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Política & Economia NA REAL n° 235

terça-feira, 5 de março de 2013

Atualizado em 4 de março de 2013 10:20

O crescimento além do PIB

O resultado do PIB que apresentou um crescimento de apenas 0,9% em 2012 não reflete apenas a realidade objetiva no curto prazo. É direto, espelho de um país que se distancia de suas possibilidades, estas muito mais grandiosas. O problema não é o "estático" desempenho de um ano para o outro, mas a ausência de "dinâmica". O consumo também capenga porque, a despeito do elevado nível de emprego, a população se engalfinhou em dívidas caríssimas no tempo da euforia lulista. A indústria está visivelmente pouco competitiva - 21% dos produtos industriais são importados numa arena cambial onde a indústria local não pode prevalecer. Neste contexto, falta ao governo visão estratégica e à iniciativa privada a vontade política de agir em prol de seus interesses. Todos parecem letargicamente esperar que algo aconteça. Não acontecerá. Enquanto isso, o PIB pode subir 3,0% ou 4,0%, mas a realidade subjacente está sólida e não é nada boa.

Copom vai manter juros

Num cenário que combina atividade econômica débil e emprego positivo, o BC vai tecer a sua estratégia em relação à inflação extremamente elevada para um país que zela pela sua moeda. O primeiro ato do teatro da autoridade monetária já foi cumprido : Tombini e seus diretores vieram a público para dizer que estão presentes e que a situação será controlada. Foi um calculado (e combinado) jogo de palavras que esclareceu o mercado e alinhou expectativas dos agentes e do próprio governo (que andava meio ausente neste tema). Agora começa a chegar o momento em que o BC terá de passar da prosa para a ação. Todavia, com o PIB lá embaixo e os indicadores de atividade ainda incipientes (no que tange ao crescimento) é provável que tudo fique como está para ver como é que fica. Depois desta próxima reunião do Copom é possível uma alta de juros porque palavras, como se sabe, não movem montanhas (ops !), não reduzem inflação.

Perguntas sem respostas

Digamos que o PIB deste ano não seja nem 3,0% e muito menos 4,0%. Seja apenas algo entre 1,0% e 2,0%. O que fará a presidente Dilma : removerá a equipe econômica que segue cegamente suas recomendações ? Quem viria a substituí-la ?

Mantega e a guerra cambial

O ministro Guido Mantega tem sido um exemplar alferes na retórica na qual prega contra a "guerra cambial" que os países centrais (liderados pelos EUA) estariam fazendo contra os emergentes. O Brasil neste tema tem sido o mais loquaz dentre os emergentes - repetiu a dose na última reunião do G-20 em Moscou. A China já pregou há dois anos com mais ênfase em favor da tese da "guerra cambial". Hoje, tem sido mais discreta e prefere cuidar dos vastos interesses cambiais, enquanto o Brasil se consolida como um país exportador de commodities. Em meio a toda esta retórica, Mantega acumula uma contradição substantiva frente ao largo esforço que faz alhures : está fortalecendo o real para manter a inflação baixa. Difícil sustentar argumentos contra os países ricos desta forma.

O preço das bravatas

O governo tem feito um esforço interno e externo - principalmente externo com as caravanas para atrair investidores nos Estados Unidos sob a batuta do ministro Guido Mantega e à Europa pela palavra da ministra Gleisi Hoffmann - na tentativa de convencer possíveis parceiros de que o Brasil é um porto seguro para quem quer fazer negócios. Não tem sido tão bem sucedido em sua logorréia tanto quanto esperava. Os empresários que ouviram Dilma quarta-feira no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão, se publicamente saíram sorridentes, no fundo mantiveram suas reversas.

O preço das bravatas - II

Lá fora, Mantega e Gleisi também tiveram recepção simpática, mas as perguntas com que eles e outros expositores brasileiros foram bombardeados indicam que o clima de desconfiança e temor permanece vivo. A razão é muito simples : (1) contradições no discurso oficial, (2) certo irrealismo nas análises dos fatos reais da economia nacional e (3) algumas bravatas de governistas e aliados no âmbito interno. O que forma um caldo bem chacrianiano (de Abelardo "Chacrinha" Barbosa : aquele que não explica (ou convence), confunde). No primeiro caso, ainda não foram bem deglutidas, por exemplo, as divergências de ênfase entre o BC e o Ministério da Fazenda em relação à política de juros e à política cambial. Ou, ainda, a respeito da manutenção ou não do tripé macroeconômico que sustentou a economia brasileira desde a última fase do governo FHC até o fim do mandato de Lula antes da eclosão da crise em 2008.

O preço das bravatas - III

Questões como a confusão provocada pelas mudanças no setor elétrico também pesam nessas análises. O ministro Guido Mantega, na sexta-feira depois da divulgação do PIB de 0,9% em 2012, voltou a dizer que a economia do Brasil sofreu este novo baque por conta da crise externa (sem considerar que vários emergentes foram poupados, em grande medida, dela) e que o país este ano vai crescer 4%, o que nem o BC, por sua última projeção, parece acreditar possível. Tais procedimentos levam os analistas a desconfiar que a equipe econômica nacional não está com um diagnóstico correto da situação e, portanto, não sabe como agir. Ou que quer engambelar o distinto público. É por essas e outras que o prestigioso Financial Times classificou Mantega como um "vaticinador".

O preço das bravatas - IV

As bravatas são aquelas coisas que os governantes e seus partidos dizem apenas para agradar seu público interno, sem intenções (ou condições) de cumpri-las de fato. Por aqui, não são levadas tão a sério, mas para o estrangeiro, não tão acostumado a certas nuances da brasilidade política, é para valer. Há ainda uma quarta vertente desse estilo : o que se poderia chamar de "Lei de Gerson do setor público" : uma tentativa de levar vantagem em tudo. Isto é visível na atual safra de concessões de serviço público em preparação. Praticamente todos os programas inicialmente preparados para os setores de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos já foram alterados, para melhorar as ofertas feitas aos possíveis concorrentes. O governo Dilma parece estar necessitando urgentemente, além de um choque gerencial, de um choque de realidade.

Hora da verdade para o BNDES

Anuncia-se que o governo, nos próximos dias, por exigência do TCU, vai divulgar documento o qual torna público os subsídios implícitos nos repasses do Tesouro Nacional para o BNDES. Foram R$ 250 bi desde 2008, captados ao custo da Taxa Selic e emprestados pela TJLP, de taxas menores. Essa diferença não está registrada ainda nas contas públicas. Pode ser o início da hora da verdade financeira também para o BNDES. Os problemas da política de liberalidade e de escolha de "campeões nacionais" do banco já começaram a aparecer. O lucro da instituição caiu 9,55% no ano passado ante 2011. Teria sido ainda pior - de mais de 30% - se o Conselho Monetário Nacional (CMN) não tivesse autorizado a instituição a contabilizar diferentemente de outros bancos, o valor das ações de alguns de seus investimentos em empresas mais complicadas. Já se analisa a possibilidade de o Tesouro injetar mais R$ 8 bi no banco.

Como no Soneto da fidelidade ?

Quem acompanhou as juras de amor trocadas na semana passada entre a presidente Dilma Rousseff (coadjuvada pelo ex-presidente Lula e o PT) e o PMDB e, ao mesmo tempo, conhece o temperamento da presidente, o pragmatismo de Lula, o apetite do PT e as rusgas às vezes nada discretas entre os dois partidos, logo se lembra dos últimos versos de um dos poemas mais citados de Vinicius de Morais :

Eu possa me dizer do amor (que tive) :
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Como no Soneto da fidelidade ? - II

Uma parcela do PMDB já saiu das festas de núpcias com uma caraminhola na cabeça : apesar de todos os elogios de Dilma e Lula ao PMDB e as referências a Temer, nenhum dos dois ousou confirmar o presidente do PMDB como parceiro (vice, entenda-se) na chapa reeleitoral da presidente. Alegou-se que a não referência direta foi para evitar complicações com a legislação. Ora, desde quando a Justiça Eleitoral é respeitada nesse universo ? Ou não foi Lula quem falou da candidatura de Dilma na festa do PT semana retrasada em SP ? A solidez dessas núpcias será testada logo. Hoje, por iniciativa dos peemedebistas presidentes da Câmara, Henrique Alves, e do Senado, Renan Calheiros, será votado pelo Congresso Nacional o veto presidencial à lei com a nova divisão dos royalties do petróleo. O Palácio do Planalto não queria esta votação agora, pois sabe o poder explosivo que a derrubada do veto pode ter. E se houver votação, o veto cai. Pode rachar a unidade do PMDB e a unidade do partido em torno da presidente.

Como no Soneto da fidelidade ? - III

É esperado para esta semana também o início da reforma (ou ajuste, como prefere o governo) ministerial imaginada pela presidente. O PMDB quer recompensas por serviços já prestados e por outros serviços que deverá prestar no Congresso. Parece certo já que a seção do partido em MG vai ganhar o Ministério dos Transportes. O PMDB, porém, quer mais, quer mais "cartórios eleitorais", ou seja, postos que ajudem o partido a conquistar votos. Os peemedebistas costumam dizer que os ministérios que eles têm hoje "não elegem nem ao menos um vereador".

Verdade histórica

Ao contrário do que andam dizendo alguns e escrevendo outros, não foi o ex-presidente Lula o autor do lançamento da recandidatura da presidente Dilma Rousseff. Lula apenas avalizou o que já era fato. Foi a própria Dilma que se lançou, de forma muito pouco subliminar em seu último pronunciamento oficial em rede de rádio e televisão. Lula foi a reboque, com gosto ou sem gosto. Tudo para evitar que Lula crescesse no vácuo da ausência de declarações da presidente.

Uma nova Dilma ?

Os afagos públicos da presidente Dilma ao PMDB e suas conversas com outros aliados estariam indicando que a presidente Dilma, mesmo sob o risco de desenvolver algumas urticárias, está mais afável aos contatos políticos, sua mais evidente dificuldade na chefia do governo. Talvez não seja sem tempo. O mundo da política não tem a presidente na mesma conta dos eleitores, que dão a ela quase 80% de popularidade no momento. Duas pesquisas recentes realizadas em Brasília indicam que com os deputados e senadores o prestígio da presidente é menor e está em queda. A consultoria Arko Advice constatou que a aceitação de Dilma caiu de 54,7%, em 2011, para 45,8% em 2012. Com 220 entrevistas, a FSB Tracking registrou que a nota dada pelos parlamentares à relação entre o governo Federal e o Congresso caiu de 5,9, em maio de 2011, para 4,4 em dezembro de 2012. Curioso é que a base parlamentar de Dilma conta com 80% dos parlamentares. Como a eleição já está no ar e deputados e senadores só pensam na reeleição, Dilma terá de ser um pouco mais generosa com seus aliados se não quiser colher dissabores.

Troféu político

Se no Brasil houvesse um troféu para o maior "cara de pau" da política dificilmente em 2013 ele escaparia das mãos do senador Renan Calheiros. Qualquer outro pretendente terá de fazer muito esforço para bater o senador alagoano. E olha que neste país não faltam bons candidatos a este privilegiado título.

Desembarque

É cada vez mais visível : Lula e o PT estão a cada dia um pouco mais distantes dos companheiros mensaleiros. Solidariedade sim, morrer pela causa, jamais.

Agora, os projetos

A oposição, com o PSDB, e, ainda na surdina, com Eduardo Campos, assanhou-se com o precipitado lançamento da recandidatura de Dilma Rousseff e está com o flanco adversário aberto para críticas e provocações. Mas, precisa ir além das críticas, como as que Aécio Neves tem feito nos últimos dias, tem de mostrar o que vai fazer para corrigir os erros que aponta. Discurso por discurso, ninguém bate Lula.

Radar NA REAL

1/3/13 TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA estável estável/alta
- Pós-Fixados NA estável estável/alta
Câmbio ²
- EURO 1,3027 estável baixa
- REAL 1,9703 estável estável/baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 56.499,17 estável estável
- S&P 500 1.525,20 estável/alta estável/alta
- NASDAQ 3.182,03 estável/alta estável/alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

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