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A voz dos oráculos

terça-feira, 29 de junho de 2004

Atualizado em 28 de junho de 2004 10:18

Francisco Petros*


A voz dos Oráculos


Durante o boom das bolsas de valores dos EUA, ao longo dos anos 90 - principalmente na segunda metade da década passada - houve uma discussão generalizada sobre a existência de um Novo Paradigma nos conceitos e na gestão macroeconômica. Generalizou-se a crença sobre a existência de uma Nova Economia baseada em novos níveis de produtividade e crescimento, fruto de gigantescos avanços tecnológicos e do fenômeno da globalização. Com efeito: a avaliação dos ativos merecia uma revisão diante deste "admirável mundo novo". A inflação caiu em quase todos os países do mundo. O império soviético desmoronado deixou de ser o principal risco geopolítico e os EUA feitos a nação hegemônica desviou suas estratégias para uma nova guerra: a do comércio. Os riscos de elevados custos de energia reduziram-se em função da estabilização política após a primeira Guerra do Iraque e a descoberta de novas reservas de petróleo na Europa Ocidental, no Alasca, na África e mesmo no Brasil. Foram os anos dos yuppies, jovens e aguerridos profissionais do mercado financeiro a mostrar os seus diplomas MBA e PhD e a ocupar as first e business classes das companhias aéreas. Pregavam o novo evangelho da Nova Economia. Seus pares nos países mais pobres se tornaram os "sacerdotes" da esperança do progresso que respingaria com enorme sucesso nas sociedades mais atrasadas. Formou-se assim a unanimidade rodriguiana. Contra ela, restava apenas a rendição incondicional.

O início do novo milênio mostrou-nos que o boom era uma bolha. Os ganhos de produtividade não cresciam na velocidade de um novo paradigma - sequer era fenômeno novo; a globalização dominante foi mostrando os "dentes protecionistas" dos países ricos; os novos conceitos de avaliação dos ativos foram sendo desmoralizados pelas quedas generalizadas das cotações dos ativos; alguns (não muitos!) yuppies foram parar na cadeia em função de fraudes financeiras contra investidores; os balanços de muitas e importantes empresas mostraram-se "peças de ficção" e os países pobres continuaram pobres e sob o jugo de suas conhecidas elites. O "perigo vermelho" foi substituído pela "guerra contra o terrorismo" e os custos de energia subiram velozmente.

Se a história é capaz de nos ensinar algo, é que as previsões são a prática mais fútil dos homens. Continua a ser o "calcanhar de Aquiles" principalmente nos "oráculos" do mercado financeiro. Nesta coluna sempre procuramos exercer um certo "espírito crítico" diante dos fatos econômicos e políticos, sem a pretensão de tentar adivinhá-los. Nem desejamos espalhar pessimismo ou expectativas negativas. Apenas apreciamos os fatos e nos preocupamos em emitir com honestidade intelectual uma opinião sobre política, economia e sobre o mercado financeiro.

Vejamos os fatos e o cronograma que se desfralda diante de nossos olhos. Ao longo do 2º semestre, o Federal Reserve avaliará os risco da inflação nos EUA e ditará o grau e a intensidade de sua política monetária; as eleições norte-americanas de novembro serão das mais "apertadas" entre Bush e Kerry e ninguém pode prever como será a política econômica dos EUA daí por diante; as eleições municipais no Brasil podem produzir mudanças na condução do Governo Lula; há dúvidas consistentes de que o "crescimento estatístico" da economia brasileira se tornará sustentado; o risco geopolítico persiste alto e o terrorismo é um fenômeno que veio para ficar; ninguém sabe prever como ficará o Oriente Médio posteriormente a "devolução" (sic) do poder aos iraquianos.

Estas são apenas algumas das variáveis mais importantes presentes a afetar o mercado financeiro. Seus efeitos sobre o andamento dos fluxos de capital, sobre as taxas de câmbio, sobre as taxas de crescimento da atividade econômica mundial, sobre a política comercial mundial, etc. são extremamente difíceis de se prever. Não é à toa que os movimentos das cotações dos ativos e contratos dos ativos nos mercados mundiais estão erráticos, com baixa volatilidade e volumes modestos negociados diariamente. Fruto de uma completa ausência de consenso entre os agentes no que tange às opiniões sobre o andamento dos mercados. Falta a unanimidade sobre novos paradigmas e uma nova economia. Talvez a inteligência esteja mais presente neste momento de incerteza. Um dado positivo.
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* Francisco Petros é economista formado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, pós-graduado em finanças (MBA) pelo Instituto Brasileiro do Mercado de Capitais (1ª Turma-1987). Em 1988, ingressou na Brasilpar onde atuou por dez anos nas áreas de corporate finance e administração de recursos (esta foi a primeira empresa independente de gestão de recursos). Em seguida, foi diretor-executivo do Grupo Sul América na área de investimentos. Em 1998, fundou a NIX ASSET MANAGEMENT da qual é sócio-diretor. É membro do Conselho Consultivo do Ethical Fund, fundo de investimento administrado pelo ABN-AMRO. Foi diretor (1992), Vice-Presidente e Presidente (1999-2002) e membro do Conselho Consultivo e do Comitê de Ética (atual) da APIMEC (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais - São Paulo). É Certified Financial Planner (CFP®) pelo Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF) e Analista de Investimento com CNPI (Certificação Nacional de Profissional de Investimento). É colunista da Revista Carta Capital, do Jornal Valor Econômico e consultor da Rede Bandeirantes de Rádio (BAND), além de contribuir esporadicamente para diversas publicações especializadas em mercado de capitais, economia e finanças. Em 2004 foi escolhido o "Profissional de Investimentos do Ano" pelo voto direto dos associados da APIMEC em função da sua contribuição para o desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro.

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