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Porandubas nº 7

quarta-feira, 8 de junho de 2005

Atualizado às 08:30

 

A CRISE 1

Roberto Jefferson, presidente do PTB, explodiu a bomba que já havia anunciado possuir. Os efeitos poderão ser sentidos no curto, médio e longo prazos. Vamos a eles. No curto prazo, a CPI mista para apurar as denúncias de corrupção nos Correios será instalada. E uma CPI exclusiva para apurar a existência do "mensalão" na Câmara é mais do que provável. Jefferson deve ter nomes para manifestar. Ou seja, tem mais bombas escondidas. Se for ameaçado, explodirá alguns perfis. Não se pode dizer que suas denúncias são conhecidas. Lula as conhecia. Ciro Gomes, idem. Miro Teixeira, que chegou, tempos atrás, a desconhecê-las, agora as reconhece. Há mais testemunhas, entre elas, o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho. No médio prazo, a própria cassação de Jefferson está entre as grandes possibilidades. Poderá ficar isolado. O sentido de corpo parlamentar funcionará como escudo. Um morto bastaria. Por isso, a tendência é a do sacrifício de um nome só: o presidente do PTB. A crise se esticará por todo o segundo semestre. A imagem do governo continuará a cair. E, no longo prazo, os restos da explosão poderão cair no colo de Lula, comprometendo sua reeleição.


A CRISE 2

Haverá muitos perdedores. O PT cairá no descrédito. A máscara caiu. O PTB será desinflado, com a saída de parlamentares para outras siglas. O PP de Severino também receberá pancadas. Pedro Correa, presidente, será chamado para um testa a testa com Jefferson. Será uma cena constrangedora. O PL de Valdemar Costa Neto, que quer se apresentar como vestal, também será impactado. Esses partidos passarão um bom no inferno do descrédito. Severino até poderá agüentar o rojão pelo poder que detém de presidente da Câmara. Mas sairá da lua

-de-mel do prestígio para amargar momentos de angústia. PSDB já começou a faturar com a crise. O PFL vem logo atrás. E o PMDB, que tem uma banda governista, já dá sinais de completa independência. Renan Calheiros, por exemplo, fazendo correta leitura do impacto sobre a opinião pública, não quer ser mais fiador do governo. Recuou para uma linha intermediária. Faz o jogo da independência.


A CRISE 3

Há coisas ainda mais graves a serem reveladas. Basta uma fitinha de gravador para acabar com o disse-não-disse. Já se começa a desconfiar que elas existem. Mas, a esta altura, os estragos já são enormes. O governo não é mais o mesmo. Está sob ataque. Lula precisaria efetivamente proporcionar um choque de credibilidade. Fazer uma reforma ministerial em profundidade. Tirar gente de partidos. Limpar todos os espaços. Apoiar CPIs. Com todos esses gestos no sentido da moralização, continuará ainda por bastante tempo sob o tiroteio das oposições e sob os holofotes da mídia. Fortes perguntas persistirão: por que Lula deu um cheque em branco a Roberto Jefferson? Por que a denúncia foi arquivada na época da presidência do deputado João Paulo? De onde vinha o dinheiro para pagar as mesadas dos deputados?


A CRISE 4

Há muito tempo se falava das idas e vindas de Delúbio Soares pelo espaço dos negócios. O tesoureiro do PT é o responsável pela montanha de recursos formada com os dízimos mensais dos petistas. E certamente deveria ser o distribuidor de parcelas para candidatos petistas em eleições majoritárias e proporcionais. Delúbio tem o nome parecido com dilúvio. E haja tempestade...


A CRISE 5

O PT desmentiu o PT. É a conclusão a que se chega depois da leitura da nota oficial do Partido desmentindo tudo. Mais tarde, as denúncias passaram a ser confirmadas. E a nota distribuída pela manhã ficou caduca. Para não dizer, desmoralizada. É o inferno astral de Genoíno. E Dirceu, na Europa, assiste a tudo pela Internet.


A CRISE 6

Com a instalação em junho e recesso em julho, podemos projetar as primeiras apurações da CPI dos Correios lá para os meados de outubro. Antes disso, haverá uma imensa corrida de parlamentares em busca de novas siglas. A imagem se assemelhará a de "sobreviventes" correndo para pegar o salva-vidas. O PMDB poderá abrir espaços para abrigar os aflitos.


A CRISE 7

O Jornal do Brasil colhe os louros. Foi o primeiro a noticiar sobre o "mensalão", denunciado em 24 de setembro de 2004, e, depois, desmentido por Miro Teixeira. Ganha pontos de credibilidade.


A CRISE 8

Os tucanos fazem bem quando não partem para a queima de todos os cartuchos. Toda cautela é pouca. Pedir impeachment de Lula é algo exagerado. O presidente, com todos os defeitos que se pode apontar, ainda parece um homem comprometido com seus sonhos. Não gosta de decidir sobre pressão. Talvez essa maneira de querer empurrar as coisas com a barriga seja, em parte, responsável pelo andar da carruagem.


A CRISE 9

O Senado federal atrai as luzes da boa visibilidade. Nesse instante, está com a imagem bem mais positiva que a da Câmara dos Deputados. Mas o senador Mercadante verá muita fumaça sobre seu caminho na direção do Palácio dos Bandeirantes. Aliás, a explosão da "bomba Jefferson" atingirá os redutos petistas em todo o país. O PT caiu no ranking de candidaturas nos Estados. O resgate da imagem será o calcanhar-de-aquiles pelos próximos meses.


A CRISE 10

A Seccional Paulista da Ordem dos Advogados do Brasil está saindo com uma Conclamação aos Poderes da República, onde pede CPIs no Parlamento, apuração rigorosa na esfera do Executivo - Polícia Federal e Corregedoria Geral da União - e reforma política, já.
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