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Política & Economia NA REAL n° 18

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Atualizado em 8 de setembro de 2008 19:46

Ataque aos juros altos

A probabilidade de que a inflação seja muito moderada nos próximos três meses é elevada. Por uma razão simples e objetiva : em grande parte a variação dos preços foi motivada pela elevação dos preços das commodities no mercado internacional. E agora a "bolha das commodities" explodiu. Todos os segmentos apresentaram queda de preços. Imensas, diga-se. Poucos analistas estão ainda a comentar o "fenômeno chinês" que jogava qualquer preço para cima ! Está ficando claro que se tratava de um processo especulativo gigantesco, patrocinado pelo dólar fraco e juros baixíssimos em quase todas as economias desenvolvidas. Pois bem : a moderação da inflação vai lançar mais combustível sobre nosso BC e sua política monetária apertada. Há logicamente facas sendo afiadas na Fazenda para atacar o BC.

Momentos de decisão

Do ponto de vista político e da "correlação de forças" dentro do time econômico do presidente Lula, vai acontecer nesta terça e quarta o quê talvez venha a ser a mais decisiva reunião do Copom. (Dizer que não há um componente político em decisões que interferem no mundo monetário e na economia em geral é bobagem. Mas há políticas e políticas). Não é segredo para ninguém que Henrique Meirelles viveu sob constante pressão do lado político (nesse grupo incluído o ministério da Fazenda, quase sempre) desde que o governo Lula se instalou. Sem contar os reclamos do PT, do Congresso e do empresariado. Isso, mesmo nos momentos em que o Copom estava reduzindo os juros. Não é segredo, também, que Lula nunca engoliu esse negócio de o Brasil ser campeão mundial dos juros elevados. Nesse ponto, o vice-presidente José Alencar, sem as responsabilidades do titular do Planalto, funcionou/funciona como um alterego de Lula. O presidente, porém, sempre aceitou, ainda que a contragosto, as ações do BC. Ora por considerá-las inevitáveis, ora por temores de provocar agitações.

E agora ?

Desta vez, pode ser diferente. Nunca, em nenhuma ocasião em seus 7 anos e meio de governo, Lula - tão discretamente quando possível, mas não tão discretamente que não desse para perceber - mobilizou tantas forças para convencer o BC de que não é necessário aumentar os juros com a força que o mercado espera até pelo menos a sua primeira reunião em 2009. Meirelles, por exemplo, passou por um fogo cerradíssimo de assessores econômicos formais e informais na semana passada no Palácio do Planalto, sob o olhar impassível de Lula. Nada indica que o BC se comoveu. Se seguir seu estilo, pode-se dizer que ganhou argumentos a mais para ser conservador - a interferência política. Agora, porém, se ele não maneirar, o tiroteio que persegue Meirelles pode ser um novo e poderoso atirador.

Emprego em baixa...

Foi ultrapassado o limite psicológico de 6% da taxa de desemprego dos EUA. A taxa do mês de agosto foi de 6,1% (em julho tinha sido de 5,7%). Este indicador é um dos principais para o estabelecimento da política monetária pelo banco central norte-americano. Também é um sinal de que as medidas de redução de impostos implementada pelo governo Bush para reduzir a recessão não estão produzindo nenhum estímulo substantivo sobre o emprego. O debate, sobretudo entre os candidatos à presidência, a respeito da necessidade de novos pacotes fiscais vai crescer.

Produtividade em alta...

Caiu o emprego, mas a produtividade da maior economia do mundo mantém-se elevada - 4,3%. Bom sinal, pois a produtividade é similar ao crescimento potencial da economia. A redução dos empregos somada a um melhor desempenho das contas externas norte-americanas são os fatores que jogaram a produtividade para cima.

Enquanto isso, no mercado...

Na semana passada, apesar das bolsas norte-americanas apresentarem estabilidade nos principais indicadores (S&P500, Nasdaq, etc), o pessimismo se espalhou de forma generalizada no mercado financeiro internacional. As commodities despencaram, novas inquietações sobre a estabilidade do sistema financeiro norte-americano surgiram e as moedas se tornaram mais voláteis. Aliás, os níveis de volatilidade dos ativos, medidos por diversos indicadores, estão nos níveis mais elevados dos últimos cinco anos. Cuidado com os investimentos ! A hora recomenda cautela e, de vez em quando, caldo de galinha...

O PROER norte-americano

O governo americano está lançando um plano envolvendo recursos públicos (US$ 200 bilhões, 1/3 do PIB do Brasil) e todas os principais órgãos do Estado, do Banco Central até a SEC com o objetivo de resgatar as suas agências de crédito imobiliário Fannie Mae e Fred Mac. Este valor é pelo menos duas vezes o que se imaginava inicialmente. Depois da tempestade de inadimplências por parte dos devedores de maior risco (subprime credits), tais agências e a maioria das instituições de crédito dos EUA perderam toneladas de dinheiro. Neste contexto, o governo republicano, tido como crente na eficiência do mercado, resolveu agir e injetar recursos públicos para sanear o setor de crédito imobiliário. Um PROER yankee. O capitalismo ao redor do Globo está deixando uma marca notória : quando as coisas vão bem, o tal "mercado" prega a não-intervenção do governo. Quando as tempestades chegam, as carpideiras são ouvidas em todos os recantos rogando ao governo a salvação via recursos públicos para cobrir perdas privadas. Os liberais, com sorrisos amarelos, agradecem.

Opinião arriscada

Esta coluna faz uma afirmação que é muito arriscada de ser feita : o dólar norte-americano entrou num processo de valorização de longo prazo. Vai subir frente às principais moedas mundiais. Na verdade, não existem modelos teóricos confiáveis e eficientes que suportem esta opinião. Portanto, os investidores devem levar em conta esta deficiência de nosso parecer. Todavia, a correção dos problemas estruturais dos EUA passa necessariamente por uma relação mais saudável entre juros mais altos e emprego no longo prazo. O momento é de crise, mas os investidores estão olhando para esta possibilidade. Além de estarem comprando ativos baratos nos mercados norte-americanos. Eis a aposta : comprar dólares...

De outro lado

A possível elevação dos juros de longo prazo nos EUA vai desvalorizar os papéis de renda fixa dos países emergentes e das corporações. Melhor manter posições líquidas e de curto prazo.

Lula, a propaganda e o crescimento

Ninguém pode ou deve desprezar a capacidade de nosso Presidente em fazer propaganda de seu governo. Com resultados muito positivos para a imagem de toda a tropa governista, vale ressaltar. Como se sabe, propaganda não é necessariamente verdade. Pelo menos aquilo que se chama normalmente de verdade... Mais um exemplo que demonstra que a fanfarrice presidencial e muito acima dos decibéis da realidade : a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe), organismo ligado às Nações Unidas, acaba de divulgar a perspectiva de crescimento para a região : 4,7% este ano e 4,0% em 2009. Algo abaixo da média de 5,6% entre 2004-2007. Adivinha que país é o lanterninha em termos de crescimento esperado na região ? Pois é. E quem tem coragem de colocar o dedo na ferida quando o Presidente bate recordes de popularidade ?

Lula e as eleições municipais

Há algo que merece ser investigado nos números das pesquisas eleitorais : qual é a real importância da liderança presidencial e sua popularidade na escolha dos candidatos a prefeito por parte dos eleitores. Muito se fala sobre esta influência, no caso favorável, mas há pouca evidência estatística sobre o assunto. Ou será que o Presidente tornou-se um mito ?

Não há como medir

O fato é que, embora o tema seja uma preocupação dos analistas e dos próprios políticos, é difícil medir o grau de transferência de votos de um político de prestígio ou de um governante bem avaliado para um candidato. Alguma transferência sempre há, mas em níveis variados. Transferência absoluta é rara - e tudo depende de outras circunstâncias.

O próprio Lula, que não é nenhum ingênuo em matéria de política e de eleições, mostra que sabe disso e prefere não se arriscar. Tirando os casos de São Paulo e São Bernardo, por razões outras, ele está evitando envolver-se nos embates do primeiro turno, quase sempre sob a alegação de que há disputas entre aliados. E não é bem assim. Estava fora do jogo em Recife, por exemplo, porém entrou em campo depois que o candidato petista abriu uma frente capaz de garantir sua vitória no primeiro turno. Ao contrário, em Curitiba, onde a eleição está entre uma petista e um tucano, com larga margem para o candidato do PSDB, Lula passou ao largo. Prova de transferência de voto, dado o inegável prestígio presidencial, seria Lula levar à vitória o candidato do PT no Rio de Janeiro, que nem é visto perto dos favoritos. Ou ainda, mudar o panorama em Curitiba.

Dá para fazer a roupa da posse

Faltam ainda pouco menos de 30 dias para o primeiro turno das eleições e muita coisa pode mudar. Para desespero de candidatos e assessores, mais de 20% dos eleitores indicam que tomam uma decisão nos últimos momentos, quase na boca da urna. Outros 40%, nesta altura da campanha, admitem trocar de voto. Todavia, já dá para dizer que em alguns colégios eleitorais de peso a eleição está quase definida : (1) em Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB) apoiado pelo governador Aécio Neves PSDB) e pelo prefeito Fernando Pimentel (PT) ; (2) em Curitiba, Beto Richa (PSDB) ; (4) em Recife, João Paulo (PT) ; (4) em Vitória, João Coser (PT) ; e (5) em Goiânia, Íris Rezende (PMDB). Todos no primeiro turno. Correm bem, ainda José Fogaça (Porto Alegre) e ACM Neto (Salvador), sujeitos porém a um segundo turno.

Quem mente ?

Do ponto de vista exclusivamente dos fatos, não resta dúvida de que um dos dois está a mentir: ou o General Félix da Segurança Institucional ou o "general" Jobim. Afinal, as "maletas" gravam ou não gravam telefones ?

Falando nisso

Dado o número de maletas distribuídas nos órgãos governamentais e, aparentemente, não-governamentais, é incrível a preocupação dos funcionários públicos com o que falam ao telefone. O que será gera tanta preocupação ? De nossa parte, só podemos imaginar grandes tratativas republicanas por meio dos telefones. Tudo no interesse público, é claro !

Garantindo a paz

Com duas MPs na semana passada, o governo encerrou o ciclo de aumentos salariais reais (e outras correções que significam também ganhos de proventos) beneficiando 1.400.000 servidores públicos ativos e inativos. Sem contar os ajustes para os militares. Os aumentos estão escalonados e vão, na sua maioria, até 2011. Com isso, Lula terá tranqüilidade no decisivo período de sua sucessão, numa categoria que tem grande preferência pelo PT e pela CUT.

Em grande ebulição

O governo está cada vez mais fechando o cerco e pressionando a indústria farmacêutica. De um lado está a Anvisa, controlando publicidade, segurando por mais tempo a liberação de licença para fabricação de novos medicamentos. De outro, a PF investigando laboratórios (no momento, três estão na mira) suspeitos de tentar, via Justiça, forçar a compra oficial de remédios de preço elevadíssimo. A insatisfação contra as regras sobre patentes e propriedade intelectual é recorrente. Circula nos escaninhos oficiais a idéia de financiar, via BNDES, o nascimento de um grande laboratório de capital nacional. Tudo nesse caso passa cada vez mais por Brasília. As empresas, naturalmente, preparam-se para esses embates. O tema é delicado e pode render, por se tratar do setor de saúde, dividendos políticos e eleitorais. Um grande laboratório nacional tido como possível líder da superfarmacêutica brasileira, recentemente contratou para sua presidência um vice de multinacional responsável, entre outras coisas, pela área de relações governamentais. Agora, é outro estrategista desta área que troca de posição. Depois de mais de 10 anos na multinacional Bristol, o executivo Antonio Carlos Salles foi recrutado para ser o novo vice-presidente de public affairs da Baxter para a América Latina. Foi dele a idéia amplamente divulgada pela Bristol, de que a empresa não era fornecedora do governo, mas sim parceira. Com isso, a empresa conseguiu negociar, sem muitos atropelos, a venda de seu anti-retroviral com o Ministério da Saúde, sem os percalços enfrentados por duas outras multinacionais fornecedoras de medicamentos do coquetel de proteção contra a Aids do programa brasileiro.