COLUNAS

  1. Home >
  2. Colunas >
  3. Política, Direito & Economia NA REAL >
  4. Política & Economia NA REAL n° 140

Política & Economia NA REAL n° 140

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Atualizado em 14 de fevereiro de 2011 14:37

Classe C desce do paraíso ?

Um dos fenômenos mais entoados em prosa e verso da era Lula, justificativa até para teses sobre a efervescência do lulismo, foi a ascensão de milhões de brasileiros à classe média e ao mundo do consumo, sustentado em parte pelo aumento da renda média e em parte por crédito fácil, ainda que não muito barato. Este paraíso agora pode estar ameaçado, ou menos róseo, devido à conjugação da conjuntura externa com o "fiscalismo eleitoral" interno do ano passado. As fontes que estão ameaçando estender nuvens sobre o éden do consumismo popular :

1. Ameaça oficial de conter viagens e gastos dos brasileiros no exterior.

2. A contenção dos reajustes do salário mínimo e também dos aumentos do funcionalismo público.

3. E a danada da inflação, que anualizada já bateu nos 5,99% em janeiro e para as classes de baixa renda (2,5 salários mínimos) estourou acima dos 7%.

Como ensina a vã filosofia os órgãos mais sensíveis do ser humano são o estômago e o bolso. Lua de mel política dura enquanto os dois estão felizes, satisfeitos.

Ventos do Nilo

Nenhuma insatisfação política com o excesso de ditadura e nenhum twitter ou rede social, dizem os especialistas em coisas árabes, teria sido capaz de derrubar um ditador do porte de Hosni Mubarak se a insatisfação dos egípcios não tivesse sido alimentada por uma séria crise econômica. Nos regimes duros, cai o ditador. Nos regimes abertos, o governo perde popularidade e perde o controle do processo político.

A prova de São Tomé

A tantas falou o ministro Guido Mantega sobre uma inflação apenas sazonal no Brasil (recuaria em dado momento sem muito esforço). A presidente Dilma sabe que a herança deixada por Lula não foi tão benéfica assim como dito. Agora, o governo está submetido à prova de São Tomé : fazer antes para que se acredite depois. O corte de R$ 50 bi no Orçamento deste ano, anunciado por Mantega de um modo meio envergonhado, como se estivesse se desculpando, está à espera desta comprovação. Mantega terá de mostrar esta semana onde e como vai passar o facão, num orçamento já engessado por natureza. Contas bem feitas por economistas não oficiais mostram que para chegar a este número não há como não avançar sobre os investimentos, inclusive o PAC, "menino dos olhos" da presidente.

É este o perigo

Nas sucintas contas que os ministros Mantega e Miriam Belchior apresentaram do "novo" Orçamento, desperta dúvida o substancial aumento previsto nas receitas, de 19,2% do PIB em 2010 para 19,8% do PIB em 2011. Isto num ano em que a atividade econômica, até por conta da tesourada de Mantega, vai andar em ritmo mais lento. Pode ser apenas um fantasma. Mas, na semana passada, a bancada do PT na Câmara listou entre suas prioridades neste primeiro semestre parlamentar acabar a votação do projeto que regulamenta a emenda 29 da Constituição. Calcula-se que em prática ela levará mais R$ 10 bi anuais para o setor de saúde, somados os investimentos das três esferas de governo. Dentro dela está implantado retorno do imposto do cheque, o insepulto CPMF, alcunhado, para efeitos mercadológicos de Contribuição Social para a Saúde. É a obsessão do ministro Alexandre Padilha.

Provinha de São Tomé

Uma boa demonstração de "responsabilidade fiscal" seria o governo esquecer, por pelo menos meia década, a história do Trem de Alva Velocidade, ligação entre Campinas, SP e RJ. Aquele que as autoridades dizem que custará cerca de R$ 33 bi, mas que o pessoal do ramo não compra por menos de R$ 50 bi. O mesmo que se diz que não terá dinheiro público, mas que terá R$ 20 bi financiados pelo BNDES a juros de avô para neto, mais R$ 5 bi de garantia para os investidores se os cálculos de receita não se confirmarem e ainda mais R$ 3 bi do Tesouro Nacional para a empresa estatal a ser criada para administrar o negócio. O trem bala, porém, avança. A concorrência está mantida para abril, depois de adiada de dezembro. E mais governo vai entrar no negócio antes dito exclusivamente privado : Correios e Eletrobrás foram "orientados" a entrar como sócios, com dinheiro, no consórcio vencedor. Mais uma garantia de que para o investido não há risco. Já para o contribuinte... Deve ser isto que se está chamando de "consolidação fiscal".

Balão furado

Já desinflou um dos principais balões de ensaio lançados no início do governo Dilma por seus porta-vozes ocultos : o início, ainda este ano, da redução de 20% para 14% na contribuição das empresas para o INSS, em etapas. Guido Mantega, o desenvolvimentista de Lula, travestido de "mãos de tesoura" por Dilma, já avisou que desonerações fiscais no momento só com recursos novos para compensar.

Obama também terá problemas

Reduzir déficits não é tarefa trivial. Requer esforço político e a convicção de não tentar ser popular. O presidente norte-americano manda esta semana para o Congresso um projeto de US$ 3,7 trilhões de orçamento e promete reduzir o déficit em US$ 1,1 trilhão em dez anos. Do jeito que está o orçamento, a oposição republicana vai brigar para aumentar a redução do déficit reduzindo o orçamento. Será um teste para a recuperação econômica dos EUA baseada na expansão dos gastos públicos. Com os mercados subindo e o otimismo financeiro crescendo o teste de Obama é bem sério. Já os desempregados (10% da força de trabalho) continuam desacreditando nos democratas e desconfiando dos republicanos.

Sindicato de maldades

Só pode ter partido de um inimigo jurado do deputado Vicente Paulo da Silva (PT/SP), o Vicentinho, a idéia de entregar ao ex-presidente da CUT o cargo de relator do projeto de aumento do salário mínimo, para defender o valor de R$ 545. Dilma aposta pesado para ter o salário mínimo de seu gosto. Um número assusta os "conciliadores fiscais" : cada um real a mais no salário mínimo eleva em R$ 286 milhões os gastos do setor público de um modo geral.

O calmante na Casa Civil

A inquietação dos ditos agentes econômicos só não é maior porque todos já perceberam que o ministro chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, é uma espécie de primeiro ministro (discreto) do governo Dilma. Porque, se dependesse de Guido Mantega...

Inflação à solta

Está claro que o BC, ainda sob a gestão de Meirelles, resolveu atuar nas eleições mantendo os juros básicos estacionados à espera da decisão das urnas. Ora, o resultado está aí : a inflação se generaliza e o custo da alta dos juros pode ser muito maior se tivesse agido a autoridade monetária antes. A pesquisa Focus do BC continua mostrando que os agentes estão a desconfiar da capacidade de o BC em controlar a inflação. Reservadamente, os analistas do mercado financeiro estão dizendo o seguinte : a inflação não fugiu ao controle, mas muita tensão ainda vai provocar. Quem pode está aumentando preço e o controle da inflação vai custar mais juros e empregos. O resto é discurso.

Lula e a inflação

Será curioso saber como se comportará o ex-presidente Lula caso a inflação mostre os dentes e rebaixe a popularidade do governo que ajudou a eleger. Haverá fidelidade marital ? Ou o ex-sindicalista se comportará como nas assembleias sindicais onde perguntava aos trabalhadores se deviam ou não aceitar o acordo com os patrões ? Esta pergunta foi feita por um bem situado analista político, ouvido no Planalto.

A China e a inflação

As falas do Secretário Timothy Geithner soltas no Brasil na semana passada indicam que estava "feliz" com a inflação chinesa a qual ajusta para cima o câmbio daquele país. Se os chineses ajustarem a atividade econômica para baixo, a conta vai bater nas portas dos EUA, mas também nas nossas. Esta escolha ainda não foi consolidada, mas geram mais alertas para a nossa política econômica.

Radar NA REAL

11/2/11   TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA estável alta
- Pós-Fixados NA estável alta
Câmbio ²
- EURO 1,3486 alta alta
- REAL 1,6668 estável/alta estável/alta
Mercado Acionário
- Ibovespa 65.755,62 estável/baixa estável/baixa
- S&P 500 1.329,15 alta alta
- NASDAQ 2.809,44 alta alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

Um prefeito sem rumo

Depois de cortejar o PMDB, a mais recente invenção do prefeito de SP, Gilberto Kassab, é a criação de uma espécie de partido "fake", cognominado PDB, a ser fundido posteriormente ao PSB. Se estivesse menos preocupado em cuidar de sua carreira política e mais concentrado em cuidar de questões municipais, Kassab poderia fazer algumas operações simples, como um "tapa-buracos", outra "caça-mosquitos" e uma terceira para tentar destravar o insuportável trânsito paulistano, e ser muito mais útil à sociedade. Até porque, para ter partido forte é preciso ter votos. E pelos "elogios" que ele tem recebido em várias camadas sociais da cidade, o PDB tem tudo para ser um natimorto.

Anúncio classificado

A não ser pela exibição de suas picuinhas, alguém tem notícia da que deveria ser a oposição programática e responsável no Brasil. Informações podem ser dadas para os mais de 44 milhões de brasileiros que votaram nela em outubro passado.

Novo profissional

Prestem a atenção : dentro em breve será conhecido o novo advogado do governo em geral e da presidente da República em especial, cargo até há pouco tempo ocupado pelo jurista Márcio Thomaz Bastos. Não confundir com o advogado-geral da União, que tem funções de Estado. O novo profissional já mostrou suas credenciais nos procedimentos legais para a votação de salário mínimo. Pode ser que venha a ter mais trabalho até que o ex-ministro da Justiça, pois o "nosso" (de Lula) Delúbio Soares ameaça novamente a adentrar no campo partidário e o julgamento do mensalão deve ser este ano ainda.