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Assessoria de imprensa: dispensável ou fundamental?

Ruy Conde e Fernanda Pinheiro

Realizar um trabalho de comunicação elaborado por profissionais capacitados deveria ser o caminho a ser seguido e experiência obrigatória para todos os escritórios de advocacia.

quarta-feira, 8 de março de 2017

Atualizado em 7 de março de 2017 11:36

Em um cenário altamente competitivo como o do Direito, com mais de um milhão de advogados no Brasil, para conquistar sucesso e estar em evidência é preciso - além da competência profissional - ter a percepção da importância de se comunicar de forma eficiente e com qualidade, mas sem ultrapassar o limite da descrição e moderação, impostas pelo Código de Ética da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

A advocacia deve respeitar uma série de tradições que colocam a profissão como uma atividade de honra, de busca pela Justiça, o chamado "múnus" público do advogado, consagrado pelo artigo 133 da CF, ao estabelecer que "o advogado é indispensável à administração da Justiça". E, nessa perspectiva, a profissão não pode ser vista como um mero instrumento remuneratório e acumulativo de riquezas.

Justamente para evitar a chamada mercantilização da profissão, o Código de Ética da OAB é enfático ao vedar a publicidade indutiva e explícita, permitindo apenas a publicidade com caráter estritamente informativo.

Mas, como já dizia o Chacrinha: "quem não se comunica, se trumbica". E não seria diferente para os advogados.

As causas vencidas, as teses defendidas, os casos em andamento, só virão à tona para a sociedade, principal interessada, se, de alguma forma, forem disseminados. Compartilhar toda essa experiência e conhecimento embasado, além de ser de suma importância para uma comunicação coerente, correta e confiável, é um ato nobre por parte do advogado.

A partir do momento que o jurista passa a enxergar a importância de ser um ator no processo da construção da informação e veste o "ofício" como parte do cotidiano profissional, nasce, nesse contexto, a figura do que no jornalismo é chamado de "fonte", que são as pessoas que portam determinada informação e servem de subsídio para a construção da notícia.

No entanto, a inserção do advogado na imprensa como referência em um determinado tema, de acordo com a sua especialidade, é um trabalho que deve ser realizado por profissionais de comunicação que falem a mesma língua do judiciário. Não basta ser jornalista formado, tem que conhecer o ramo. Tem que entender os meandros da cobertura de um julgamento, tem que saber decodificar uma petição, uma decisão proferida em plenário, para então traduzir em um conteúdo claro e objetivo, facilitando o trabalho das redações e dos jornalistas setoristas.

O Judiciário é complexo, a linguagem é única, a maneira de atuação de cada magistrado é peculiar. Por isso, a importância de se ter profissionais especializados de assessoria de imprensa que vivenciam o dia a dia dos tribunais.

O papel de uma assessoria de imprensa especializada é atuar de forma planejada e estratégica, definindo os objetivos a serem alcançados com tal exposição. Na maioria das vezes, a participação do advogado que consegue espaço na mídia versa basicamente em dividir o seu conhecimento, além de esclarecer e facilitar o entendimento de determinadas decisões que tenham impacto na sociedade. Todos esses pontos refletem de forma positiva na carreira do advogado, que passa a ser uma fonte permanente, gerando visibilidade para o trabalho desenvolvido.

Não simplesmente joga-se uma publicidade indutiva ao vento, vendendo o advogado como qualificado e cheio de títulos. Uma impossibilidade ética, totalmente pertinente. A exposição permitida, a informativa, por sua vez, vai nivelar o profissional do direito por cima, no momento em que a sociedade pode avaliar a opinião dele, o conhecimento, e a desenvoltura; e não somente a propaganda estática cheia de apetrechos superficiais que poderiam ser fundamentais para o convencimento de uma capacidade técnica nem sempre condizente.

É óbvio que uma entrevista em um veículo de imprensa não vai definir se o jurista é qualificado ou não, mas a permanência dele na mídia como referência de determinado tema vai constatar e publicizar a sua capacidade na abordagem de determinado assunto. E gerar a curiosidade, atraindo então os interessados a pesquisarem mais profundamente sobre a carreira do jurista e as causas conduzidas por ele.

Entretanto, cabe ressaltar que uma atuação midiática sem o auxílio de uma assessoria de imprensa especializada pode ser desastrosa em vários aspectos. A começar pela questão da não observância dos princípios éticos da profissão, passando pela falta de conhecimento da postura a ser adotada diante de determinados questionamentos que inicialmente parecem inofensivos, até chegar a situações de crises que devem ser revertidas com toda parcimônia e planejamento estratégico. Enfim. Em alguns casos, o despreparo e a falta de orientação técnica podem resultar em situações irreversíveis para a imagem do advogado.

Em tempos de internet, de informação real time, de redes sociais, atuar junto à imprensa é de extrema importância para a sobrevivência e manutenção da atividade, seja ela qual for. Mas pode ser também o fim de uma carreira ao toque de qualquer deslize.

Ser parte desse mundo é a garantia de ser visto e lembrado. Hoje, todos recorrem ao Google para fazer uma pesquisa. Quando seu nome é referência de um assunto - em virtude de artigos publicados, entrevistas concedidas, automaticamente há uma indexação da informação na rede mundial de computadores. Ou seja, na busca por determinado tema, o seu nome e sua especialidade lá estarão evidenciadas.

A exposição seria então uma possibilidade de captação de clientes?

Apesar de ser uma consequência, não é o foco principal. A ideia fundamental como já dito é o advogado, sempre com o devido auxílio técnico, usar do conhecimento para auxiliar na construção da notícia, por consequência, ganhar notoriedade, virar referência sobre determinado tema e, porque não, como bônus de toda essa dedicação, captar mais clientes. Afinal, ninguém vive só de ideal, as contas a pagar pelo menos não entenderiam essa opção de vida.

Em suma, realizar um trabalho de comunicação elaborado por profissionais capacitados deveria ser o caminho a ser seguido e experiência obrigatória para todos os escritórios de advocacia. Só assim estariam salvaguardados e poderiam exercer o papel cidadão de contribuir com a manutenção de uma sociedade informada e esclarecida dos seus direitos, deveres e obrigações. Se blindando das armadilhas de uma comunicação despreparada e sem um objetivo definido.
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*Ruy Conde é sócio e jornalista da It Press Comunicação.

*Fernanda Pinheiro é sócia e jornalista da It Press Comunicação.

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