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Porandubas nº 555

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Atualizado às 08:02

Suavemente...

José Maria Alkmin (sem o C do Alckmin de São Paulo), o sábio das Minas Gerais, foi advogado de um crime bárbaro. No júri, conseguiu oito anos para o réu. Recorreu. Novo júri, 30 anos. O réu ficou desesperado:

- A culpa foi do senhor, dr. Alkmin. Eu pedi para não recorrer. Agora vou passar 30 anos na cadeia.

- Calma, meu filho, não é bem assim. Nada é como a gente pensa da primeira vez. Primeiro, não são 30, são 15. Se você se comportar bem, cumpre só 15. Depois, esses 15 são feitos de dias e noites. Quando a gente está dormindo tanto faz estar solto como preso. Então, não são 15 anos, são 7 e meio. E, por último, meu filho, você não vai cumprir esses 7 anos e meio de uma vez só. Vai ser dia a dia, dia a dia. Suavemente.

(Sebastião Nery conta a historinha em seu Folclore Político).

Conferência da Advocacia

O maior evento da Advocacia brasileira. É a XXIII Conferência Nacional da Advocacia, que se realiza em São Paulo, no Anhembi, após quase 50 anos do último evento na nossa metrópole. Cerca de 30 mil inscritos. Presenças de figuras expressivas da operação do Direito, a partir da presidente do STF, ministra Cármen Lúcia e dos ministros do Supremo, Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, além do ministro Emmanoel Pereira, vice-presidente do TST, representando a Corte. O presidente da OAB/SP, Marcos da Costa, fez peroração destacando a história de lutas da Ordem e as bandeiras levantadas pelos advogados, a partir das prerrogativas profissionais.

Huck desafoga o meio

A decisão do empresário-animador Luciano de desistir de candidatura presidencial em 2018, sonho de alguns partidos, desafoga o meio do espectro ideológico. Como se sabe, nas pontas, dois cavalos de corrida já abriram o páreo: Lula e Bolsonaro. No centro, Geraldo Alckmin prepara-se para ser protagonista de proa. Esse espaço ainda pode ser disputado por Marina Silva, Ciro Gomes, o senador Álvaro Dias, o outsider Joaquim Barbosa, eventualmente Henrique Meirelles e outros que tendem a adensar o grupo. O fato é que Huck era, até a última segunda, o nome mais ventilado. Com sua saída, Alckmin terá a candidatura vitaminada.

Checando as possibilidades

O problema que Geraldo Alckmin enfrentará é a conhecida tendência do PSDB de subir ao muro. Trata-se de um partido cercado de indefinições. E muita vaidade. De muitos caciques. Digamos que o governador de São Paulo tenha condições de unir as duas alas em briga: a do senador Tasso Jereissati e a do governador Marconi Perillo. Mesmo assim, grande desconfiança paira sobre o próprio governador. Ele trabalhou nos bastidores pela saída dos tucanos do governo Temer. E ficou na moita em matéria de posicionamento da bancada sobre a reforma da Previdência. Teria ficado mudo. Como disporia ele de condições para lutar por uma aliança com o PMDB?

Minutos essenciais

O PMDB disporá do maior tempo de TV e rádio na programação eleitoral. Esse espaço será vital para a massificação do nome dos candidatos e de suas propostas. O partido, mesmo execrado, é cobiçado para fazer alianças. Não se sabe quais serão seus passos: uma ala do partido defende candidatura própria; outra ala pensa em fazer aliança com um candidato do centro, podendo até ser Geraldo Alckmin. Se a economia ganhar muito fôlego, haverá pressão para que o próprio Michel seja o candidato. O fato é que o PMDB se esforçará para unir todos os partidos que integram o centrão, a partir do DEM, que possui um nome de grande potencial: Rodrigo Maia, o presidente da Câmara.

A economia ditará o rumo

A economia ditará o rumo a ser seguido. Por isso, não serão fechados acordos antes de maio/junho. Até lá se verá para onde irá a locomotiva econômica. Descarte-se qualquer aceno do PMDB em relação a Marina, Ciro, Joaquim Barbosa, Bolsonaro, Manuela D'Ávila, Álvaro Dias e outros. E Lula? Pois é, o PMDB pragmático será capaz de apoiar eventual candidatura de Lula, como já acenaram Renan Calheiros, em Alagoas, e até Ciro Nogueira, presidente do PP, no Piauí. Lula tem um exército de eleitores no Nordeste. E se a posição do PMDB nacional fechar questão contra eventuais apoios regionais a Lula? Esse será mais um pomo de discórdia.

Ninguém tem provas...

Numa festa, a dona de casa recebe um político famoso.

- Muito prazer! - diz ele.

- O prazer é meu! Saiba que já ouvi muito falar do senhor!

- É possível, minha senhora, mas ninguém tem provas.

Maia subindo

Rodrigo Maia está se saindo muito bem como presidente da Câmara. Articula bem, conversa com gregos e troianos, sabe lidar com correligionários e opositores. Poderia ser o nome de consenso entre os partidos do meio. Mas Rodrigo receia arriscar-se. Prefere uma candidatura certa a deputado Federal que a vaga possibilidade de ganhar o assento presidencial. E o governo do Rio de Janeiro? Na situação em que se encontra o Rio, não será interessante sentar na cadeira de governador. Como presidente da Câmara, teria mais força e visibilidade. Mas o pai, o vereador César Maia, até veste bem o figurino de candidato. Seria uma boa composição.

Michel quer pacificar

Já a intenção de Michel Temer é a de ser reconhecido como o presidente das reformas e o dirigente que pacificou o país, após o terremoto da era petista. Não cogita candidatura presidencial, até porque quer atuar como magistrado na busca do entendimento e do consenso entre os partidos do centro. E se a economia bombar em 2018? Essa é uma recorrente pergunta. Os correligionários poderiam fazer enorme pressão para jogá-lo na corrida. Mesmo assim, seria pouco provável que aceitasse. Mas como a política é a arte do imprevisível, tudo pode acontecer.

Barbosa

Joaquim Barbosa parece muito envaidecido com a possibilidade de vestir o manto de candidato a presidente. Mas, à moda Huck, deve rejeitar a hipótese. Enfrenta problema de coluna - que lhe causa dores - e hoje está confortável no papel de ex-presidente do STF, paparicado em todos os lugares. Deixar essa situação de conforto e optar pela luta política poderia ser má opção. Este consultor não aposta na candidatura de Joaquim Barbosa.

Marina, a Santa

Marina Silva continua etérea, cercada por ares puros e éticos. Mas ainda assim, não teria estrutura - porte, tamanho, fortaleza, tempo de TV, etc. - para sustentar uma campanha pesada. A impressão é a de que lhe faltaria oxigênio para chegar aos últimos 500 metros da corrida. Por isso, poderá ser uma candidata respeitada e admirada, com boa bacia de votos, particularmente de segmentos jovens. Mas sem chance de sentar na cadeira presidencial.

Ciro, o Canhão

Trata-se de um sujeito preparado, falante, destemido. Mas diz o que pensa e um pouco mais. E essa condição lhe subtrai muito voto. Ciro sofre da síndrome do touro: pensa com o coração e ataca com a cabeça. Por isso, se sairá bem nos debates eleitorais entre candidatos, mas será visto com desconfiança por parte de parcela ponderável da sociedade. Fará bonito no Nordeste, onde circula com desenvoltura.

Álvaro e Manuela

O senador Álvaro Dias tem imagem muito regional. Confina-se no Paraná. E seu novo partido, o Podemos, não terá cacife para "poder" alçá-lo a um patamar elevado nas pesquisas. Quanto a Manuela D'Ávila, trata-se de perfil simpático. Encarna o poder jovem. Mas seu PC do B é limitado. Sua imagem também é muito regional (RS).

E Meirelles, hein?

Henrique Meirelles teria chances? Primeiro, vale dizer que o homem é pesado. Não tem um pingo de carisma. Fala de maneira arrastada, como se estivesse com dificuldade de concluir o pensamento. Mas vai que a economia dê um enorme salto... Se isso ocorrer, poderá surgir na frente dele um cavalo corredor. Milagres acontecem. E, na política, o imponderável nos faz visita de tempos em tempos.

Bolsonaro emplaca?

Tudo é possível. Meu amigo Lavareda, perito nas pesquisas e um grande pesquisador da "alma brasileira", acentua que "o posicionamento dele é bom". Concordo que o deputado Jair Bolsonaro se aproveita das circunstâncias. Do Brasil que clama por ordem, disciplina, autoridade. Bolsonaro encarna esse espírito. Só que precisamos verificar o que irá ocorrer: terá tempo disponível de mídia para massificar sua pregação? Não será canibalizado por protagonistas com maior poder midiático? Não será destroçado em debates? Terá tranquilidade suficiente para responder às inquietantes indagações que certamente lhe serão feitas?

Lula e seu bolsão

Seja ou não candidato, Lula terá bom quinhão de votos. Poderá ajudar candidatos majoritários em alguns Estados. Se for condenado em 2ª instância, abrirá a polêmica: "não querem deixar que seja candidato". A novela Lula terá muitos capítulos por todo o ano de 2018. O PT continuará na linha do ataque. E suas bandeiras vermelhas tenderão a amimar os exércitos contrários. As batalhas não serão poucas.

O poder midiático

A campanha de 2018 será ainda balizada por eventos da Lava Jato. Quer dizer, eventuais competidores poderão ter seus nomes ventilados, aqui e acolá, ao sabor das investigações e consequentes denúncias. Por isso, é possível que tenhamos altos e baixos nas intenções de voto. A corrida eleitoral, cheia de tropeços, poderá até desestabilizar grandes protagonistas. Os desfechos serão imprevisíveis.

Baixo astral

Os atores do circo eleitoral estarão submetidos, ainda, à avaliação dos eleitores. Governadores mal avaliados deverão perder a reeleição, a não ser que os adversários façam parte da velha política; senadores e deputados, da mesma forma, serão vistos como continuidade ao tradicional sistema. Candidaturas novas terão melhores condições de desempenho. O discurso será importante: o que prometer e como viabilizar as promessas.

Pesquisa qualitativa

Para conhecer bem o que pensa o eleitor, a indicação é a pesquisa qualitativa. Grupos bem escolhidos e representativos do colégio eleitoral poderão mostrar o que pensam, como pensam, expectativas, anseios, angústias, indignação, esperanças. Os candidatos precisam mergulhar fundo na consciência coletiva.

Peru não morre de véspera

A eleição de um candidato depende do momento, das circunstâncias, da temperatura social, dos versos e reversos da economia, do perfil dos adversários, dos debates e combates na arena eleitoral, dos climas regionais, da força da mídia eleitoral (significando tamanho dos programas eleitorais), dos inputs momentâneos (uma crise abrupta, um caso espetaculoso) - enfim, de uma escala de elementos ponderáveis e imponderáveis. Os fatores imprevisíveis abrem as possibilidades. Única verdade: peru não morre de véspera.

A viabilidade de candidatos

Carlos Matus, cientista social chileno, em um magistral estudo sobre Estratégias Políticas, demonstra que a viabilidade de um ator na política tem a muito que ver com a estratégia e seus princípios fundamentais. Eis alguns princípios estratégicos: a) Avaliar a situação; b) Adequar a relação recurso/objetivo; c) Concentrar-se no foco; d) Planejar rodeios táticos e explorar a fraqueza do adversário; e) Economizar recursos; f) Escolher a trajetória de menor expectativa; g) Multiplicar os efeitos das decisões; h) Relacionar estratégias; i) Escolher diversas possibilidades; j) Evitar o pior; k) Não enfrentar o adversário quando ele estiver esperando; l) Não repetir, de imediato, uma operação fracassada; m) Não confundir "reduzir a incerteza" com "preferir a certeza"; n) Não se distrair com detalhes insignificantes; o) Minimizar a capacidade de retaliação do adversário.

Fecho a coluna com uma historinha de Tenório Cavalcanti.

Armado de admiração

Tenório Cavalcanti, udenista e adversário político de Vargas, foi ao Catete numa comissão de deputados. Andava nas manchetes dos jornais por causa de suas estripulias em Caxias, na base da "Lourdinha" (metralhadora) e da capa preta. Getúlio o cumprimentou, olhou bem para o volume do revólver embaixo do braço esquerdo, sob o paletó:

- Deputado, o senhor está armado?

Tenório ficou vermelho, mas não perdeu o bote:

- Sim, presidente, armado de admiração por V. Excelência.