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O advogado robô

A precarização da advocacia já vem fazendo de parte considerável dos advogados trabalhadores autômatos, que agem por repetição, segundo o grau de similaridade das ações judiciais-clone. São trabalhadores que empenham proporcionalmente mais suor do que talento. Tal como nas fábricas de parafuso.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Atualizado em 15 de março de 2011 16:36

O advogado robô

Mário Gonçalves Júnior*

Eis que abro o encarte em português do The New York Times nesta segunda-feira da Folha de S.Paulo (14/3/2011) e dou de cara com um artigo em primeira página, do Sr. John Markoff, "trabalho para um advogado robô", onde conta que um software de "e-descoberta" é capaz de analisar documentos em uma fração do tempo por uma fração do custo. "Alguns programas vão além da localização de documentos com termos relevantes a velocidades cibernéticas. Eles conseguem extrair conceitos relevantes mesmo na ausência de termos específicos e deduzem padrões de comportamento que poderiam escapar aos advogados", diz o articulista.

O fato é que a automação e a computação estão se insinuando fortemente, não é de hoje, também sobre o trabalho intelectual. Já se foi o tempo da máquina a vapor, que revolucionou a indústria. Hoje o trabalho intelectual mergulhou no processo industrial. David Autor, professor de economia no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) diz que a economia está sendo "esvaziada". Novos empregos estão aparecendo na base da pirâmide econômica, os empregos no meio estão sendo perdidos para a automação e a exportação de vagas, e, agora, o crescimento das vagas no topo está se desacelerando devido à automação.

A precarização da advocacia já vem fazendo de parte considerável dos advogados trabalhadores autômatos, que agem por repetição, segundo o grau de similaridade das ações judiciais-clone. São trabalhadores que empenham proporcionalmente mais suor do que talento. Tal como nas fábricas de parafuso.

Grandes empresas cometem erros que afetam muitos. Desses erros corporativos nascem centenas, milhares de credores nas mesmíssimas situações, ou em situações muito semelhantes. Isto vem refletindo na advocacia e já se costuma dizer que "quem defendeu uma dessas causas, já defendeu todas". Os computadores replicam os conteúdos e as copiadoras e impressoras replicam os papéis. E as faculdades replicam os advogados.

Tom Mitchell, diretor do departamento de aprendizado com máquinas na Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburg, arrisca que "o impacto econômico será enorme" porque "estamos no início de um período de dez anos em que transitaremos dos computadores que não conseguem entender a linguagem para um ponto em que os computadores conseguirão entender bastante coisa da linguagem".

Era o que faltava para fadar os últimos bons advogados no mesmo balaio de imbecis da maioria. Empurrados ladeira abaixo pela kamikaze invenção do "contencioso de massa" (1 processo = 1 pastel), a tecnologia de informação vai invadindo praias antes seguras. Para quem explora a mão de obra barata da advocacia, é onda de "pegar jacaré". Para quem se sustenta do próprio intelecto, tsunami.

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*Advogado do escritório Rodrigues Jr. Advogados

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