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Política e Economia NA REAL n° 247

terça-feira, 28 de maio de 2013

Atualizado em 27 de maio de 2013 11:08

Menor crescimento, juros mais altos

Amanhã teremos ocasião de verificarmos que duas variáveis serão o corolário do atual momento brasileiro. O BC deverá aumentar a taxa básica de juros para 7,75%. Por detrás desta decisão há que se reconhecer que uma incômoda taxa de inflação corrói as perspectivas econômicas, não propriamente em função da taxa em si (algo entre 6,5% e 7,0%), mas porque a maioria dos preços caminha para uma gradual (e perigosa) indexação. Também nesta quarta-feira saberemos o resultado do PIB do primeiro trimestre. Seja qual for o resultado, pode-se antecipar com certa segurança que o PIB brasileiro está muito aquém daquele que deveria ser. Isso, em larga medida, devido a incompetência governamental e legislativa para estimular o investimento. A pesquisa Focus mostra que os agentes estimam o crescimento em 2,93% para este ano. Como se sabe, prognósticos econômicos são como horóscopo - cada um lê naquilo que lhe interessa. Todavia, para aqueles que acreditam que os governos tem de "administrar expectativas", um resultado ruim do PIB jogará mais pessimismo na economia e mais desconfiança no governo.

A responsabilidade de Dilma

O que era motivo para comentários reservados entre empresários e conversas entre políticos mais enfronhados em Brasília, agora virou assunto público, comentários de analistas políticos, reportagens em jornais, artigos no exterior : o modo de administrar da presidente Dilma. Começou a incomodar - e a ser responsabilizado em parte pela inapetência gerencial do governo - o estilo centralizador, excessivamente detalhista, birrento e não raras vezes ríspido e aterrorizador da presidente. O que parecia prudência, cautela, portanto como bons princípios de gestão, é visto agora como empecilhos. Do ponto de vista dos fatos, não há porque não se cobrar da presidente os resultados sofríveis da economia e da política. Do ponto de vista político, teremos de verificar se a letargia econômica se refletirá em declínio em popularidade. Afinal, é inegável que Dilma tem junto ao povo uma solidariedade substantiva.

Confiança : Petrobras, BB Seguridade, etc.

Questiona o governo e/ou pessoas próximas a este se é possível falar em desconfiança no país no exato instante em que (i) a Petrobras faz uma mega operação de colocação de títulos no exterior (R$ 22 bilhões) e o (ii) BB Seguridade lança ações (R$ 12 bilhões). É claro que ambas as captações de empresas estatais é um bom sinal de solvência das empresas e do país. Todavia, cabe lembrar que operações com títulos de renda fixa e de renda variável são analisados em função da sua taxa de juros e preço de emissão, respectivamente. Ora, a taxa de juros média obtida na operação (3,79% ao ano) para um prazo de 10 anos é elevada frente ao rendimento dos títulos soberanos de países emergentes e de primeiro mundo. Daí o vigoroso interesse de investidores ávidos por rendimentos acima da inflação norte-americana. No caso das ações da BB seguridade, a demanda foi boa, mas não foi excepcional. Operações de mercado devem ser vistas apenas como uma referência das expectativas sobre uma empresa e sobre o país. Sabe-se que o "tal do mercado" exagera (não estamos dizendo que é o caso da Petrobras e do BB), para cima e para baixo, como nos ensinam inúmeros exemplos, dentre os quais, o desempenho das ações do Facebook, os títulos subprime, a bolha de tecnologia, as ações russas em 1998, a crise brasileira de 1999, as ações de tecnologia em 1999 e assim vai...

Desunidos venceremos

Mais uma vez a presidente Dilma Rousseff teve de acionar Michel Temer e os seguidores do vice-presidente da República no PMDB para barrar mais um "ataque especulativo" dos peemedebistas aliados no Congresso Nacional. Duas semanas atrás, o "Super Temer", homem das negociações políticas oficiais, com a ajuda do presidente do Senado, Renan Calheiros, ajudou a aprovar a Medida Provisória dos Portos, que o líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha, pretendia "avacalhar". Agora, a ameaça vem do pedido de convocação, já protocolado na Câmara, de uma CPI para investigar negócios da Petrobras no exterior. O patrocínio agora foi do deputado Leonardo Quintão, peemedebista de MG e contou com a assinatura de 52 dos 80 deputados do partido liderado por Temer. Não será difícil conter a CPI. O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, tem instrumentos legais para deixá-la engavetada por um bom tempo, até que se perca o interesse. Mas ao governo interessa mesmo é liquidar o requerimento, o que será tentado esta semana. Enquanto ela continuar lá, como um fantasma insepulto, o Palácio do Planalto estará sujeito (para usar uma expressão crua) a chantagens de seus aliados, entes de pouca confiança.

É disto que Dilma quer se livrar

Impressionou a facilidade com que as assinaturas para a formação da CPI da Petrobras foram colhidas no PMDB e na base aliada (120 das 199 que apoiaram o pedido) como já havia impressionado a facilidade como a pífia oposição conseguiu 41 horas de obstrução na votação da MP dos Portos. São fatos que estão enchendo de minhoquinhas as cabeças coroadas do oficialismo e do PT : como o comando do PMDB, que recebe todas as honras da República, não consegue controlar seus parlamentares e depois é preciso sair correndo para apagar incêndios, com os custos que se vê ? A cada uma dessas "rebeliões" corresponde uma "dívida de gratidão" da presidente Dilma com algum peemedebista coroado. Pode não ser, mas desconfia-se dessa desunião em muitos cantos de Brasília. O lema do PMDB parece cada vez mais ser : "Desunidos venceremos". Ou : "O PMDB desunido jamais será vencido".

Ilusão à toa

É ingenuidade atribuir as dificuldades que o governo enfrenta no Congresso a este ou aquele parlamentar ou grupinho. "O inimigo número um" do Palácio do Planalto, o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha, não existe sozinho. O novo adversário, o também peemedebista, Leonardo Quintão, menos ainda. Não há notícias de que ele tenha colocado a adaga no pescoço de 120 governistas, dos quais 52 (de 80) deputados do PMDB do vice-presidente da República, para assinarem a CPI da Petrobras. Bloco do eu sozinho, só no Carnaval. O governo e a presidente Dilma devem procurar os bodes expiatórios em suas próprias hostes.

Mais coincidência ainda

A CPI da Petrobras não deve sair, mas o simples movimento para investigar as atividades da estatal já provocou dois movimentos defensivos do governo : (1) Sem muitas explicações, a empresa anunciou que não aceitou propostas para vender parte de seus negócios na Argentina. É parte do plano de "desinvestimento" da Petrobras, tido como essencial para reforçar o caixa da estatal para os grandes negócios do pré-sal. Este plano é o objeto de investigação da CPI. (2) O governo decidiu antecipar em um mês - de novembro para outubro - a primeira licitação para a exploração de uma província do pré-sal. E colocou no jogo o campo de Libra, um mega campo. Tem tudo para ser um grande sucesso, e obscurecer as críticas à Petrobras.

Vai mudar a regra ?

Alguns analistas, dado o tamanho dos investimentos necessários, acham que o governo poderá mudar uma ou duas regras estabelecidas para as novas licitações na área petrolífera, agora sob o regime de partilha. A Petrobras não teria recursos para entrar no negócio com os 30% estabelecidos pela lei e a exigência de elevado conteúdo nacional poderia dificultar alguns negócios. É esperar para ver : ou o governo torna essas regras mais flexíveis ou vai precisar ajudar a capitalizar a Petrobras.

Temer na berlinda ?

Pode ser apenas mais uma mera coincidência - embora, mera coincidência em política seja coisa de amadores - mas, é curioso que no momento, mesmo em que a "desunião" esteja provocando tantos suores noturnos ao governo, três das mais bem informadas colunas de Brasília tenham dados notas dando conta da possibilidade de o vice da chapa reeleitoral de Dilma ser trocado. Por alguém do próprio PMDB ou - a conversa de novo - para acomodar o governador Eduardo Campos. O real é que é grande o desagrado palaciano com o PMDB. O recado de Dilma foi dado quando, depois de confirmar, ela deixou de comparecer a um jantar com peemedebistas ilustres no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice Michel Temer. Quanto mais depende do PMDB, mais Dilma deixa o PMDB na berlinda.

Mas o PT não ajuda

Dilma poderia ficar menos amarrada ao PMDB se tivesse mais ajuda de seu partido no Congresso. O PT não cria os problemas de outros aliados, embora também não esteja satisfeito com o tratamento que recebe do Palácio do Planalto, muito diferente dos tempos gloriosos com Lula no poder. É disciplinado. Porém, é apático, não reage, deixa o protagonismo dos grandes momentos no Congresso para o PMDB e outros aliados e a oposição. No caso da MP dos Portos, por exemplo, assistiu a tudo quase calado. Parece ainda tomado da "síndrome do mensalão".

Troféu Bravateiro-mor - capítulo II

Provavelmente esta semana ainda o senador Renan Calheiros, presidente do Senado, terá a oportunidade de mostrar que é homem político capaz de cumprir a palavra empenhada : devem chegar ao Senado pelo menos duas MPs aprovadas pela Câmara com prazo de vencimento inferior aos sete dias que ele disse que passaria a exigir para votá-las na casa dos senadores. Palavra dada palavra empenhada ? Ou senador Calheiros, expoente do peemedebismo autenticamente governista, vai aderir ao "princípio da irrevogabilidade" de Aloizio Mercadante ?

Gato escaldado

O governador Eduardo Campos, depois de uns dias de retiro para respiro, começou a estrilar publicamente contra o cerco que o governo está fazendo em torno de sua candidatura. A ordem é matar por asfixia. O perigo é que gato encurralado tem reações inusitadas e agressivas.

Mais uma ilusão à toa - I

Pelos últimos movimentos tucanos, percebe-se que os mentores da candidatura Aécio Neves esperam colher frutos nas desavenças entre os aliados de Dilma, especialmente no PMDB, às turras com o PT em vários Estados e preocupado com possíveis perdas de espaço nos Estados e no Legislativo Federal. As reações do governador do RJ, Sérgio Cabral, à candidatura do petista Lindbergh Farias ao governo fluminense, contra o vice peemedebista Pezão, deram alento a esta esperança. Tem tudo, porém, para ser uma ilusão, um sonho.

Mais uma ilusão à toa - II

O PMDB, cuja vocação ao governismo é irrefreável e incurável não vai largar o barco federal de graça. Fará o sacrifício que for necessário para ficar bem postado nele, tirando dele todos os benefícios possíveis. Só pulará fora se a reeleição de Dilma estiver ameaçada, o que parece pouco provável se a economia não degringolar. E se degringolar, Aécio - ou Campos, ou Marina - não precisarão fazer nenhum movimento para ter o PMDB em seu regaço. A eleição competitiva para os tucanos passa menos por esses apoios partidários e mais por o partido ter propostas claras, simples e factíveis para melhorar a vida dos brasileiros.

China, EUA e o resto...

O presidente da China Xi Jiping afirmou na última sexta-feira que "a China não sacrificará o meio ambiente para assegurar o crescimento de curto prazo". Depois do país injetar gases pela atmosfera global, de não respeitar mínimas condições de trabalho, de agir contra a liberdade pessoal de seus cidadãos, desrespeitar as patentes de produtos, de adotar práticas comerciais duvidosas, eis que o presidente chinês vê-se moralmente constrangido entre o meio ambiente e o desenvolvimento econômico. Bem, muito mais provável acreditar que há um superestoque de produtos chineses que não podem ser absorvidos pelo mundo que na boa vontade do líder chinês para com o meio ambiente. Todavia, uma coisa parece consolidada : a China vai crescer bem menos, quiçá em torno de 5% ao ano e não mais 10% nos próximos anos. De outro lado, este declínio da China no curto prazo favorecerá os EUA, os quais estão em plena recuperação econômica, reduzindo riscos e aumentando a produtividade. Bom para os lucros e para os investidores que cada vez mais se animam em retornar para a Terra das Oportunidades. As bolsas sinalizarão este movimento. Enquanto isso, a Bovespa vai continuar patinando à espera de crescimento...

Radar NA REAL

24/5/13   TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA alta estável/alta
- Pós-Fixados NA alta estável/alta
Câmbio ²
- EURO 1,2933 estável baixa
- REAL 2,0545 estável estável/baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 56.406,23 estável/queda estável
- S&P 500 1.650,51 estável/alta estável/alta
- NASDAQ 3.549,41 estável/alta estável/alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). 
(2) Em relação ao dólar norte-americano 
NA - Não aplicável