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Horizontes

Não muito crente em previsões de fim do mundo para os próximos anos, meses, dias, segundos, o cronista dá boas-vindas a 2013 e defende que o melhor mesmo é sempre confiar na esperança.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Atualizado em 27 de dezembro de 2012 11:52

Senhor de tudo, em especial da razão, o tempo atravessa insone dias e noites e nós querendo demarcá-lo inventamos os calendários e os relógios, os meses, os anos e as horas, mas não adianta muito, ou nada.

A cada dúzia de meses, a que chamamos ano, bimbalhamos esperanças como se elas fossem os sinos de uma torre única, tão enorme quanto inalcançável.

Ainda bem que a esperança, e cada um de nós a mantém bem guardada no recôndito da imaginação, ainda bem que a esperança, mesmo sendo a última que morre, quase nunca morre nos nossos sonhos.

Danamo-nos a idealizar um ano novo com tudo, tudo, muito tudo, só de bom. Não nos lembramos de que a vida nos leva numa jornada em que somos levados a conhecer também, e bastante, o que há de ruim.

Viver é um aprendizado durante. Somam-se mais fracassos do que sucessos. Somam-se mais derrotas do que vitórias. Daí a importância, mais que isso, a necessidade da persistência.

Não desistir renova o oxigênio para o existir, o sentir que vale a pena seguir. A sabedoria está em suportar o sofrer sem arrefecer o amor. Nada de endurecer-se.

O poeta escreveu que um dia morrerá a língua em que foram escritos os versos e depois morrerá o planeta girante em que tudo isso se deu. Será que alguém acreditou mesmo no último fim do mundo?

Saramago também pensou nisso - um dia a terra desaparece, o sol se apaga, o sistema solar acaba e o universo nem sequer se dará conta de que nós existimos. O universo não saberá que Homero escreveu a Ilíada.

Talvez porque já estou bem grandinho para ir acreditando em falsas utopias, quanto mais em data marcada para o fim do mundo.

Recordo que nem mesmo quando era criança, e a cidade inteira, acionada por um boato, viajou por um clima de fim de mundo, e eu nem assim, vendo aquele desespero todo, me abalei.

Todo mundo fala do fim do mundo com uma incerteza óbvia. Diz um dia e pronto. Eu tenho para mim que o mundo não acabará por inteiro.

Será muito injusto que as pessoas do mal, os déspotas, os oligarcas, os arrogantes, os larápios da boa fé popular, enfim essa gentalha toda que só quer se dar bem, tenha o mesmo fim, exatamente um fim igual ao das pessoas de bem que, como nós, até se mortificam segurando o bom exemplo, praticando a decência que defendem, vivendo do que tiram do trabalho honesto. Seria muito injusto catapultar todos, os do mal e os do bem, ao mesmo tempo num caos linear e abrangente.

A melhor hipótese, então, seria a do Juízo Final.

Mas um novo ano novo está começando. E começo a rever, voltando, aquelas pistolas de remarcação de preços nos supermercados.

Falaram com boa antecedência que a gasolina iria subir de preço e foi o bastante. Aquele dragão da inflação que se fingia de morto já começa a se contorcer.

Melhor confiar na esperança. Olá esperança!

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*Edson Vidigal é ex-presidente do STJ e professor de Direito na UFMA






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