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Porandubas nº 568

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Atualizado às 08:06

Abro a coluna com duas historinhas, uma do Pará, outra da Paraíba.

Socorro, socorro...

João Botelho, candidato a prefeito de Belém, passou o dia inteiro anunciando um comício, à noite, na praça Brasil. Chegou na praça, não havia ninguém. "Será que estou no lugar errado? Será que não estou enganado?", perguntou ao assessor.

- Não houve engano não, deputado, a praça é esta mesma.

Foi ao bar mais perto, pediu dois caixotes de madeira, pôs no centro da praça, subiu e passou a berrar alucinado:

- Socorro, Socooorro, Socoooooooro!

Correu gente de todo lado para ver o que era. Plateia arrumada, Botelho começou o comício:

- Socorro para um candidato...

E fez o comício.

Silêncio, silêncio....

Flávio Ribeiro, presidente da Assembleia (depois foi governador da Paraíba), estava irritado com as galerias, que aplaudiam e vaiavam durante um debate entre o deputado comunista Santa Cruz e o udenista Praxedes Pitanga. De repente, tocou a campainha, pediu silêncio e avisou, grave:

- Se as galerias continuarem a se manifestar, eu evacuo.

Felizmente, as galerias se calaram.

Inferência

A inferência é uma asserção sobre o desconhecido com base no conhecimento de alguma coisa a ela relacionada: circunstâncias, análise de perfis, declarações de personagens etc. Faz parte do jornalismo interpretativo, disciplina que ministrei por anos a fio nas faculdades de comunicação de São Paulo. Pode ser uma observação certeira ou também pode ser algo fora de propósito. Sob essas duas posições, farei uma inferência: Rosa Weber tende a votar com a maioria no caso de prisão em 2ª instância. Até hoje, o entendimento do STF acolhe essa decisão. Mas a mudança de entendimento poderá ocorrer hoje, quarta, se todos os ministros do Supremo derem seu voto ou amanhã, quinta.

Empate

Especula-se que a votação dará empate, ou seja, será 5 a 5. O desempate caberia à ministra Rosa Weber, que sempre disse que tende a acompanhar a maioria em matérias complexas ou de mudança de entendimento. Já chegou a dizer, no passado, que a prisão só poderia ocorrer depois de esgotados todos os recursos. Se couber a ela o desempate, é possível inferir que Rosa Weber vai mudar o entendimento do Supremo mais uma vez.

In dubio, pro reo?

Minha ilação é esta: ao julgar o recurso de Lula contra a prisão em 2ª instância, o STF estará também decidindo alterar sua visão, ou seja, tende a decidir que a prisão só poderá ocorrer após esgotados todos os recursos nas instâncias superiores. Portanto, a ilação é extraída do próprio pensamento da ministra Weber, exposto no passado, e também sua inclinação para votar com a maioria. Em caso do provável empate, adiciono na ilação o princípio do Direito: in dubio, pro reo (na dúvida, pelo réu).

E a opinião pública

De qualquer maneira, a polêmica já está firmada. Se votar contra Lula, a ministra Weber vai enfrentar a contrariedade de advogados, os operadores do Direito que veem no esgotamento de todos os recursos o rígido cumprimento da letra constitucional. Por outro lado, teria o apoio irrestrito de juízes e procuradores, que defendem a prisão após decisão da 2ª instância, sob o refrão de que "o Brasil é o país da impunidade". E como a opinião pública vai reagir? De um lado, atribuirá uma decisão desfavorável ao ex-presidente como um viés "político". Se a decisão for favorável, a militância petista vai reagir com euforia e aplausos. Sinto que a ministra Rosa Weber não vai atender o apelo do amigo Sérgio Moro. Lembro: a inferência pode estar errada.

Imagem do Judiciário

O fato é que, seja qual for a decisão da nossa mais alta Corte, a imagem do Judiciário está muito borrada. De um lado, pelas querelas individuais, que transformam o Supremo em um arquipélago de 11 ilhas, de outro, por julgamento de matérias que seriam de competência do Poder Legislativo. O STF é em parte responsável pelo que se designa "judicialização da política". A Corte perdeu parcela ponderável de sua credibilidade.

Imagens borradas

As imagens dos ministros do STF estão borradas. Mesmo a do decano da Casa, o ministro Celso de Mello, que, aliás, promete um voto denso e longo hoje. (A depender do tempo que terá seu voto, o julgamento do recurso de Lula poderá se estender até amanhã). Gilmar exibe a imagem mais borrada. Na lista, estão ainda os ministros Toffoli, Lewandowski, Barroso e Marco Aurélio. A presidente Cármen Lúcia também gera certa contrariedade, inclusive por parte dos pares.

Imagem negativa?

O ministro Gilmar, ainda ontem em Portugal, disse que a condenação de Lula contribui para a imagem negativa do Brasil no exterior. Confesso que tive dificuldade de entender a assertiva por imaginar que um cidadão brasileiro, qual seja sua identidade, ao ser condenado pela Justiça, mostra que a instituição judiciária no Brasil funciona. O raciocínio do ministro deixa no ar a dúvida: a imagem do nosso país não seria negativa se ele fosse inocentado? Quer dizer que a Justiça errou em condenar Lula? Que reversão de conceitos, hein?

Rodrigo Maia

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, está fazendo intensa articulação para fechar apoio de partidos à sua candidatura. Rodrigo é um exímio articulador. Dialoga com todos e respeita compromissos assumidos. Tem grande potencial de crescimento na campanha. Basta ser conhecido. Já começou a viajar por todo o país, mostrando a cara e as ideias. Até junho analisará suas possibilidades. Seja qual for a alternativa, Rodrigo se apresenta como protagonista dos mais importantes para o amanhã.

20 pré-candidatos

Antes que esqueçamos os nomes dos pré-candidatos à presidência da República, ei-los:

1) Flávio Rocha - PRB (10); 2) Ciro Gomes - PDT (12); 3) Lula - PT (13); 4) Michel Temer/Henrique Meirelles - MDB (15); 5) Vera Lúcia - PSTU (16); 6) Jair Bolsonaro - PSL (17); 7) Marina Silva - Rede (18); 8.) Álvaro Dias - PODEMOS (19); 9) Cristovam Buarque - PPS (23); 10) Rodrigo Maia - DEM (25); 11) Eymael - PSDC (27); 12) Levy Fidelix - PRTB (28); 13) João Amoedo - Novo (30);14) Valéria Monteiro - PMN (33); 15) Fernando Collor - PTC (36); 16) Geraldo Alckmin - PSDB (45); 17) Guilherme Boulos - PSOL (50); 18) João Vicente Goulart - PPL (54); 19) Manuela d'Ávila - PCdoB (65) e 20) Cabo Daciolo - AVANTE (70).

Indefinidos

Ainda há indefinição por parte de cinco partidos que pretendem lançar candidatos próprios: 1) Paulo Rabello de Castro - PSC (20); 2) Rui Costa Pimenta - PCO (29) ou apoio ao PT;3) Suêd Haidar - PMB (35); 4) Aldo Rebelo, Beto Albuquerque ou Joaquim Barbosa - PSB (40) e 4) PV - A definir. Quatro partidos já declararam apoio: PTB - dará apoio ao PSDB. O PP apoiará o MDB; o PCB deverá apoiar o PSOL e o PHS tende a apoiar o PODEMOS. Cinco partidos ainda não possuem definição sobre o pleito: PR, PEN, PROS, SD e PRP. (Via Vítor Ribeiro).

Joaquim, mistério

O ex-presidente do STF, Joaquim Barbosa, está ingressando no PSB, mas continua a ser um mistério. Será ou não candidato à presidência? Aguentará o tranco de uma campanha contundente? Sua saúde está bem? Todos esses ângulos pesam na definição de uma candidatura.

Márcio França

O vice-governador de São Paulo, Márcio França (PSB), assume o governo de São Paulo nessa sexta-feira. Trata-se de um perfil moderado, com boa expressão e grande capacidade de articulação. Na condição de governador será candidato ao governo. Assumirá o comando do Estado mais rico do país, com orçamento de 216 bilhões de reais e PIB próximo de dois trilhões de reais. Começou sua carreira política em 1989 na cidade de São Vicente, a mais pobre da Baixada Santista. Foi vereador e prefeito por dois mandatos. Tem 54 anos e foi deputado Federal.

Doria

O prefeito João Doria passa o comando da metrópole paulista ao vice Bruno Covas. Os dois se entendem muito bem. João vai começar o seu périplo pelo interior do Estado. E haja sola de sapato. São Paulo agrega o maior colégio eleitoral do país: mais de 33 milhões de eleitores. Seu principal desafio: explicar a razão pela qual deixou a prefeitura no meio do mandato. Como é bom de discurso, é bem provável que convença.

Marketing eleitoral

Nesse início de pré-campanha, talvez seja útil mostrar pequenas lições de marketing eleitoral.

Marketing ganha campanha?

Marketing não ganha campanha. Quem ganha campanha é o candidato. Marketing ajuda um candidato a ganhar a campanha, ao procurar maximizar seus pontos fortes e atenuar seus pontos fracos. O marqueteiro, aliás, profissional de marketing, (não gosto do designativo porque tem conotação pejorativa) é importante, na medida em que funciona como um estrategista que define linhas de ação, orienta a escolha do discurso, ajusta as linguagens, define padrões de qualidade técnica, sugere iniciativas e até pondera sobre o programa do candidato, os compromissos e ações a serem empreendidas. O profissional de marketing precisa, sobretudo, ser um profissional com visão sistêmica de todos os eixos do marketing. Que não entenda uma campanha apenas como um apelo publicitário, uma proposta de marketing televisivo. Que seja capaz de visualizar os novos nichos de interesse de uma sociedade exigente, crítica e sensível aos mandos e desmandos dos governantes.

Pequeno roteiro

Lições curtas de marketing eleitoral:

- Saber ler corretamente o meio ambiente, os novos valores do eleitorado e as motivações de voto.

- Escolher o discurso para o momento adequado.

- Definir segmentos-alvo do eleitorado.

- Selecionar sólidos reforçadores de decisão de voto.

- Descentralizar a campanha para multiplicar pontos de eco e agregar organizações intermediárias.

- Compor programa simples, objetivo, factível.

- Trabalhar com modelos diferenciados de pesquisa.

- Programar ações de surpresa e impacto.

- Organizar estrutura adequada e estabelecer cronograma prevendo: lançamento da campanha (junho); crescimento (julho - 1ª quinzena de agosto); consolidação/maturidade (segunda semana agosto - primeira quinzena de setembro); clímax (segunda quinzena de setembro - semana da eleição); declínio (evitar que esta fase ocorra antes da eleição).

- Garantir meios e recursos.