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As eleições serão importantes?

terça-feira, 28 de setembro de 2004

Atualizado em 27 de setembro de 2004 12:52

Francisco Petros*


As eleições serão importantes?


Tanto nos EUA quanto no Brasil as eleições terão papel central para a formação das expectativas dos agentes em relação às respectivas políticas econômicas em vigor, bem como haverá uma recomposição política, seja em relação ao suporte partidário (no caso do Brasil), bem como no aprofundamento das estratégias adotadas pelo governo em relação aos riscos econômicos e geopolíticos (no caso dos EUA).

No caso do Brasil, nos parece muito difícil que a oposição consiga reverter as expectativas que se formaram no eleitorado em 2002. O governo liderado pelo Presidente Lula, ao longo de 2003 e deste ano, conseguiu combinar uma política econômica conservadora com um discurso social que "abona" o governo perante a opinião pública. De fato, as estatísticas econômicas têm expressado uma recuperação da atividade, uma substancial melhora das contas externas e uma leve, mesmo que inconsistente elevação do consumo doméstico. Uma análise isenta e fria dos fatos remeterá a evolução favorável da política econômica doméstica a um quadro externo que combinou vários fatores favoráveis, especialmente no que se refere ao extraordinário crescimento da economia chinesa e ao custo de capital menos oneroso que o inicialmente esperado. Está claro que a política econômica brasileira foi aderente, de forma favorável, às expectativas dos investidores internos e externos. Tudo isso, contribuiu para a melhoria da solvência do país, tal qual ocorreu em quase todos os países emergentes. Neste sentido, somente a Argentina segue como um "problema estrutural" dentre estes países.

Ainda no caso do Brasil, há que se ressaltar que o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva conta com amplo apoio da população, conforme demonstram as pesquisas de opinião, e conseguiu formular uma imagem externa (mais que uma "política"), cujos resultados ainda não podem ser avaliados com precisão de vez que será necessário mais tempo para saber sobre a sua eficiência. A liderança presidencial, somada a ineficácia do discurso oposicionista, compõem um quadro que pode minimizar inclusive eventuais derrotas do governo em capitais importantes do país, notadamente em São Paulo. Vale ressaltar que não estamos analisando, nem a essência e nem a consistência dos fatos. Estamos apenas avaliando os seus efeitos mediatos sobre a política econômica. Com efeito, não se espera grande mudança no curso atual da política econômica liderada por Antonio Palocci no início de 2005.

O caso dos EUA é muito diferente. Trata-se, em primeiro lugar, de um pleito presidencial, no qual tanto as políticas domésticas - especialmente as questões que envolvem impostos - quanto o andamento da política externa, notadamente a ocupação do Iraque, levarão a cabo a continuidade ou não de uma política fiscal perigosa em função da magnitude dos déficits produzidos e/ou uma política externa, baseada na força imperial norte-americana, sem que existam elementos sólidos que aglutinem em torno da Grande Democracia do Ocidente os seus tradicionais aliados. Um império sem Pax. Há, ainda, um segundo elemento embutido no momento eleitoral dos EUA. A oposição democrata tem enormes dificuldades em elaborar propostas políticas efetivamente "alternativas" aquelas que são propostas pelo Presidente Bush. Parece certo que o candidato do Partido Republicano não deve seguir, pelo menos no que tange à economia, os mesmos preceitos que hoje prega em comícios e aparições de TV, também está claro que está difícil saber o que será um Governo Kerry em matéria econômica. O mesmo vale em relação à política externa do democrata.

Há um paradoxo cristalino que vale para ambas as eleições, no Brasil e nos EUA. Se de um lado, o Brasil se beneficia de um cenário externo aparentemente benigno, de outro, para aqueles que analisam com profundidade as entranhas dos problemas políticos e econômicos mundiais, vê-se que há tantos fatores inconsistentes que o futuro da economia mundial pode não ser tão benigno. Dos riscos geopolíticos até as dúvidas sobre o andamento da economia chinesa vemos um mundo cheio de problemas cujas soluções não estão a caminho. Ao contrário, as nuvens prosseguem carregadas.

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* Francisco Petros é economista formado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, pós-graduado em finanças (MBA) pelo Instituto Brasileiro do Mercado de Capitais (1ª Turma-1987). Em 1988, ingressou na Brasilpar onde atuou por dez anos nas áreas de corporate finance e administração de recursos (esta foi a primeira empresa independente de gestão de recursos). Em seguida, foi diretor-executivo do Grupo Sul América na área de investimentos. Em 1998, fundou a NIX ASSET MANAGEMENT da qual é sócio-diretor. É membro do Conselho Consultivo do Ethical Fund, fundo de investimento administrado pelo ABN-AMRO. Foi diretor (1992), Vice-Presidente e Presidente (1999-2002) e membro do Conselho Consultivo e do Comitê de Ética (atual) da APIMEC (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais - São Paulo). É Certified Financial Planner (CFP®) pelo Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF) e Analista de Investimento com CNPI (Certificação Nacional de Profissional de Investimento). É colunista da Revista Carta Capital, do Jornal Valor Econômico e consultor da Rede Bandeirantes de Rádio (BAND), além de contribuir esporadicamente para diversas publicações especializadas em mercado de capitais, economia e finanças. Em 2004 foi escolhido o "Profissional de Investimentos do Ano" pelo voto direto dos associados da APIMEC em função da sua contribuição para o desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro.


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