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O encerramento da olimpíada

A vitória nas Olimpíadas ensinou-nos que nossa riqueza maior está no aperfeiçoamento dos esportes, na reforma da educação, e na difusão da cultura, das artes, e das práticas lúdicas, mediante as quais nos faremos respeitar como potência com flores nas mãos para seus vizinhos e não poderosos tanques e armas de fogo.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Atualizado em 23 de agosto de 2016 16:58

Foi a transfiguração do Carnaval, nossa festa mais típica e brasileira sambada internacionalmente por mais de duzentas nações presentes, uma festividade urbi et orbi, para a cidade e o mundo.

Nunca se viu nada igual. Na noite de 21 de agosto de 2016 a cidade inteira ferveu, as águas poluídas ficaram cristalinas, o crime recuou, a crise econômica e política foi exorcizada, a musculatura dos atletas transformou-os em dançarinos, exibindo-se perante o país incrédulo como triunfo daquela disciplina que sempre foi negada ao brasileiro, e o ouro chegou às mãos dos artistas do povo na promessa de dias melhores para breve.

Sim, a partir daquela noite na qual vimos dançar os jardins de Burle Marx, nosso país desprezado como fracassado, corrupto e incompetente, de repente vai acordar como potência de primeira grandeza. Não pela pujança da economia, nem pela organização e autoridade do Estado ou pela força das armas, instrumentos do strong power, o poder forte, e sim pela imposição do soft power, o poder brando da cultura, das artes, da dança, da sedução, do direito e do convencimento, esse poder que ontem explodiu e abalou os alicerces de nosso derrotismo e pessimismo coletivos.

Aquela auto-rejeição do brasileiro de repente, não mais que de repente, transformou-se em orgulho, orgulho inocente do homem do povo, sem pinta de soberba nem de nacionalismo ignorante, e sim como redenção nacional, de quem aprendeu a esquecer suas divisões em regiões, raças, classes, partidos, disposto a dar-se as mãos, irmanado num projeto de vida comum.

Ricos em recursos naturais como somos, em terras extensas e férteis, minérios, água e quedas d'água, petróleo, sol e ventos, amadurecemos a ponto de aprender que o futuro de um país depende mais dos seus projetos e do capital humano, do que dos recursos naturais, a exemplo do Japão que levantou sua poderosa economia embora dotado do mínimo de recursos.

A vitória nas Olimpíadas ensinou-nos que nossa riqueza maior está no aperfeiçoamento dos esportes, na reforma da educação, e na difusão da cultura, das artes, e das práticas lúdicas, mediante as quais nos faremos respeitar como potência com flores nas mãos para seus vizinhos e não poderosos tanques e armas de fogo. Com música, dança, esporte e confraternizados com o mundo civilizado recebemos festivamente a iniciação em nosso destino comandado por dois imperativos: sobriedade e eficácia.

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*Gilberto de Mello Kujawski é procurador de Justiça aposentado, escritor e jornalista.

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