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Política & Economia NA REAL n° 28

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Atualizado às 08:57

G-20: poucos efeitos no curto prazo

Muito embora devamos reconhecer que os resultados da reunião do G-20 na última sexta-feira e sábado tenham sido acima das expectativas, as medidas propostas terão poucos efeitos sobre as principais economias, sobretudo no que se refere à recessão que campeia mundo afora. As medidas (50) são na maioria de natureza "profilática", enquanto o fraco desempenho das economias é de natureza "endêmica". A reforma das principais instituições multilaterais (FMI, BIRD, BIS, etc.) é necessária desde o final dos anos 90. Naquela época, os principais líderes mundiais formaram uma equipe liderada pelo ex-presidente do Banco Central alemão Hans Tietmeyer para estudar tal reforma. Na prática nada ocorreu. Agora, é possível que a recessão tenha "educado" os líderes nesta questão.

A hora das políticas nacionais

As sugestões do G-20 são coisas para médio e longo prazo. E a crise está em ebulição. O momento é, portanto, das políticas nacionais, de cada governo assumir as suas responsabilidades perante os seus. No Brasil o desemprego começa a pipocar. Não é o caso de fazer terrorismo, mas o ritmo da economia está mais lento em quase todos os setores, não apenas naqueles que dependem desesperadamente de crédito. Passou meio despercebida a notícia, mas a gigante Vale do Rio Doce, em mais um passo para se proteger, na quinta-feira, discretamente, suspendeu festas, participação em eventos e similares e botou em banho-maria até o programa de estágios. Quando o governo (ou os governos, aí Estados e municípios também) começará a dar contribuições reais, com a própria carne, para melhorar o ambiente econômico nacional ?
 

A nossa visão sobre o mercado

Conforme escrevemos nas últimas duas semanas, não acreditamos que o mercado acionário possa ter uma relação eficiente entre o retorno a ser auferido e os riscos presentes no mercado. As ações terão um desempenho errático e o retorno será no máximo "zero". Em relação aos juros domésticos acreditamos na estabilidade no atual patamar de mercado. O câmbio deve oscilar na faixa de US$ 2,20-2,50. Maior risco, maior será a desvalorização do real. É a taxa de câmbio o melhor termômetro desta crise para o Brasil. O momento é o da renda fixa. Com o respaldo de um sistema financeiro hígido, coisa que lá fora não se tem por enquanto.
 

Briga pela moeda

Por detrás da reforma das instituições multilaterais há uma questão muito mais importante : se o dólar continuará a ser a moeda-reserva dos investidores mundiais. Contra o dólar conspiram (1) a fragilidade dos bancos norte-americanos, (2) a falta de liderança política dos EUA, (3) a recessão (que pode ser longa e mais profunda) e os abalos das instituições reguladoras em especial o Federal Reserve. A favor os EUA têm (1) a posição geopolítica e militar, (2) a diversidade da economia do país, sobretudo no segmento industrial, (3) a falta de dinamismo da economia européia, cuja moeda seria a substituta do dólar como moeda-reserva e (4) a capacidade da América em se renovar. Bem pesados os prós e os contras, podemos arriscar : o dólar prevalecerá.

Petróleo e os populistas

Prestemos atenção redobrada para as bravatas do populista Hugo Chávez. Com o petróleo gravitando entre US$ 50-60 o espaço político para que o venezuelano se sustente politicamente se reduziu drasticamente. O mesmo raciocínio vale para Evo Morales e Rafael Corrêa.

O petróleo e os populistas - 2

Com a queda dos preços e a crise econômica (sem contar o balanço da Petrobras que, bem visto, deixou preocupações), arrefeceu a festa do pré-sal brasileiro. As propostas para o modelo de exploração das anunciadas fantásticas reservas nas águas mais profundas de São Paulo, Rio e Espírito Santo, que deveriam ter sido anunciadas até setembro, foram adiadas para outubro e talvez não saiam nem em dezembro. Aliás, como anotamos em uma coluna semanas atrás, o entusiasmo inicial deu lugar a certo realismo, que estava faltando até então. Um problema para a campanha da preferida de Lula, Dilma Roussef. Junto com o PAC, o pré-sal e sua sonhada renda antecipada estavam na lista dos motes eleitorais da candidata à candidata à sucessora de Lula. Nem todos no PT estão tristes com esta situação, no momento.
 

O PT e a sucessão presidencial

Se o leitor quer saber o que uma parcela do PT pensa da candidatura de Dilma Roussef à cadeira de Lula no Planalto, deve ler o que o ex-ministro José Dirceu escreveu logo depois que, em jornais italianos, o presidente Lula, "sem querer, mas querendo", confirmou que a ministra-chefe da Casa Civil é sua xodó. Vale a pena repetir :

"Há meses o presidente Lula tem permitido que a ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da República seja apresentada ao país como a sua candidata em 2010 ao Palácio do Planalto. Agora, em Roma, deu declarações que a imprensa italiana tomou como definitivas, como se ela já fosse a candidata, o que, como sabemos, não depende somente do presidente, por mais importantes que sejam sua indicação e apoio. Claro, temos todos a exata noção de que a candidatura a presidente em 2010 depende, em primeiro lugar, do PT e, mais do que isso, dos partidos historicamente aliados à nossa legenda, o PSB, o PC do B e o PDT, além de ser necessário levarmos em conta força política, parlamentar e eleitoral, principalmente do PMDB. Temos ainda três partidos que têm apoiado os governos Lula : em primeiro lugar o PRB (ex-PL), aliado da primeira hora em 2002, que por duas vezes indicou o companheiro de chapa de Lula, o vice-presidente José Alencar, a quem devemos e muito; e mais o PTB e o PP, aliados em nível nacional, ainda que o PP seja um aliado mais do PSDB e DEM nos Estados e municípios. Uma candidatura como a da ministra Dilma Roussef, que tem história, experiência política, de governo, conhecimentos, enfim, tudo para ocupar o cargo de presidente da República, não se constrói facilmente, nem no PT, nem na base aliada. Fora o dado de que estamos há dois anos das eleições. Assim sendo, é preciso que o PT e suas bancadas assumam a sucessão presidencial e as eleições de 2010, sem deixar de priorizar as tarefas do momento, seja na construção partidária, seja na (construção) dos governos municipais que vai assumir, seja no enfrentamento da crise que apenas começou.".

Europa: recessão vai se aprofundar

Analisados de forma detalhada os números de desempenho do PIB e da indústria européia conclui-se que a fraqueza do desempenho se deve, sobretudo, ao setor externo. Assim sendo, a "contaminação" da economia se dará de forma mais acentuada a partir de agora quando o consumo doméstico do Velho Continente vai cair mais e mais. O pior ainda está por vir.

China: estímulo pequeno

Depois da divulgação do plano de estímulo ao consumo e investimento interno da ordem de US$ 586 bilhões, muito analistas se debruçaram sobre os números e planos. A conclusão é que, embora o plano seja correto do ponto de vista macroeconômico, é pouco provável que a economia chinesa possa compensar as perdas externas por meio do consumo interno. Trata-se de uma péssima notícia para quem crê numa recessão mais curta.

Berlusconi, um cara de pau

O premier Silvio Berlusconi é daqueles políticos que aonde vai deixa rastros de besteiras ditas e feitas. A última bobagem do primeiro-ministro italiano foi tentar defender a liderança do G-8 sobre os países que compõem o G-20. A justificativa é de que a "democracia nos países mais ricos é mais consolidada". Ora, mesmo que reconheçamos que a democracia é valiosa, chega a ser irônica a referência do italiano, cujo país é o mais recessivo da zona do euro e os atentados à democracia italiana se devem à presteza de Berlusconi em mudar regras eleitorais, manipular os órgãos de imprensa, estimular grupos radicais, etc.

Quem é o maior destaque ?

Há várias suspeitas contra o delegado da PF Protógenes Queiroz e o diretor da ABIN Paulo Lacerda sendo investigadas. Esperemos que finalmente se chegue a uma conclusão sobre a culpa ou inocência desta dupla. Todavia, não deveríamos esquecer que acerca do Sr. Daniel Dantas há muito mais evidências sobre a sua criminalidade que no caso dos dois delegados. Proporcionalmente, é estranho que a imprensa dê mais destaque as eventuais "culpas" dos delegados que aos crimes (prováveis ?) do Sr. Dantas.

Um caso sério de polícia

Já passaram de todos os limites as disputas de poder, egos, vaidades e outras "coisitas más" envolvendo a Polícia Federal e a ABIN e a PF e a PF. Está uma balbúrdia, com claros sinais de insubordinação. Há riscos sérios para a sociedade e para a, vá lá, governabilidade, dada as delicadas funções (e poderes ao vivo e ocultos) das instituições envolvidas. O presidente da República não pode fingir que não está vendo.
 

Lula, Serra e a Nossa Caixa

Há dificuldades para que a Nossa Caixa seja transferida para o Banco do Brasil. De natureza política (aprovação na Assembléia Legislativa, por exemplo) até de natureza operacional (ritos no Banco Central). Mas, estas dificuldades são pequeninas frente a boa-vontade de Lula e Serra em fechar o negócio. Aliás, o negócio está quase fechado. Todavia, é certo que um leilão das ações da Nossa Caixa hoje proporcionaria um belo lucro ao Tesouro paulista. A fusão entre o Unibanco e o Itaú certamente estimulou os grandes bancos a crescerem via aquisições. Por que Serra abdicaria deste lucro extraordinário ?

A Nossa Caixa e o dilema de Lula

O presidente da República não vai descansar enquanto não fizer de novo o Banco do Brasil a maior instituição financeira nacional. É uma decisão política, não necessariamente técnica ou do interesse geral do país e dos acionistas do BB. Não pega bem Lula deixar o banco atrás do nível do Itaú-Unibanco depois de ter decepado a candidatura de Geraldo Alckmin com a acusação de que o tucano privatizaria o BB (e a Petrobras). Os sindicalistas oficiais não o perdoariam. Mas nesse afã Lula está irrigando os cofres de seu possível "adversário" em 2010 - o governador José Serra. Serra com esse dinheiro - algo que pode passar dos R$ 7 bilhões - pode engordar seu ambicioso programa de investimentos públicos em São Paulo no biênio 2009-2010. Mesmo sem esse dinheiro, Serra tem mais no Orçamento estadual para aplicar do que o PAC. Com ele... Por isso, segundo fontes em Brasília um dos entraves ao fechamento do negócio, além dos apontados na nota acima, está a forma de pagamento - à vista ou em suaves prestações ?; em títulos ou em moeda sonante ?
 

Etanol : Obama entre os magnatas do petróleo e do milho

É muito improvável que o presidente estadunidense eleito Barak Obama cumpra os seus projetos de comprar mais etanol brasileiro para reduzir a dependência do petróleo do Oriente Médio. Ao longo da semana passada, os jornais norte-americanos indicaram que Obama começa a se tornar mais suscetível e pragmático em relação ao lobby do setor de energia (leia-se, os magnatas do petróleo). Os planos em relação ao etanol ficaram bem inferiorizados frente ao poder dos petroleiros. E também dos produtores de milho.

Lula e Obama

Lula fez questão de ressaltar a torcida para que Obama ganhasse o pleito nos EUA. O presidente brasileiro utilizou-se de argumentos, digamos, bastante juvenis para justificar tal postura. Será interessante verificar como o presidente encarará as políticas protecionistas de Barak Obama em relação aos produtos brasileiros. Ficará Lula tão entusiasmado com tais políticas quanto ele esteve em relação à campanha do democrata ?

"Pilantropia" premiada

A MP da Filantropia é uma dessas homenagens que o setor público presta, periodicamente, aos espertinhos de sempre. A propósito de evitar problemas para algumas entidades realmente sérias, beneficentes de fato, vai-se anistiar um montão de "pilantropos", gente que usa isenções fiscais e outros benefícios públicos em proveito próprio. Ela não deveria nem ter nascido como nasceu. E o Congresso, se decência tiver, simplesmente devolverá a MP, sem considerá-la. Ela, porém, tem bons padrinhos : nasceu e cresceu nos corredores do Ministério do Trabalho, na época em que seu titular era o atual prefeito eleito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho.

Reforma tributária em xeque

Para melhorar o ambiente econômico, o governo quer ver aprovada até o fim do ano, pelos menos em primeiro turno na Câmara dos Deputados, a reforma tributária com o substitutivo preparado pelo relator Sandro Mabel. O deputado Antonio Palocci, presidente da Comissão Mista que analisa a proposta, em linha com este desejo quer votar o relatório amanhã. Seria meritório, se fosse uma proposta de boa qualidade. Pelo menos para a sociedade não é. Só um dos senões, como exemplo : ela cria a possibilidade de criação de contribuições (de fato, impostos) por lei complementar, ou seja, com um quorum de votação relativamente baixo. Outra : deixa também para a legislação complementar a definição das novas alíquotas do ICMS revisado. E mais : dá aos governadores o poder de aumentarem algumas alíquotas do ICMS para compensar possíveis perdas da receita com as mudanças das regras do imposto. Socorro ! Em tempo : 16 governadores já se manifestaram por escrito contra o relatório de Mabel. Mas não em razão dos defeitos acima.

Eleições complicadas

Não será tão fácil como se imaginava anteriormente fechar um acerto na base aliada do governo em torno da escolha dos presidentes da Câmara e do Senado. As conversas estão envenenadas pelas disputas dentro do PMDB, das divergências entre PT e PMDB e pelos cálculos visando à sucessão de 2010. O mais provável ainda é que Lula consiga compor com o PMDB na Câmara e o PT no Senado. Mas o custo da transação está ficando muito alto. E surpresas do tipo Severino Cavalcanti não podem ser definitivamente descartadas.

Olho vivo

Algumas empresas de telefonia celular, usando como mote a crise econômica, estão querendo que o governo lhes dê mais prazo para pagar as licenças do sistema 3G que elas adquiriram no início do ano. Ou isso ou um financiamento estilo BNDES, diferente do que está no contrato de licitação. Há dois empecilhos : a Claro, do mexicano Carlos Slim, já pagou a sua parte. Outro, mais perigoso : se o governo ceder a mais um setor, não parará mais. Já foi a construção civil, a indústria automobilística... Tudo justificado, mas de onde vai sair tanto dinheiro ?

Bônus dos Wall Streeters: fim de uma era ?

Numa surpreendente decisão, os sete principais executivos do banco de investimento Goldman Sachs abdicaram de seus bônus em 2008. O montante a ser retido pelo banco é da ordem de US$ 4,2 milhões. É incerto se outros bancos de investimento, cujos resultados têm sido sofríveis e o desempenho das ações é desastroso, vão seguir o exemplo da Goldman. A principal questão por detrás do tema é o fato de que não é razoável que os executivos do sistema financeiro percebam volumosos bônus enquanto o Tesouro norte-americano injeta recursos para salvá-los. Desde o começo de 2002, os principais bancos de investimento dos EUA no período (Goldman Sachs, Merrill Lynch, Bear Stears, e Morgan Stanley) pagaram US$ 312 bilhões em bônus para seus executivos. Investidores e, neste momento, pagadores de impostos começam achar tudo isso exagerado demais. Muito exagerado.