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Porandubas nº 485

Gaudêncio Torquato

quarta-feira, 30 de março de 2016

Atualizado às 08:15

Abro a coluna com três historinhas de Churchill

Churchill 1

Telegramas trocados entre o dramaturgo Bernard Shaw e Churchill, seu desafeto. Convite de Bernard Shaw para Churchill : "Tenho o prazer e a honra de convidar digno primeiro-ministro para primeira apresentação de minha peça Pigmaleão. Venha e traga um amigo, se tiver". Resposta de Churchill : "Agradeço, ilustre escritor, honroso convite. Infelizmente não poderei comparecer à primeira apresentação. Irei à segunda, se houver".

Churchill 2

Quando Churchill fez 80 anos, um repórter de menos de 30 foi fotografá-lo e disse :

- Sir Winston, espero fotografá-lo novamente nos seus 90 anos.

Resposta de Churchill :

- Por quê não ? Você me parece bastante saudável.

Churchill 3

Bate-boca no Parlamento inglês. Aconteceu num dos discursos de Churchill em que estava uma deputada oposicionista, Lady Astor, conhecida pela chatice, que pediu um aparte (sabia-se que Churchill não gostava que interrompessem os seus discursos, mas concedeu a palavra à deputada. E ela disse em alto e bom tom :

- Sr. ministro, se Vossa Excelência fosse o meu marido, eu colocava veneno em seu chá !

Churchill, lentamente, tirou os óculos, seu olhar astuto percorreu toda a plateia e, naquele silêncio em que todos aguardavam, mandou :

- Nancy, se eu fosse o seu marido, eu tomaria esse chá com prazer !

Impeachment não é golpe

Três ministros do Supremo Tribunal, Cármen Lúcia, Dias Toffoli e Luís Roberto Barroso, e dois ex-ministros, Carlos Ayres Britto (ex-presidente) e Eros Grau, proclamam : impeachment é legal, se obedecido o rito determinado pela Justiça. As redes sociais se enchem de manifestações a favor e contra o impeachment. Qual será o desfecho da acirrada disputa ?

1ª. hipótese

Primeira hipótese : o exército governista vence a luta e Dilma fica no assento presidencial. O ex-presidente Luiz Inácio, ministro-chefe da Casa Civil, dá as cartas do jogo administrativo. Segura no governo o PMDB e outros partidos governistas. Em seis meses, Lula fará uma guinada na economia e o povo volta a ter dinheiro no bolso.

Quase um milagre

Quase um milagre. É como este cenário pode ser caracterizado. Deus é brasileiro e, petista de carteirinha, fará jorrar dos céus o maná para apaziguar nossas desesperanças. Sob um manto vermelho, ajudaria Dilma, Lula, o PT, a CUT e o MST a recuperarem prestígio e força.

2ª. hipótese

Tentemos, agora, descrever uma segunda hipótese. A sobrevivência da presidente e do ex, Lula, depende do Poder Judiciário. Que não poderá enterrar as bombas tiradas do arsenal do senador Delcídio Amaral, das delações de executivos da Odebrecht e de outros artefatos em preparação, como a aguardada carga de informações do ex-presidente do PP, deputado Pedro Corrêa. Ele garante que Lula foi o inspirador do mensalão e do Petrolão. Desse modo, a operação Lava Jato puxará Dilma e Lula para o meio do furacão.

Lula de volta a Moro

Ambos serão investigados. A presidente permanece na alçada do STF e Luiz Inácio descerá ao foro da 1ª instância. O pedido de impeachment, mesmo sob o argumento da irresponsabilidade cometida com o uso de pedaladas fiscais, ganha impulso na onda da contrariedade social, alavancada pelo desemprego, alta inflação, maracutaias descobertas e políticos recebendo recursos de empresas. Soma-se ao acervo negativo mais um pedido de impeachment, desta vez feito pela Ordem dos Advogados do Brasil, que junta outras situações.

Dilma tenta esticar

A fogueira do impedimento não se apagará. Mas há um prazo fatal para queimar as últimas estacas : junho. Dilma tentará esticar o fogaréu. Com cerca de 600 cargos vagos com a saída do PMDB do governo. E com obstrução do PT na Câmara. Cunha consegue sobreviver mais um pouco. A corda vai esticando. Entra no segundo semestre. O afastamento passa pela Câmara e chega ao Senado.

A onda das ruas

O governo tenta abrir os braços em direção às margens. Joga os movimentos nas ruas. Conflitos e tensões por todos os lados. A economia não consegue entrar nos eixos. Lula não consegue realizar o milagre da multiplicação de pães e peixes. O plenário aprova sua indicação para o Ministério. Mas ele não apazigua as tensões sociais. Ele e Nelson Barbosa tentam arrumar a forma de abrir o crédito, enfiar dinheiro no bolso dos pobres e massificar o consumo. Mesma receita de 2008 ? Luiz Inácio não se dá conta de que o mundo mudou.

Bumerangue

A situação social é calamitosa. A pressão das ruas invade o Congresso. Se a Câmara ainda não aprovou o impeachment, o fará. E, no Senado, ante a indignação social, a alternativa é dar endosso à decisão da Câmara. O PT esgota sua cota de obstrução. Os partidos da base refluem. Dilma é abandonada pelo próprio PT. Um salve-se quem puder.

Um novo governo

Emerge agora a hipótese de um novo governo. O processo passou pelas duas casas congressuais. Até junho, na visão dos oposicionistas, até outubro, na perspectiva de situacionistas. As contas de campanha que estão sendo analisadas pelo Tribunal Superior Eleitoral entrarão em 2017. Se houver impeachment, como se induz, a tendência será a de arrefecimento dos recursos que correm no TSE. A temperatura social seria mais amena ante a perspectiva de um novo rumo para o país. Os setores produtivos querem resgatar a confiança perdida. Crer no país - essa é a chave que poderá reabrir as portas dos investimentos e dos negócios.

A agenda Temer

A agenda Temer teria alguns destaques, a saber : reforma da previdência à base do tempo de contribuição ; fim do regime de partilha no setor de óleo e gás e volta ao sistema de concessões, com preferência da Petrobras ; simplificação e redução de impostos, com unificação do ICMS e transferência de cobrança para o Estado de origem ; fim dos percentuais de despesas obrigatórias, como vinculações constitucionais nas áreas da saúde e educação ; flexibilização na área trabalhista, com prevalência das convenções coletivas ; fim da indexação para salários e benefícios previdenciários, a serem reajustados pelo Congresso e acerto com o Executivo ; impulso à privatização no que concerne à concessões na área da infraestrutura ; maior abertura comercial e articulação negocial com EUA, Europa e Ásia ; segurança jurídica e simplificação na frente das licenças ambientais.

Acirramento de tensões

A militância lulopetista se esforçará para incendiar o país. O acirramento de tensões chega ao auge, gerando incidentes em alguns espaços, principalmente na arena de guerra paulistana, a avenida Paulista, onde as alas contrárias e a favor do governo costumam se enfrentar. A tensão se expande em função dos bolsos esvaziados das classes sociais. Diante desse cenário, não se descarta a possibilidade de intervenção de forças do Exército nas ruas para evitar catástrofes.

Lava Jato

As investigações da operação Lava Jato continuarão propiciando mais condenações e delações. Apesar da sensação de que o exercício de "passar o Brasil a limpo" não tem retorno, indagações surgem aqui e ali : quantos parlamentares serão condenados ? E o que acontecerá com os 200/300 (?) parlamentares arrolados nas listas da Odebrecht ? Quem teve doação oficial ? Quem recebeu pelo Caixa dois ? E quem ganhou propina ?

O passado diante de nós ?

Que medidas são necessárias para mudar efetivamente os rumos da política ? "Que o passado esteja diante de nós, vá lá... Mas o passado adiante de nós, sai pra lá". A expressão artística é do poeta Carlos Ayres Britto, ex-presidente do STF. Os céus do país estarão cobertos por muitas nuvens durante todo esse ano e, quiçá, em um bom pedaço de 2017.

Lula ministro

O procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, argumenta : Lula pode ser ministro, mas deve continuar sob a esfera de investigação do juiz Sérgio Moro, da 1ª instância. Coisa estranha. Ministro não tem foro privilegiado ?

PMDB sai

Durou três minutos a reunião do Diretório do PMDB, presidida pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR), que decidiu pelo afastamento do partido da base governista. Sob gritos de "Fora, PT", os participantes, por votação simbólica, aprovaram a saída do PMDB da administração e a entrega dos cargos. Quem quiser ficar, que tire licença ou saia do partido. Marcelo Castro e Celso Pansera, ministros da Saúde e Ciência e Tecnologia, respectivamente, querem continuar no governo.

Outros sairão

Na esteira do PMDB, outros partidos também deverão se afastar : PP, PRB e até o PDS, entre outros.

Senado cede

Ante eventual rolo compressor da Câmara, passando aí por 342 votos, o Senado não terá condições de sustar a decisão de impeachment tomada pelos deputados.

Apoio da OAB em SP

Ao mesmo tempo que o Conselho Federal da OAB Nacional registrava o pedido de abertura do processo de impeachment da presidente em Brasília, moções de apoio eram protocoladas por todo o Estado de São Paulo. Por iniciativa do presidente Marcos da Costa, a ação executada pelos presidentes de subseções - representantes da classe eleitos democraticamente por seus 350 mil pares paulistas - contou com o apoio de conselheiros secionais. Na capital, os focos foram a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) e a Câmara Municipal. Três Câmaras já votaram favoravelmente a moção de apoio : Santos, Cruzeiro e São Pedro.

A vaidade dos vivos

"O luxo do funeral e a suntuosidade do túmulo não melhoram as condições do morto; satisfazem apenas a vaidade dos vivos". (Dante Veoléci)

Fecho a coluna com uma hilária historinha de José Maria Alkmin, a raposa mineira

Quando quer ir à lua ?

Um correligionário de Bocaiúva fica meio "lelé da cuca" e surge, sem eira nem beira, no gabinete do ministro, ainda no Rio de Janeiro, onde lhe pede uma inusitada colaboração.

- Dr. Zé Maria, eu quero ir à lua e preciso da ajuda do senhor, diz o visitante.

- Isto não é problema, diz Alkmin, dando asas à imaginação do conterrâneo. Dou-lhe o apoio, de ministro e correligionário. Existe um pequeno e contornável problema, que é de definição, e só depende do amigo.

E Alkmin continua :

- Você sabe que há quatro luas : nova, crescente, minguante e cheia. Agora, compete a você escolher qual das luas o nobre amigo deseja visitar, pois o apoio está dado.

Diante de um atônito conterrâneo, o ministro levanta-se da poltrona, estende a mão para a despedida e afirma, olhando no fundo dos olhos do eleitor :

- Me procure, novamente, quando definir !