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Porandubas nº 142

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Atualizado às 07:40

NINGUÉM SEGURA ESTE PAÍS

Do alto de sua glória, incensado pela aprovação de cerca de 50% do eleitorado ao terceiro mandato e envaidecido pela posição de respeito alcançado pelo Brasil com a obtenção do "investment grade", o presidente Luiz Inácio proclama : "Ninguém segura este país". E que, por sinal, era o bordão usado pelo governo militar por ocasião dos anos de chumbo. Trata-se de um preito de reconhecimento ou simplesmente mera coincidência ?

INFRA-ESTRUTURA SEGURA, SIM !

Se formos examinar alguns nichos (leia-se nichos e não lixos) da infra-estrutura técnica do Brasil, chegaremos rapidamente à conclusão de que alguns deles seguram, sim, este país. Os portos brasileiros deixam a desejar. Sua estrutura está completamente defasada. O sistema viário também é precário, prejudicando bastante a operação logística dos transportes. A malha aérea, como se sabe, retrocedeu no tempo. O sistema ferroviário é coisa do século XIX. O saneamento básico é uma vergonha. A burocracia atrapalha. O cipoal normativo maltrata o empreendedorismo. O transporte de massa engatinha. A segurança jurídica é frouxa. As agências reguladoras pouco regulam. Se isso não significa entulho que atrapalha a caminhada, estamos, sim, quase entrando no paraíso.

DENÚNCIA NA DERSA

A Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF), que tem sido responsável pela descoberta de situações de grande teor criminoso, particularmente na seara de órgãos públicos, apura denúncia contra uma empresa de recursos humanos que presta serviços à DERSA. Tal empresa teria uma dívida ativa de cerca de R$ 30 milhões com o INSS. Já a DERSA, em decorrência de responsabilidade subsidiária, teria de desembolsar R$ 40 milhões para arcar com centenas de ações trabalhistas. A empresa prestadora teria, ainda, transferido seu patrimônio para outra organização, pertencente ao mesmo proprietário.

NATALINO DE UMA CORDA SÓ

Esse professor Antônio Natalino Manta Dantas, ao que parece, tem um parafuso a menos ou, se preferirem, um déficit de DNA. Ninguém sabe o que deu na "telha do homem" para ele proferir frase tão devastadora contra os baianos : "O baiano toca berimbau porque só tem uma nota; se tivesse duas, não conseguiria". Diante da chuva de protestos, o professor, de sobrenome Manta (ou mais apropriadamente Anta), renunciou ao cargo, o de coordenador de um curso de Medicina. Conclusão : ele, sim, parece ser o deficiente mental. O que diria o grande Rui Barbosa, o mestre dos mestres, para este arremedo de professor ?

ÍNDIOS BALEADOS

Dez índios foram baleados na reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. Esse é o balanço do início de uma baita confusão naquele Estado do extremo norte do país, caso o Supremo Tribunal Federal não se pronuncie no mérito sobre a questão da demarcação contínua das terras. Pelo que se induz e pela leitura das palavras cheias de equilíbrio do novo ministro do Supremo, ministro Gilmar Mendes, a decisão tenderá a acolher a idéia de criação de ilhas dentro da reserva, contemplando, assim, a cultura do arroz e a base econômica do Estado.

O OUTRO LADO

Já o ministro-chefe da Secretaria de Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, é taxativo sobre o papel do STF na questão : "o Judiciário é hoje o Poder republicano mais defasado do país".

UM BOM PARLAMENTAR

Esta Coluna presta sua homenagem ao deputado Ricardo Izar, reconhecendo seu mérito e esforço pela dignidade da ação parlamentar. Cumpriu de maneira elevada sua missão à frente do Conselho de Ética da Câmara. Que Deus o acolha.

O COMPROMISSO DE MEDEIROS

O secretário de Relações do Trabalho, do Ministério do Trabalho e Emprego, Luiz Antonio de Medeiros, em contato com esta coluna, prometeu acelerar o projeto de lei para regularizar a Terceirização no Brasil. Já colheu opiniões do setor, das Centrais Sindicais e de Federações e entidades ligadas à indústria e ao setor financeiro.

A MORALIDADE DE AYRES BRITTO

O ministro Ayres Britto chega à presidência do TSE com o compromisso de continuar a luta do Tribunal para moralizar a arena eleitoral. Apesar de a lei complementar em vigor só tornar inelegível, em matéria penal, réu com sentença transitada em julgado, o novo presidente do Tribunal Eleitoral pretende colocar uma lupa em candidatos de passado condenável. Ele parte do princípio de que a Constituição Federal expressa o ideário da moralidade, quando, no inciso 9º do art. 14, é incisivo, ao destacar "a probidade administrativa, a moralidade para o exercício do mandato, considerada vida pregressa do candidato".

ALSTOM SOB SUSPEITA

Há tempos, esta Coluna levantou a bola no campo de uma licitação para substituição da sinalização do Metrô da capital paulista por sistema de controle de trens por telecomunicações. A vencedora não teria condições de implantar o sistema de sinalização equivalente ao licitado. O diretor de Assuntos Corporativos da Companhia, Sérgio Avelleda, alertado sobre a questão, prometeu examinar eventuais denúncias de favorecimento e, se fosse o caso, a direção do Metrô verificaria dados e informações apresentadas pela empresa vencedora, no caso, a Alstom.

POIS BEM...

Ontem, 6 de maio, o prestigiado jornal do mundo financeiro internacional, The Wall Street Journal Américas, deu em manchete de quatro colunas : "Alstom é investigada por suspeitas de suborno no Brasil e outros países". A extensa matéria, publicada na página B9 de o Valor, diz que "as autoridades suíças já pediram formalmente a ajuda das polícias brasileira e francesa" para apurar comissões que teriam sido pagas pela empresa para ganhar contratos, usando recursos de um "caisse noire", o caixa dois.

O CASO DO METRÔ

A lista de nomes envolvidos "inclui um brasileiro que teria negociado com representantes da Alstom". E que, segundo o jornal, se dizia "um intermediário de um político". O documento da Alstom que descreveu a reunião à qual teve acesso o Wall Street Journal diz : "Ele teria oferecido apoio político para o projeto no metrô paulista, em troca de comissão de 7,5%". A matéria do poderoso jornal do mundo das finanças é mais uma bomba que paira sobre o espaço das licitações de obras públicas no Brasil.

ALCKMIN E O TEMPO

Geraldo Alckmin conseguiu a indicação para ser o candidato dos tucanos à prefeitura paulistana. Terá de correr para tirar o atraso. Os tucanos estão divididos. Os secretários de Gilberto Kassab, indicados pelo PSDB, deverão continuar em seus cargos, fazendo, claro, a campanha do atual prefeito. A questão, hoje, é esta : quem irá ao segundo turno para disputar com Marta Suplicy ? Este colunista não tem certeza de nada. Mas acha que a petista tem, hoje, entre 70% a 80% de chances para ir ao segundo turno. Não arrisca, porém, apontar seu adversário.

SERRA LONGE DA QUERELA

E o governador José Serra, hein ? Escondeu-se no Piauí, logo no dia da querela entre tucanos, quando Geraldo Alckmin foi escolhido candidato do partido. Serra manobrará nos bastidores para derrotar Geraldo. Não lhe interessa a vitória do ex-governador paulista, por identificar neste um bastião avançado do governador mineiro, Aécio Neves, que disputará com José Serra o posto de candidato dos tucanos à presidência da República em 2010.

IDENTIDADE E IMAGEM

Um dos principais desafios dos políticos é estabelecer uma forte identidade e projetar uma imagem que lhes corresponda. A imagem não deve estar muito afastada da identidade. A imagem é a projeção da identidade. Quando a imagem está bem colada à identidade positiva, gera confiança e credibilidade. Quando está descolada, promove desconfiança, dúvidas e antipatia. Para melhor compreensão, imaginemos o Sol do meio-dia incidindo sobre a cabeça de uma pessoa. A sombra desaparece. À medida que o Sol vai baixando no poente, a sombra (a imagem) se estende para além do corpo, esgarçando e agigantando as proporções da identidade.

EXEMPLOS

Exemplos de combinação perfeita entre identidade e imagem : Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros, Leonel Brizola, John Kennedy, Madre Tereza de Calcutá, João Paulo II e, seguramente, Jesus Cristo. Exemplos de combinação inadequada : todos os candidatos exageradamente maquiados e artificializados pelos programas eleitorais.

CONSELHO AO MINISTRO AYRES BRITTO

Esta Coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos aos políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao Presidente do PT, Ricardo Berzoini. Hoje, volta sua atenção ao novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Carlos Ayres Britto :

1. Desfralde por inteiro a bandeira de moralização no campo eleitoral.

2. Vossa Excelência tem dito que o espírito de lei é o que interessa. E o espírito da lei é o de que a vida pregressa de um candidato deve ser também apreciada nas instâncias dos Tribunais.

3. O Brasil confia na redução da ilicitude eleitoral com o TSE sob o seu comando.

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