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Porandubas nº 429

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Atualizado às 08:05

Abro a coluna com três relatos engraçados.

Salgar meu pai

Historinha do Rio Grande do Norte, mais precisamente de Macaíba, vizinha à capital, Natal.

Numa administração municipal, onde trabalhavam técnicos de Natal, um pobre rapaz procurou o gabinete do prefeito com um problema urgente. Era uma sexta-feira.

- Meu pai morreu e vim pedir o caixão, suplicou o jovem à secretária natalense da mais fina flor da burocracia.

- Hoje não há como atender. O prefeito e os assessores foram a Natal. Volte segunda-feira, está bem ?, respondeu a funcionária consciente do dever cumprido.

Desolado o rapaz recuou e abriu novamente a porta do gabinete para nova abordagem :

- Dona, poderia me arranjar dois reais ?

- Pra quê você quer o dinheiro ?, interrogou a eficiente servidora.

- É pra comprar sal grosso, vou salgar o meu pai até segunda-feira !

(Quem conta o "causo" é Valério Mesquita).

Jung e o rei africano

Jung perguntou, uma vez, a um rei africano :

- Qual é a diferença entre o bem e o mal ?

O rei meditou, meditou e respondeu às gargalhadas :

- Quando roubo as mulheres do meu inimigo, isso é bom. E quando ele rouba as minhas, ah, isso é muito ruim.

O economista e o empresário

Dois homens andavam de balão e se perderam. Decidiram baixar o balão e perguntar para algum transeunte.

- Ei, você poderia nos dizer onde estamos ?

- Vocês estão em um balão, respondeu o transeunte.

- A resposta é correta, mas absolutamente inútil. Este homem deve ser um economista, comentou um deles no balão.

- E você deve ser um empresário, respondeu o transeunte.

- Exato. Como você sabe disto ?

- Você tem uma excelente visão de onde está. E mesmo assim você não sabe onde está.

"Puro caos"

Há 20 anos, o professor Samuel P. Huntington escrevia o clássico "O Choque de Civilizações", onde descreveu os conflitos da contemporaneidade. Gravei a imagem do "puro caos", termo que ele usou para expressar o estado da Humanidade : "uma quebra no mundo inteiro da lei a da ordem, Estados fracassados e anarquia crescente em muitas partes do mundo ; uma onda global de criminalidade, máfias transnacionais e cartéis de drogas; crescente número de viciados em drogas em muitas sociedades ; debilitação generalizada da família ; um declínio na confiança e na solidariedade social em muitos países ; violência étnica, religiosa e civilizacional e a lei do revólver predominam em grande parte do mundo".

Atual

A radiografia do professor Huntington é atual. O mundo cede à barbárie. A violência se dissemina pelos quadrantes do planeta. Vivemos o choque entre a civilização e a barbárie. O confronto entre fundamentalistas islâmicos e o Ocidente se acirra. Duas grandes civilizações entram em choque. O atentado de Paris é um sinal de que o conflito ultrapassa a barreira do terrorismo e chega ao terreno da religião. Assim, o conflito do século XX entre a democracia liberal e o marxismo-leninismo poderá não ultrapassar os limites de um fenômeno fugaz em comparação com a relação tumultuada e conflitiva entre o Islamismo e outras religiões, lideradas pelo cristianismo. Assim pensava o pensador de Harvard.

A esmo

O Brasil chega a um estágio civilizatório em que as reformas haverão necessariamente de ocorrer, sob pena de o país permanecer preso ao passado. O patrimonialismo precisa ter cortadas suas raízes e eliminar os "ismos" que impregnam a cultura política : o grupismo, o mandonismo, o caciquismo, o filhotismo, o nepotismo, o fisiologismo. Daí a premente e urgente necessidade de promover as duas reformas essenciais ao seu desenvolvimento : a reforma política e a reforma tributária. Se isso não ocorrer, o país navegará a esmo no oceano das turbulências.

Horizontes sombrios

Sempre se disse que o Brasil é maior que as crises periódicas que assolam seu território. Mas o país vive uma crise crônica que merece ser enfrentada com determinação : a crise da política. Absorvemos os inventos da tecnologia ; nossa economia passa a respirar o sopro de outras economias na esteira da interpenetração de fronteiras entre nações ; os ares da contemporaneidade, que impregnam os pulmões das democracias ocidentais, também chegam por aqui. Mas nossa ligação às raízes do passado é profunda. Já fomos a quinta potência e voltamos para a oitava, quiçá, nona posição no ranking das nações mais poderosas do planeta. Mas os horizontes do país continuam turvos.

A pauta das carências

Um país avança quando dispõe de líderes animados pelo ardor cívico, pela capacidade de enxergar o amanhã e, sob essa motivação, pela capacidade de tirar o carro do atoleiro. Estamos enxergando lama por todos os lados : no oceano de nossas riquezas naturais (óleo extraído por uma empresa que caiu do 1º lugar no ranking para o 6º lugar) ; nas frentes da corrupção que solapa o Estado ; na vanguarda de uma gestão amarrada à árvore patrimonialista ; nos flancos de uma carga tributária que se expande a cada período governamental.

A moldura completa

2015 começa com um pacotaço tributário, inspirado na estratégia de arrefecer o consumo e, consequentemente, diminuir a graninha no bolso do consumidor. Os analistas econômicos aplaudem o Joaquim Levy, na medida em que um programa de ajustes - com aperto do bolso e aumento de juros - poderia resgatar a confiança de investidores. Mas a economia mais dura - com ajustes de preços, incluindo os de energia e transportes - acabará disparando o mecanismo da equação BO+BA+CO+CA= Bolso cheio, Barriga satisfeita, Coração agradecido, Cabeça aprovando o governante. A recíproca é verdadeira. Conclusão : a imagem Dilma despencará nos próximos tempos. A conferir.

A imagem de todos

O estado de carências - falta d'água no Nordeste, no Sudeste e no Sul -, bolso mais apertado, área política em turbulência (eleição das casas congressuais), ministérios com orçamentos cortados, desemprego dando sinais de expansão, aumento de pedintes nas ruas (em São Paulo, é visível o crescimento da pobreza nas ruas) - detonará um processo de corrosão de imagem dos governantes. Com exceção de um ou outro, este consultor enxerga no horizonte imagens com muita sombra e corrosão nos cascos de seus navios (estruturas governativas).

Cunha e Chinaglia

O governo escolheu estratégia errada ao lançar Arlindo Chinaglia contra Eduardo Cunha (PMDB) para a presidência da Câmara. Cunha é franco favorito e a lista do Petrolão, se seu nome lá estiver (pouco provável), só aparecerá após a eleição do dia 1º de fevereiro. Vai ser difícil convivência pacífica entre os dois partidos. Mas o vice-presidente Michel Temer fará o que estiver a seu alcance para compor as partes.

Alckmin e a água

Em qualquer cenário, a situação hídrica de São Paulo é gravíssima. Não haverá tempo para purificar os lençóis poluídos que poderiam fazer o abastecimento. O racionamento já é uma realidade. São Paulo mais se parece uma sauna. Obras reparadoras deveriam ter começado o ano passado. Geraldo Alckmin acreditou na ajuda de São Pedro. O perfil do "santo" e "bonzinho" governador irá para o buraco. A conferir.

Fim do PT

"Ou o PT muda ou acaba." O alerta foi feito pela senadora Marta Suplicy. Pois bem, o PT não mudará nem acabará. O problema é o seguinte : quem provou da maçã não quer voltar ao estágio inicial do nascimento. Depois que comeu a maçã, Adão abriu a boca e o estômago para saciar a sede e a fome. Os petistas entraram nas profundezas do paraíso. Conhecem e gozam de suas delícias. Preenchem quase 20 mil cargos comissionados. Deixar tudo isso sob a crença de princípios éticos e morais ? Difícil. Lula terá obstáculos para resgatar as raízes do partido. Nem ele acredita nessa possibilidade. Um homem não atravessa o rio duas vezes no mesmo lugar.

Kassab em ação

Gilberto Kassab está agindo nos bastidores para viabilizar o empreendimento político do ano : criar o PL e fundi-lo com o PSD. Tem prometido a alguns atores políticos regalias e recompensas. A um governador do Sudeste, prometeu, até, a presidência do novo partido, caso ele deixe sua atual agremiação.

Pedintes e moradores de rua

No fim de semana passado, este consultor perambulou, à noite, pelo centro de São Paulo. Foi à praça da Sé, seguiu pela 15 de Novembro e adjacências. Tomou um susto : espaços locupletados de moradores de rua e pedintes. O centro sempre foi uma estampa da miséria urbana. O que impressionou foi a quantidade de miseráveis. Sinal dos tempos ?

A divisão que soma

Muitos perguntam : por que o PMDB ainda é o maior partido brasileiro ? Resposta : porque subverte a aritmética. Como ? Transformando a divisão em soma. Vejamos : Com a morte de Tancredo, José Sarney, o vice, assumiu o governo e, em 1986, na esteira de um programa populista e de clima de "revolução francesa" (os gritos presos jorrando das gargantas), o PMDB forjou seu império. Elegeu 21 dos 22 governadores de Estado, perdendo apenas em Sergipe para o candidato Antonio Carlos Valadares, do então PFL, e conquistando 54% das cadeiras do Congresso. A eleição ocorreu sob a euforia do Plano Cruzado (congelamento de preços), detonou a explosão do consumo e criou os "fiscais do Sarney", que passaram a denunciar remarcação de preços.

Maior partido

Nas eleições municipais seguintes, o PMDB, fortemente estabelecido nas máquinas estaduais, criou formidável base municipal, tornando-se, de lá para cá, o partido mais capilar do Brasil. Essa herança continua sendo a mais densa. Sua preservação se deve ao fato de o partido produzir alianças com os parceiros mais convenientes nos Estados. Daí a regra a que se impôs : dividir para somar. Eis o imbróglio que tem perturbado siglas grandes e médias, incomodadas com o poderio de fogo peemedebista.

Complô

Ao que se vê, haveria um complô no sentido de arrefecer a força do PMDB, estratégia que teria como comandantes os atuais ministros Gilberto Kassab e Cid Gomes, o primeiro, presidente do PSD, e o segundo, ex-governador do Ceará, que dá as diretrizes no PROS. O fato é que a articulação para derrubar o principal partido da base governista ameaça se transformar em bumerangue. Não só pela alta probabilidade de PMDB eleger os dois presidentes das Casas Congressuais, mas pela insensibilidade do núcleo duro do Palácio do Planalto (Mercadante e adjacências). Um PMDB alijado do centro do poder significa lenha pesada na fogueira no segundo mandato da presidente Dilma.

Churchill

Lições de Winston Churchill :

"Somos mestres das palavras não ditas, mas escravos das que deixamos escapar."

"Um prisioneiro de guerra é um homem que tentou matá-lo, não conseguiu e agora implora para que você não o mate."

"Alguns vêem a empresa privada como um predador a ser abatido, outros como uma vaca a ser ordenhada, mas muito poucos a vêem como um poderoso garanhão puxando a carreta."

"Há terríveis mentiras circulando o mundo, e o pior é que metade delas é verdade."

"Quanto mais você olhar para trás, mais à frente você verá."

"Eu posso estar bêbado, senhorita, mas pela manhã eu estarei sóbrio e você continuará sendo feia."

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas."