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Porandubas nº 197

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Atualizado às 08:25

O milagre

José Maria Alkmin, a raposa mineira, mestre da arte política, chegava da Europa com cinco garrafas enroladas na pasta. A Alfândega quis saber o que era.

- Água milagrosa de Fátima.

- Mas tudo isso?

- Lá em Minas o pessoal acredita muito nos milagres da água de Fátima. Não dá para quem quer.

- O senhor pode desenrolar?

- Pois não, meu filho.

- Mas, deputado, isso é uísque.

- Ué, não é que já se deu o milagre?

O calvário sarneyco

O calvário de Sarney terá continuidade. A decisão de continuar no comando do Senado, aliás, um legítimo direito, não redundará em sustação da onda negativa que o afoga. Sarney terá maioria no Conselho de Ética, sendo previsível que os recursos contra ele sejam jogados no arquivo morto. Mas a fumaça espalha-se pelo ambiente social. Um comandante frágil perde força. Sob o risco de fazer naufragar o navio que comanda. O Senado é, hoje, um espaço contaminado. As teses a respeito do fechamento da Câmara Alta ganham aplausos. É uma pena.

Collor apoplético

Que Collor sempre transmitiu uma imagem atlética, isso todos sabem, desde os tempos em que fazia cooper, como presidente, arrebanhando um grupo de jornalistas. Na segunda à tarde, sua imagem era de um apoplético. O senador quase estourou. Feições crispadas, voz embargada, olhos querendo pular da órbita. Mais um pouco e o ex-presidente partiria para o desforço físico. Este escriba confessa : nunca viu uma expressão tão indignada no ambiente parlamentar. E tudo por conta de uma historinha.

A razão collorida

O motivo para o ataque furibundo foi uma lembrancinha feita pelo senador Pedro Simon : Renan Calheiros teria ido a Pequim, na China, naquela famosa viagem feita por Collor, quando teria decidido, no jantar em que comeram pato laqueado, ser candidato à presidência da República. Simon arrematou falando das traições de Renan, que rebateu com vigor, lembrando que há 35 anos, o senador gaúcho se compraz em falar mal de Sarney. Collor aproveitou a deixa e atirou verbos contra Pedro, o gaúcho que, de repente, ficou amedrontado, após esta exacerbação : "engula, digira as palavras, fazendo delas o que bem lhe aprouver".

Recuo simônico

Pedro Simon, sob o choque da contundência collorida, recuou taticamente. Ficou praticamente isolado, porque, mesmo os apartes em seu favor, como os dos senadores Jarbas Vasconcellos e Cristovam Buarque, eram melodicamente mais suaves que a dureza da força bruta do esquadro sarneysista.

Desmentido

Novidade na parada ? Collor nega o famoso jantar, em Pequim, onde os comensais teriam brindado com bastante saquê a decisão de anunciar sua candidatura à presidência da República. Garantiu que a candidatura foi sugerida por Marcos Coimbra, dono do instituto de pesquisas Vox Populi, amparado em pesquisa eleitoral. A pesquisa sinalizaria um espaço ponderável para uma candidatura alternativa.

A liberdade de fumar

A lei anti-fumo, que começa a vigorar em São Paulo, nos próximos dias, causa polêmica. Este escriba, mesmo não sendo fumante, reconhece o direito de fumantes usarem e abusarem do vício em lugares mais abertos de restaurantes, bares etc. Felizmente, o bom senso começa a aparecer com a liberação do cigarro nos palcos. O cigarro e o charuto foram parceiros importantes de atores e atrizes em momentos singulares dos palcos cinematográficos. Sem eles, algumas cenas não teriam tanto impacto. Os climas esfumaçados nas películas em preto e branco constituem uma cena à parte.

Mototáxis na emboscada

A lei dos mototáxis, sancionada por Lula, poderia ser também chamada de "lei da atração fatal". Morre uma quantidade de motoqueiros por mês em São Paulo. Imaginem, agora, um mototaxista, desses que fazem questão de demonstrar suas habilidades entre as filas de carros na Avenida 23 de Maio, levando na garupa um sujeito mais apressadinho. As mortes no trânsito paulistano serão multiplicadas.

Kassab é contra

Felizmente, a prefeitura de São Paulo é contra a aplicação dessa lei. Um projeto de lei para regulamentar o serviço até foi protocolado na Câmara de Vereadores pelo vereador Ricardo Teixeira (PSDB). Já o vereador Waldih Mutran é autor da lei, de 1998, que proíbe mototáxi na capital. Como a lei federal deixa para as Prefeituras a decisão de regulamentar o serviço, em São Paulo, a boa notícia é : o prefeito Kassab descarta sua regulamentação. Parabéns.

Palanque nordestino

José Serra, o governador noctívago, até que enfim abriu os olhos para a realidade : decidiu descobrir o Nordeste. Depois de ir a Exu, onde comeu bode assado e farofa de bolão, em uma visita-homenagem à memória de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, irá a algumas capitais. Dilma frequenta a região, que tem cerca de 30% dos votos do país, praticamente todas as semanas. Serra decidiu fazer o périplo após reunião de trabalho com Sérgio Guerra, presidente do PSDB, Rodrigo Maia, presidente do DEM, e José Agripino, líder do DEM.

Luzes da ribalta

"O ator que se coloca sob as luzes dos refletores acentua a sua presença. Todos os olhos estão sobre ele. Só há espaço para um ator de cada vez sob esse estreito raio luminoso; faça o que for necessário para ficar em foco. Mova-se com gestos tão amplos, divertidos e escandalosos que a luz continue sobre você, enquanto os outros atores ficam na sombra". (Robert Greene)

Atividades meio e fim

O projeto que regulamenta a Terceirização e atualiza a regulamentação do Trabalho Temporário, o PL 4.302/98, encontra dificuldades para aprovação na Câmara. Veio do Senado, depois de passar pela Câmara, com a emenda preconizando a responsabilidade solidária. A CNI apresenta duas emendas ao Projeto. A primeira: "art 5º-A - Contratante é a pessoa física ou jurídica que celebra contrato com empresa de prestação de serviços determinados e específicos que poderá versar sobre o desenvolvimento de suas atividades-meio e de suas atividades-fim".

Responsabilidade sudsidiária

A segunda emenda : "Art 5º A - § 5º - A empresa contratante é subsidiariamente responsável pelas obrigações trabalhistas referentes ao período em que ocorrer a prestação de serviços, e o recolhimento das contribuições previdenciárias observará o disposto no art. 31 da lei 8.212, de 24 de julho de 1991".

Julgamento

"Quando você procura impressionar as pessoas com palavras, quanto mais você diz, mais comum aparenta ser, e menos controle da situação parece ter. Mesmo que você esteja dizendo algo banal, vai parecer original se você o tornar vago, amplo e enigmático. Pessoas poderosas impressionam e intimidam falando pouco. Quanto mais você fala, maior a probabilidade de dizer uma besteira." (Robert Greene)

Articulação

Há dúvidas sobre as duas emendas. Esta semana, o secretário da Câmara, Mozart Vianna, vai dizer se é possível a votação do PL 4302/98 com estas emendas. A questão é : acréscimo ao conjunto aprovado pelo Senado será considerado impossível. Não se pode mudar o que foi aprovado na Câmara Alta. A não ser que os dispositivos aprovados tenham sido, preliminarmente, endossados pela Câmara Federal. Michel Temer, o presidente da Casa, fará uma reunião, ainda esta semana, em busca de um consenso.

Maior queda

A manchete não deixa dúvidas : Indústria sofre a maior queda em 34 anos. A queda foi de 13,4% no primeiro trimestre deste ano, pior resultado desde 1975. Outro lado da medalha : muitas trombetas cantam loas ao Brasil-Maravilha. Onde está a verdade ? Onde estão os furos ? Ou se trata apenas de uma questão de pontos de vista, sob ângulos diferentes ?

Vaccarezza

O deputado Cândido Vaccarezza está com um pé no Palácio do Planalto. É o mais forte candidato a substituto do ministro José Múcio na Pasta de Relações Institucionais. Vaccarezza é um perfil suave. Conversa com todos os grupos. Gosta de aparar as arestas.

Batalha das 40 horas

A próxima movimentação dos trabalhadores nos corredores congressuais será pela redução da jornada de trabalho. As Centrais Sindicais prometem muita fogueira em torno da jornada de 40 horas. O desemprego será o pano de fundo. O ministro Lupi estará ao lado dos bumbos. Esse sorridente ministro não se comove com o choro dos setores produtivos.

PDT vai de Ciro

O PDT paulista, que tem chancela de Paulinho da Força, luta pela candidatura Ciro Gomes ao governo de São Paulo. Ciro, conhecido pela contundência com que esbraveja contra José Serra, seria o candidato de Lula. Nos bastidores, a conversa é outra : Ciro seria boi de piranha. O candidato ao governo, pelo PT, se chama Antônio Palocci, que está perto de conseguir a absolvição pelo STF. Palocci é o nome mais palatável entre as celebridades petistas. Simpático ao empresariado. Mas e os votos ?

Suína no Nordeste

A gripe suína chega ao Nordeste. Junta a fome com a vontade de comer. As projeções apontam para a expansão da pandemia na região. Mas as autoridades dizem que tudo está sob controle.

PAC empacado

De 11.990 obras do PAC, apenas 7% foram concluídas. Dinheiro ? Há bastante. Mas a gestão sofre de congestão. Dor de cabeça para dona Dilma Rousseff, que soa para os nordestinos como dona "Dilma do Chefe". No Nordeste, Lula tem a seu favor 80% do eleitorado.

O caçador

"Ele não monta para a raposa a mesma armadilha que usa para pegar o lobo. Ele não coloca a isca onde ninguém vai morder. Ele conhece bem a sua presa, seus hábitos e esconderijos, e caça de acordo com esses conhecimentos". (Robert Greene)

O protogênico

Protógenes Queiroz, o delegado polêmico, tem dúvidas sobre seu futuro político. Deputado ? Senador ? Teria sido mordido pela mosca azul ? Pois bem, pesquisa de um Instituto teria lhe dado vantagem para o Senado, em São Paulo, em 2010. Este escriba tem dúvidas sobre essa viabilidade.

Conselho aos senadores

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao senador José Sarney. Hoje, volta sua atenção aos senadores :

1. Procurem equacionar o imbróglio que toma conta do Senado. A protelação do affaire Sarney afeta ao conjunto da Casa.

2. Evitem o palavrório chulo, que rebaixa ainda mais o perfil dos representantes.

3. Ouçam o eco das ruas. Façam funcionar o regimento interno. Votem de acordo com suas consciências. E se submetam, depois, ao crivo da opinião pública.

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