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Política & Economia NA REAL n° 178

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Atualizado em 21 de novembro de 2011 13:43

A economia despenca, a política não alenta

As eleições parlamentares na Espanha, que elegeram o líder do centro-direita Partido Popular Mariano Rajoy, foram frias e sem importantes divergências de visões e diagnósticos sobre a atual crise espanhola. O ganho de 186 cadeiras do PP no parlamento, contra 110 dos socialistas, uma vitória significativa, não esconde o fato de que os espanhóis continuam sem perspectivas de mudanças concretas no curto e médio prazo. A depressão na Europa não é apenas econômica. Ultrapassa os limites razoáveis dos efeitos sociais de uma crise. Faz surgir no horizonte um futuro obscuro, como ocorreu na primeira metade do século XX. Provavelmente a tragédia não alcance efeitos tão perversos, mas o risco é de as sociedades não acreditarem mais na política e na democracia como meio de sustentação do modo de convivência social no Velho Continente. Apenas para lembrar : a taxa de desemprego na Itália alcança 20%, na Espanha 23% e na Grécia pouco mais de 27%. Entre os jovens, mais de 40% na média destes países.

Europa e lições para o Brasil

Tem-se atribuído à crise econômica os ventos, com velocidade quase de furacão, que têm varrido diversos governos na Europa. Com a estrondosa vitória do Partido Popular nas eleições gerais espanholas no domingo, já são oito os governos substituídos nos últimos dois anos. E mais alguns estão na mira do eleitor. De fato, a economia foi apenas o estopim. A razão mais profunda é de natureza política : a absoluta incapacidade dos governantes de plantão, nas esferas executiva e legislativa, de propor soluções para os desafios que se apresentaram a eles - os antigos e os novos, trazidos pelo "admirável mundo novo" que estamos vivendo. O que suscita duas perguntas para a seara tupiniquim :

1. Quais transformações reais, institucionais e de infraestrutura, ocorrem de fato no país nos últimos dez anos, a despeito da inclusão de 40 milhões de consumidores, o que traz vantagens, mas também novos desafios e novas exigências ?

2. Quais são as propostas concretas, reais, da oposição, para romper esse quase imobilismo ?

Como diz o dito popular, podemos estar caminhando para "um mato sem cachorro".

A reunião (de novo) dos europeus

No início de dezembro a Comissão Europeia, o órgão que de fato mantém o poder político da Zona do Euro, se reunirá novamente. Em debate, mais uma vez, o papel do BC europeu em meio a esta trágica crise. A decisão é simples (o BC ser ou não ser um 'emprestador de última instância'), a implementação é complexa (como realizar as compras de dívida soberana, determinar limites claros em termos de volumes, definir as taxas de juros, etc.) e a contrapartida dos países é arriscada politicamente (limites de superávit fiscal, privatizações, reformas estruturais, etc.). A Alemanha e a França terão mais razões para agir : a Itália e Espanha são riscos muito maiores que a Grécia e podem afetar todo o sistema financeiro europeu. Todos os três maiores implicados já mudaram seus governos para aqueles que tem feições mais "tecnocráticas" (o que quer dizer, mais alinhado com a ortodoxia de Berlim). Difícil fazer prognósticos de como agirão os principais atores deste trágico teatro (que já não é mais grego). Se o BC agir com força, há boa chance do risco de colapso ruir nos pés da especulação. Caso contrário, hummmm.... Melhor não tentar especular.

No Brasil, desaceleração significativa

Há pouco tempo, a inflação era o maior risco no curto prazo, motivo inclusive para que o governo adiasse aumento de impostos dos cigarros, não reajustasse os combustíveis e a telefonia em outubro - estes se constituem em "passivos" para o ano que vem. Ademais, a taxa de câmbio esboçou um ajuste, positivo do ponto de vista da indústria, mas relativamente perigoso para a inflação. Neste contexto, os "passivos" da inflação serão carregados sem solenidade para o ano que vem, o que dificultará o cumprimento da meta "central" da inflação em 4,5%. Para este ano, é provável que o BC não tenha de fazer a "cartinha" de justificativas pela não efetivação do limite de 6,5% da meta projetada. De fato, o cenário da atividade econômica mostra-se perigosamente caminhando para um nível de estagnação, em linha com o diagnóstico do próprio BC que justificou as recentes reduções na taxa básica de juros. O que provavelmente está sendo subestimado é o efeito político da desaceleração no que tange ao apoio popular ao governo, ao suporte sindical e o apoio da base aliada. A meta de crescimento de 5% em 2012 parece muito improvável, sobretudo quando se verifica que o PIB do último trimestre indicará um parco crescimento.

Juros e juros

O "mercado" se debate para saber se o BC cortará mais 0,5% na taxa Selic (o mais provável) ou um pouquinho. O foco da discussão é esse 0,5% prá lá, 0,75% pra cá ou se os juros básicos reais (descontada a inflação), chegarão a 4% e 2% e em quanto tempo. Para o mundo das empresas e das pessoas, no entanto, o que vem ao caso é que elas pagam pelo dinheiro quando vão se financiar ou comprar a crédito, ou seja, o "juro de fato". Este continua, na maior parte das vezes, escorchantes, a não ser para os que têm os caminhos dos cofres do BNDES.

Os gastos públicos seriam a alternativa

A ausência de uma menor demanda privada justificaria maiores investimentos públicos, sobretudo para melhorar a cambaleante infraestrutura do país. Maior eficiência do setor público sempre é desejável nesta conjuntura, mas no caso brasileiro a evidência mostra que (i) as denúncias de corrupção e irregularidades nas obras e gastos públicos, (ii) a falta de concepção e organização dos projetos por parte da burocracia estatal (em todos os níveis) e (iii) o pouco alinhamento do poder público com o setor privado, prejudicam a implementação de políticas compensatórias capazes de gerar demanda suficiente para evitar uma indesejável desaceleração. Dilma terá neste campo uma difícil tarefa para obter resultados concretos. Lembrando que temos Copa do Mundo e Olimpíadas...

O alerta espanhol

Um dos segredos do extraordinário crescimento da Espanha na última década, quando se tornou uma das "queridinhas" da União Europeia, foi a construção civil (e o mercado imobiliário), movida a crédito fácil e generoso. Hoje, 700 mil casas e apartamentos em todo o país encontram-se vazios. O nível de desemprego já chegou a mais de 23%, a economia local precisa de resgate internacional e os socialistas de Zapatero foram apeados do poder pelo voto da população.

A conjuntura e o mercado

Seria fútil e irresponsável tecer muitas previsões em meio a um cenário tão conturbado. Os analistas e economistas estão, mundo afora, muito pródigos nas suas previsões, apesar das imensas incertezas. O que pode se notar é que os relatórios que se lê "envelhecem" muito em poucos dias. De fato, será preciso saber da decisão dos europeus no que tange a intervenção do BC europeu nos mercados para poder verificar o quanto se reduzirá o agudo risco existente nos mercados mundiais. O Brasil é um importante mercado no mundo atual, mas relativamente pequeno para pretender ser uma "ilha" em meio a tanto risco. Alguém poderia perguntar : e a China ? Bem, neste ponto, há muita falação, mas os sinais no país comunista indicam certa e preocupante desaceleração e "bem quietinho" o governo central do país iniciou um programa de saneamento de seu obscuro sistema financeiro. Ora, se a China apresentar uma queda de demanda substancial, aí o cenário pode se agravar e as previsões se tornarão mais velhas diariamente. Nada sabemos de uma "forte desaceleração", mas sabemos que este risco existe e é concreto (e pouco comentado). De toda a forma, por aqui a taxa básica de juros vai continuar caindo, talvez mais acentuadamente no primeiro trimestre de 2012. O mercado acionário nos parece ainda caro frente ao cenário e a taxa de câmbio ainda será o termômetro mais livre e eficiente para sabermos dos efeitos externos sobre o nosso país.

Sinal de alerta

Sabemos o quão dependente o Brasil é do desempenho dos preços das commodities no mercado internacional. Na semana passada, 17 dos 24 itens que compõem um dos principais índices de commodities, o GSCI da Standard & Poor's, caíram, sendo os principais o gás natural (-7,5%), prata (-6,3%) e algodão (-4,9%). Além disso, as posições compradas foram reduzidas, principalmente pelos especulativos "fundos hedge". Maus sinais para um segmento de mercado que esteve firme ao longo do ano.

Dólar forte

Apesar de todo ceticismo em relação aos EUA, os europeus conseguiram facilitar a vida dos americanos. Por causa da crise no Velho Continente, os depósitos de bancos estrangeiros nos EUA cresceram de US$ 350 bi, em dezembro de 2010, para US$ 715 bi ao final de novembro de 2011. Obama agradece o financiamento barato concedido pelos europeus. Enquanto os bancos alemães financiam os americanos, Angela Merkel continua com a sua campanha paroquial na Alemanha enterrando os euro em nome de uma presumida credibilidade do BCE.

Bancos : conversa continua

As conversas para a fusão de um importante banco de varejo brasileiro e um banco de investimento prosseguem. Sem grandes definições, é verdade. As ambições dos yuppies do banco de investimento não batem muito com as dos conservadores banqueiros do varejo. Mas o bate-papo rende fofocas de todos os lados.

Radar NA REAL

18/11/11   TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA baixa baixa
- Pós-Fixados NA baixa baixa
Câmbio ²
- EURO 1,3459 estável alta
- REAL 1,7865 baixa estável/baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 56.731,30 estável estável
- S&P 500 1.215,65 estável estável
- NASDAQ 2.572,50 estável estável

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

Moral e sistema político em concordata

Não importa se o "ex-ministro ainda ministro" Carlos Lupi vai sair da pasta um dia desses qualquer, se recebe o bilhete azul somente na reforma ministerial prevista para janeiro, e até se consegue sobreviver no posto além daquela data. O lastimável episódio que envolveu o "dono do brizolismo atual", com as vacilações da presidente, a omissão envergonhada dos partidos aliados, ao mesmo tempo, torcendo para o lugar de Lupi "sobrar" para estes, mesmo que temerosos da próxima "bola da vez", e o registro definitivo da falência do sistema político brasileiro e do dito do "presidencialismo" de coalizão que o governa. O poder, no caso, está condicionado pelas "perspectivas de direito" dos associados na empreitada e pelas "perspectivas de poder" que se abre à frente. Por "perspectivas de direito" entenda-se a expectativa que cada parceiro de ser compensado, materialmente (ministérios, postos de segundo escalão, divisão "política" do orçamento). Eles precisam ser permanentemente alimentados e realimentados e nunca se consideram suficientemente atendidos. Esses são os laços, obviamente frágeis da aliança. E que podem ser rompidos se as "perspectivas de poder" futuro se esvanecem. Por isso, a necessidade constante de uma "legitimação" do governo por índices de popularidade sempre elevados.

O pedestal de Dilma I

Eis o dilema da presidente quando chega ao fim o seu primeiro ano de mandato : onde ancorar sua "legitimidade". Ela começou surfando na onda de Lula, da extraordinária popularidade do ex-presidente e dos bons momentos da economia. Deu o seu tom inicial, "parecendo" diferente de Lula, movimento que sofreu um esfriamento para não causar burburinhos no padrinho e no PT. Avançou a imagem própria com a proposta de uma "faxina" nos ministérios suspeitos de "malfeitorias", ideia-força que perdeu tração depois de cinco trocas de ministros sem a troca dos donatários dos ministérios e com as oscilações no caso Lupi.

O pedestal de Dilma II

A base da "legitimação" pela economia está um pouco minada pela queda da atividade econômica e as incertezas que estão no ar. Então, como encontrar um novo pedestal para sustentar os índices de aceitação popular ? As conversas em Brasília dão conta de uma pequena reforma da estrutura ministerial, diminuindo um pouco o números de 38 ministros locados na capital juntamente com a dança de cadeiras em janeiro. O simples vazamento dessa possível intenção presidencial já preservou amuos e reclamos no capital da República daqueles que querem manter os seus imaginados "direitos adquiridos" na máquina pública. Em quem Dilma pode se escorar para ir em frente ?

Bandeira serrista e palaciana

Uma das bandeiras políticas do ex-governador José Serra era a redução dos juros básicos para fugir do dilema fiscal-monetário gerado pelos elevados juros reais. Um atento e bem informado observador da cena nacional e internacional sentencia : "a presidente Dilma, com a sua atual estratégia de redução de juros, retirou do PSDB a última bandeira que os governos petistas não estavam adotando dos tucanos... Ela só não faz isso mais rapidamente porque tem medo do cenário externo. Mas ela fará tudo para reduzir os juros básicos".

Comissão da Verdade : a ausência de Sarney

Fez bem José Sarney, presidente do Senado, na cerimônia de lançamento da "Comissão da Verdade e de Acesso à Informação" que investigará a questão dos desaparecidos políticos durante o regime militar (1964 - 1985). Não ficaria bem para um prócer político que apoiou a ditadura e foi presidente do partido que apoiava o regime militar compor a mesa do lançamento como este. Seria demais associar seu nome com a "verdade".

Contradições paulistas

Enquanto o governador Geraldo Alckmin protesta e age para evitar a suspensão das obras do metrô paulistano em função de alegadas irregularidades na licitação, o palácio dos bandeirantes faz o mesmo caminho da Justiça no caso da Renovias, um consórcio formado pela CCR (40% do capital) e a Construtora Encalso (60%). Pretende o governo paulista rever o contrato de concessão em função de alegadas irregularidades na licitação. A leitura dos jornais e do Diário Oficial deixa evidente a contradição.

Wall Street ocupada - Nação desocupada

Não basta ir muito além da leitura dos jornais para verificarmos que o movimento de ocupação das ruas do centro financeiro de Manhattan está capengando em termos de objetivos. Os ocupantes empolgam mais seus "amigos", que mandam inócuos sinais de "curtição" no sistema de Mark Zuckerberg, do que a sociedade norte-americana que vive desocupada nas entranhas da grande democracia. Bobby Kennedy e Martin Luther King, quando pregavam mudanças e protestavam nas ruas, também pressionavam os políticos para mudarem o sistema político em Washington. Os facebookers carecem de objetivos e estratégias e acabam solapados pela polícia do prefeito de NYC Michael Bloomberg. E nada mais. Triste sina destes "navegadores" sob a indiferença da sociedade e a consagração nas redes sociais pouco solidárias.

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