MIGALHAS DE PESO

Livros

Em nostalgia, o cronista fala sobre o valor dos livros e a disputa de mercado em detrimento de bons autores nacionais.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Atualizado em 13 de dezembro de 2011 08:23

Edson Vidigal

Livros

Você separa os livros que já leu os quais tendo gostado tanto quer passá-los adiante, presentear a algum amigo, doar a alguma biblioteca.

Livro no Brasil, além de ser ainda um produto muito caro, na comparação com outros países, é produto de alta rotatividade.

Você se agrada de algum titulo hoje numa livraria, mas lembra que tem uma fila em casa esperando leitura e resolve então deixar para comprar depois.

Um dia quando você volta o livro desejado foi tirado da vitrine, passou à prateleira e se você demora logo mais nem na prateleira vai estar.

Eu não sabia que aqueles espaços de maior visibilidade são alugados, as editoras ou os autores pagam para que seus livros sejam vistos. Se não atraem compradores vão sendo tirados das exposições até que não constem mais nem nos catálogos.

Lembro de um dos primeiros livros do Paulo Coelho, O Alquimista, se bem me lembro, sendo vendido nas bancas em São Paulo numa edição de capa preta e muito mequetrefe. Não desistiu e teve a sorte de ser traduzido lá fora.

E assim só depois que foi sucesso de vendas lá fora começou a ser conhecido no Brasil. Hoje não há uma livraria no mundo sem a coleção dos livros do Paulo Coelho em lugar visível e vendendo muito. Tempos se passaram para que fosse levado a sério aqui no Brasil.

O mesmo se deu, e ainda se dá, com muitos dos nossos músicos. A bossa nova fez sucesso primeiro nos Estados Unidos, foi muito desdenhada no Brasil, até que com a ida de Tom Jobim e João Gilberto para Nova Iorque onde moraram por um bom tempo, começasse a ser mais assimilada por estas bandas.

Quando tocou o telefone num famoso bar de Ipanema, no qual Tom Jobim dividia como sócio com Carlinhos de Oliveira e Vinicius uma garrafa de uísque cujo conteúdo eles sorviam gota a gota dia a dia, e a voz do outro lado falou que era o Sinatra de Nova Iorque querendo falar com o Tom, todos daquela hora caíram na gargalhada e o próprio Tom, meio encabulado, achou que era trote.

E não era trote coisa nenhuma. Era o Sinatra mesmo, o Frank Sinatra, querendo gravar um disco só de bossa nova com o Tom Jobim.

Hoje eu ligo a TV e até o Mike Tyson aparece cantando a Garota de Ipanema, acompanhado ao piano por um dos netos do Tom Jobim. Sintonizo no computador uma rádio nos Estados Unidos dessas que só tocam jazz e volta e meia ouço bossa nova brasileira.

Quanto ao livro não tem sido fácil para os nossos autores. Nem aqui no Brasil e fora daqui. Como disse, o livro chega à ponta com preço muito alto para o poder aquisitivo do brasileiro alfabetizado. É artigo de luxo.

Os autores estrangeiros são traduzidos aos montes e exibidos nas vitrines e prateleiras das livrarias das grandes cidades, e essas livrarias não são muitas porque vender livros no Brasil, só livros, ainda dá prejuízos.

Temos centenas de milhares de talentosos autores no anonimato, escrevendo enredos para si mesmos. E se quiserem ver seu livro publicado, tem que pagar à editora. E assim as coisas vão ficando danadas e para que minha alma não sucumba na vergonha de ver os livros que eu comprei e li no sebo das calçadas, prefiro ir logo os presenteando aos amigos.

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* Edson Vidigal é ex-presidente do STJ e professor de Direito na UFMA

 

 

 

 

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