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Política & Economia NA REAL n° 166

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Atualizado às 08:57

Os contrastes da política com a economia I

Tudo parecia acertado para o governo iniciar ainda este ano um movimento consistente de queda na taxa de juros e, ao mesmo tempo, um afrouxamento na política de austeridade fiscal que a presidente Dilma e o ministro da Fazenda, secundados pelo BC, apregoam que irão adotar nos quatro (primeiros) anos do "dilmato". É o roteiro natural do Brasil em anos ditos políticos (na realidade, eleitorais) - gastos públicos mais generosos para ampliar o cacife dos parceiros nas urnas. Veja-se o que foi 2010. Um ministro chegou a anunciar a liberalidade fiscal para dois dos mais bem informados repórteres de Brasília - Claudia Safatle e Raimundo Costa, do "Valor Econômico". O governo gostaria de repetir sua receita de 2008-2009 de incentivo ao consumo que renderam frutos até as urnas do ano passado.

Os contrastes da política com a economia II

A engrenagem emperrou. Os dados preliminares da inflação, prévias do IPCA e do IGP-M, vieram mais salgados que o esperado. Os analistas voltaram a prever preços mais elevados. A azáfama externa para conter o tropeço das economias ricas não funcionou. Os PIBs dos grandes estão indo mais para o buraco do que se previa. O único sinal "positivo" foi o levantado pelo BC (IBC-Br) de que o PIB nacional está desacelerando, correndo hoje numa média anual de 3%. O que desagrada a Dilma : ela não deseja crescimento de menos de 3% para não começar a ter problemas mais sérios de desemprego com suas consequências políticas. Por isso, Mantega apareceu na segunda-feira garantindo que o ajuste fiscal de 2011 e 2012 serão para valer, com o superávit primário "cheio" e não com abatimentos e subterfúgios. O desafio é equilibrar esse desejo com os desejos eleitorais dos aliados, somados ao conjunto de gastos já contratados para o ano que vem.

A natureza da crise

As armas que o governo nacional está preparando para combater os efeitos da crise internacional sobre o Brasil, quando e se eles começarem a se manifestar, guardam semelhanças totais com a que foi adotada na "marolinha" provocada pelos subprimes americanos. Contudo, esta crise tem natureza diferente (conforme já comentamos em colunas anteriores) e, por isso mesmo, exige ataques distintos. A crise de 2008 era financeira. Agora, é uma crise dos Estados, o que implica em condicionantes políticos, como se viu na queda de braço do presidente Obama com os republicanos e também nas vacilações europeias.

Alemanha conspira contra a Europa

A chanceler alemã Angela Merkel é a campeã atual da falta de percepção sobre o que está a ocorrer mundo afora. Vê a Alemanha como se fosse uma ilha isolada do mundo e sujeita à necessidade de ajustes supranacionais às condicionantes paroquiais de seus pares políticos. Ao rejeitar a formação de uma "dívida europeia" como contraponto às dívidas nacionais dos países-membros, ela esquece que este é um passo necessário para que se estabeleça uma coordenação efetiva da política fiscal. Comenta a líder alemã que a emissão de títulos europeus "conspira contra a Constituição alemã". Puro argumento que distorce as discussões sobre as mudanças que permitiriam o aprofundamento da União Europeia. Típico argumento que exemplifica as "condicionantes políticas" de que trata a nota anterior.

Mais volatilidade à vista I

Já comentamos anteriormente que o excesso de volatilidade será a marca principal dos mercados nas próximas semanas. Talvez meses. As economias centrais vão desacelerar mais e farão brotar mais pessimismo, acentuado pela percepção crescente de que a fragilidade financeira demorará a ser solucionada.

Mais volatilidade à vista II

Para o Brasil, em particular, e os emergentes, em geral, a volatilidade pode ser ainda mais acentuada. O processo de "desalavancagem", fruto da redução de ativos em função de resgates de investidores de fundos está apenas começando e há investidores que vendem posições neste segmento de mercado (recheado de lucro) para "cobrir" prejuízos em outros mercados. Nunca é bom acentuar o pessimismo, mas nunca é bom minimizar os riscos. Portanto, atenção.

A reunião dos bancos centrais

Ao final desta semana na cidade de Jackson Role (ironicamente um nome apropriado) se reunirão os principais presidentes de bancos centrais do mundo. Será uma típica reunião onde quase todos irão para escutar. Para falar mesmo talvez apenas o presidente do Fed, Ben Bernanke. Há substantiva possibilidade de que o chefão do BC norte-americano anuncie novas medidas de estímulo à demanda da parte do Fed. Algum otimismo pode existir para o mercado. Todavia, depois que o Congresso dos EUA encurralou Obama e os candidatos republicanos lançam fogo contra o Fed, o espaço de manobra de Bernanke está muitíssimo menor. O otimismo, assim, não deve prosperar. Infelizmente.

Estranho silêncio

Há um mês o governo anunciou medidas na área cambial para conter o que ele classifica como abuso na área de derivativos e segurar um pouco a valorização do real. A medida foi recebida com ceticismo nos setores interessados, quando não com franca hostilidade. Falou-se em rediscutir a questão, pois as medidas, por prudência, haviam sido tomadas sem consultas. Deste então, porém, não se toca mais no assunto. Nem do lado do governo, nem do lado de fora.

Radar NA REAL

19/8/11

TENDÊNCIA

SEGMENTO

Cotação

Curto prazo

Médio Prazo

Juros ¹

- Pré-fixados

NA

alta/estável

estável

- Pós-Fixados

NA

alta/estável

estável

Câmbio ²

- EURO

1,4384

estável

alta

- REAL

1,6019

estável/alta

estável/queda

Mercado Acionário

- Ibovespa

52.447,59

baixa

baixa

- S&P 500

1.123,30

baixa

baixa

- NASDAQ

2.341,84

baixa

baixa

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

Partido de quadros

Embora tenha desde o princípio atraído intelectuais, militantes e a classe média dos movimentos de combate ao regime militar, o PT nasceu principalmente como um partido de bases, sustentado nos líderes sindicais atraídos por Lula. Ao longo dos anos e a assunção ao poder, foi perdendo esta característica até virar o que é hoje - um partido de quadros. A imposição da candidatura Dilma por Lula e agora, o sucesso que o ex-presidente está conseguindo com a oferta de Fernando Haddad para disputar a prefeitura de São Paulo, são os sinais mais flagrantes desta inflexão petista. O resto se completa com o abandono, na prática, da prática de prévias para escolher os candidatos partidários aos postos eletivos no executivo. Assim se explica a inquietação dos petistas à antiga, de origem sindical.

O motivo real

O agora já ex-ministro da Agricultura, Wagner Rossi, estava baleado quando pediu demissão. Poderia ter ficado mais um pouco, no entanto, tentando ver se amainava o "fogo amigo" assestado em sua direção. Entendem-se também as razões familiares evocadas para Rossi não aceitar os ditos "apelos" para ele continuar. Mas a saída dele tem outro motivo : preservar gente do PMDB e do governo anterior se a saraivada de denúncias, com investigações da imprensa, continuassem ativas. O fogo já se alastrava perigosamente para a Conab e ameaçava descer a serra em direção ao porto de Santos. Por isso, há corações eternamente gratos a Rossi. A expectativa é valer a "conspiração do silêncio" que cerca certas histórias quando o personagem principal sai de cena. Que se sabe mais do episódio Palocci, da real origem do dinheiro das consultorias e da distribuição desses recursos ? Como andam as investigações sobre as estripulias no ministério dos Transportes, fora o magote de demissões. A dinheirama que saiu pelo ralo será reposta ?

A contribuição de Rossi

Wagner Rossi "deu importante contribuição ao governo com projetos de qualidade que fortaleceram a agropecuária brasileira". Palavra da presidente Dilma ao anunciar a mudança no ministério. Qual seria mesmo esta contribuição ? Wagner Rossi assumiu o ministério em 1º/4/10. No dia da mentira. Uma ironia apenas.

Capina na Agricultura

O novo ministro da Agricultura toma posse com a autorização da presidente Dilma de fazer a "faxina" no ministério que teria sido pedida a Rossi antes dele pegar o boné. O alvo maior é a Conab, dita jocosamente "o DNIT do PMDB". Mendes Ribeiro vai mostrar se a vassourada é para valer quando livrar-se da parentalha peemedebista pendurada no órgão : um filho de Renan Calheiros, um neto de Mauro Benevides, a ex-mulher de Henrique Alves. Até agora, apenas Jucazão e Jucazinho pagaram o pato, o que pode caracterizar uma discriminação odiosa, politicamente incorreta.

Sem assunto

A oposição precisa urgentemente mudar o lado do disco, ninguém aguenta mais o mantra das CPIs, até porque se sabe que nenhuma CPI indesejada pelo governo acontecerá no Congresso. Seria bom, também, que a oposição arranjasse outros temas, com propostas concretas de políticas alternativas às que o governo não quer apresentar : reforma previdenciária, reforma administrativa, reforma tributária. O Planalto só quer mais do mesmo, nada que provoque polêmica ou divida a base aliada. A oposição nem mais do mesmo parece querer.

Aécio avançou

Depois de um longo período cultivando um enorme vazio de projetos, Aécio Neves conseguiu uma bela vitória ao aprovar o seu projeto na Câmara das mudanças na tramitação das MPs entre o Senado e a Câmara. A vida dos parlamentares deve ficar mais dura, mas o Executivo é aquele que terá de se comportar melhor daqui por diante. Sobretudo, no que se refere ao "contrabando" das MPs (legislar sobre assuntos variados por meio de uma mesma MP).

Paz precária

A paz que a presidente Dilma celebrou com seus aliados tem rachaduras. Se as contas não forem pagas, voltará a choradeira. Afinal, a eleição municipal já começou. E as amabilidades entre os aliados e dentro dos próprios partidos continuam sendo trocadas à vontade. Além disso, as agruras estão no ar : o ministério do Turismo e, agora, o das Cidades estão na roda que moeu já os Transportes, a Agricultura e a Casa Civil.

Os testes

Essa paz será mesmo testada quando entrarem na pauta do Congresso algumas pendências por lá :

1. Prorrogação da Desvinculação das Receitas da União (DRU).
2. O aumento do Judiciário.
3. A PEC 300, com os reajustes de policiais e bombeiros.
4. A regulamentação do aumento das verbas para a Saúde.
5. A votação do veto de Lula sobre a nova distribuição dos royalties do petróleo.
6. A EC, já aprovada na Câmara, com as mudanças na regras para edição de MPs.
7. O veto de Dilma à proibição de cortar as emendas do parlamentares no Orçamento.

Ciumeira geral

Diz o popular que ciúme de homem é tenebroso. Mais tenebroso ainda é o ciúme de político. Os céus riscaram fogo nos quintais tucanos e petistas com as cenas de civilidade explícita protagonizadoa por Dilma, Alckmin e FHC quinta-feira no Palácio dos Bandeirantes. Preocupou também outros aliados : alguns desconfiam que a presidente está a adular a oposição para mostrar que às vezes pode passar sem eles.

Revisionismo

Sempre se soube - pelo menos assim foram vendidos ao distinto público - que os bem-sucedidos CEUs, uma das melhores inovações da gestão petista na prefeitura de SP, foi uma criação da prefeita Marta Suplicy. Assim como o bilhete único, os investimentos na periferia e a decisão de ampliar os corredores de ônibus. Agora, começa a aparecer nova paternidade para os CEUs : teriam nascido na cabeça do ministro da Educação Fernando Haddad, quando ele era o principal auxiliar da João Sayad na secretária de Finanças do município de São Paulo. No andar da carruagem, Marta, que já está sendo preterida na disputa municipal do ano que vem, corre o risco de perder o direito autoral de outras criações e virar apenas a "Martaxa" dos paulistanos.

Chalita e a educação

Se for mesmo a educação um dos temas que mais polêmicas gerarão na disputa pela prefeitura de SP, Gabriel Chalita, hoje no PMDB e ex-Secretário de Educação de SP, terá de defender a sua experiência anterior quando estava no ninho tucano frente a experiência petista de Fernando Haddad, se este vier a se confirmar como candidato petista. Novamente tucanos versus petistas. Resta saber se Chalita atacará a atual gestão estadual de seu amigo Alckmin na área de educação. Em tempo : também Chalita terá de fazer um enorme esforço para ser o candidato à prefeitura de SP e escapar das negociatas políticas que possam existir a partir de Brasília. Ali pelos lados do Jaburu.

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A coluna Política & Economia NA REAL, integrante do portal Migalhas (www.migalhas.com.br), é assinada por José Marcio Mendonça e Francisco Petros.

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