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Porandubas nº 656

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Atualizado às 08:22

Abro a coluna com uma historinha do meu RN.

Barbeirinho de uma figa

Djalma Marinho, deputado estadual de 1947 a 1950 e Federal de 1951 a 1981, (avô do hoje ministro Rogério Marinho, da Integração), era compadre do barbeiro de Nova Cruz, sua cidade natal. Um dia, cortando o cabelo, ouviu o apelo:

- Compadre, vi nos jornais que você vai para Roma visitar o papa. Ele é meu ídolo. Olhe aqui a foto dele. Vou lhe fazer um pedido: peça para ele autografar essa foto e escrever uma dedicatória à minha família. Não esqueça. Você é meu maior amigo e não vai me decepcionar. (Foto do Papa com dedicatória era, outrora, a maior honra que uma família nordestina poderia exibir na parede da sala de visitas.)

O deputado viajou e encaixou o pedido tresloucado na mala do esquecimento. O tempo passou. Dois meses depois, ao voltar a Nova Cruz e ao sentar na cadeira da barbearia, recebeu a cobrança:

- E aí, compadre, o senhor foi a Roma? Viu o Papa? E minha foto com a assinatura dele? E a dedicatória?

- Pois é, compadre. Vi o Papa. Só me lembrei de você. Falei de sua família, de seu trabalho, da admiração que você tem por Sua Santidade. E ele me olhava com aquele olhar de santo. Quando ia pedir a assinatura dele na foto, ele olhou para minha cabeça exatamente no momento em que me curvei para beijar o anel e, compadre, me deixou sem ação. Pois me perguntou muito contrariado:

- Senhor deputado, que barbeirinho filho de uma figa fez esse estrago em sua cabeça?

- Você há de compreender, não tive nenhuma condição de fazer o pedido. Não queria comprometer o compadre. Desta vez, olhe bem, compadre, muito cuidado no corte, viu?

Brasil na folia

O carnaval é uma festa esticada no Brasil. Pelo menos, o espírito carnavalesco está na índole nacional. Faz-se presente na antecipação da folia e na continuidade após a quarta-feira de cinzas. Tem muita gente que emenda os feriados, esticando folga e folguedos até o final da semana carnavalesca. Mesmo assim, o nível político ganha certa musculatura com a chama acesa dos grupos que maquinam entendimentos sobre candidatos e seus vices. Quem será o quê? Esse é o eixo das conversas. Inclusive no carnaval.

São Paulo de momo

Sem querer puxar a sardinha para a metrópole, São Paulo ganha volume no ranking carnavalesco. Blocos já estão nas ruas. SP já não é o túmulo do samba, como se dizia. Nesses dias pré-folia, a região do Ibirapuera junta multidões. Outras regiões entram na algazarra. O carnaval de rua está animado. Sob o som, aqui e ali, de refrãos e slogans contra e a favor dos principais protagonistas da política. Para não perder a tradição.

Bruno, cauteloso

Quem está sob cautela é o prefeito Bruno Covas. Subiu em um palco para falar a 500 convidados, sem ninguém ao lado. Precaução. Evita contaminação. Está com as reservas baixas por causa do tratamento do câncer. Mas conversa em particular. A última conversa foi com o apresentador Datena, que está conversando com gente de muitos partidos. A mosca azul está baixando na cabeça de midiáticos. Luciano Huck, então, é um todo ouvidos. Conversa muito.

Bolsonaro e suas bananas

Bolsonaro não tem jeito, pelo menos no que diz respeito à relação com a imprensa. Manda banana para os jornalistas naquele gesto que, antigamente, era desrespeitoso. E ainda é. Mas a galera está se acostumando. Faz parte da índole. E se houver alguma resposta de algum repórter mais desembestado? O que poderá ocorrer? Nesse caso, o ditado "olho por olho, dente por dente" não será aceito. O "pobre" do mal-educado deverá ser proibido de frequentar os minicomícios diários do presidente.

O Brasil sob nuvens

Não dá para fazer grandes projeções sobre o país. Nunca os horizontes foram tão fechados. Nuvens grossas impedem visão de enxergar distâncias maiores. E nem mesmo as curtas. Um maluco - com ideias estapafúrdias - pode se eleger prefeito ou, mais adiante, deputado. A campanha municipal será um oceano de surpresas. Daqui a pouco a direita pode tomar o lugar da esquerda em algumas matérias e vice-versa. Este analista confessa que nunca viu horizontes tão obnubilados.

Zema

Romeu Zema, o governador de MG, o maior ícone do Novo, partido em crescimento, deu um big aumento aos policiais militares. Imaginem a confusão. As pedrinhas do dominó começam a cair em muitos Estados, onde as polícias querem o mesmo aumento - mais de 40% - concedido por Zema. MG é um Estado-síntese do Brasil.

Perfil ideal

Pergunta recorrente a este consultor. Qual o perfil ideal para ser candidato este ano? Na ponta da língua:

- símbolo da renovação

- vida bem-sucedida no campo profissional

- passado limpo, vida decente

- boa expressão - capacidade de comunicação

- eficiente articulação

- apresentação de propostas que entrem na cachola do eleitor

- condições para fazer uma boa campanha

Cabral na real

Sérgio Cabral teve aprovada sua delação premiada à PF. E na maior ligeireza "entregou" a mulher Adriana Ancelmo, dizendo que ela sabia de todas as falcatruas que cometia. "O homem é o lobo do homem", já ensinava Thomas Hobbes, o autor do clássico Leviatã. A frase original, traduzida para o latim como "homo homini lupus", pertence ao dramaturgo romano Plautus (254-184 a.C.). O homem é a ameaça contra a própria espécie.

O continuísta

Candidato à reeleição na prefeitura, máquina a serviço da candidatura, cabos eleitorais multiplicados, o continuísta tem grandes vantagens sobre outros. Principalmente se construiu forte identidade junto à comunidade. Pontos fortes: ações e obras a mostrar. Pontos fracos: mesmice, esgotamento do perfil e eventuais denúncias de corrupção/nepotismo, etc.

O oposicionista

Deve encarnar situação de mudança, troca de peças velhas na máquina administrativa. Para ter sucesso, precisa captar o espírito da comunidade, auscultar demandas, mostrar-se ao eleitor, ganhar confiança. Pontos fortes: alternativa à velha ordem; encarnação do espírito do novo. Se for um perfil já conhecido, impregná-lo com o verniz da renovação. Pontos fracos: pequena visibilidade (hoje, pode usar bem as redes sociais); estruturas de apoio mais tênues.

A terceira via

O candidato da terceira via apresenta-se como perfil para quebrar a polarização entre situação e oposição. Para angariar apoio de todos os lados, carece organizar um discurso moderado, ouvindo todos os segmentos, buscando uma linha intermediária. Demonstrar que tem melhor programa do que os dois candidatos. Pontos fortes: bom-senso, alternativa à polarização acirrada entre grupos, inovação. Pontos fracos: falta de apoios das estruturas.

Disfarce

O ministro Abraham Weintraub, da Educação, entra na história como o maior trapalhão da Pasta em todos os tempos. Seus erros de português ganharam manchetes. Suas provocações caíram no vazio. Continuará ministro, garante Bolsonaro. Pois bem, ontem, o ministro produziu mais uma de suas aberrações. Desta feita, uma mensagem de Twitter com erros de português seguidos. Claro, foi proposital. Mas o recurso é infantil. Quis tirar sarro da mídia que o critica pelos erros. Mas o recurso exibe o disfarce. Quis dizer, estou errando de propósito para vocês se divertirem. Ninguém engoliu a manobra. O ministro contribui para manchar a imagem do governo.

Humanas em ascensão

Nos últimos tempos, o Brasil passou a ser passado a limpo nas conversas, palestras e interlocuções. Quem se beneficia com isso é a área de Ciências Humanas. Política é discutida ao lado de comportamentos, gestos, atitudes. Claro, economia tem sempre seu lugar de destaque. Uma observação: a área de Filosofia ganhou notas mais elevadas no ENEM. Mais procura, mais gente engajada no debate. PS: os filósofos estão em destaque. Cito três: Leandro Karnal, Luiz Felipe Pondé e Mário Sérgio Cortella.

Califon em Pau dos Ferros

Aliás, esse último amigo, Cortella, me conta uma boa recordação. Nos tempos do Paulo Freire, foi até Pau dos Ferros, onde aprendeu que sutiã ali é chamado de califon. Quando soube que nasci numa cidadezinha da Tromba do Elefante (Luis Gomes), me contou a história do califon. Para quem não sabe, o RN tem o formato de um elefante. Nasci na ponta da tromba, na serra que faz muito frio no mês de julho.

Falsidades

Nem bem o general Braga Netto toma posse na Casa Civil e os desembestados radicais já enchem as redes sociais com fake news. Um vídeo mostra o general falando em linguagem que, na visão de um colega dele, não corresponde ao "linguajar castrense". Na falsidade, tentam colocar o general Braga contra os 20 governadores que assinaram uma carta discordando do presidente Jair Bolsonaro.

Mais um insulto

O presidente continua a expressar linguagem incongruente com o alto cargo que desempenha. Ontem, voltou a cometer o gesto deselegante de insultar a repórter da Folha de S.Paulo, Patrícia Campos Mello. Manchete do jornal: "Bolsonaro insulta repórter da Folha com insinuação sexual". Nunca se viu tão baixo nível.

O primeiro manual

O escopo do marketing político, ao longo da história, tem se mantido praticamente o mesmo. O que muda são as abordagens e as ferramentas tecnológicas. Atentem. No ano 64 a.C., Quinto Túlio Cícero enviava ao irmão, o grande tribuno e advogado Cícero - protagonista de episódios marcantes por ocasião do fim do sistema republicano e implantação do Império Romano - uma carta que considero o primeiro manual organizado de marketing eleitoral da história.

Três coisas

Naquele Manual, Quinto Túlio orientava Cícero sobre comportamentos, atitudes, ações e programa de governo para o consulado, que era o pleito disputado, sem esquecer as abordagens psicológicas do discurso, como a lembrança sobre a esperança, este valor tão "marketizado" no Brasil e que se constituiu eixo central do discurso da era lulista. Dizia ele: "Três são as coisas que levam os homens a se sentir cativados e dispostos a dar o apoio eleitoral: um favor, uma esperança ou a simpatia espontânea".