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Até quando?

Neste grande e sofrido Brasil, temos vontade de fazer aos nossos dirigentes a pergunta: "Até quando?"

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Atualizado em 1 de junho de 2016 11:33

Em nosso vestibular para ingresso na Faculdade de Direito da UFMG, em 1956, fomos submetidos a exames escritos e orais de Português, Inglês ou Francês e Latim. Assim, lemos e relemos as famosas "Catilinárias", para enfrentarmos a rígida banca examinadora.

Nessa notável coleção de discursos, destaca-se a palavra incandescente de Cícero, o grande orador romano:

"Quosque tandem abutere, Catilina, patientia nostra!". O advogado indaga veementemente do conspirador até quando, afinal, ele abusará, com seus atos de traição, da paciência do povo.

Lembrando-me desse episódio universitário, penso que, agora, neste grande e sofrido Brasil, temos vontade de fazer aos nossos dirigentes a mesma pergunta: "Até quando?"

- Até quando veremos roucas ou histéricas promessas feitas e, descaradamente, não cumpridas?

- Até quando veremos tanto desemprego e tantas portas cerradas e placas de "aluga-se" ou "vende-se" em maiúsculas?

- Até quando veremos manifestações populares encarnadas a paralisarem violentamente a vida das pessoas trabalhadoras?

- Até quando veremos em nosso país um presidencialismo monocrático a emitir decretos (ou editos monárquicos?) e a fazer operações de crédito com bancos públicos, em desobediência à lei?

- Até quando veremos um professor universitário de Direito, no exercício da Advocacia Geral da União, bancar uma defesa inepta e repetitiva, negando as acusações comprovadas de omissão e ações criminosas à luz da Lei Federal de Responsabilidade Fiscal - a LRF, em boa hora elaborada por representantes também eleitos pelo povo, como a acusada?

- Até quando veremos um Ministro-Advogado bater na mesma tecla desafinada e alegar cerceamento de defesa?

- Até quando alguém, em posição política de destaque, vai continuar falando que outros já cometeram atos semelhantes e que, por essa razão estapafúrdia, tais ações da Chefe de Estado e de Governo não são crimes?

- Até quando veremos nomeações feitas às pressas para assegurar aos nomeados(as) um "foro privilegiado"?

- Até quando veremos tantos "vira-folhas" a mudarem de partido (para que tantos partidos?) e a classificarem de golpe um processo rigoroso de impeachment, medida constitucional que já apoiaram colloridamente pintados?

- Até quando veremos uma importantíssima empresa nacional ser submetida a um endividamento gigantesco e a uma vergonha tão profunda quanto o pré-sal?

- Até quando veremos o nosso BNDES (o N é de nacional) a financiar, em política "bolivariana", empresas e governos estrangeiros, em prejuízo de nossas instituições?

- Até quando veremos um Vice-Presidente de nossa Câmara dos Deputados, no exercício interino da Presidência, baixar uma "deliberação" monocrática e "execrática" de anular(!) todos os procedimentos realizados e homologados pela própria Casa Legislativa, em exaustivas reuniões e sessões pela admissibilidade do impeachment, já também aprovado pelo Senado Federal? Oh, céus!

- Até quando veremos o salão do "niemeyriano" Palácio do Planalto ser palco oficial de comícios violentos para "convidados especiais"?

- Até quando veremos a procrastinação dolosa de uma verdadeira Reforma Política no Brasil, por meio de legislação própria?

- Até quando veremos a deslavada corrupção a ser o modus propinandi de elementos do Governo e de dirigentes de grandes empresas?

- Até quando, enfim e ao cabo, veremos a nossa paciência cidadã ser abusada por Catilinas do momento?

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*Artigo publicado no jornal Estado de Minas, Caderno Opinião, em 28 de maio de 2016.

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*Ricardo Arnaldo Malheiros Fiuza é jornalista, membro da Academia Mineira de Letras Jurídicas, professor de Teoria do Estado e editor-adjunto da Editora Del Rey.

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