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Porandubas nº 13

quarta-feira, 20 de julho de 2005

Atualizado às 08:13


DUAS ALAS NA PF

Nos bastidores, as versões e interpretações rolam. Por exemplo, há uma versão de que a Polícia Federal está dividida em duas bandas: uma, petista, e outra, tucana. Lembre-se que o deputado José Dirceu, tempos atrás, já dissera - segundo noticiário - de que a PF era tucana. O que agora se diz é que a banda tucana faz investigação de maneira discreta e que a banda petista, ao contrário, escolheu o palanque pirotécnico. Expressam as correntes de situação e oposição, enfim, o modo de pensar e agir do sistema político. O confronto entre as duas alas poderá acirrar o debate na sociedade e sensibilizar, ainda mais, o espectro político. Infelizmente, o Estado-Espetáculo tem dessas coisas: O QUÊ, a substância, acaba sendo canibalizado pelo COMO, a forma.

LULA NO MEIO DO TIROTEIO

Infeliz, muito infeliz, a entrevista dada pelo presidente Lula a uma moça bonita, que trabalha como produtora de TV na França. Perguntas pré-fabricadas para respostas pré-planejadas. Ao dizer que o PT fez o que é feito no Brasil sistematicamente - ficando implícito o uso de dinheiro do caixa 2 - o presidente se jogou no meio da crise, da qual olimpicamente estava fora. Deu a conhecer que sabia dos métodos praticados. Reconheceu que o PT era igual aos outros. Ao saber do caixa 2 do PT, o presidente abre espaço para consolidar a versão de que também sabia do mensalão. Anexando-se a entrevista presidencial aos depoimentos de Marcos Valério e Delúbio Soares, extrai-se um posicionamento único, cujo leit-motiv é a transferência de um eventual crime para a esfera eleitoral. Ai, os desdobramentos e impactos seriam mais leves.

A CRISE PAIRA SOBRE A ECONOMIA

Começa a ficar mais forte a ameaça de impactos da crise política sobre a economia. A mídia internacional amplia os espaços para a crise brasileira, começando a abrir um discurso sobre o despenhadeiro que espera Lula e seu governo. A situação política nos Estados Unidos não é um mar de rosas. Bush inicia uma trajetória de descida. A Europa está muito preocupada e com atenção voltada para sua segurança. O discurso lulista de combate à fome no mundo aparece como um grito isolado no ar. O Brasil está perdendo a batalha pelo assento permanente no Conselho de Segurança na ONU. Analistas chegam a prever refluxo de setores da economia no segundo semestre. O trilhão de dólares que migra sobre os continentes, baixando e subindo, ao calor das nuvens políticas e tsunamis sociais, parece estar receoso de permanecer sobre os céus brasileiros. E o ministro Antônio Palocci entrará em seu longo inferno astral.

O FUNIL DAS INVESTIGAÇÕES


A torrente de depoimentos, perguntas e versões que jorra das fontes investigativas nas CPIs projeta a imagem de um funil. Quando se joga muita água em um funil, boa parte dela escapa e se perde. É isso que ocorrerá fatalmente com as CPIs. Os parlamentares, mesmo os mais atentos e interessados, não dispõem de muito tempo e até condições físicas para consumir e avaliar a montanha de documentos, provas e contra-provas que se acumulam nas gavetas. Ora, essa dificuldade acabará prejudicando o bom andamento dos trabalhos, não permitindo fazer os cruzamentos necessários e chegar a conclusões fechadas. Muita coisa ficará em aberto, no aguardo de mais investigações. O que fazer? Formar grupos de análise da documentação. Mas esse grupo não ganharia tanto os holofotes da mídia. Por isso, as coisas continuarão muito confusas nos palanques investigativos.

O PODER É UMA GANGORRA

A ser verdade que a esposa do deputado João Paulo Cunha teria ido ao Banco Rural retirar, a mando de Marcos Valério, R$ 50 mil - versão que ganha força com a notícia de que Cunha teria retirado o documento enviado à CPI dos Correios, onde conta outra história - a conclusão é a de que a política brasileira tem sido uma gangorra das mais ágeis. De um dia para outro, a força muda de lado. João Paulo Cunha era, até pouco tempo atrás, o todo-poderoso presidente da Câmara dos Deputados, e quase candidato à reeleição. Hoje, afunda no poço das denúncias e, meio escondido, parece um dândi na escuridão.

QUEM PAGARÁ O PATO?

Se a conta for de R$ 90 milhões( ou de R$ 166 milhões, de acordo com outros cálculos), o buraco é suficiente para afundar um partido. Dizem que passa disso. É a conta que o PT tem de pagar, no final de todos os atos do espetáculo. O dinheiro seria do Marcos Valério, que o tomou emprestado aos bancos, para repassar ao PT. Os R$ quase 40 milhões teriam dobrado, com os juros, mas Valério sempre soube que essa conta daria em zero, ao final, porque o dinheiro da propaganda superfaturada acabaria liquidando os débitos. E, agora, Josés (Dirceu, Genoino e companhia)? O que fazer para arrumar a dinheirama? Silvio Pereira, o ex-secretário, acaba de dizer que confia nas bases para resgatar os recursos em forma de dízimos. Deus do Céu, perdoai os ingênuos. Ou reservai a eles um cantinho no Purgatório. Que base é essa que tirará do bolso um dinheiro honesto (presume-se) para pagar contas desonestas? Será que Pereira está de olhos vendados? As bases do PT estão esfumaçando.

IMAGEM COMEÇARÁ A DESCER A LADEIRA

O presidente Lula deve se conter e não comemorar resultados de pesquisa que mostram sua condição de perfil imune aos abalos. Não há dúvida. A imagem presidencial começará a cair. Ninguém agüenta o tranco de tantas denúncias. Dizer que o presidente não se mistura ao PT é garantir que ele nunca foi metalúrgico. Lula e PT são como irmãos siameses. Um é outro e outro é um. Ele mesmo acaba de fazer contundente peroração em torno do seu partido. Pois bem: as versões que saem das correntes médias da sociedade começam a chegar nos fundões sociais. Piadas e desenhos sobre o presidente e o PT invadem as telas da Internet. Nunca o riso correu tão fácil por conta do humor e da visão satírica dos criadores internauticos. Essa zoada no meio vai gerar ainda muito barulho nas pontas. A conferir.

SENTINDO O GOLPE

"Quando vemos que um golpe está prestes a ser desferido sobre a perna ou o braço de outra pessoa naturalmente encolhemos e retiramos nossa própria perna ou braço; e, quando o golpe finalmente é desferido, de algum modo o sentimos e somos por ele tão atingidos quanto quem de fato o sofreu".

Essa é uma pequena lição de Adam Smith, em Teoria dos Sentimentos Morais, servindo para explicar como o presidente Lula e seus mais próximos estão sentindo os golpes que esfrangalham o PT.

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