oposição nem dos adeptos mais fiéis de Dilma, que a participação do presidente Lula na campanha presidencial está cada vez mais autônoma, com vôos muito próprios. Há incômodos com esta postura.