COLUNAS

  1. Home >
  2. Colunas >
  3. Política, Direito & Economia NA REAL >
  4. Política & Economia NA REAL n° 176

Política & Economia NA REAL n° 176

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Atualizado em 31 de outubro de 2011 09:38

Lula : o real e a especulação

Tão logo foi divulgada a informação sobre o tumor na laringe do ex-presidente Lula, instalou-se uma histeria de conjecturas sobre o real alcance da doença e sobre seus efeitos políticos. Lastimável, mas é o preço a pagar pelos tempos midiáticos que vivemos. O que temos, na realidade, são apenas duas grandes interrogações. Sem respostas nos próximos meses. No caso da saúde dele, que é o que interessa em primeiro lugar, é torcer (e quem crê em Deus, orar) para que os prognósticos dos médicos que cuidam de Lula se confirmem. As especulações, nesse sentido, são desumanas. Na análise política, objeto desta coluna, são precipitadas tais especulações. A única conclusão concreta que se pode tirar é um truísmo : tudo pode mudar, mas tudo também pode ficar no mesmo. Na política e nos mercados, há gosto em especular. Tenham paciência. Para que não se queime a língua e, principalmente, imagens e reputações.

O problema não é o nome

Nas circunstâncias, a nomeação do deputado Aldo Rebelo para o ministério dos Esportes, foi o melhor que Dilma poderia ter feito. Mas o episódio envolvendo Orlando Silva (PC do B), numa sequência que começou com Alfredo Nascimento (PR), Wagner Rossi (PMDB) e Pedro Novais (PMDB) e com a roda já balançando para outras freguesias, os labirintos nos quais a presidente está enredada estão expostos :

1. A pressão dos partidos aliados : todos os substitutos têm no DNA partidário dos substituídos, sendo que os "malfeitos" revelados não se restringiram a ações apenas individuais. Foram solidariedades partidárias.

2. A existência de "feudos" nos ministérios, mesmo com todo o cuidado não inteiramente rompido no ministério dos Transportes, menos ainda na Agricultura e Turismo.

O vício é do modelo : presidencialismo de coalizão. Não é à toa que a pergunta mais frequente depois que Orlando Silva caiu é : quem será o próximo ? Candidatos não faltam. A chance de Dilma quebrar a corrente é com a prometida reforma ministerial de janeiro ou fevereiro. Terá sustentação ?

Como Arquimedes

Para os leitores que reclamam a escassez de informações e análise nesta coluna sobre a oposição solicitamos um obséquio : sempre que souberem dela, nos avisem, por favor, que vamos atrás, em busca de novidades.

Enem para o Supremo ?

Informa-se que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, tem dedicado parte de seu tempo a sabatinar candidatas à vaga no STF em função da aposentadoria da ministra Ellen Grace. São "candidatas" porque a presidente Dilma exige uma mulher substituindo a primeira mulher brasileira a chegar ao mais alto cargo da magistratura nacional. Mais de 10 selecionadas já passaram pelo "confessionário" de Cardoso, numa espécie de "Enem para o Supremo", um tanto inusitado. Infere-se que as "sabatinadas" tenham saber jurídico elevado e comprovado e reputação ilibada, sem precisar reafirmá-los na cátedra do professor Cardozo. O que o ministro da Justiça está tentando descobrir nessas juristas ? Há no ar em Brasília um "palavrão" pairando sobre 2012 : Mensalão. Uma rima, não uma solução.

Oscar Vilhena e o STF

Vale refletir sobre a sugestão do professor Oscar Vilhena, diretor da Escola de Direito da FGV/SP, e da advogada Flavia Annenberg, em artigo no jornal "O Estado de S. Paulo" de sábado :

"Temos hoje o privilégio de contar com inúmeras candidatas qualificadas à vaga da ministra Ellen Gracie. Diversos setores da sociedade brasileira têm aproveitado o intervalo para fazer sugestões ao Ministério da Justiça e à presidência da República de candidatos de sua preferência, nem sempre da maneira mais republicana. A reivindicação mais urgente que um grupo de organizações da sociedade civil tem feito, no entanto, é pela criação de um processo de nomeação mais aberto e transparente. Algo central à democracia brasileira hoje e em plena conformidade com o ethos da Constituição de 1988."

Garota nota 10

O Enem de 2011 ainda está sub judice. Não se sabe se todas as provas serão anuladas ou se apenas alguns alunos terão de refazer os testes. Os resultados dos concorrentes demorarão um tempo para serem divulgados. Mas uma coisa já é certa : a maior nota do exame deste ano quem tirou foi a ex-prefeita e senadora Marta Suplicy, concorrente à candidatura do PT à prefeitura de SP em 2012.

Em segunda época

Segundo especialistas em educação de diferentes matizes teóricos, a metodologia adotada nas provas do Enem é de excelente qualidade. Os desarranjos que o exame tem enfrentado não são, portanto, pedagógicos, têm outra natureza : programação, execução, fiscalização. Tudo temperado por uma dose de demagogia político-eleitoral.

Como não desconfiar ?

O governo continua assegurando - e o BC religiosamente acreditando - que fará um superávit primário (economia para pagar juros) sem fantasias este ano. Os números mostrados pelo BC, até setembro, sugerem que o governo já realizou mais de 80% da meta. Mesmo assim, analistas independentes têm suas dúvidas - sobre o nível e a qualidade dessa poupança. Dúvidas para quais o próprio governo contribui com coisas assim :

- até setembro os investimentos estatais foram quase 3% menores que no mesmo período do ano passado.

- a arrecadação este ano, em termos reais (ou seja, descontada a inflação) será ao redor de 12% superior à de 2010.

- o superávit de setembro foi em boa parte engordado pelo aumento do recolhimento de dividendos pelas estatais.

Radar NA REAL

28/10/11   TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA queda estável
- Pós-Fixados NA queda estável
Câmbio ²
- EURO 1,3959 estável alta
- REAL 1,6942 baixa estável/baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 59.514,09 estável baixa
- S&P 500 1.285,09 estável estável
- NASDAQ 2.737,15 estável estável

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

O acordo europeu I

Nem se precisa comentar a complexidade da Europa quando se olha o resultado da reunião da União Europeia na semana passada, em Bruxelas. De fato, a única constatação objetiva é que a Grécia conseguiu grande parte de seu intento, qual seja, o desconto de sua dívida em 50%. Com isto a relação dívida/PIB do país gravitará ao redor de 85% o que ainda é alta, mas manejável. Cumpriu-se o que era necessário e que demorou pelo menos um ano para Angela Merkel pudesse agir. De outro lado, agora ficará mais evidente que as necessidades financeiras do Velho Continente são generalizadas e não tão localizadas. Não à toa, o pacote de sustentação do crédito bancário e soberano da UE já alcança 1,3 trilhão de euros e pode (deveria) chegar aos 2 trilhões. Portugal e Espanha nos parecem os casos mais urgentes de vez que em outro caso que está na UTI, a Irlanda, a possibilidade de contaminação do crédito imediata é menor.

O acordo europeu II

Os analistas e, especialmente, os investidores estão a especular e requerer das autoridades europeias os "detalhes" do acordo. Na ausência deles, o tal do "mercado" manda o seu recado por meio da elevação da volatilidade e a queda dos preços dos ativos. Ora, estes "detalhes" não são nada fáceis de serem divulgados por várias razões, sendo a principal o fato de que, não sendo a união monetária europeia uma "união fiscal", ainda não se sabe tudo sobre os "esqueletos" contidos nos armários dos governos dos países necessitados. No caso dos gregos, sua habilidade em esconder vem desde o famoso cavalo que levou à destruição de Tróia. No caso dos portugueses, espanhóis, irlandeses, belgas, franceses e alemães, a arte não parece tão desenvolvida, mas em compensação estes não gostam de enfrentar a verdade dos fatos como os velhos filósofos da Grécia. Assim, os "detalhes" vão demorar e o mercado pode continuar em sua própria arte do estresse.

Apesar de tudo, mais otimismo

Temos chamado a atenção de nossos leitores, em meio ao turbilhão de más notícias que temos assistido nos EUA e na Europa, que grande parte do ajuste dos preços e das economias europeias está consolidada o que, por sua vez, também indica que os próximos dois ou três anos devem ser duros. Todavia, do ponto de vista, strictu sensu, do mercado financeiro internacional é possível e, até mesmo, provável, que o pior já tenha passado. Como se sabe, os investidores devem se antecipar aos fatos e, neste contexto, não parece muito sábio que se continue a apostar na piora do cenário mundial. Vejamos alguns pontos desta visão na próxima nota.

O novo ciclo econômico

O emaranhado de números necessários ao diagnóstico econômico muitas vezes esconde quando ocorre o "ponto de mudança" dos ciclos das economias. Estes apenas ficam mais nítidos depois que ocorrem. Sem que cansemos você, leitor, com uma infinidade de números, queremos ressaltar alguns aspectos que sugerem que pode estar começando um novo e positivo ciclo na economia mundial :

1. O desemprego já beira números espetaculares o que indica que o ajuste macro e microeconômico já fez suas vítimas;

2. A situação fiscal está deteriorada, mas o risco para os investidores vai se reduzir, pouco a pouco, de vez que a atuação dos Estados vai dissipar os riscos privados;

3. Não houve nenhum processo contínuo de deflação. Ao contrário, já há evidentes sinais de inflação, o que paradoxalmente é um bom sinal no curto prazo;

4. As principais moedas do mundo, e aquelas que são periféricas, mas importantes como no caso do Yuan chinês, estão comportadas, sem que exista a "guerra cambial" de que tanto falou nosso titular da Fazenda;

5. Os preços dos ativos não indicam a existência de "bolhas especulativas" remanescentes em certos segmentos do mercado, como foi o caso do imobiliário por mais de uma década (ver nota abaixo, "O grande risco");

6. Os fluxos de comércio estão prejudicados pelo aumento do protecionismo. Todavia, este não é um processo generalizado e não completamente sem cooperação internacional;

Os aspectos acima apontados indicam que estamos em plena temporada de "exaustão" da crise. A gravidade inescapável do momento, contudo, não retira a substancial possibilidade de que esta "exaustão" não mais provoque ainda mais pessimismo, digamos, adicional aos agentes. Este é o ponto a ser seguido, sob pena de se olhar o futuro pelo retrovisor.

Cenário brasileiro I

Já comentamos neste espaço que a política monetária brasileira é o grande erro da estratégia econômica do governo. Não propriamente em função da queda (legítima) da taxa de juros básica, uma disfunção histórica. O que é mais perigoso é o governo apostar suas fichas monetárias na piora do cenário externo, a principal justificativa para a política de juros declinantes. A razão é simples e leva a um raciocínio curioso : se o cenário externo melhorar, a taxa de juros não cai ? Parece esquisito, não ? O governo deveria se ocupar em duas frentes mais complexas, porém mais consistentes : soterrar a alta dos preços domésticos (inflação) e ajustar as contas domésticas em termos de qualidade e resultados objetivos. Estas são as variáveis de risco para a taxa de juros.

Cenário Brasileiro II

A questão da atividade econômica é mais importante ao governo. De nossa parte achamos mais do que justa esta preocupação, mesmo que alguns observadores da cena econômica desconfiem de que o governo troca inflação por crescimento. Neste aspecto, o que dá para se verificar é que há dois problemas mais gritantes. O primeiro é que as expectativas estão se deteriorando mais acentuadamente que a lógica indicaria. E com a ajuda do governo soprando aos ouvidos do setor privado que a crise externa atinge o país em cheio. Nem tanto ao céu, nem ao mar : a crise é grave, mas o crescimento não deve ficar muito abaixo de 2% - 3% no curto prazo (2012). O segundo aspecto diz respeito aos investimentos públicos : estes estão carecendo de toda uma série de estratégias para incrementá-los, da qualidade da gestão à corrupção, bem como de uma inteligente associação entre o público e o privado. O governo neste item teria de dar um passo à frente. E um passo que seja sentido pela sociedade como decisivo.

O grande risco

Quando nas notas acima mencionamos que não há "bolhas especulativas" na economia mundial, excetuamos uma propositalmente : a China. Fala-se muito do gigantismo chinês e de seu vigor secular. Alto lá ! Este tipo de análise e percepção carece de elementar lógica por um motivo simples : em economia os recursos são escassos e limitados e os ciclos, mesmo que longos, existem. Ademais, há a própria China : trata-se de um país de capitalismo econômico com ditadura política, contradição esta que nem mesmo o velho Marx aceitaria desconsiderar. Parece muito teórico ? É este modelo que impede que se acredite na transparência dos dados (por exemplo, sobre o sistema financeiro), na estabilidade das regras, no apoio social de longo prazo e assim vai. Estes riscos são reais, mas ainda pouco aparentes no cenário. Podem surgir no horizonte e tornar o dragão econômico num tormento mundial.

____________