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Porandubas nº 14

quarta-feira, 27 de julho de 2005

Atualizado às 10:01

 

DIRCEU APARECEU

O ex-poderoso ministro José Dirceu, da Casa Civil, acaba de ressuscitar, depois de dar sinais de vida por meio de notas à imprensa. Dona Renilda, mulher e sócia do publicitário Marcos Valério, disse à CPI dos Correios que Dirceu sabia de tudo e chegou mesmo a fazer reuniões com os bancos MBG e Rural para tratar da amortização dos empréstimos. Dirceu vivia repetindo: não faço nada que não seja do conhecimento do presidente Lula. Bom, a ser verdade a afirmação, Lula só poderia também saber. Alguém poderá objetar: Lula não tinha conhecimento do que se passava no PT. E Dirceu tinha? Já havia se afastado do partido. Era ministro. Mas mantinha relações estreitas com a cúpula. Diziam que, como ministro, continuava a dar as rédeas do partido.

CLÍMAX E MORTE SÚBITA

Tudo será esclarecido durante o mais que aguardado depoimento de Dirceu na CPI. Vai ter de confirmar que sabia ou negar tudo. E ai terá de, mais adiante, enfrentar o duelo com Roberto Jeferson, na mais espetacular sessão dos depoimentos. A rodada terá clima de final estonteante. O clímax atingirá um grau de contundência que já permite divisar a morte súbita de um ou dos dois contendores. O desfecho, porém, ainda é imprevisível. Jefferson poderá atirar um torpedo em direção ao presidente Lula. E ai será um "salve-se quem puder".

LULA E A LUTA DE CLASSES

Ao ir de encontro às velhas bases operárias, em eventos consecutivos, o presidente Lula comete ato falho. Demonstra a necessidade de procurar refúgio em um território que lhe é fiel. Mas exibe também a insegurança dos desesperados. No fundo, ele pretende avisar que, em caso de embate com as tais "elites", que tanto acusa, usará a pólvora acumulada nas bases da pirâmide social. Mas, ao fazer isso, Lula demonstra que age como um homem perdido na escuridão. Afinal de contas, ele mesmo, presidente, é quem está no topo da pirâmide política. Os banqueiros, que se fartam dos juros altos, estão no topo da pirâmide econômica. Quem lhe dá sustentação não é o operariado do ABC, mas o empresariado. Além da classe política, da qual uma parcela está sendo acusada de receber mensalão. A luta de classes, nessa moldura, está se dando entre categorias da elite.Com Lula fazendo o papel de elitista número um no centro da arena de combate.

ANTECIPAR ELEIÇÕES É CASUISMO

As instituições políticas e sociais estão funcionando normalmente. As investigações se desenvolvem em diversas esferas: Parlamento, Poderes Judiciário e Executivo (PF) e Ministério Público. A liberdade de expressão é total. Os meios de comunicação acompanham, atentos, a dinâmica da crise política. Se tudo caminha nos conformes normativos, por que razão se fala em antecipar eleições? Eleições em janeiro significam uma alternativa casuística, uma espécie de pizza para agasalhar paladares famintos, tanto de acusados quanto de acusadores. Seria uma saída nada honrosa para o sistema político. Um golpe, porque usurparia o poder conferido pelo povo aos representantes. Poder que tem um tempo para começar e uma data para terminar.

PF SEM CORES

Semana passada, registrei informação, dada por fonte categorizada, sobre as duas bandas da Polícia Federal, uma tucana, outra petista. Pois bem, o advogado Reginaldo Araújo, do alto de sua competência técnica e operacional, como delegado aposentado da PF, garante, de forma categórica, que essa divisão inexiste, na medida em que a Policia Federal "sempre foi e será apolítica, não se envolvendo, portanto, com cores partidárias, razão pela qual sempre gozou de credibilidade e confiança dos brasileiros, inclusive dos diversos partidos políticos". E arremata com um argumento muito forte: a ser verdade a existência das duas alas, "nós, policiais federais, não estaríamos amargando 8 anos sem aumento de salário, apesar de paralisações (greves) e reiteradas reivindicações". Registro feito.

IMAGEM EM DECLÍNIO

A última pesquisa Datafolha mostra que a crise política começa a borrar a imagem do governo Lula, com os primeiros respingos na figura presidencial. Não existe mistério nenhum na teoria dos círculos concêntricos. Jogando-se uma pedra no meio da lagoa, as marolas formadas chegarão às margens. Quanto maior o lago, maior a demora. Pois bem, as classes médias, que funcionam como a pedra no meio da lagoa, farão chegar aos fundões o seu pensamento, ai embutidas muita indignação, expectativas e angústias. É uma questão de tempo. O que elas pensam, hoje, sobre Lula e seu governo baterão no sistema cognitivo das classes C, D e E.Trata-se de balela dizer que alguém é imbatível ou é semelhante à panela anti-aderente: nela, a fritura não gruda. Besteira. Lula não é um Cristo (apesar de usar barba), está longe de ser Buda (apesar da aparência com a imagem), Ghandi, Maomé ou João Paulo II. E essa história de que é ícone das classes mais carentes faz lembrar a versão que mostrava Collor de Melo como São Jorge contra o dragão da maldade, o protetor dos descamisados. Ou seja, são histórias que não resistem a uma análise mais aguda.

A RENÚNCIA DOS DEPUTADOS "MENSALADOS"

A tal lista contendo o nome de 120 pessoas que teriam retirado quantias em bancos, indicadas por Marcos Valério, promete ser o ponto de chegada do processo investigativo. Ou seja, a lista pode comprovar a existência de mensalão. Para os indicados, caso sejam parlamentares, a resposta de que se trata de contribuição dada por empresa X ou Y para as campanhas, por intermédio das agências de Marcos Valério, soará como falsa. O próprio Valério se encarregará de fazer o desmentido. O caminho mais lógico, de acordo com a legislação e os códigos de conduta parlamentar, é a renúncia ao mandato. Por isso, pode-se aguardar renúncias, antes que haja alguma acusação junto ao Conselho de Ética da Câmara. Os parlamentares "mensalados", ao renunciarem, poderiam até vir a participar do pleito eleitoral de outubro de 2.006, como se nada houvesse acontecido. O Brasil é assim: a pessoa renuncia, confirmando a culpa, passa uma pequena temporada no limbo político, e ressuscita no céu, ao ser eleito novamente. Não passa pelo inferno.

PFL E PSDB NA RODA

A essa altura, não se pode dizer que os dois principais partidos de oposição - PSDB e PFL - sairão imunes do processo investigativo. Há parlamentares dos dois partidos envolvidos no esquemão de Marcos Valério. Vai ser difícil cortar a carne de outros, sem cortar a própria carne. A assepsia geral só será alcançada caso as facas sejam amoladas para cortar corpos putrefatos de todas as siglas.

E SE O PT NÃO PAGAR?

O PT já está nocauteado. Mas poderá ir direto para a sala mais perto do velório, caso Marcos Valério não consiga receber o dinheiro dos empréstimos que repassou ao ex-partido da ética e da dignidade. Valério, mais desesperado do que está, será um homem-bomba. E poderá se jogar no colo do próprio Lula.

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