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Porandubas nº 74

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Atualizado em 24 de outubro de 2006 17:39


GERALDO NA DEFENSIVA

A campanha de Lula está sendo bem mais eficaz no segundo turno do que a campanha de Geraldo. Além de programas eleitorais melhores, a campanha petista driblou os ataques tucanos do primeiro turno e colocou Alckmin no canto do ringue com o discurso contra a privataria. Uma onda nacionalista invadiu o País. Lula voltou ao discurso glorioso a ponto de dizer que os opositores deveriam "agradecer a Deus" por sua reeleição. Geraldo perdeu 10 dias - vitais - do segundo turno respondendo a Lula e assessores.

AMORTECIMENTO SOCIAL

Denúncias, mesmo as mais fortes, perderam força. Vejam as últimas: a ligação entre Gilberto Carvalho, secretário particular de Lula, e Lorenzetti, que comandou a compra do dossiê. Portanto, a suspeita de que o caso saiu da esfera presidencial não gerou grande impacto. E a matéria de capa da Veja sobre o "Ronaldinho de Lula", o filho Fábio, também não criou comoção. Ou seja, nem um tsunami tem condições de arrebentar os espaços consolidados de Lula. E isso ocorre porque uma onda maior tomou conta do País: a onda do amortecimento social. O povão está anestesiado.

E AS CLASSES MÉDIAS ?

Se o povão está anestesiado como está o povo do meio ? As classes médias começam a dar sinais de saturação. Querem resolver logo a parada. Não agüentam mais a "discurseira" dos dois candidatos. Parcela desses setores médios impregnou-se com o discurso nacionalista. Gente que criticava fortemente Lula aderiu. Francisco Oliveira, o professor-sociólogo que fez carga pesada contra o presidente no início do segundo turno, até subiu o palanque lulista.

VAI HAVER TERCEIRO TEMPO ?

Por mais que se pregue um terceiro tempo, ou seja, o ciclo pós-eleitoral do confronto nas malhas do Judiciário, será pouco provável que as oposições tenham sucesso. O vencedor contará com a legitimidade das urnas. Pelo que se conhece da cultura política, as bases congressuais tendem a arrefecer o discurso após as eleições. Político brasileiro é pragmático. Ajusta-se de acordo com as conveniências. Não haverá pedido de impeachment de Lula, mesmo que se comprove conhecimento prévio do presidente sobre a compra do falso dossiê. Pura bobagem pensar que PFL e PSDB terão forças para impedir a governabilidade.

IMAGEM CORROÍDA

Mas o segundo mandato de Lula começará sob um clima de suspeitas. A imagem do governo estará corroída. O presidente terá de fazer um esforço extraordinário para soerguer a identidade governamental. Terá de fazer um Ministério com grandes nomes, despetizar parcialmente a estrutura, falar menos e agir mais, ser menos arrogante. As ondas de invasão pelo MST, que passa uma temporada no esconderijo tático para não prejudicar a candidatura petista, voltarão com força. Parcela do PT ideológico se voltará contra o PT pragmático. Os conflitos, portanto, ocorrerão no próprio espaço dos ganhadores.

ACOMODAÇÃO DAS PLACAS (1)

Fiquemos, então, com as seguintes passagens dos eventos eleitorais. As oposições jogaram uma chuva de denúncias contra Lula, seus assessores e seu governo. O PT foi pego, mais uma vez, de calças curtas. Com imagens de dólares na cueca, mensaleiros, sanguessugas, valerioduto, processos éticos, afastamento de dirigentes petistas e dossiêgate, Lula, o vencedor, entrará no segundo mandato com as placas tectônicas do terremoto ainda se mexendo. Depois de algum tempo, se acomodarão. Entre três a quatro meses serão mais do que suficientes para o governo reunir os cacos quebrados. No segundo semestre de 2007, o governo começará a colocar os eixos programáticos no lugar.

ACOMODAÇÃO DAS PLACAS (2)

Um pouco antes, deverá patrocinar a reforma política. Os partidos chegaram ao fundo do poço do descrédito. Lula tentará formar uma aliança nacional. Lutará para cicatrizar as feridas abertas. Haverá ampla discussão sobre as reformas. O segundo semestre será também de votações importantes. Lula tentará dialogar de modo mais intenso com Aécio Neves e José Serra. Por uma questão tática: quer anular eventual oposição radical logo no início para evitar a antecipação do fim do seu governo. Os partidos pequenos se reaglutinarão aos grandes. O quadro partidário será mais transparente. Os movimentos sociais mais radicais enfrentarão a Polícia. A sociedade vai esperar um ano para começar a tomar posição mais forte em relação ao governo Lula.

A ONDA LULA

A onda Lula percorre o País de ponta a ponta, devastando terrenos de adversários lulistas. No Nordeste, os candidatos a governador apoiados por Lula estão na frente, com exceção da PB, onde o governador Cássio Cunha Lima, lidera a corrida. Em Pernambuco, Eduardo Campos está com um pé no Palácio das Princesas, onde seu avô, Miguel Arraes, reinou por duas vezes. No RN, Vilma Faria liderou no primeiro turno e entra no segundo com grandes possibilidades de vitória. Mas Garibaldi Alves poderá surpreender na reta final. No Maranhão, Roseana Sarney virou as costas ao seu partido, o PFL, e encosta na campanha de Lula. No Sul, cai a diferença de Yeda Crusius (PSDB) para Olívio Dutra (PT). Em SC, Luiz Henrique (PMDB) também diminui a diferença para Esperidião Amin (PFL).

DEBATES

O primeiro debate entre Lula e Geraldo foi quente. O segundo, no SBT, foi morno. O terceiro, na TV Record, teve alguns graus de quentura. Geraldo apresentou um semitom abaixo da melodia que entoou na Band e Lula um semitom acima. Foi um empate com momentos bons e regulares para um e outro. Ninguém mudou o voto por conta desse debate, que terminou tarde. E o quarto, na TV Globo, como será ? As regras são tão rígidas que ameaçam esfriar o que deveria ser o mais quente debate na TV.

REFORMA POLÍTICA

P, eis a letra inicial do alfabeto das reformas. A reforma Política abrirá a agenda das reformas. E os políticos terão de cortar um pouco a própria carne. Tudo indica que o estatuto da fidelidade partidária receberá a primeira aprovação.

NORDESTE MAIS FORTE

Com Jacques Wagner (PT), governador da Bahia, Eduardo Campos (PSB), governador de Pernambuco, Cid Gomes (PSB), governador do Ceará, Marcelo Déda (PT), governador de Sergipe e Wellington Dias (PT), governador do Piauí e, possivelmente, Vilma Faria (PSB), governadora do RN, o governo Lula terá forte sustentação no Nordeste. O PT vai afundando as raízes no Nordeste onde o PFL reinava absoluto nos tempos de outrora.

COMUNICAÇÃO GOVERNAMENTAL

César Maia gosta mesmo de comunicação governamental. É um estudioso da comunicação política. Ontem, fiz a palestra brasileira no Encontro Internacional de Comunicação Institucional na Esfera das Capitais e Grandes Cidades da América Latina e Europa Ibérica. César Maia abriu o Simpósio, que reuniu os profissionais e assessores de comunicação das Prefeituras de Capitais e cidades latino-americanas. Um evento que expressa a preocupação dos administradores públicos com a comunicação no ciclo da Espetacularização do Estado.

TARSO CRASSO

O que deu em Tarso Genro, o maior intelectual do PT, para cometer o erro crasso de achar que há clima para golpe ? Pois é o que está dizendo, quando sugere que, a qualquer momento, poderá emergir do buraco uma figura assemelhada a um dos seqüestradores de Abílio Diniz, em 1989, vestido com a camiseta de Lula. Tarso Genro quer dizer que as oposições tramam um golpe. Quanta ingenuidade em uma cabeça, que, se supunha, pensasse política raciocinando sobre um país sem climas para golpismo. Só pode ser mesmo conversa eleitoral com pitada terrorista. O ministro, quando ainda estava no RS, mandou-me uma coleção de seus textos, que apreciei com gosto. Era um tempo em que o pensador superava o político.

MARTA PENSA ALTO

Não se pense que Marta Suplicy se entusiasma com a possibilidade de voltar a ser prefeita de São Paulo. A hipótese até pode ser considerada, mas em última instância. Ela pretende ser a novidade petista no segundo mandato de Lula. Quer um Ministério que lhe dê visibilidade nacional, algo que possa mexer com as capitais e grandes cidades. Isso mesmo, o Ministério das Cidades. Que será o pilar para Marta pensar nas alturas do Palácio do Planalto em 2010. Se não aparecer perfil mais avançado, ela terá condições de se apresentar como primeira mulher com possibilidade real de comandar a República. Claro, esse é o discurso do ego martista.

LULA IRÔNICO

Lula foi irônico no debate na TV Record. Chamado à atenção, voltou ao normal. Mas teima em colocar nas entrelinhas o discurso de pobres contra ricos. Mais adiante, o feitiço virará contra o feiticeiro.

PMDB NAS DUAS CASAS ?

Será muito difícil que o PMDB consiga comandar as duas casas congressuais, mesmo se tiver as maiores bancadas no Senado e na Câmara. É mais provável que Renan Calheiros faça melhor articulação entre os senadores que Gedel Vieira Lima ou outro peemedebista entre os deputados. O presidente Michel Temer vai reunir a Executiva do partido logo após o segundo turno. Para avaliação das tendências.

QUEM ACREDITA NESSAS HISTÓRIAS ?

Correm histórias, casos, "causos" e versões nas antecâmaras da política, dos Poderes e de suas autarquias. Uma delas, recente, dá conta de um major que esqueceu de levar uísque na viagem de uma alta figura. Foi xingado com palavras de baixo calão. Não conseguiu se conter. Quis partir para a briga. Foi contido. A vida do major virou um inferno. Acredite, se quiser, mas a história é contada com detalhes. Até por bocas de gente séria da diplomacia.

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