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Porandubas nº 470

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Atualizado às 08:22

Verbo não "vareia"

A Câmara Municipal de Paulista/PE vivia sessão agitada em função da discussão de um projeto enviado pelo prefeito, que pedia crédito para assistência social. Um vereador da oposição combatia de maneira veemente a proposição. A certa altura, disse que "era contra o crédito porque a administração municipal não merecia credibilidade". O líder da bancada governista intervém, afirmando que "o nobre colega não pode jogar pedras no telhado alheio, pois já foi acusado de algumas trampolinagens".

- Menas a verdade - retrucou o acusado. Sou homem honesto, de vida limpa.

- Vejam, senhores, - disse o líder - o nobre colega, além de um passado nada limpo, ainda por cima é analfabeto, pois, "menas" é verbo, e verbo não "vareia".

(Historinha contada por Ivanildo Sampaio).

PMDB com linha definida

O evento do PMDB, ontem, em Brasília foi o passo mais avançado que o partido deu para se distanciar do PT. O documento Uma Ponte para o Futuro apresenta um programa econômico com linhas fortes e diferentes do programa de ajuste fiscal dos petistas. O PMDB tem se posicionado contra aumento de impostos e defendido cortes profundos na estrutura e nos gastos do Estado. Como o partido jamais foi governo - em função do controle rígido que os petistas detêm sobre as diretrizes econômicas - definiu, agora, seu caminho para o amanhã. O partido terá candidatos próprios no maior número de municípios em 2016 e, em 2018, contará com um candidato próprio à presidência da República.

O desastre de Mariana

Um dos maiores rios do Brasil, o Rio Doce, está comprometido. As populações ribeirinhas, somando mais de 3,5 milhões pessoas, sofrerão com a falta d'água ou com a água poluída, que a corrosão da barragem da mineradora Samarco provocou. A recuperação do rio Doce é meta para 30 anos, alerta o ambientalista e fotógrafo Sebastião Salgado, que vem trabalhando na recuperação de uma grande área de MG há muito tempo. Essa Samarco promete ajudar. Promessas que o vento (ou as águas) levarão para o cemitério do esquecimento. A Vale também tem responsabilidades no desastre, eis que é parceira (sócia) do empreendimento. O governo deveria não apenas cobrar pesadas multas das empresas, mas responsabilizá-las com o financiamento de recuperação da região pelo prazo definido pelos órgãos ambientais. Sebastião Salgado já apresentou um projeto. Pela seriedade que expressa, que seja aprovado seu projeto.

O termômetro do SIMPI

O SIMPI - Sindicato de Pequenas e Médias Indústrias - promove, a cada mês, a Pesquisa Indicador de Atividade da Micro e Pequena Indústria, a cargo do Instituto Datafolha. O índice de satisfação verificado no setor no mês de setembro, que engloba avaliação geral da empresa, faturamento e margem de lucro, caiu para 84 pontos. No mesmo mês no ano passado, o índice era de 112 pontos. A situação é gritante : a última rodada mostra que 94% dos empresários alegam que a crise econômica já afeta seus negócios. Mais um dado alarmante : 28% das microempresas correm real risco de fechar. O percentual de cortes de vagas no setor saltou de 19% para 27%, sendo que entre as micros 7% contrataram e 20% demitiram ; e dentre as pequenas, 29% contrataram e 53% demitiram. A avaliação negativa - com as respostas ruim e péssima - pulou de 31% para 36% ; o faturamento está ruim ou péssimo para 43%. O desânimo se expande no seio dos pequenos e micro empresários. O termômetro do SIMPI mostra as beiradas de uma classe média se aproximando do estado de penúria.

Direita francesa avança

A barbárie impetrada em Paris por três grupos terroristas do Estado Islâmico deflagrará uma abrangente onda contra imigrantes e refugiados dos conflitos no continente. Veremos o fortalecimento da direita radical de Marina Le Pen, que deverá tirar o Partido Socialista do segundo turno nas próximas eleições. O partido Os Republicanos, que substitui a União por um Movimento Popular, sob o comando do ex-presidente Nicolas Sarkozy, deve liderar o processo eleitoral nos dias de amanhã. Ou seja, veremos o enfraquecimento das siglas de esquerda, desta feita com o franco apoio dos jovens, revoltados com os ataques que vitimaram 129 pessoas e deixaram mais de 250 feridos. A xenofobia se expandirá. Muçulmanos enfrentarão ondas de repúdio e indignação.

Por que Paris ?

Pergunta que está no ar : por que Paris, considerada um símbolo das liberdades e o jardim mais florido da democracia contemporânea, foi escolhida como território para a tragédia ? Exatamente por isso mesmo. Como símbolo da democracia - igualité, legalité, fraternité - a França é, para os terroristas, o cartão postal mais visível do momento. Ademais, o país é considerado o mais engajado na estratégia de combater o Estado Islâmico na Síria. O EI quis mostrar reação à liderança da França nas frentes do combate ao terror.

Macri vence Sciolli ?

Na Argentina, é bem provável a vitória do oposicionista Maurício Macri, ex-prefeito de Buenos Aires, contra o governista Daniel Sciolli, apoiado pela presidente Cristina Kirchner. Sciolli era franco favorito há meses. Perde a condição. A Argentina padece de profunda crise. O kirchnerismo dá sinais de esgotamento. Já Macri, caso vença, sinalizará mais um avanço da direita no continente. Sua visão profundamente comprometida com o liberalismo econômico seria o contraponto que os argentinos querem estabelecer com o populismo funcional da esquerda de Sciolli/Cristina.

Sem pauzinho

Fortunato Pinto Júnior, jornalista e ghost writer, escrevia os discursos de João Almeida, deputado de MG. Sábio e generoso, o doce coronel só não gostava de proparoxítonos :

- Fortunato, não bota no discurso palavra que tem um pauzinho lá atrás, porque a dentadura cai.

Defesa de Cunha

O presidente Eduardo Cunha apresenta, esta semana, sua defesa no Conselho de Ética da Câmara. Ele já antecipou as linhas : as contas na Suíça não estão no nome dele, mas de trusts. Essa firula jurídica convencerá os integrantes do Conselho ? Na verdade, o julgamento será político. Apesar do parecer contrário a ele, a ser apresentado pelo deputado Fausto Pinato (esse é o convencimento geral), é bem provável que Eduardo Cunha tenha a maioria dos votos no Conselho. A pressão das ruas não tem sido suficiente para convencer alguns parlamentares. A votação será mais adiante, dia 24 próximo, com direito à ampla defesa do acusado.

Impeachment de Dilma

Cunha, por seu lado, tem uma carta na manga : o pedido de impeachment da presidente Dilma. Acolherá ? Se acolher, perde os votos do PT no Conselho de Ética. O PSDB já tomou posição contra Cunha. Que está entre a cruz e a caldeirinha.

Repatriação e vetos

O projeto de repatriação de recursos está no Senado, onde deve ser também votado esta semana. Passará ? Este consultor acredita que sim. Da mesma forma, os vetos da presidente que tramitam no Senado serão votados, entre eles, aquele que propicia aumento de até 78% aos servidores do Judiciário. O veto deve ser endossado pela Câmara Alta. A conferir.

Paes irá à guerra ?

O prefeito Eduardo Paes, do PMDB, tem dito que faça chuva ou faça sol, não substituirá o nome de Pedro Paulo, seu amigo e secretário do governo, como candidato do partido à prefeitura em 2016. O imbróglio ocorre em função do affaire Pedro Paulo x ex-mulher, a quem teria agredido duas vezes. O caso tem sido explorado intensamente pela mídia. Pedro Paulo deu até entrevista coletiva sobre o assunto com a presença da ex-mulher. Expandiu a visibilidade do problema. E Paes, o prefeito, diz e repete : Pedro Paulo será candidato nem que a vaca tussa. Este consultor acredita que o tema passou a ser um estigma na imagem do PP. Uma mancha suja. Difícil de sair com o detergente da desculpa sobre "a intimidade da vida privada". Ora, a vida privada do homem público é do interesse do eleitor.

Tocqueville e a imprensa

Alexis de Tocqueville, em seu belo "A Democracia na América", lançado em 1835, analisando a importância da imprensa na construção dos valores americanos, confessava : "amo a imprensa pela consideração dos males que impede, mais ainda do que pelos bens que produz". E arrematava, dizendo que a soberania de um povo e a liberdade de imprensa são duas coisas inteiramente correlatas.

A consciência social

De fato, a imprensa é a própria consciência da sociedade. Em sua missão de informar, interpretar, orientar, opinar, persuadir, argumentar, criticar, contextualizar, os meios de comunicação propiciam o equilíbrio social. Pois o alimento da informação harmoniza a cultura dos grupos sociais, tornando-os partícipes dos mesmos eventos de significação social. A imprensa é um dos mecanismos mais efetivos para o processo de desenvolvimento dos países. Populariza a ciência, divulgando, em linguagem acessível, criações, descobertas e fatos de natureza técnico-científica.

Tuba de ressonância

A imprensa mostra os avanços em todos os campos do conhecimento humano, atualizando contingentes, elevando os índices culturais, fazendo avançar a sociedade. Investiga e faz o controle da administração pública, denunciando os abusos e desvios, evitando a continuidade e a perpetuação das malhas de corrupção. Eleva o ser humano, na promoção de seus valores, no reconhecimento de suas qualidades e competências, no traçado de seus perfis e identidades. Luta pelo desenvolvimento harmônico e saudável da sociedade, patrocinando grandes causas nas áreas da saúde, educação, habitação, segurança, esportes e lazer. A imprensa é a tuba de ressonância de um povo. É bom lembrar isso quando figuras de proa continuam a execrar os meios de comunicação.

O arremate

O senador Romero Jucá colheu sugestões para arrematar o documento Uma Ponte para o Futuro. Mesmo assim, será difícil conciliar visões. O PMDB é um partido descentralizado. Por isso mesmo, sobre ele tem-se dito : é um partido que inverte a aritmética - soma na divisão.

Levy fica, Levy sai

Quanto mais se diz que Levy sairá do governo em função da pressão feita por Lula para colocar no lugar dele Henrique Meirelles, mais Levy finca pé. É o que se depreende da mais recente garantia da presidente Dilma : não adianta fazer pressão, ele fica. Então é isso. Joaquim Levy, nas palavras de quem manda, ficará. Ou será que teremos de desdizer isso mais adiante ?

E minhas ordens, tenente ?

Camilo de Holanda, presidente da PB (nessa época, 1916/1920, governador era presidente), tinha uma namorada. Mas a namorada era mulher de um sargento da PM. Uma vez por semana, o tenente-comandante, auxiliar direto de Camilo, dava prontidão noturno no quartel. Uma noite, Camilo vai chegando à casa de seu amor e vê pendurado na cadeira da sala, o dólmã do sargento. Voltou furioso ao quartel :

- Tenente, e minhas ordens ?

- Que ordens, presidente ?

- Prontidão rigorosa, pois a ordem pública está ameaçada.

O tenente mandou tocar a corneta, dentro de pouco tempo o batalhão estava todo lá. De prontidão absoluta. Não faltava ninguém. Meia-noite, Camilo voltou lépido :

- Tenente, relaxa a prontidão que o perigo já passou.

O perigo fora afastado.