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Política & Economia NA REAL n° 161

terça-feira, 19 de julho de 2011

Atualizado em 18 de julho de 2011 09:26

Confirmação de tendência

Na coluna do dia 9/5 escrevemos que os mercados sinalizavam uma mudança substantiva de tendência. Depois de quase um ano de recuperação do colapso financeiro ocorrido nos países centrais do capitalismo. a partir de agosto de 2008, os mercados refletiram em larga medida o sucesso imediato da adoção de políticas dos governos para evitar que a atividade econômica atingisse patamares de uma crise como a de 1929. Ao final do primeiro trimestre deste ano, quase todos os segmentos do mercado local e mundial apresentaram um desempenho que espelhou este processo inicial de recuperação. Restavam os aspectos estruturais das economias para serem "recuperados" por meio de políticas governamentais. Não foi isto que ocorreu na maioria dos países, incluso o Brasil, que permaneceu letárgico diante de seus problemas.

Sistemas emperrados

A crise europeia, deflagrada pelo colapso da Grécia, é a representação de que a absorção dos "créditos podres" do sistema privado (e estatal) não está cabendo na dimensão da dívida externa e interna dos países. Os investidores que se beneficiaram do socorro do Estado são aqueles que, sem as perdas gigantescas das quais foram protegidos, agora constatam que as dívidas de países como Portugal, Espanha, Irlanda e, até mesmo, Itália e França, podem não ser solventes na sua plenitude. O mesmo raciocínio vale para a os EUA, muito embora a sua posição estratégica lhe permita melhores condições.

O dilema europeu

Há um problema estrutural muito maior que uma conjuntura negativa. A crise é estrutural e requererá um encaminhamento político sobre o qual não temos convicção que os sistemas políticos estão preparados para solver. Portanto, trata-se de uma crise de enormes proporções. A Europa está diante de uma "escolha de Sofia". Ou aprofunda a União Europeia, sonhada destes os anos 50 do século passado, ou dissolverá o seu sistema monetário "jogando ao mar" os países menores do Velho Continente. Angela Merkel e sua visão de um germanismo econômico simboliza a restrição à estratégia pró-aprofundamento. De outro lado, a França e a Inglaterra simbolizam a hesitação na defesa da União. A questão não está apenas mal parada. Ela está ainda sob o impacto da análise de ganhos e perdas.

Os EUA tem a sua própria miopia

O caso norte-americano é ainda mais simbólico do momento decisivo pelo qual passamos. Obama é uma figura política pálida, sem sustentação política no Congresso e incapaz de promover mudanças estruturais no seu próprio sistema econômico. Suas políticas maneiam entre aspectos exclusivamente ideológicos (universalização da saúde e previdência, intervenção do Estado sobre o sistema produtivo, etc.) e aspectos concretos (limites orçamentários e de dívida, apatia dos investimentos privados, desemprego elevado, etc.). Há ainda a constatação que somente as urnas abençoarão a renovação (ou não) da liderança americana e, assim, capacitá-la a mudar o curso do declínio do Império.

China não é fiadora, é outro risco

Até pouco tempo atrás, as colunas dos principais jornais econômicos do mundo atribuíam à China a extraordinária capacidade de mover para cima e para baixo a economia mundial num momento de fraqueza de demanda. Ao aprofundar-se a crise neste momento, fica evidente o que já se sabia : num sistema aberto como o do comércio mundial, não há vencedores quando todos perdem. A desaceleração chinesa já é fruto da fragilidade das economias capitalistas centrais. E tem mais : a China detém 1/3 dos títulos do Tesouro norte-americano e boa parte (algo como ¼) dos títulos dos países europeus. O questionamento da solvência plena das dívidas antes consideradas "certas" impõe dúvidas sobre a China, que resvalarão no seu próprio desempenho econômico. A China não é, portanto, apenas esperança de demanda, é também um sinal de alerta para o mundo, particularmente o ocidental.

Brasil, com os dedos cruzados I

No resumo analítico que fizemos acima, cujo objetivo é apenas qualificar nossas visões, vê-se que estamos diante de um processo estruturalmente complexo e que, inevitavelmente, trará consequências para o Brasil. Muito embora sejamos uma economia relativamente fechada, os vasos comunicantes do preço das commodities e das transações entre os mercados financeiros e de capital são suficientes para nos contaminar. Neste sentido, é preciso reconhecer de saída que em 2008 as condições da economia brasileira eram melhores que as atuais para enfrentar uma conjuntura desfavorável. Atualmente, a crise estrutural é mais grave. O Brasil ainda tem números fiscais razoáveis frente a seus pares europeus e os EUA, mas estes são piores que há dois anos. A nossa maior virtude se concentra no excelente nível das reservas, mas estas estão aplicadas em quase 100% em títulos europeus e norte-americanos. Vê-se que a situação não é simples.

Brasil, com os dedos cruzados II

O maior problema brasileiro é o câmbio. Desde o governo de FHC, passando pelo de Lula e chegando a Dilma, a política cambial carece de cuidados. Não apenas em função da inflação, mas, sobretudo, em função da prometida política de desenvolvimento econômico. A taxa de câmbio é a variável mais sensível para viabilizar (ou não) o desenvolvimento industrial. O que se viu até agora nos últimos dez anos, pelo menos, foi uma total falta de visão estratégica em relação ao tema. Não se discute esta variável para não comprometer o "mercadismo" financeiro e, de outro lado, as forças produtivas internas não se apresentam como viabilizadoras políticas de uma discussão em torno de seus interesses. Afora o fato de que a alta das commodities obscureceu os efeitos estruturais do comércio exterior sobre o processo de desenvolvimento tecnológico e econômico. A conta sempre chega neste campo, estejamos certos disso.

Inflação, boas novas (e ruins)

A inflação projetada cai. Uma boa notícia quando há dois meses especulava-se que os preços podiam tomar um rumo perigoso. Todavia, dois aspectos têm que ser qualificados para que não sejamos tomados de ânimos que não se sustentam logicamente : a inflação caiu porque a atividade econômica está menor (com o BC puxando os juros) e em razão do câmbio comportado e para baixo (o que força os preços domésticos também para baixo). E tem mais : uma taxa de inflação entre 6% e 7% não é baixa. Ao contrário, agrega mais riscos ao cenário atual.

Copom, cheio de opções

Escapemos das análises do mercado sobre o tema e vejamos a questão de um ângulo mais estrutural. O BC tem todas as opções a sua disposição em relação à taxa de juros, mas as dúvidas são grandes. Vejamos : (i) a desaceleração da atividade econômica é evidente - e ficará mais evidente à frente - (ii) - os preços podem cair mais, dependendo do comportamento do câmbio (iii) e, o risco externo está aumentando. Seria prudente o BC esperar para agir, pois o cenário é muito incerto e a taxa de juros, convenhamos, um presente dos céus para quem tem recursos aplicados no Brasil... De todo modo, amanhã o Copom deve aplicar mais 0,25% na Selic, para desgosto de certas áreas oficiais. O dito mercado ainda aposta em outro 0,25 até o fim do ano, mas então tudo é incerto.

Por tudo isso...

Estamos reforçando a nossa visão negativa (desde 9/5/11) em relação ao desempenho econômico mundial e brasileiro, cujos efeitos sobre os mercados são igualmente negativos, muito embora muito difíceis de serem dimensionados.

Feliz 2013

Não há muitas dúvidas, a não ser que o BC dê um grito de autonomia, que no momento não está a seu alcance : a meta oficiosa é só levar a inflação para o centro da meta (4,5%) em 2013. 2012 tem eleição municipal, com as consequências já conhecidas, ainda mais que petistas e aliados querem ampliar suas forças com vistas a 2014, e há bombas contratadas como o aumento de cerca de 14%, cerca de 8 pontos reais acima da inflação, para o salário mínimo. E em 2011, além de ainda influenciado pelos ares de otimismo que Lula espalhou antes de sair do governo e está alimentando depois dele, de que o Brasil já entrara na rota do paraíso, há a necessidade de a presidente Dilma de firmar-se sobre suas próprias pernas. Antes disso, ela não pode bater forte na política nem na economia.

Política e economia

A dúvida de alguns especialistas é simples : a presidente não pode "bater" duro este ano nos fantasmas econômicos - casos do câmbio em que ela precisa se equilibrar entre proteger a indústria brasileira e a ajuda que o dólar desvalorizado dá ao combate à inflação e do próprio juro - por razões de ordem política. Não estaria ela, no entanto, apenas comprando um problema para o ano eleitoral ? Não seria melhor ser dura agora para respirar em 2012 ?

Lá como cá

Se alguém julga que serve de consolo : parte da queda de braço entre Obama e os adversários republicanos tem, de fato, a ver com princípios ideológicos, com opções de ordem econômica. Parte, porém, como lembrou o economista (democrata) Paulo Krugman, tem a ver com as disputas eleitorais de 2012. Já não se fazem países do lado de cima do equador como antigamente !

Transportes congestionados

Destaca-se a oficial e oficiosamente diferença entre as ações da presidente Dilma no caso Palocci, no qual ela demorou 23 dias para livrar-se do bem sucedido consultor de empresas, e o episódio dos ministérios dos Transportes, no qual no mesmo dia da notícia da "farra dos aditivos" ela já mandou para casa três suspeitos e aceitou as "férias" de um terceiro - em dois dias mandou de volta para o senado o próprio ministro Alfredo Nascimento. As razões levantadas pelas vozes que fazem questão de apontar tais diferenças são três :

1. Dilma percebeu que as vacilações na ocorrência Palocci pegou mal para certos setores da sociedade, especialmente a classe média conservadora.
2. Aproveitou para livrar-se de um grupo que nunca foi o dela.
3. Aaproveitou também a situação para firmar sua própria liderança, à revelia do próprio padrinho e de aliados.

Não seria bem assim

Os adversários das interpretações acima e aqui não se trata da oposição, pois esta... contestam com outros argumentos :

1. Palocci era do PT, a turma em desgraça nos Transportes era (e é) de outra freguesia. Se fosse um petista no lugar de Nascimento e troupe Costa Neto, haveria a mesma eficiência ?

2. A escolha de Paulo Sérgio Passos para o lugar de Nascimento, também como (ainda que formalmente) como homem do PR, mostra os limites do tal grito de independência política.

3. A demora de fazer uma profilaxia total no ministério dos Transportes, com Luis Antonio Pagot e todo o DNIT, incluindo um petista gaúcho citado por Pagot como um homem muito poderoso no departamento, sinaliza dificuldades e necessidade de muitas negociações.

Efeito colateral

Quando Dilma age, como está agindo no ministério dos Transportes, para efeito externo (opinião pública) e como efeito demonstração (público interno), afastando ou demitindo à primeira denúncia, ela, ao mesmo tempo, está criando um ambiente de insegurança em muita áreas sob seu comando e incentivando o velho e corrosivo fogo amigo. "Publicou, caiu. Então, vamos soltar as labaredas" pode ser o novo lema das "pacificadas e unidas" forças governistas.

Otelo

Como escreviam os colunistas de outros tempos, "causou espécie" nas áreas a quem se julga de direito, os elogios que a presidente Dilma fez ao ex-presidente FHC e ao governo dele, em carta pela celebração dos 80 anos do tucano. Não foi por outra razão que a presidente, que andava avara em referências ao patrono, numa semana fez três citações ao ex-presidente Lula. E ainda falou em "herança bendita" em pleno desenvolvimento da crise do ministério dos Transportes, mandada e comandada por gente e acordos recebidos do passado. Não foi à toa ainda que o ex-presidente petista insurgiu-se novamente - seu tema recorrente - contra a imprensa em evento oficioso (tal o patrocínio estatal) da UNE em Goiás, entre outras coisas, por tentar "intrigar" criador de criatura. Quem tem paredes com bons ouvidos em São Paulo e em Brasília sabe o que se passa no mundo real. E sabe, de lado a lado, de onde sopram as "intrigas".

Apelidos delicados

No meio das ferrovias, havia um Juquinha incômodo, mandado definitivamente pelo desvio em que o PR foi metido (temporariamente ou para sempre ?) No caminho dos armazéns nos quais o governo fez estoques alimentícios, há um Juca (com acento no "a" muito familiar) da cota do maior, e no momento mais estridentemente silencioso, partido da base aliada.

O perigoso terreno da galhofa

Ridículo é pouco para classificar certos gestos e atos públicos destinados transmitir para o distinto público sinais de que nas hostes políticas oficiais os aliados vivem na maior harmonia. Como, por exemplo, o bolo de noiva (Dilma e Temer nos papéis principais) cortado entre o PMDB e o PT; e os coquetéis e jantares agora oferecidos pela presidente, antes avessa a esse tipo de coisa, aos políticos aliados, nos quais, ao modo dos call centers, ela diz aos neoamigos, "vocês são muito importantes para mim". O risco é descambar para a galhofa.

Sherlock Holmes

A serviço do país não seria o caso de contratar o personagem de Conan Doyle e outras criaturas como Hercule Poirot, de Agatha Christie, numa convenção dos grandes detetives ficcionais da história, para descobrir os rimos da oposição brasileira ? Antes que ela própria vire apenas uma ficção ?

Jornalismo em choque e em xeque

Ruppert Murdoch, para o jornalismo de respeito, é e sempre foi uma excrescência. Mas que há uma certa dose de hipocrisia, acolá e aqui, em relação às revelações sobre os métodos do Publisher (se assim se pode chamá-lo). Basta ver o teor (se alguns conteúdos assim merecem a classificação) de certas publicações de sucesso e o lixo eletrônico que toma as tardes nacionais e estrangeiras. Além de cair em cima de Murdoch seria com que cada um, publicações, publicadores e público fizéssemos uma passagem pelo confessionário. A propósito, valeria, para jornalistas (e advogados) a leitura de "O jornalista e o assassino", da jornalista norte-americana Janet Malcolm, edição da Cia. das Letras.

Radar NA REAL

15/7/11   TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA alta alta
- Pós-Fixados NA alta alta
Câmbio ²
- EURO 1,4053 estável alta
- REAL 1,5825 estável estável/queda
Mercado Acionário
- Ibovespa 59.478,00 baixa baixa
- S&P 500 1.316,14   estável/baixa baixa
- NASDAQ 2.789,80 estável/baixa baixa

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

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