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Política & Economia NA REAL n° 136

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Atualizado em 17 de janeiro de 2011 14:10

 

Otimismo de Mantega

Foi para levantar a moral da tropa governista, acabrunhada com o poderoso facão, que Guido Mantega prometeu um crescimento médio do PIB nos próximos quatro anos de 5,9% (com Lula foi cerca de 4% e com FHC pouco mais de 2%) e aumento contínuo da taxa de investimentos. Foi também uma tentativa de abaixar um pouco o grau de ansiedade dos agentes econômicos privados, inseguros quanto aos rumos reais que a economia tomará. Doutor Pangloss não faria melhor. Como dizia Garrincha, resta saber se o ministro combinou com os russos.

E no exterior ?

O crescimento das principais economias mundiais continua sendo muito incerto no que se refere à sustentação nos próximos anos. Aparentemente, os europeus, sobretudo os alemães, estão mais ciosos da necessidade de manter a União Europeia dentro dos mesmos parâmetros estabelecidos nos anos 90. A política de socorro às economias mais endividadas é mais consensual e a rigidez fiscal será o fator determinante para a retomada do crescimento econômico. Nos EUA, o mercado está mais sólido e crente na política de expansão monetária promovida pelo Fed. Tanto é que o mercado acionário andou registrando altas consecutivas e sólidas em termos de volume. A China é o grande mistério da equação internacional. Um menor crescimento da economia chinesa é o fator crucial para que a Europa e, sobretudo, os EUA possam crescer mais. Para o Brasil, é a China o maior risco em função das commodities cujos preços subiram nos últimos anos movidos pela grande demanda chinesa. Como se vê, as perspectivas estão mais positivas na economia mundial, mas tudo isto é ainda muito frágil para que se possa afirmar que o front externo será azul como no passado, antes da crise de 2008.

O teste do FMI

Não deixa de ser incrível que o FMI, um organismo multilateral desprovido de necessárias reformas, esteja tão ativo no velho continente, impondo as suas clássicas e duras medidas aos países endividados que enfrentam desemprego da ordem de 20%. A reforma do sistema financeiro internacional não aconteceu e, provavelmente, não acontecerá. Assim sendo, o "velho FMI", tão associado à banca internacional, continua protagonizando histórias de recessão e desespero. É o caso da Irlanda e da Grécia. E talvez Portugal. Eis o FMI, o organismo silente quando a especulação corre solta nas economias...

Realismo do BC

Sem exibicionismo, o Copom aumentará os juros amanhã, segundo previsões dos analistas financeiros, em 0,5 ponto percentual. Outros ajustes virão e o tamanho deles vai depender de quanto o ministro Mantega conseguirá cortar, de fato, no orçamento deste ano. Se a poda for pra valer, entre os R$ 40 e os R$ 50 bi tidos como necessários para dar os 3% de superávit primário em 2011, nem os investimentos do PAC estarão livres. Por isso, está todo mundo de olho mesmo é no BC.

BC está atrasado

A demanda aquecida e o firme andamento dos preços nos últimos meses são evidências cristalinas de que o BC está atrasado em relação à alta dos juros básicos. O BC, ainda sob a batuta de Meirelles, operou com um olho no mercado e outro nas eleições. Por isto mesmo, poderá ser mais firme do que seria necessário para voltar a fazer política monetária com a requerida credibilidade.

Contingenciamento ou corte definitivo ?

Para mostrar que desta vez é para valer, o governo está dizendo que não fará um contingenciamento das verbas orçamentárias (suspensão temporária dos gastos, liberáveis quando as receitas entram no caixa), mas um corte sem volta. Vai ser a mesma coisa, pois o orçamento, na prática legislativa e administrativa brasileira, pode ser recomposto a qualquer momento, por uma simples MP. E a presidente vai precisar desse expediente quando tiver embates no Congresso e os parlamentares começarem a dar falta de suas emendas.

Comendo o próprio rabo

A maior dificuldade, no momento, para o ministério da Fazenda aplicar medidas corretivas na economia brasileira, para colocá-la no rumo do crescimento sustentável sem pressões inflacionárias, são os efeitos colaterais que elas provocam, tal a necessidade de ataque em várias frentes :

1. Com os juros - encarece a produção, pressionando os preços e torna mais atraente a vinda do capital estrangeiro, que por sua vez força a valorização do Real.
2. Com o câmbio - uma valorização realista do Real encarecerá os produtos importados e tocará na inflação.
3. Cortes nos gastos - como deverá também pegar os investimentos, servirá para retardar a eliminação de gargalos de infraestrutura, mantendo baixa a capacidade de competir da maior parte de nossa produção de manufaturas e mercadorias de alta tecnologia. Sem contar os "colateralíssimos" efeitos na política, verdadeiramente avessa a questões como verbas oficiais menores, aumentos modestos para os salários...

A questão cambial

Dilma escolheu bem a questão do câmbio como a mais importante a ser enfrentada no médio prazo. É do imbróglio cambial que nasce a dependência externa e o processo de desindustrialização, fontes do atraso tecnológico e do desemprego estrutural. Há dois pontos vitais que se colocam como barreiras à solução da valorização do Real : (i) as regras do comércio internacional que impedem muitas manobras da política industrial e (ii) a relação com a China, que precisa ser definida como parceira ou competidora. Todavia, no curto prazo o que está sendo analisado pelo Planalto e nos corredores das salas da equipe econômica é o controle de capitais. O mercado financeiro deve ver muitas medidas ainda em relação à matéria.

Radar NA REAL

14/1/11 TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹ - Pré-fixados NA estável alta
- Pós-Fixados NA estável alta Câmbio ² - EURO 1,3279 alta alta - REAL 1,6852 estável/alta estável/alta Mercado Acionário - Ibovespa 70.940,20 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.293,24 alta alta - NASDAQ 2.755,30 alta alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

A imagem de Dilma ou desconstruindo Lula

Dilma Rousseff, por gestos, circunstâncias e muita informação vazada para a imprensa, tem feito esforço absoluto para demarcar as diferenças de estilo entre ela e Lula. Um dos mais visíveis desses sinais é a insistência divulgada incessantemente que sentencia que ela aceitará indicações políticas, mas com "critérios técnicos", numa alusão bem explícita de que este não teria sido o comportamento usual de Lula. Enquanto isto, surpreendendo a todo mundo, o ex-presidente guarda um obsequioso silêncio.

Quanto tempo ?

Na capital da política, da intriga e da fofoca avalia-se que não falta muito para os ouvidos das paredes do Palácio do Planalto e de alguns ministérios começarem a escutar imprecações contra o mais ilustre morador de São Bernardo do Campo.

Os anões de Disney

O PMDB, que deu sinais de quase unidade na campanha presidencial, está de novo dividido em Brasília entre os "felizes" e os "zangados". No grupo dos primeiros, bem menor, estão os senadores e as pessoas ligadas ao vice-presidente Michel Temer. Eles levaram de Dilma, até agora, praticamente tudo o que queriam. Na segunda categoria, está a maioria dos deputados, que até o momento levou mais promessas do que tudo e mais um lustre na imagem de fisiologia que a legenda, com enorme merecimento, carrega.

Iludido

Kassab, que passa mais tempo cuidando de seu futuro político do que cuidando da cidade, acertou sua entrada e do grupo que o segue no PMDB. O plano é disputar o governo estadual pelo partido, para tentar romper a polarização, na capital no Estado, entre o PSDB e o PT. O propósito kasssabiano tem tudo para ser mais um sonho de noite de verão da política brasileira, o mesmo que fez Ciro Gomes acreditar que o PT abriria para ele o espaço de candidato a governador de SP. Velho, cansado de guerra, o PMDB vai cozinhar Kassab até a hora de ver quem tem mais chances de vencer a eleição de 2014, para a ele se aliar. O PSDB ou o PT. O PMDB é o partido do pássaro na mão e nenhum voando.

Vitória

Esta semana deve aparecer o responsável pela façanha de praticamente garantir a condução tranquila de Marco Maia à presidência da Câmara, com as desistências já anunciadas de dois dos principais concorrentes - Aldo Rebelo e Júlio Delgado. Sozinho, Sandro Mabel não faz enchente. Maia é sabidamente um candidato que não empolga nem os "grandes caciques" de seu próprio partido. Deve a quem ? Michel Temer ? Antonio Palocci ? Ou à própria Dilma ? O ministro da Articulação Institucional, Luiz Sérgio, é que não foi. Gols a favor têm sempre autores, os contra nem sempre.

Guerra é guerra

Começaram a aparecer na imprensa informações sobre desvios de conduta na gestão da FUNASA nos últimos quatro anos, período no qual ela esteve sob o comando do PMDB. A FUNASA é alvo da fratricida disputa entre o PMDB e o PT do ministro Alexandre Padilha. Nos bastidores brasilienses também se têm como muito provável, nos próximos dias, notícias não muito boas sobre a CONAB, do ministério da Agricultura.

O homem certo

O peemedebista Edison Lobão é de fato a escolha perfeita para o ministério das Minas Energia. Para Dilma, Lobão, jornalista desviado para a política, não tem nenhuma pretensão de comandar de fato o setor elétrico. A prova vem logo aí : a retirada do logotipo da escuderia Sarney da Eletrobrás, um dos feudos maranhenses na eletricidade.