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Política & Economia NA REAL n° 151

terça-feira, 10 de maio de 2011

Atualizado às 07:10

Mudança de tendência

Não são poucos os sinais de que o Brasil pode deixar de ser um mercado predileto dos investidores internacionais. Estamos nos referindo especificamente ao mercado de renda fixa e ao de ações. No caso de renda fixa, as recentes medidas governamentais, com vistas a reduzir a entrada de dólares, estão surtindo efeito. Além disso, há certos temores em relação à inflação, o que pode conter certas operações pré-fixadas (ou seja, com a taxa de juros fixa até o vencimento da operação). Do lado da renda variável, começa a se formar um consenso de que o Brasil "bateu no teto de crescimento". Este segundo segmento de mercado reflete com maior ênfase o sentimento doméstico de que os investimentos permanecem baixos frente às necessidades do país e, sem eles, o que resta é ver o consumo privado reduzido. Afinal, o consumo do governo permanece alto e pouco produtivo.

Assim sendo...

Estamos mudando as nossas recomendações (médio e curto prazo) em relação à bolsa de valores local. Mesmo com um ambiente externo relativamente tranquilo, nos EUA e na Europa (apesar da precária situação de crédito de Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália), o mercado acionário brasileiro deverá experimentar um período relativamente longo de baixa. Note-se que também há um bom volume de operações de colocações de ações (emissões primárias ou IPOs e secundárias) que podem pressionar os preços para baixo.

O câmbio

Não estamos mudando a nossa recomendação no tocante à relação entre o dólar/euro e o real. Todavia, alertamos nossos leitores : não é ocasião de ficar vendido no câmbio. É hora de zerar posições. O real pode se desvalorizar nos próximos meses e, com isso, trará ainda mais riscos para a estabilidade da inflação. O atual governo, como o anterior, imitam a estratégia de FHC e estão utilizando o dólar baixo como estratégia de contenção da alta de preços doméstica via competição dos importados. Uma estratégia que conspira contra a industrialização no longo prazo do país. Portanto, para o câmbio vale um sinal de atenção, redobrado.

Pedido cândido demais

Alexandre Tombini parece exercer o papel de "bonzinho" na equipe econômica. Suas intervenções verbais têm carecido de determinação e firmeza o que faz ficar muito mais perceptível a ausência de independência operacional do BC. Seu pedido para que os distintos consumidores adiem compras soa desconexo com qualquer preceito de teoria econômica que leve em consideração a racionalidade dos agentes econômicos. Por que alguém, com capacidade de consumo, atenderia às palavras do presidente do BC ? Realmente...

PAC, esquecido ?

Muito se comenta sobre o viés "gerencial" da presidente Rousseff. Todavia, sabemos que, num governo, as variáveis que recaem sobre a qualidade da gestão são inúmeras. Licitações, fiscalização, liberação de verbas, disponibilidade de recursos humanos e financeiros são apenas alguns dos fatores a influenciar a viabilização de uma boa gestão dos investimentos públicos. O que se vê, porém, é que há pouca sensibilidade dos agentes econômicos às palavras do governo. Muitos empresários interessados em investir no país permanecem cochichando sobre a inoperância do governo e a falta de credibilidade dos planos governamentais. Estão incluídos no rol dos descrentes os investidores estrangeiros dos setores de bens de capital e equipamentos. Suas perguntas iniciais a seus assessores locais dizem respeito à credibilidade dos planos dos governos (de todos os níveis, não apenas o Federal) e sobre a existência de corrupção. Não é um bom início de conversa.

Dilma e a reforma ministerial

A presidente Dilma, ao ver tanta passividade em relação aos investimentos, deve estar pensando diuturnamente sobre quando poderá trocar alguns membros de sua equipe ministerial. Sabe-se que o tema atrai a atenção das forças políticas que suportam sua administração, mas as conveniências políticas estão dando lugar às preocupações gerenciais. Afinal, daqui a quatro anos os eleitores sancionarão nas urnas suas opiniões sobre o andamento do governo. Até lá, atenção redobrada nas pesquisas de opinião sobre o governo. Na próxima, a avaliação do governo já deve piorar.

Radar NA REAL

6/5/11   TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA alta alta
- Pós-Fixados NA alta alta
Câmbio ²
- EURO 1,4336 estável alta
- REAL 1,6168 estável estável/queda
Mercado Acionário
- Ibovespa 64.417,30 baixa baixa
- S&P 500 1.340,20 estável/alta alta
- NASDAQ 2.826,59 estável/alta alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

Os minuetos de Aécio

O senador Aécio Neves trombou feio com um bafômetro há alguns dias no RJ, colisão que ainda vai lhe trazer aborrecimentos na trajetória que traçou para chegar ao Planalto, se possível logo em 2014. Tropeções juvenis à parte, o ex-governador mineiro, bem ao estilo herdado do avô e obediente ao modo de fazer política de sua gente, tem dado alguns passos que estão deixando desnorteados seus companheiros de oposição e seus adversários governistas. Dá sinais de que se aproxima, por exemplo, do PSD e ao mesmo tempo critica a iniciativa de Gilberto Kassab. Acende velas ao governo Dilma e, em seguida, critica a condução do combate à inflação e mais pesadamente lança torpedos para a presidente no Congresso

(ver nota abaixo). Admite se entender com Serra e Alckmin e trabalha para minar a liderança dos dois nomes no PSDB. Ou o neto de Tancredo se revela um exímio bailarino ou pode tropeçar nas próprias pernas.
Pedras no caminho

Não são poucas nem simples as bombas legislativas que Aécio está montando para a presidente da República e os partidos aliados, algumas para explodir em plena campanha das eleições municipais de 2012, nas quais será jogada uma das preliminares de 2014 :

1. Como relator da PEC do presidente do Senado, José Sarney, para dar ao Senado mais poder para apreciar e votar as MPs, o senador mineiro apresentou um substitutivo mais amplo, cerceando e dificultando as edições de MPs pelo Executivo. Entre outras coisas, elas só passarão a valer depois de analisadas por uma Comissão Especial da Câmara sobre sua viabilidade, urgência e relevância. A Comissão teria três dias para se pronunciar. É tema caro ao Congresso de um modo geral, agastado com o abuso do governo na utilização de MPs. Até a base aliada reclama.

2. Esta semana Aécio deve entregar no Senado um pacote de propostas com vistas a ampliar a autonomia dos municípios, aproveitando-se da marcha dos prefeitos a Brasília a partir de hoje. Entre elas :

- compensação aos municípios pelas isenções fiscais (no IR e no IPI) concedidas pelo governo Federal.

- transferência da administração das estradas Federais para os Estados, acompanhada da entrega imediata aos governadores dos recursos arrecadados pela Cide.

- revisão do pacto Federativo, com os municípios voltando a ter 27,2% da receita tributária, como em 2002, contra os atuais 19,4%.

- isenção tributária para as empresas do setor de saneamento básico.

- acabar com o contingenciamento das verbas do Fundo Penitenciário e repasse de 70% desses recursos, mensalmente, para os Estados.

É agenda que causa urticárias no Planalto e no ministério da Fazenda, mas assanha deputados, senadores, governadores e prefeitos.

O vai da valsa do PT

Não há comprovação - nem muito fundamento - nas informações de que o deputado Estadual paulista Rui Falcão foi eleito presidente nacional do PT contra a vontade do ex-presidente Lula e da presidente Dilma. Ainda está para nascer quem ouse tanto no atual quadrante. Porém, as informações saídas na imprensa não são de livre e espontânea geração. Também não saíram da desarvorada oposição que, de tão desarranjada, nem condições tem de plantar intrigas políticas. As fontes são internas, o que denota que a insatisfação no PT com o governo não é pequena como se quer fazer crer. Há também ranger de dentes, este mais aberto, contra a volta da "hegemonia" paulista no partido.

Os passos doble do PMDB

O senador Valdir Raupp, presidente interino do PMDB e líder do partido no Senado, não é de contrariar os donos de seu partido : é ativo e ao mesmo tempo disciplinado. Assim, quando ele disse que o PMDB pode ter candidato a presidente da República em 2014 e citou os nomes de Michel Temer e Sérgio Cabral estava mais do que simplesmente dando uma declaração vazia. Mesmo que depois contraditado por Michel Temer, Raupp deu o recado de seu grupo. O mesmo recado que o PMDB dá ao armar-se, com Gabriel Chalita ou Paulo Skaf para disputar a prefeitura de SP, e ao dizer que terá candidato próprio no ano que vem em quase todos os municípios brasileiros. O PMDB quer apenas dizer ao PT que deve respeitá-lo e não tentar, como alguns peemedebistas farejam, deixá-lo em plano secundário em muitos municípios. Ou até trocá-lo em 2014 na vice-presidência. Já se percebeu que o discurso de Lula de manter acesa a aliança no ano que vem não soa bem para muitos petistas.

O silêncio dos não inocentes

Está intrigando o silêncio do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente do PSB, que começou o governo Dilma com a voz toda, articulando para ocupar o espaço do PMDB como o aliado mais fiel da presidente e para ser o preferido numa corrida pela vice em provável recandidatura de Dilma. Algumas decepções com nomeações Federais que não saem a contento e desconfianças com as manobras envolvendo a criação do PSD e com o que estaria sendo armado com os irmãos Gomes emudeceram o neto de Miguel Arraes. Não nos bastidores, porém. Já se vislumbrou que ele, "mineiramente", arma seu bote.

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