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Porandubas nº 367

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Atualizado em 6 de agosto de 2013 14:50

Cancelando chuvas

Abro a coluna de hoje com duas historinhas da PB, terra de políticos, cantadores e poetas.

Seca medonha. A PB em desespero, o governador José Américo, aflito. Um dia, caiu uma chuva fininha no município de Monteiro. Inácio Feitosa, o prefeito, querendo fazer bonito, correu ao telégrafo : "Governador : chuvas torrenciais cobriram todo município de Monteiro. População exultante. Saudações, Feitosa". Os comerciantes da cidade, quando souberam do telegrama, ficaram desesperados. O município não ia mais receber ajuda. Ainda mais porque a mensagem era falsa e apressada. Uma chuvinha fina, não torrencial. Feitosa correu de novo ao telégrafo : "Governador José Américo : cancelo chuvas. População continua aflita e esperando adjutório. Feitosa, prefeito".

Sinceridade e sagacidade

Zé Cavalcanti, ex-deputado paraibano, conta em seu livro "A Política e os Políticos", que um coronel do sertão, ao passar o comando de seus domínios para o filho, deu o conselho :

- Meu rapaz, se queres ser bem sucedido na política, cultiva estas duas verdades : a sinceridade e a sagacidade.

- E o que é sinceridade, meu pai ?

- É manter a palavra empenhada, custe o que custar.

- E o que vem a ser sagacidade ?

- É nunca empenhar a palavra, custe o que custar.

Dilma se levanta

Depois de ligeira (?) queda, a presidente Dilma se levanta. A interrogação é proposital. A queda foi ligeira ou demorada ? Ligeira. Recuperar cinco pontos um mês após as grandes mobilizações é um feito. Até porque a indignação social continua intensa. Como previmos, as manifestações continuam e terão sequência na esteira de questões pontuais, circunscritas a regiões e bairros de grandes cidades. Mas um sopro de otimismo volta a bafejar os corações. Inflação no mês de junho foi baixa e animação de bolsos mais cheios é suficiente para botar mais confiança no bornal da presidente. O que a confiança aumentada gerará ? Veja abaixo.

Cautela

É evidente que o principal efeito do resgate de confiança se dará na frente política. Os políticos, com a presidente no buraco da credibilidade, tendem a retirar o apoio, significando derrotas no Parlamento. Mas a volta da popularidade ainda não se deu nos índices históricos. Por isso, a área política dá meio passo adiante, não um passo completo. Caso a presidente consiga repor mais pontos em seu arsenal, ganhará mais apoio. E assim será a andança daqui por diante. O fato é que o custo político tende a encarecer nas margens eleitorais. Quanto mais próximo o pleito, mais caro ficará o apoio.

Barão de Itararé

"Viúva rica, com um olho chora e com o outro se explica".

Caranguejo

Pode-se, ainda, distinguir o passo do caranguejo : dois pra frente, um pra trás, um para o lado. Ou seja, não haverá firmeza no trajeto. A não ser que a presidente recupere logo, logo, seu vetor de força. Difícil, como sabemos. Tudo vai depender do desempenho da economia. Que é a locomotiva do trem. Puxa os carros. Dilma continua sendo a favorita. Não há previsão de derrocada econômica. Tampouco se prevê crescimento extraordinário. Coisa pequena. Mas, se a equação BO+BA+CO+CA (Bolso, Barriga, Coração, Cabeça) for mantida, a presidente estará na frente do carro eleitoral.

Barão de Itararé

"Dize-me com quem andas e eu te direi se vou contigo".

Tiroteio recíproco

Tucanos e petistas promovem uma caçada recíproca. Os tucanos continuam atirando no mensalão, alvo de sua predileção. Os petistas agora elegem o que chamam de "trensalão", o affaire dos trens. Dessa contenda, este consultor faz a ilação : a polarização entre PT e PSDB tende a ser atenuada. Não acabará, mas será menor. Daí a chance de uma candidatura que entre no meio dos dois : a de Paulo Skaf, por exemplo, pelo PMDB. Alckmin tende a ser alvo contínuo, até o processo eleitoral; e o ministro Alexandre Padilha, que foi lançado pré-candidato, semana passada, em Bauru, não tem coisas positivas para mostrar. Ao contrário, seu nome está por trás de projetos polêmicos, como o da importação de médicos.

Polarização cansou

O eleitor está saturado de velhas querelas. O PSDB e o PT vêm se enfrentando há três décadas. Os petistas conseguiram fincar estacas mais profundas na capital paulistana e os tucanos fundaram seus alicerces mais no interior do Estado. 20 anos de tucanato chegam a cansar. O mesmo ocorre com o PT velho de lutas. Esse partido mudou muito em sua trajetória. Tornou-se assemelhado aos partidos do centro democrático. Na teoria, aceita programas revolucionários; na prática, age como os outros. Por isso, os entes partidários são tão assemelhados, com exceção dos pequenos partidos das margens ideológicas.

Barão de Itararé

"Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos".

Racionalidade - 1

Que consequências o novo cenário político-institucional poderá produzir ao país ? Sob a esfera dos costumes e das práticas políticas, as perspectivas são promissoras. Estacas morais foram e continuam sendo cravadas no solo esburacado da política pelos braços dos movimentos que tomam as ruas das cidades em todos os quadrantes nacionais. A nova ordem que se esboça passa a abrigar um alentado acervo de princípios e valores, que, mais cedo ou mais tarde, balizarão as imprescindíveis reformas no edifício político, a começar pelo alargamento dos tijolos da racionalidade.

Racionalidade - 2

A maioria do eleitorado habitou por décadas as bases da pirâmide, constituindo, em função de precárias condições de vida, massa de manobra dos quadros políticos. Seu processo decisório ancora-se na emoção, que transparece em votos de agradecimento por benesses e bolsas recebidas, no adjutório esporádico que os políticos pulverizam a torto e a direito, usando migalhas do poder como forma de cooptação. Essa obsoleta modelagem está com os dias contados. O meio da pirâmide já soma 53%, cerca de 104 milhões de pessoas, quando, há 10 anos, somente 38% habitavam este espaço. É evidente que a absorção de valores não ocorre de maneira abrupta, mas é fato que critérios racionais começam a substituir os emotivos no processo de escolha de representantes e monitoramento de governantes.

Verdade, sem lantejoulas

Ruas são ocupadas por grupos e categorias profissionais, contidas em seus limites, defendendo interesses corporativos, diferenciando-se pela especialização. Bem diferentes das massas abertas do passado. A racionalidade, por sua vez, implica compromisso com a verdade, descortinando uma geração de perfis políticos desprovidos de lantejoulas e brilhos. A auto-glorificação, que fundamenta o marketing das performances pessoais e ocupa praticamente todos os espaços das mídias eleitorais, deverá ser doravante recebido com apupos por ouvintes de todas as classes. Em contraponto, ganharão destaque debates no campo das ideias, proporcionando condições de enxergar as diferenças de estilo entre atuais representantes e futuros competidores.

Democracia direta

O plano da semântica suplantará o terreno da estética, no fluxo das correntes de opinião que despejam torrentes de informação pela gigantesca rede social. Aduz-se, ainda, na onda da efervescência social, o adensamento de uma locução com origem nos mais diferentes estratos, a atestar a multiplicação de novos pólos de poder e irradiação de influência. Sendo assim, os Poderes da República - Executivo, Legislativo e Judiciário - terão de conviver com as forças centrípetas, sendo razoável imaginar que o movimento das margens em direção ao centro acabarão reforçando o instrumental a serviço da democracia direta - consulta popular, plebiscito e referendo. Sob essa perspectiva, também é razoável prever mais agilidade nos processos de adesão a projetos de iniciativa popular, tendo como correia de transmissão a bateria de meios da internet.

Conquistar o povo

O conglomerado público está pasmo. Os atores contemplam a plateia sem saber se receberão aplausos ou vaias ao final da peça. Treinam posturas recatadas, temem enfrentar auditórios lotados, eliminam desfiles exuberantes. Os governantes, a partir da presidente da República, tentam voltar aos braços do povo. E produzir uma agenda positiva, recheada de ações capazes de reconquistar contingentes indignados. A foto do governador do CE, Cid Gomes, sentado no meio fio, alta noite, com um megafone falando para um grupo acampado numa rua, retrata a estética do novo cenário. Nem sempre, porém, reconhecer erros ou adotar postura humilde geram resultados. É o caso do governador Sérgio Cabral, que continua ouvindo o eco das ruas. O fato é que o dique de contenção das pressões sociais foi rompido.

Lula sarado

Pois é, fofoqueiros estão avisados pelos médicos : Lula está sarado. Câncer desapareceu. Tudo isso para dizer que Luiz Inácio subirá com força ao palanque de Dilma. Não haverá Volta, Lula. Mesmo com ele 100% bem disposto. Tirar Dilma significaria que seu governo falhou.

Marina

Marina Silva vai ter de se desdobrar para fundar, até 3/10, o Rede Sustentabilidade. Já apresentou 500 mil assinaturas, mas apenas 190 mil foram reconhecidas. Vai apresentar mais 200 mil aos cartórios, que andam lerdos. Marina, na visão deste consultor, tira mais votos das oposições do que da Dilma. Daí ser uma candidata que convém ao governismo. Obteve 26% na última pesquisa Datafolha.

Serra candidato

José Serra só pensa naquilo : a candidatura em 2014. Para presidente. Pelo PPS. PSDB fechou questão com Aécio. Mas Aécio está em queda. Os serristas começam a defender prévias no partido. Serra teve 14% e 15% em dois cenários na pesquisa Datafolha para presidente, número que supera os 13% de Aécio. Ofereceram a ele a chance de disputar o Senado. Recusa. Deputado ? Nem pensar. Serra aposta na derrocada da economia. Com mais candidatos e economia no buraco, oposições teriam alguma chance no segundo turno.

O coice

Sócrates, o sábio, caminhava tranquilo quando um atrevido descomedido lhe deu um coice. Estranharam alguns a paciência do filósofo, que foi logo perguntando :

- Pois o que hei de fazer, depois desse coice que recebi ?

Responderam :

- Levá-lo a juízo pelo ato vil.

Replicou Sócrates :

- Se ele com seu coice confessa ser jumento, quereis que eu leve um jumento a juízo?

Conselho às organizações sociais

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma. Hoje, volta sua atenção às Entidades Sociais.

1. O momento é propício para as entidades que promovem a intermediação social consolidar sua identidade, tarefa que implica patrocinar causas legítimas dos núcleos e setores que defendem.

2. Urge clarificar demandas e escolher, no Parlamento, interlocutores que possam dar vazão a elas, comprometendo-se com sua defesa junto aos conjuntos parlamentares.

3. Impõe-se uma intensa agenda de articulação com entidades congêneres, na esteira de fortalecimento de parcerias e integração de propósitos na defesa de categorias, setores, gêneros, núcleos e movimentos sociais.