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Política & Economia NA REAL n° 138

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Atualizado em 31 de janeiro de 2011 14:33


EUA : o ponto central é o emprego

Muito embora a popularidade do presidente Obama esteja baixa, a economia norte-americana vem dando sinais consistentes de recuperação. A produção industrial tem crescido, o consumo mostra sinais de elevação sistemática mesmo que pequena, a confiança dos investidores cresce e as contas externas apresentam déficits menores. Os efeitos no longo prazo da estratégia de "inundação monetária" persistem sob ferrenho escrutínio, mas, até agora, os efeitos sobre a demanda foram positivos sem grandes alterações na inflação. O problema é que o desemprego continua cravado nos 10% da mão de obra e os efeitos políticos da recuperação são negligenciáveis. Neste contexto, é difícil de acreditar que propostas "de estadista" de Obama podem vingar. Não à toa, o seu discurso sobre "o Estado da União" na semana passada foi escutado com ceticismo pela classe política e pelo povo. O presidente quis aguçar a confiança dos americanos na América. Acabou no vazio. Na mesma semana em que o presidente chinês desfilava pelas avenidas de Washington paparicado por empresários e pelos próprios diplomatas nativos. Sinal dos tempos.

EUA : mercado de ações em alta

A despeito da constatação de que a recuperação dos EUA é lenta, o mercado de ações do país vem apresentando excelente desempenho. A tendência é de alta, os fluxos de capital para o mercado são consistentes e os resultados das empresas satisfatórios. Com a taxa de juros negativa em termos reais (descontada a inflação), muitos investidores sentem-se seguros de investir em ativos reais com liquidez. As ações ocupam lugar privilegiado nesta estratégia. As ações norte-americanas podem se destacar entre os mercados mundiais neste ano.

PanAmericano : mais "novidades"

Difícil acreditar que tantos erros possam ter passado incólumes sob os olhos de auditores e do próprio BC no caso do Banco PanAmericano. Seria até o caso para uma investigação congressual sobre como agem o BC e as empresas de auditoria nas suas fiscalizações. Espera-se que o Ministério Público faça a sua parte. Mais de R$ 6 bilhões de rombo nas contas da instituição parece um número incrível.

Pergunta que merece resposta

Se a aquisição do PanAmericano pode ser interessante para o competente e agressivo Banco BTG de André Esteves, então por que não seria bom para a Caixa Econômica Federal ? A pergunta vem de um bem situado executivo da instituição estatal. Daqueles que viram os números do banco de Silvio Santos.

Câmbio : primeiros sinais

A julgar pelo valor do dólar frente ao real depois das medidas adotadas pelo governo, estamos diante do primeiro fiasco da política econômica de Dilma. Muito barulho por nada. Como se sabe, a taxa de câmbio é a mais complexa das variáveis da política econômica de qualquer país, mas uma coisa é certa : com a taxa de juros para cima e sem fortes ajustes fiscais, é quase impossível imaginar um real mais adequado aos interesses estratégicos do país.

Hora de agir

Lula administrava com a "lábia" e, de uma forma ou de outra, controlava ansiedades e expectativas dos agentes econômicos, até mesmo os inquietos homens do mercado financeiro. Dilma começou a governar acreditando que poderia amainar as tensões naturais com demonstrações explícitas de possíveis virtudes gerenciais e com promessas de que colocará em ordem as contas públicas. Sem dizer quando, quanto, como e onde. E com direito a divergências internas num governo que apregoa não aceitar divergências. A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, uma das portadoras da foice do corte, disse em alto e bom som, que as obras do PAC serão atingidas. Dilma, em alto e bom som mais alto ainda, negou três vezes que isto possa ocorrer. Ao mesmo tempo, em tom de sussurro, o BC alertou que, sem a ajuda do resto do governo, terá de ser mais duro com os juros.

E o tal do "mercado" ?

O mercado ainda não se convenceu com a nova "lábia" governamental. Pela oitava vez consecutiva os executivos do setor financeiro elevaram a sua previsão para a inflação deste ano, agora estimada em 5,64% contra 5,53% da semana anterior. A de 2012 subiu de 4,54% a 4,70%. Há uma desconfiança de que o governo, por seus compromissos políticos, vai trabalhar a longo prazo no combate aos males da inflação. O centro da meta, de 4,5% só seria mesmo alcançado em 2013.

Obstáculos políticos

Não há justificativa técnica para a demora do governo em definir o tamanho e a linha de cortes no Orçamento para chegar aos 3,1% do PIB de superávit primário este ano - sem mágicas. Afinal, a equipe responsável pelo desbaste estava toda no governo passado e acompanhou toda a tramitação da peça orçamentária. Sabe, portanto, onde os parlamentares cometeram atrocidades, inflando receitas para acomodar despesas. Tanto que o ministro das Comunicações, então no Planejamento, pediu aos deputados e senadores, antes da votação do Orçamento, que eles cortassem R$ 10 bilhões da proposta original. Eles não só não cortaram como ainda puseram outras despesas na conta. O problema é outro, é político. O extraordinário volume da poda - entre R$ 50 bilhões e R$ 64 bilhões - exige sacrifícios que vão fazer explodir insatisfações no Congresso e nos partidos aliados. Os próprios ministros, convidados a entregar suas sugestões de corte até sexta-feira, 4/2, estão ressabiados. Sem contar que há um extenso pacote de despesas rondando o governo na Câmara e no Senado : aumento do salário mínimo, aumento das aposentadorias, aumento do Judiciário, aumento dos policiais civis e militares e do corpo de bombeiros... Assim, será impossível Dilma realizar, simultaneamente, três de seus propósitos : ajuste fiscal, corte de impostos, ainda que pontuais e manutenção de todos os gastos previstos para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). E ainda por cima pagar todos os restos a pagar deixados por Lula.

Poder de convencimento

O governo já tem um poderoso argumento para tentar convencer os deputados e senadores a não pesarem a mão no aumento do salário mínimo (aceitando os R$ 545 ou R$ 550 de Dilma) e no reajuste das aposentadorias acima do mínimo. Mostrará a eles que quanto maiores forem esses aumentos, maior será a necessidade de cortar outras verbas do Orçamento. E a tesourada pegaria as emendas dos parlamentares e das bancadas, poderoso instrumento de caça aos votos.

Omissão da Academia de Hollywood

De um maldoso de plantão em Brasília : "Vai faltar um Oscar na festa do cinema este ano : o de efeitos especiais em economia para o ministro Guido Mantega, para o superávit primário que ele está exibindo com um sorriso beatífico, em Brasília."

Mercado de ações brasileiro

Como temos informado há quase um ano nesta coluna, a tendência do mercado acionário brasileiro não é de alta. Também não é de baixa. A estabilidade do nível geral das cotações (variação do IBOVESPA) tem sido a marca registrada do mercado acionário e, por enquanto, assim deve continuar do nosso ponto de vista. Três fatores contribuíram e contribuem para este cenário : (i) incerteza para a sustentação do crescimento dos lucros das empresas no longo prazo consistente com aquele que está projetado pelos investidores e analistas; (ii) alta da inflação e a frouxidão fiscal do governo os quais forçam os juros para cima; (iii) excesso de ofertas primárias e secundárias de ações frente a uma demanda menos intensa. Somente neste início de ano há 14 operações de emissão/colocação de ações junto aos investidores em análise pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A estimativa do mercado é que entre R$ 40 e 50 bilhões de ações sejam ofertadas este ano. Um sinal de que os preços estão bons para quem vende e menos atraentes para quem compra...

Radar NA REAL

28/1/11 TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA estável alta
- Pós-Fixados NA estável alta
Câmbio ²
- EURO 1,3279 alta alta
- REAL 1,6834 estável/alta estável/alta
Mercado Acionário
- Ibovespa 66.697,60 estável/baixa estável/baixa
- S&P 500 1.276,34 alta alta
- NASDAQ 2.686,89 alta alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

Diplomacia de Dilma

Não deixa de ser interessante verificar como a presidente Dilma analisará os acontecimentos no mundo árabe e os seus efeitos sobre a política externa brasileira. O caso exige uma reavaliação de muitas variáveis da política brasileira para o Oriente Médio, incluindo as recentes investidas no vasto contencioso do Irã para com as autoridades fiscalizadoras do setor atômico.

Um divã para a oposição...

... ou a arte de não fazer política. Definitivamente, a oposição, juntada no PSDB, no DEM e no PPS, desaprendeu a fazer oposição. Uma das grandes façanhas de Lula, a merecer análises mais acuradas dos cultores da tese do lulismo, foi a de praticamente eliminar a política no Brasil. Conciliador por natureza, o ex-presidente foi aos poucos eliminando ou cooptando todas as forças que pudessem fazer-lhe frente : o Congresso foi acoelhado, os partidos governistas domesticados e as centrais sindicais e as organizações não governamentais alimentadas com muitos recursos. Restou a oposição partidária institucionalizada. Mas esses partidos foram perdendo o rumo, depois da crise do mensalão quando o próprio Lula pensou em negociar uma paz com os adversários, incluindo sua não recandidatura em 2006. Depois, acovardada com a crescente popularidade de Lula, absteve-se de suas funções de vigilantes do poder de plantão. Foi apenas periférica nas suas contestações.

E os votos recebidos ?

Saindo de sua terceira derrota seguida, a oposição nega os 44 milhões de votos recebidos no segundo turno da sucessão presidencial se autodestruindo e deixando na orfandade a sociedade. As disputas entre Serra e Aécio, no PSDB, e entre os clãs Bornhausen e Maia no DEM, são o que há de mais mesquinho na política brasileira no momento. Mais mesquinho até que a troca de amabilidades entre o PT e o PMDB pelas "furnas" (no dicionário, cavernas, antros, subterrâneos) dos empregos públicos.

Socialistas em choque

Já não é das mais saudáveis as relações do governador Eduardo Campos (PE) e o governador Cid Gomes (CE) e seu irmão Ciro Gomes. Guerra por espaços no governo Dilma e pelo controle do partido. Campos tem pretensões elevadas para 2014 - no mínimo uma vice de Dilma (ou de Lula) desbancando o PMDB. E Ciro, acolitado pelo irmão, é um eterno candidato a qualquer coisa. As divergências são tantas que em Brasília já se especula sobre uma possível saída dos irmãos Gomes do PSB, em direção ao PV. Ciro inauguraria no seu currículo então o sexto partido em sua não tão longa assim carreira política - Arena (de onde saiu o DEM), PMDB, PSDB, PPS e PSB.

Legitimidade e legitimidade

Em entrevista ao site Estadão.com, o vice-presidente da República, Michel Temer, assim como a presidente Dilma Rousseff descartou a possibilidade de o Congresso aprovar a reforma política exigida pelo país. Para Temer, há dificuldades porque ela atinge "interesses eleitorais legítimos (grifo nosso)" e, portanto, não teria o apoio da maioria dos parlamentares, a não ser em alguns pontos específicos. Escorregou conceitualmente o político do PMDB, também um homem de letras jurídicas. Numa democracia, o único interesse eleitoral legítimo é o do eleitor. E o eleitor clama por uma alteração nos modos e procedimentos do fazer político no Brasil.