MIGALHAS DE PESO

  1. Home >
  2. De Peso >
  3. Lucro fácil do aço

Lucro fácil do aço

O advogado analisa a indústria brasileira do aço e a demanda por proteção governamental sem inibições.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Atualizado em 25 de fevereiro de 2013 13:38

Grandes usinas siderúrgicas alegam serem os estandartes da industrialização nacional, demandam proteção pública ilimitada para garantir seus negócios e desejam impor sua vontade a diversos outros setores da economia. Recentemente temos vistos vários atos que refletem a desinibição com a qual as indústrias de aço recorrem às benesses do governo federal.

De um lado alegam as indústrias do aço que a concorrência internacional é arisca, que o preço do aço importado chega ao Brasil muito baixo e que com o objetivo de se proteger a indústria nacional deve-se tributar a importação dos vergalhões de aço vindo do exterior, que são usados pela indústria da construção civil. Com o mesmo argumento contrário à importação de aço, as usinas alegam que as montadoras de automóveis nacionais tendem a usar aço importado em sua produção, e afirmam que tal prática prejudicará seus negócios no Brasil, na medida em que terão competição externa.

Em ambos os casos alega que há que se proteger a indústria nacional, os empregos, e demanda que ao aço importado sejam aplicadas barreiras tarifárias e alfandegárias (leia-se imposto de importação).

Noutra ponta a indústria do aço brasileira investe contra o setor de comércio de sucata ferrosa (principal matéria prima de seus produtos), tentando fazer com que empresas do setor sejam inibidas a exportar suas mercadorias, tendo que vendê-la somente aos grandes grupos. Tanto que solicitaram formalmente que o governo brasileiro adote medidas de restrição e taxação da exportação da sucata ferrosa brasileira. Assim, desejam fazer com que seus fornecedores lhe sejam cativos, vinculados a vender a apenas três gigantes empresariais, e impedidos de buscar o mercado internacional para suas mercadorias.

Ou seja, a indústria do aço no Brasil clama proteção governamental sem inibições. De um lado deseja que o produto de fora do país seja tributado antes de chegar ao Brasil. De outro lado deseja que a sua matéria prima nacional tenha desincentivos para sair de seu controle. Quer ganhar em uma ponta e na outra. Vale a pena inibir o florescimento de um setor para ajudar a produzir aço mais caro? Vale a pena prejudicar tais empresários para assegurar o lucro fácil, a volúpia e a megalomania do setor do aço no Brasil?

Há que se indagar aos acionistas dessas indústrias as razões pelas quais o aço brasileiro necessita de tamanha proteção governamental. Como explicar que uma siderúrgica estrangeira consiga comprar matéria prima no Brasil, transportá-la para

a Ásia, e depois de industrializá-la exportar o aço pronto ao Brasil a custos mais baixos que os produzidos localmente pela indústria nacional?

Há que se colocar na balança e discutir se as políticas públicas brasileiras em defesa do setor do aço devem ser feitas em detrimento dos demais setores. Uma análise séria indicaria que não.

__________

*André de Almeida é sócio do escritório Almeida Advogados.

__________

AUTORES MIGALHAS

Busque pelo nome ou parte do nome do autor para encontrar publicações no Portal Migalhas.

Busca